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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dando Graças: uma morte e várias vidas

"Se receberes insultos porque pregais em nome de Cristo, felizes sois vós! O espírito de glória, que é o Espírito de Deus, repousa sobre vós." (IPd 4, 13).

A morte!? Esta já está garantida. Ela é só uma. Devagar ou inesperadamente ela chega, mas é só uma. Ainda bem!! Na realidade, nesta vida só existem duas coisas das quais não conseguimos nos livrar: a morte e os impostos.
Diferente da morte, a vida não é uma, ela é várias. Ou seja, não temos uma vida única, mas várias. Algumas se sucedem em uma sequência, outras acontecem de forma paralela.
Pense nas suas vidas. Quantas vocês já teve? Eu já contabilizei umas oito ou nove. E quero, no mínimo, mais umas cinco. Quem sabe se um filho meu não faz a viagem de volta da mãe dele e resolve se casar com uma gaúcha e morar em Porto Alegre. Vou ter de me mudar para lá, para ficar perto dos netos. Aí vou ter de começar uma nova vida.
Você é o protagonista de suas vidas, mas algumas delas não têm absolutamente nada a ver com as outras, embora você seja a mesma pessoa. O que a minha vida no Japão de 1988 a 1990 tem a ver com a vida que levo hoje, criando quatro crianças? Nada. O que as memórias do menino de rua, ou melhor, de menino de beco, do beco da Indústria, nos anos sessenta e setenta tem a ver, com a vida de funcionário público ou professor universitário? Nada. Estou falando do dia a dia, das convivências que tive, das atividades diárias. Não do aprendizado e formação da personalidade, da carga emocional e de experiências vividas. Isso levamos na alma, no coração e na mente. Aí estão as alegrias e as tristezas registradas.
Convivemos com pessoas totalmente diferentes em várias vidas. Os amigos do Colégio Militar, um período de convivência intensa diária que durou seis anos, não tem absolutamente nada a ver com a vida que levamos no Canadá há dois anos. Na maioria esmagadora das vezes não há nenhum conexão entre nossas vidas.
Fui caixa da lanchonete Ziza’s, point de Manaus, em 75 e 76. E o que é que isso tem a ver com os amigos e com a vida que levei quando fazia a universidade? Nada. Outras pessoas, outras atividades, outras cabeças. Depois tive a vida de solteiro que acabou aos quarenta anos, e tive como parceira de folias e festas por mais de uma década - entre uma viagem e outra - uma prima. Grande parceira. Mas apesar do carinho mútuo, hoje estamos vivendo outras vidas. Veja bem, naquele momento estava vivendo uma vida que, como as outras, teve início e fim. Trabalhei, quando me formei em engenharia elétrica, na Gradiente. Essa vida de operário do Distrito Industrial de Manaus acabou, e a Gradiente também. E com ela a vida de muita gente. Sou auditor fiscal há anos, professor há trinta anos. Mas estou contando as horas, minutos e segundos para acabar com essa vida de auditar e fiscalizar empresas; mas sonho ensinar pelo resto das minhas vidas. Estou pronto, preparado para começar outras vidas. A vida de pai de adolescentes, de universitários, vida de avô. Será que viverei o suficiente para viver essas vidas ? Não me importo de trocar todas as minhas vidas futuras, por uma única, a vida eterna.
Algumas vidas gostaríamos de repetir e outras preferíamos nem tê-las vivido. Ficamos felizes quando acabam. O meu saldo é bastante positivo. A vida com o meu pai, essa eu gostaria de repetir, até eternizá-la. Mas tudo acaba dure o tempo que durar, um dia acaba.
Não posso me queixar, e Deus tem sido extremamente generoso comigo. Quando conheci a minha esposa, comecei uma nova vida, e no momento estou vivendo uma das melhores vidas que já vivi. Nunca pensei que ainda viveria uma vida tão maravilhosa. Criar essas quatro crianças tem me dado um trabalho danado, que é infinitamente inferior ao prazer que tenho de educá-las, viver e conviver com elas. Elas me dão a certeza de que outras vidas mais gostosas e prazerosas virão; porque vou buscá-las para elas e com elas. Mas há uma das minhas vidas que um dia vai acabar, a vida de filho. E essa será possivelmente a vida que terá o fim mais doloroso. Tudo um dia acaba.
Temos amigos padres americanos que há mais de 60 anos trabalham no Amazonas. Fico pensando que o father um dia entra num avião e pensa: “Passaram-se 30, 40, 60 anos, mas acabou. Estou voltando.” Vários já voltaram. E o que a vida que ele leva lá, após ter trabalhado aqui, tem a ver com a vida que levou há trinta anos atrás como pároco em Manacapuru, Coari, Codajás e Anori ? Nothing, my friend. Nothing. São ou não são vidas diferentes ? São ou não são duas, três vidas e não uma única ? Numa ele tomava açaí com farinha, e comia calderada de tucunaré ou jaraqui frito. Tinha as janelas teladas para barrar carapanãs. Não tinha internet, não tinha carrões desfilando, só rio-mar, cabocos roxos, barcos, água e mata. E hoje qual é a dieta dele? Hoje come no breakfast o que todo gringo come: wafer, bacon, pancakes, cornmeal, apple-cinnamon syrup e eggs.
Para citar apenas um exemplo, de várias vidas que conheço, como de um sujeito que um dia teve uma vida de operário e outra de presidente.
Não importa quantas vidas você viveu. Boas ou más, vividas ou sobrevividas, alegres ou tristes. Neste dia agradeça a Deus pelo dom da vida. Tenho certeza que você nunca pensou que poderia ter nascido cachorro, barata ou rato. Portanto, pare e agradeça a Deus pela a vida. Peça a Ele uma vida que seja eterna.

Os 80 anos de Dona GlóriaA minha mãe faz 80 anos no dia 28 de dezembro deste ano. Será uma grande e inesquecível festa. Será um festa de agradecimento, de louvor a Deus, por uma pessoa que perdeu a mãe aos 5 anos e o pai aos 11. Sobreviveu graças à generosidade de algumas pessoas, de parentes, que a acolheram e a alimentaram, principalmente, seu tio Orotiles Bessa, irmão de sua mãe, que lhe matou a fome nos primeiros anos da orfandade, e sua prima e nossa querida avó Eliza Bessa Freire, que lhe deu um lar e lhe acolheu da adolescência ao casamento.
Oh meu Deus! 80 anos, 15 filhos e mais 3 assumidas com filhas, 50 netos (até agora) e 11 bisnetos (até hoje). E quando essa vida acabar, uma das mais importantes das minhas vidas chegará ao fim. Não. Nunca. Porque a levarei comigo onde for. Essa é uma vida paralela a todas as outras. Os sucessos de todas as vidas que tive está ligado a esta minha vida, que me acompanha mesmo antes de eu ter nascido. Ninguém constrói um prédio sem uma base sólida, senão o prédio desmorona. Pode até ser bonito, mas é torto como a torre de Pisa. Dela tudo recebi. Portanto, tudo que sou de bom devo a ela. Só lamento não ter herdado os seus lindos olhos verdes. Mas Deus quando me fez assim, sabia o que estava fazendo, então era para ser assim mesmo. Por isso eu tenho todo o motivo do mundo para agradecer. Deus seja louvado.

Dia Nacional de Ação de Graças – Dando Graças.Hoje, 25 de novembro de 2010, dia Nacional de Ação de Graças, quero agradecer e louvar a Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo e a Santíssima Virgem Maria, pelas minhas vidas passadas, presente e futuras.
Tenho muitos motivos para agradecer a Deus, mas principalmente pela fé que herdei de meus pais e que Ele me concedeu ("E ninguém pode dizer Jesus se não é movido pelo Espírito Santo" (1Cor 12,3).
Agradeço a Deus por eu acreditar que Cristo Jesus morreu por nós, pela nossa salvação, por acreditar na Santíssima Trindade, e por não acreditar em cartas, búzios, leitura de mão, cristais energizados, numerologia, horóscopo, mal olhado, encosto e descarrego. Não temer ter o meu nome na boca do sapo, ser rogado praga, espelho quebrado, gato preto, sexta-feira 13 ou passar debaixo de escada. Agradeço a Deus por acreditar o que me energiza, o que “ fecha o meu corpo” é a palavra do Evangelho, e o Corpo e Sangue de Cristo, a quem nada é impossível.

"Bendize a minha ao Senhor, e tudo que exista em mim, bendiga o seu santo nome".

Fiz uma relação de 100 motivos pelos quais devo louvar e agradecer a Deus.

1. Pela vida;
2. Por não ter vindo para a Terra como cobra, barata, piolho ou outro animal;
3. Pelo pai que me deu;
4. Pela mãe que me deu;
5. Pela minha saúde;
6. Pelo meus irmãos e irmãs;
7. Pelos 80 anos de minha mãe;
8. Pela minha esposa;
9. Pelo pão nosso de cada dia, que nunca faltou à mesa, e muitas vezes veio com manteiga e queijo;
10. Pelo meus filhos;
11. Pelo meu emprego...
12. Com certeza essa lista teria mais de 100 itens.

Mas resolvi não publicá-las. Na realidade, tenho muito mais de 100 motivos. Por vários deles eu sou extremamente grato, como pelas viagens que fiz, pelos pedidos atendidos, por não andar de ônibus entupido de gente (calor infernal), por não dormir sem ar condicionado e outras coisas assim, pois posso ser mal interpretado.

Feliz dia de Ação de Graças !

Cláudio Nogueira.

PS1. O presidente Eurico Gaspar Dutra instituiu o Dia Nacional de Ação de Graças, em 17 de agosto de 1949, e o presidente Castelo Branco regulamentou a data em 1965, quando foi oficializada a quarta quinta-feira do mês de novembro para a comemoração em todo território Nacional. Os americanos nesta data comemoram o thanksgiving (dando graças), e a Igreja Católica comemora dia 27 de novembro a festa de Nossa Senhora das Graças.

PS2. Para quem estava reclamando que esse blog só falava de política, uma mudança. Hoje é dia de se falar de agradecimento.

PS3. Em agosto de 2018, comecei uma nova vida; desta vez em Portugal.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Não existe Banco Central Independente

Muito se fala de um banco central independente. Henrique Meirelles também acredita nisso. Ou seja, ele determina a política monetária - a administração da moeda, dos bancos, dos juros e do câmbio - independente da vontade do governo, e não recebe ordens do ministro da Fazenda. Será ?
Dentro deste assunto, fazendo parte do mesmo debate, o outro lado da moeda é o controle externo do Banco Central pelo Legislativo. Sobre esse assunto há um texto interessante de Fabiano Santos e Inês Patrício publicada na Revista Brasileiras de Ciências Sociais com o título: " MOEDA E PODER LEGISLATIVO NO BRASIL: prestação de contas de bancos centrais no presidencialismo de coalizão" (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69092002000200007)
Sobre o nosso Bacen, Delfin Neto declarou que os outros bancos centrais são independentes, o nosso é autônomo, não dá satisfação para ninguém. Isso parece ser assunto recorrente.
Dia 18 de novembro, quinta-feira passada, o presidente do Banco Central do Brasil, cuja batata estava assando, disse que sem autonomia não ficaria no cargo. Não vai ficar. O jornal Estado de São Paulo publicou:
"O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, está decidido a não aceitar nenhum convite para permanecer à frente da instituição, caso a presidente eleita, Dilma Rousseff, não lhe garanta autonomia absoluta de ação. Meirelles também não aceita a hipótese de servir de tampão durante o primeiro trimestre, até a escolha de um novo e definitivo presidente do BC.
Meirelles considera que ceder na autonomia – e há informações de que ela lhe será tomada, de forma a fazer com que a taxa de juros venha a sofrer queda mais rápida, até chegar a 2% (acima da inflação) em 2014 – comprometerá sua biografia e a credibilidade que conquistou nos oito anos à frente do BC, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva."

O e-leitor já percebeu que autonomia que Meirelles se refere é diferente da autonomia citada por Delfin Neto. Ele se refere a não subordinação de seus atos relativos à política monetária, ao presidente da República, ao ministro da Fazenda ou a quem quer que seja, nos moldes do banco central americano, o Fed, ou Federal Reserve.
O Fed é sempre citado com exemplo de banco central independente, que faz o que quer sem dar satisfação nenhuma para o homem mais poderoso do mundo. Por isso é dito que depois do presidente americano, o segundo homem mais poderoso nos Estados Unidos é o presidente do Fed.
Esse post vai desmistificar que o presidente do Fed não recebe interferência do presidente da República. Só se o presidente da República não for Ronald Regan.
No seu livro "Maestro, Greenspan's Fed and The American Boom" Bob Woodward conta umas boas histórias de interferência nas decisões do presidente do Fed. Esse livro é uma preciosidade, pelo qual paguei apenas 1 dólar na loja tudo-por-um-dólar, Dollar Tree, em Raleigh, Carolina do Norte. Na realidade, Raleigh é aqui, a capital do Estado, e ali, do outro lado da rua, onde fica a loja, é a cidade de Wake Forest. Digo isto caso o e-leitor deseje encontrar o livro, vá ao endereço certo.
Eis a tradução exclusiva para o blog:
"Olhe, esse é um bom momento para ter um encontro com o presidente. Por que você não vem aqui ?
Essa foi a mensagem de James A. Baker III, chefe da Casa Civil e principal estrategista político de Ronald Reagan, enviada no verão de 1984 para Paul Volcker, chairman do Federal Reserve.
Baker providenciou à visita à residência da Ala Leste, geralmente arranjos para encontros delicados era longe do escritório da Ala Oeste, e dos olhos dos outros. Volcker, de certa forma uma figura teatral, tinha dois metros de altura, muito difícil de ser ocultado. Nos seus cinco anos como chairman do Fed tinha se tornado a face pública de uma guerra exaustiva contra uma inflação galopante.
O remédio forte de Volcker de elevar os juros para uma taxa sem precedentes de 19 por cento ao ano, para esfriar a economia americana, engatilhou uma recessão e jogou milhões fora do emprego, tornando-o um demônio para muitos em Wall Street. Mas agora a inflação estava dominada e o Fed tinha atingido uma aparência de estabilidade nos preços, fazendo dele um heroi, especialmente em Wall Street.
O presidente do Fed tem encontro com presidente mais ou menos a cada seis meses. Não era comum para ele ouvir com atenção palavras sugerindo-lhe baixar as taxas de juros para ajudar a economia a crescer.
Volcker encontrou somente Reagan e Baker na biblioteca do andar de baixo na Ala Leste.
Volcker e Baker tinha um relacionamento cordial. Ambos tinham estudado em Princeton.... Mas em nível profissional, particularmente quando o assunto era taxas de juros, as suas relações eram tensas.
Volcker foi inicialmente apontado chairman pelo presidente democrático, Jimmy Carter, em 1979. Quando o seu período de quatro anos acabou em 1983, Reagan, que viu as virtudes de Volcker na campanha contra a inflação, o escolheu para um segundo mandato. Para um período pós recessão, com um nervosismo em Wall Street, era considerado arriscado demais demiti-lo.
Baker acreditava que Reagan deveria ter o seu próprio chairman no Fed - alguém do seu partido, alguém sintonizado com os seus valores. Como Baker constatemente costumava dizer, Volcker

é um " Democrata conhecido", como se o chairman do Fed fosse um subversivo. Baker não tinha ilusões de o que chairman do Fed poderia receber ordens ou submetido a um controle político. Mas ele achava Volcker desnecessariamente arisco e espinhoso, não receptivo as soluções de consenso preferidas por Baker.
Depois de polidas boas vindas, Baker começou a mencionar a próxima eleição no outono. Reagan concorreria ao segundo mandato, e Baker era o coordenador da campanha.
Eles não querem nenhum aperto, disse Baker, referindo-se ao aumento das taxas de juros. Ele parecia firme e falava da eleição com certo orgulho. O Tema foi 'Manhã na América' e Reagan estava projetando a imagem de pai que se importa e otimista. Taxas mais altas estavam fora de questão.
Volcker estava um pouco assustado pelo fato de que Baker falasse abertamente sobre taxas de juros em um contexto político[lembre e-leitor que o Fed não é levado por interesses políticos]. Baker poderia facilmente ter sinalizado o desejo deles, de modo mais sutil, menos ofensivo [direto]. O chairman endureceu. A armação, a linguagem direta e a arrogância era certamente inapropriadas e impróprias. Somente Baker falava. O presidente não dizia coisa alguma. Nada. Mudo. Não balançava a cabeça concordando, nem balançava discordando, Volcker percebeu com tristeza. Que brilhante. Reagan não disse nada, sua negação foi presevada: Eu nunca pressionaria Vocker. Mas a presença do presidente, lá sentado calmamente, - desconectado ou atento, ninguém saberia com certeza, incluindo Baker - dava as palavras de Baker todo o peso do mundo.
Na intimidade, Volcker estava um pouco preocupado com a economia. Ele não creditava que haveria uma nova recessão brevemente, mas o crescimento estava devagar e o cenário não era bom. Sua próxima ação no Fed ia exatamente ao encontro do que Baker e Reagan queriam que ele fizesse, reduzir as taxas de juros. Mas ele não lhes disse porque não confiava neles. Se ele tivesse dito qualquer coisa, eles poderiam vazar para a imprensa. As taxas de juros vão baixar, eles diriam. Ou pior, o Federal Reserve cede a pressão deles, minando a credibilidade de Volcker.
O chairman deixou a Casa Branca azedo e inquieto. Às vezes, a melhor coisa a fazer, ele aprendeu, era absorver a pressão, ficar com ela, e fazer nada. Quando ele foi confirmado como chairman pelo Comitê Bancário do Senado, ele prometeu que não relataria qualquer tentativa da Casa Branca de influenciá-lo. Mas agora ele não tinha certeza se a pressão não tinha chegado a um nível que ele era obrigado a relatá-la. [Mas] Ele não disse nada.
Para Baker foi mais uma conversa de rotina. Ele não queria ser visto como pressionando Volcker. Naturalmente que o governo queria baixar as taxas. A Casa Branca sempre quis. Mas o chairman era independente, e se Volcker não gostava de encontros com o presidente, ele não precisava ir, ele poderia ter ido embora ou reclamar, mas ele nunca fez isso.
Logo Volcker abaixou as taxas de juros em resposta as perspectivas da economia, como ele desejava fazê-lo. Reagan foi reeleito com grande diferença em Novembro.
No início de 1985, Reagan apontou James Baker como secretário do Tesouro [ministro da Fazenda], a posição que tradicionalmente tem como obrigação fazer a ligação com o Fed. Baker viu outra oportunidade de interferir na política de taxas de juros do Fed. Embora, o chairman dominasse o Fed, ele não poderia agir unilateralmente.
O Fed determina duas taxas de juros de curto prazo. A taxa menos importante é a taxa de desconto, a taxa de juro que o Fed cobrar dos outros bancos por empréstimos de overnight . Ela tem um efeito muito pequeno na economia; naquele momento a taxa de desconto era a única taxa publicamente anunciada pelo Fed. Como resultado, sua mudança teria impacto psicológico sobre o mercado financeiro e a economia.
Para mudar a taxa de desconto, o chairman tinha de ter maioria dos votos dos sete membros do Conselho de Governadores. O seu voto é apenas um desses sete votos. [ O Fed tem sucursais nos estados. Tem o Fed de Nova York, por exemplo; e o administrador desse Fed regional é chamado de governador].
Sob a lei e a Constituição, o presidente marca a data do encontro e o Senado confirma. Os membros do conselho são apontados para um mandato de 14 anos, período para colocar o conselho acima de interferência política, mas muitos membros se cansam de servir uma instituição tão controlada pelo seu chairman, e renunciam depois de alguns anos. Como resultado, a administração [Reagan] colocou um [bom] número de republicanos no conselho de sete membros. Baker, que teve a responsabilidade de achar membros para o conselho, preferia ‘Reaganautas’, aqueles que compartilhavam da filosofia do presidente e tinham sido parte de sua equipe. Ele particularmente gostava daqueles que preferiam baixas taxas de juros. A conversa no Departamento do Tesouro de Baker tinha um tema: Os tempos estão mudando. A mensagem para Volcker era: Lidere ou seja liderado.
Uma das primeiras escolhas de Baker para o conselho do Fed foi Manuel H. Johnson Jr, seu secretário assistente do Tesouro, de 36 anos de idade, um ex-especialista de inteligência do Green Beret. Johnson disse ao seu chefe que ele acreditava que as taxas de juros deveriam ser baixada, e que a política de taxas de juros do Fed deveria ser coordenada com a Casa Branca e o Tesouro.
Tão logo Johnson chegou ao conselho em 1986, ele disse a Volcker que ele votaria no corte da taxa de juro na primeira chance que ele tivesse. ‘Eu me sinto compelido a isso. É necessário’. Disse Johnson. Volcker ficou horrorizado, concluindo que Johnson tinha feito um acordo.
Johnson informou a Volcker que agora haviam quatro votos, uma maioria, para reduzir as taxas de juros. ‘Eu vou divergir do modo que você deseja fazer’, disse ao chairman. ‘Eu vou divergir de sua liderança.’
Naquele momento, Volcker se opunha a um corte porque ele estava preocupado com uma nova inflação. ‘É o Baker que está lhe pressionando para fazer isso ?’ Perguntou Volcker, pondo seus pés sobre sua mesa e acendendo um charuto.
‘Tenho certeza que Baker apoia isso,’ respondeu Johnson. ‘Ele sabe como votarei.’
Em 24 de fevereiro de 1986, Johnson e três outros membros do Conselho votaram 4 a 3 pela redução da taxa de desconto. Volcker estava em minoria pela primeira vez.
‘Adeus’ , ele disse ao Conselho depois da votação. ‘Vocês vão ter de fazer isso sozinhos.’ Ele se levantou e saiu batendo a porta com força. Ele não digitou, quando voltou para a sua sala, ele escreveu sua carta de renúncia a mão.
Votar contra o chairman foi uma franca rebelião no que lhe diz respeito. Era uma grande violação a etiqueta do clube. A tradição no Federal Reserve virtualmente obriga o conselho de lidar com desacordos e divisões, mas trabalhando na direção do consenso. Reunião na terça. Reunião na quarta. Reunião na quinta. Se foi o chairman quem discordou, por Deus, eles devem se reunir sem fim.
Volcker disse a Baker o que aconteceu. Eles poderiam escolher um novo chairman para o Federal Reserve, ele disse.
‘Isso não é assim importante.’ Baker disse calmamente. Ele expressou surpresa com a votação e a angústia de Volcker. ‘Você está exagerando.’
Volcker discordou completamente. Qual seria a utilidade de ser o chairman de uma organização se você não pode administrá-la ? O que era liderança se outra pessoa decidiu a direção ?
Baker queria lembrar Volcker , ‘Olhe, para isso é que temos sete governadores – por que nós não deixamos o chairman decidir as coisas por decreto? É porque é uma votação democrática no conselho.’...
Seja realista, Paul. Ninguém – o Fed, a Casa Branca, Wall Street – deseja ou precisa a convulsão que resultaria se Volcker renunciasse.
Mas Volcker concluiu que a votação naquela manhã tinha sido cabal, seria um golpe no coração da independência do sistema do Federal Reserve. Ele também acreditou que Jim Baker viu o resultado como uma grande vitória política.
...
Mais tarde, nesse mesmo dia, Johnson e os outros três membros do conselho voltaram atrás. Eles concordaram em reconsiderar, abdicando do corte da taxa de juro antes que fosse anunciada. A renúncia de Volcker poderia ser muito inquietante. Ela poderia enviar um choque para Wall Street e pelo mundo afora.
E Volcker concordou em ficar, embora nunca foi o mesmo. A administração queria um fantoche, ele concluiu.
‘Eu não confiava neles,’Volcker disse mais tarde. ‘Era impossível. Não havia jeito de restaurar o senso de confiança.’


Se Henrique Meirelles acreditava que quem o colocou no cargo não iria querer dar pitaco na política monetária, ele também acreditava em Papai Noel. Pois quem levar a culpa de uma política econômica ( fiscal + monetária + outras) fracassada não é ele, mas o patrão dele, agora a patroa.

Cláudio Nogueira

PS1. Parece que chefes de Casas Civis (Zé Dirceu e Dilma) lá e aqui não morrem de amores por presidentes de bancos centrais. E pior para o chefe do banco, quando o chefe da Casa Civil vira presidente. Sai Meirelles entra Tombini.
PS2. Em tempo: Paul Volcker voltou a participar da política econômica americana no governo Obama. Desde fevereiro de 2009, ele é chairman do Conselho Consultivo de Recuperação Econômica do presidente Barack Obama.
PS3. O último cargo público importante de James Baker foi como secretário de Estado no governo de George Bush pai.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

PSB põe seu bloco na rua

Antigamente, nessa época do ano, quando se falava de blocos na imprensa, era sobre os ensaios deles se preparando para o carnaval, mas nessa semana predominou no noticiário a formação de blocos políticos. No site oficial do PSB encontramos:

Partidos iniciam entendimentos para formação de bloco na Câmara
Partido Socialista Brasileiro - PSB

Câmara dos Deputados - 17/11/2010

Líderes do PSB, PDT, PC do B, PV e PRB fizeram uma reunião, na manhã desta quarta-feira, na Liderança do PSB, visando a formação de um novo bloco na Câmara dos Deputados. Os partidos voltarão a se reunir na semana que vem para mais uma rodada de entendimentos, quando o bloco poderá ser formalizado.

O PSB tem 34 deputados; PDT, 28; PcdoB, 15; PV, 15, e PRB, 8. Com mais quatro parlamentares do PMN, legenda que não participou desta primeira reunião, mas que deverá estar presente na próxima, o bloco teria 104 deputados, formando a terceira bancada da Câmara, atrás do Blocão formado por PMDB, PTB, PR, PSC e PP e do bloco PSDB/DEM/PPS.

Participaram da reunião o líder do PSB, Rodrigo Rollemberg, Paulinho da Força, do PDT; Daniel Almeida e Vanessa Grazziotin, pelo PcdoB; Edson Duarte, do PV, e Cleber Verde, PRB.

A formação do bloco não é uma reação à formação do blocão comandado pelo PMDB, e que foi formalizado nesta terça-feira ou qualquer tentativa de pressionar o Governo. Segundo Rodrigo Rollemberg, a iniciativa daria aos partidos que integram o bloco a oportunidade de ter uma participação mais expressiva nos trabalhos legislativos e de conquistar mais espaço na mesa diretora e nas comissões da Casa.


Assessoria de Imprensa da Liderança do PSB na Câmara

O Blocão do PMDB é desfeito



http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=10658&Itemid=2
Desmancha-se em poucas horas o blocão sonhado pelo PMDB
Publicado em 18-Nov-2010

Desmancha-se por não ter sentido e buscar objetivos absurdos como reivindicar cargos, pressionar a composição do futuro governo e retirar do PT a presidência da Câmara, o chamado blocão que o PMDB tentou montar com o PP, PR, PTB e PSC. O blocão não obteve ressonância no Senado e pode não existir, já que o PR e o PP não têm interesse real nele. "Não temos isso em vista aqui. Até agora ninguém tratou da criação de blocos no Senado", afirma o seu presidente, senador José Sarney (PMDB-AP). Só o PMDB, e particularmente dois de seus deputados que o articularam, Eduardo Cunha (RJ) e o líder Henrique Eduardo Alves (RN) - candidato a presidente da Câmara - têm interesse no blocão. A presidência da Casa é um direito que o PT conquistou nas urnas ao eleger a maior bancada de deputados federais. Desmancha-se por não ter sentido e buscar objetivos absurdos como reivindicar cargos, pressionar a composição do futuro governo e retirar do PT a presidência da Câmara, o chamado blocão que o PMDB tentou montar com o PP, PR, PTB e PSC (leiam nota abaixo).

O blocão não obteve ressonância no Senado e pode não existir, já que o PR e o PP não têm interesse real nele. "Não temos isso em vista aqui. Até agora ninguém tratou da criação de blocos no Senado", afirma o seu presidente, senador José Sarney (PMDB-AP).

Só o PMDB, e particularmente dois de seus deputados que o articularam, Eduardo Cunha (RJ) e o líder Henrique Eduardo Alves (RN) - candidato a presidente da Câmara - têm interesse no blocão. A presidência da Casa é um direito que o PT conquistou nas urnas ao eleger a maior bancada de deputados federais.

"Esse bloco não existe, foi apenas uma intenção e apenas isso já deu problema. O PT não vai entrar nisso", antecipou muito claramente o líder petista na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP).

Blocão, tudo indica, ficou apenas no ensaio

"Não aconteceu [a criação do bloco]. Parecia que ia acontecer, mas não aconteceu", complementou o presidente Lula ao descartar a empreitada peemedebista e lembrar: "Se as pessoas tentam, de forma conturbada, mexer na política, pode não ser muito bom. Houve 48% de renovação na Câmara e no Senado. O papel dos partidos é conversar e a hora é de começarem a discutir quem vai ser presidente das duas Casas do Congresso."

"Política - emendou o presidente - é como o leito de um rio. Se a gente não for um desmancha-ambiente, e deixar a água correr tranquilamente, tudo vai se colocando de acordo com o que é mais importante. Se as pessoas tentam de forma conturbada mexer na política pode não ser muito bom."

O presidente da República e o líder do PT não poderiam ser mais objetivos ao tratar desse blocão, montado para manter os espaços do PMDB no governo, conforme as declarações de seus deputados e de alguns dos líderes dos partidos que chegaram a ser cogitados para integrarem-no.

Eles são diretos e claros nesse sentido. Suas manifestações estão em toda a mídia. Lógico que esta não os critica, e até vibra com isto, porque o blocão nos prejudica. Imaginem o que a imprensa estaria fazendo se fosse o PT a montar uma frente multipartidária para pleitear cargos num governo!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

PMDB passa rasteira no PT ou Dormindo com o Inimigo

Poucos dias antes do segundo turno da eleição presidencial no mês passado, César Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro e pai do presidente do DEM, Rodrigo Maia escreveu no seu blog o que todo mundo sempre soube: “ Ganhe Dilma ou Serra, o PMDB será governo.” E com a vitória de Dilma Roussef, o PMDB é governíssimo. O vice-presidente eleito, Michel Temer, além de ser o atual presidente da Câmara Federal, é o presidente do PMDB. Portanto, ele está anos-luz longe, das figuras viceinexpressivas, de Marcos Maciel, vice de FHC e de José de Alencar, vice de Lula. Alencar, grande empresário, levou oito anos reclamando dos juros altos, mas não passou disso. Mas o que o Temer disser contra o governo (diz ele que não fará isso) é para ser levado a sério.
Falar mal do próprio governo não é novidade nesse país. Não foi o José Alencar que inaugurou essa modalidade, o ..... (se eu escrever o adjetivo que melhor o qualifica, ele vai me processar) Itamar Franco foi quem mais falou mal do seu próprio governo. Ele tinha a maluquice de falar mal de seus ministros e das decisões deles. Itamar está com 80 anos e acabou de ser eleito senador, ser suplente dele é um bilhete premiado.
E o Temer como será que ele vai agir ? Minha cara presidente muita calma nessa hora com PMDB. Vocês fizeram um casamento, e agora, como a Julia Roberts naquele filme, vão dormir com o inimigo. Como nos casamentos de verdade, a convivência tem dias que o bicho pega. Foi por isso que para alguns casamentos inventaram o divórcio e a lei Maria da Penha.
O PT, para ter o PMDB ao seu lado e evitar que o partido fosse se juntar ao Serra, teve de engolir cobras e lagartos, defendendo Renan Calheiros no escândalo provocado pela jornalista Mônica Veloso, que teve uma filha com ele; e José Sarney, acusado de diversas irregularidades na administração do Senado. Mas isso é pouco, embora a imagem do PT tenha saído arranhada nesses episódios, o PMDB quer mais, muito mais. É, portanto, um parceiro que deve ser respeitado; mais do que isso, deve ser visto com certa desconfiança.
É um direito consuetudinário, do partido com a maior bancada na Câmara Federal, escolher o presidente da Casa. Nesse caso caberia ao PT, que elegeu 88 deputados, escolher o sucessor de Temer. Mas o parceiro PMDB, que a principio deveria fazer um rodízio com o PT na administração da Câmara, já deu um jeito de ser maioria, formando um blocão com o PP, PR, PTB e PSC totalizando 202 deputados ou 39% do total.
O PMDB mostrou logo quem é (e o que sempre foi), e que não está para brincadeiras. Passou uma rasteira no PT. Possivelmente, não deve estar obtendo ministérios na quantidade e qualidade que desejaria. Temer lá da sala da equipe de transição, após receber um não dos Eduardos Cardozo e Dutra e de Palocci, pediu para ir ao banheiro e ligou para o Renan: "Os caras aqui estão querendo fazer jogo duro, junta o nosso pessoal." Renan saiu em campo. Esse é o round zero de uma luta que ainda nem começou. Mas o PT, que tem mais cobras criadas que o Butantã, vai saber resolver essa situação.
O PT vai ter de se aproximar mais dos aliados que ficaram de fora do superbloco. Será que o PSB se presta para ser amante ?
Veja esse vídeo: "O PT vê no bloco do PMDB um gesto de disputa, com risco de azedar relações na Câmara"http://colunistas.ig.com.br/poderonline/2010/11/16/pt-ve-no-bloco-do-pmdb-um-gesto-de-disputa-com-risco-de-azedar-relacoes-na-camara/

Cláudio Nogueira

Post Scriptum
PS1 - Falando em PSB, quem deve andar feliz, apesar dos aborrecimentos, é o vereador e deputado eleito Marcelo Ramos. Quem tem o Amazonino como adversário não precisa de cabo eleitoral. Com a ajuda de Amazonino, Ramos não sai da mídia. E o povo sabe que quem nasceu homero vai morrer tayah.

PS2 - O resultado da inflação medido pelo IPCA, Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, que é o índice oficial para a meta de inflação, até outubro foi de 4,38%, e 5,19% nos últimos doze meses. O dólar está desvalorizado, e nos países do G-20 o real é a moeda mais sobrevalorizada. Agora junte o primeiro parágrafo com o segundo e responda: Como é que o Banco Central vai baixar a taxa de juros, via COPOM, que hoje está em 10,75% ao ano? Juro alto ajuda a controlar o consumo e, portanto, a inflação. Mas juro alto atrai dólares em grande quantidade para o Brasil, que tem a maior taxa de juros do mundo civilizado (qualquer coisa acima disso, não é mais civilizado) aumentando a oferta da moeda americana, ajudando na sua desvalorização. Se o BC baixar a taxa de juros (SELIC) , pode ajudar a valorizar o dólar, mas aumenta o consumo, que já está alto; e o Natal se aproxima. O Brasil está numa situação de que se baixar a taxa, a inflação pega; se aumentar, o real come; prejudicando as nossas exportações, deixando os nossos produtos mais caros. Está bom para levar as crianças para Disney.
O FED, o banco central americano, prometeu gasta a bagatela de 600 bilhões de dólares para incrementar a economia americana. Isso deixou o mundo em pavorosa. Os países que estão em guerra cambial com o dólar temem que esse dinheiro viaje pelo mundo, para países ricos e emergentes, aumentando a oferta de dólares, desvalorizando ainda mais a moeda estadunidense, e valorizando as moedas nacionais. O grande paradoxo é que com a desvalorização do dólar, quanto mais temos, menos ele vale. A nossa reserva cambial, que atingiu o nível recorde nunca antes visto nesse país, beirando 300 bilhões de dólares (isso mesmo, somos um país rico), cada dia compra menos.
Isso requer um post mais detalhado, sobre a guerra cambial e a inflação interna, e porque devemos gastar parte de nossas reservas renovando o nosso parque fabril, criando mestrados e doutorados e áreas de excelências em universidades brasileiras, importando cérebros e enviando estudantes e pesquisadores para se especializarem nas universidades Princetons, Cornells, Harvards, Stanfords, MITs e etc. De 2000 para cá a Índia criou mais sete institutos de tecnologia. Hoje temos dinheiro para fazermos uma política agressiva nesse sentido, para deixarmos de sermos, principalmente, exportadores de commodities e nos tornamos exportadores de produtos de alto valor agregado. Caminho percorrido pelo Japão, Coréia do Sul e agora a Índia. Acreditando que tínhamos capacidade para tal, e com determinação, é que construímos empresas como a Embraer e a Petrobrás.

PS3. Há muito que estou com vontade de escrever um post sobre um assunto que li no caderno de Economia do jornal A Crítica de domingo 5 de setembro de 2010, que trazia uma matéria como o título: "Contra a monocultura". E seguia afirmando: "Concentração de investimentos tende a especialização excessiva." O pessoal da Suframa advertia do "risco" da especialização versus diversificação no PIM.
Tenho maior respeito pelo aquele povo, onde tenho bons e competentes amigos, mas depois de 10 anos estudando pólos industriais, distritos industriais e clusters industriais, no que resultou na minha tese de doutorado, não entendi porque especialização é um risco. Vamos contribuir para o debate, mas adianto o meu pensamento: quanto mais especialização melhor. Na realidade, o que conta é o valor agregado, quanto maior melhor. É melhor produzir celular, que cada dia que passa traz mais features, do que caneta esferográfica.Os maiores, os mais produtivos, os mais competitivos e os mais rentáveis clusters do mundo têm como característica principal a especialização. O Silicon Valley, na Califórnia, o maior, o mais rico e famoso cluster do mundo é monocultura; Bangalore, na Índia, é monocultura; Cingapura é monocultura. O cluster na região de Ottawa-Toronto é monocultura. Isto é, concentradíssimos, com poucas variações em torno do mesmo tema: eletrônica, tecnologia de informação, hardware ou software. Se não são monoculturas são oligoculturas.
A especialização tem uma série de vantagens, e economia de escala é apenas uma delas. E é mais fácil produzir mão de obra para formar massa crítica em duas ou três áreas do que em várias. A questão não é se é monocultura ou se é diversificado. A questão é se é de alto valor agregado ou não. Mas isso é assunto de outro post.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Quem será ministro Alfredo ou Eduardo ?

Dona Dilma, o povo quer saber quem será ministro, Alfredo Nascimento ou o Eduardo Braga ? Ou nenhum dos dois. Eis uma resposta que teremos de esperar para saber. Eu acredito que o Alfredo tem mais chances. Mas o que eu penso não conta.
Há quem lembre que se Alfredo se tornar ministro, João Pedro se tornará senador, aumentando a bancada do PT. Concordo plenamente. Mas há quem contra argumente que em termos concretos, na hora da votação, um dos dois no cargo de senador votaria igualmente nas propostas do governo.
Quanto ao possível ministério, Alfredo tem a vantagem de ser o presidente nacional do partido dele, o PR. Somando-se a isso o fato de já ter sido ministro; portanto, a Dilma já conhece o seu trabalho. Lula e ela devem ter gostado da sua atuação no ministério dos Transportes, por isso eles apoiaram sua candidatura ao governo do Amazonas. E se o PR, por pertencer a base aliada, tiver direito a único ministério, por tudo que já foi dito, esse ministério tem muitas chances de ser entregue ao Alfredo. Além de contar a seu favor a gratidão de Lula de ser o primeiro prefeito de capital a apoiá-lo. E o Eduardo ?
Eu ouvi a presidente eleita, quando ainda chefe da Casa Civil, fazendo elogios rasgados ao Eduardo Braga, dizendo que ele era um profundo conhecedor dos problemas da região. Isso foi antes dele e Omar peitarem o Planalto e lançarem candidatura alternativa ao governo do Estado. Mas isso pode ser relevado, principalmente, considerando que Vanessa Graziotin venceu graças ao apoio que recebeu de Braga, deixando o Planalto felicíssimo com a derrota de Arthur Virgílio Neto. Ouvi a nova senadora dizer, em entrevista a CBN Manaus, que "Lula é emoção" e que Dilma é mais razão. Eh! A emoção dele não atrapalhou no seu pragmatismo. Confirme:
Eu pensei que fosse ler isso no futuro, não agora, mais tarde na autobiografia de Lula, mas Zé Dirceu já confessou na TV, na segunda-feira, no programa "Roda Viva": O PT apoiou o Sarney (queimando o filme do partido, recebendo cartão vermelho do Suplicy), para o PMDB não indicar o vice de Serra (sem aspas). Rita Camata do PMDB foi a vice de Serra em 2002, lembram ?
Vocês se Lembram que L&D deixaram a candidatura de Marilene Corrêa no meio da campanha e viraram cabos eleitorais de Vanessa ?
Com tanto pragmatismo, se Omar e Braga peitaram Lula, isso é facilmente superado. Portanto, Eduardo Braga ainda está no páreo, embora acredite que não leve.
Para Alfredo Nascimento se tornar ministro depende somente da vontade da Dilma, para o Eduardo se tornar ministro, depende da vontade dela e do PMDB. Dizem que Eduardo Braga Temer não ser indicado pelo partido dele. Partido de quem ?
Cláudio Nogueira

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Amazonas e a eleição da Dilma

O Amazonas foi o estado que, em termos percentuais, contribuiu com mais votos para a eleição de Dilma Roussef. Contribuiu muito bem, mas isso é relativo. Isto é, só ganho percentual não é suficiente para ganhar eleição. No Amazonas Dilma teve 80,57% dos votos válidos, contribuindo de forma líquida com a candidata petista com 866.274 votos; e o Rio de Janeiro obteve 60,48% dos votos válidos para Dilma, ou seja, 20% a menos, mas a sua contribuição líquida foi de 1.710.186 votos, quase o dobro. Não estou dizendo que o Amazonas não cooperou muito com a petista, nada disso. Estou dizendo que ganho percentual não é tudo. Vejamos o caso de Mato Grosso do Sul, onde Serra liderou recebendo 55,13% dos votos válidos. Sabe quanto isso representou de votos a mais do que os obtidos pela Dilma ? 127.022 votos.
A imprensa divulgou que Dilma ganhou nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste; Serra no Sul e Centro Oeste. Mas preste atenção nisso: no Nordeste Dilma teve mais de 10 milhões de votos a mais do que teve José Serra. E este teve somente 128.995 votos a mais que Dilma no Centro Oeste.
Excetuando-se os votos vindos do exterior; Serra, em 11 estados, teve 3.543.278 votos a mais que Dilma. E ela teve nos outros 15 estados + o DF 15.402.871 votos a mais que Serra.
À propósito, a cidade que mais contribuiu, percentualmente, para vitoria de Dilma foi Calumbi, Pernambuco, onde Dilma obteve 96,51% dos votos válidos. Serra teve seu maior percentual em Porto Acre, com 80,33%.
Ganha uma passagem a pé para Itacoatiara, com direito a acompanhante, quem disser, quais foram as cidades que Dilma e Serra tiveram os menores índices percentuais. Promoção válida até meia noite de hoje.
Enquanto isso em Calumbi:
"Os fogos de artifício já estavam prontos e os veículos das lideranças políticas posicionados no Centro da cidade para uma carreata de comemoração. Às 17h30 do domingo, pulos e gritos de euforia explodiram. 'É Calumbi, de novo', diziam os moradores. Pela segunda vez, Calumbi - município pernambucano no Sertão do Pajeú, a 360 quilômetro do Recife - deu a maior votação proporcional a presidenta eleita Dilma Rousseff (PT). 96,5% dos votos válidos, o equivalente a 4.142 pessoas contra 150 de José Serra, do PSDB (3,4%). Já havia conquistado esse mesmo feito no primeiro turno da eleição presidencial (94.8%) e almejava mais." escreveu o Diário de Pernambuco (http://www.diariodepernambuco.com.br/2010/11/02/politica2_1.asp).
Na verdade, Calumbi perdeu para Havana, Cuba. Lá Dilma teve 97,64% ou 248 votos. Seis eleitores votaram em Serra.
Dilma Rousseff ganhou em todos os municípios de Pernambuco, Maranhão, Amazonas e Amapá. No Ceará, somente Viçosa do Ceará deu vitória ao tucano José Serra, onde teve 51,36% dos votos válidos.
Isso não caiu do céu. Em Pernambuco, o neto de Miguel Arraes, Eduardo Campos (PSB) arrebentou nas urnas, reelegendo-se no primeiro turno com 82,84% dos votos válidos, derrotando Jarbas Vasconcelos, ex-prefeito, ex-governador - que ano passado fez severas críticas as irregularidades de seu próprio partido - e membro da ala do PMDB que não apoiou Dilma. O resultado das urnas também aposentaram Marco Maciel, que perdeu a reeleição para o Senado.
No Ceará Dilma contou com o apoio de Cid Gomes, também do PSB, governador candidato a reeleição, cujo coordenador da campanha foi seu irmão, Ciro Gomes. Venceram com 61,27% dos votos válidos. Lula deverá dá-lhes um agrado por terem desempregado Tasso Jereitassi.
Estados que mais contribuiram percentualmente com Dilma Rousseff:
1 -Amazonas = 80,57%
2 -Maranhão = 79,09%
3 -Ceará = 77,35%
4 -Pernambuco = 75,65%
5- Bahia = 70,85%
6- Piauí = 69,98%
Estados que mais contribuiram com votos líquidos para a vitória de Dilma Rousseff:
1- Bahia = 2.788.495
2- Pernambuco = 2.344.718
3- Ceará = 2.325.841
4- Minas Gerais = 1.797.831
5- Rio de Janeiro = 1.710.186
6- Maranhão = 1.687.697
7- Amazonas = 866.274
Pernambuco e Ceará preparam a fatura para entregar a Dilma. O Maranhão já teve sua recompensa, o PT nacional peitou o PT local e apoiou Roseana Sarney que foi reeleita; na Bahia, o governador reeleito, Jacques Wagner é do PT. O Rio de Janeiro, como no Maranhão, o governador é do PMDB, portanto, já faz parte do governo. E o Amazonas ? De quem é o mérito desses votos todos ? Quem vai cobrar essa fatura? Em 2002, Serra contra Lula, o tucano teve votos 311.175; oitos anos depois Serra contra Dilma, os votos dele encolheram para 275.333. Há oitos anos nós não sabíamos como o governo Lula trataria o Amazonas, agora já sabemos.
Acabou-se o tempo em que quem ganhava em São Paulo, ganhava no Brasil. O Estado deu uma vantagem de 1.846.036 votos a Serra. Minas Gerais praticamente anulou isso. O segundo colocando no ranking de Serra foi o Paraná com uma vantagem de 633.130. Lá o governador eleito, Beto Richa (PSDB) - que entrou na justiça e ganhou, para que as pesquisas de intenção de voto não fossem divulgadas na impressa - prometeu um milhão de votos de diferença pró-Serra, mas não cumpriu o prometido.
Retirando São Paulo, a soma dos outros dez estados em que Serra ganhou somam 1.697.242 votos. O Maranhão sozinho tirou essa diferença. E depois os PSDBistas querem colocar a culpa no Aécio. Como disse Zé Dirceu ontem a noite no programa "Roda Viva": "Agora é crise no partido porque eles estão praticamente empurrando o Aécio Neves para fora do partido. E quem autoriza isso está querendo que ele saia." Ele sai num dia, noutro o Lula marca um encontro com ele. Não creio que Lula o convide para o PT, mas vai querer "ajudá-lo" a decidir para qual partido deva ir. Não acredito que saia. Se sair leva a metade do PSDB e Minas inteira junto. Esperemos acalmarem-se os ânimos.
Com a vitória de Dilma abre-se um novo posto de trabalho para as mulheres no Brasil. Mas em outros paises da América Latina isso não é novidade. Dilma Roussef será a 11ª mulher a ocupar o esse cargo. Oitos foram eleitas: Isabel Péron, Argentina (1974-1976); Lídia Tejada, Bolivia (1979-1980);Violeta Chamorro, Nicaragua (1990-1997);Rosalia Arteaga, Equador (1997);Mireya Moscoso,Panamá(1999-2004); Michelle Bachelet, Chile (2006-2010); Cristina Fernández, Argentina (desde 2007); Laura Chinchilla,Costa Rica (2010). Janet Jagan da Guiana (1997-1999) e Ertha Pascal-Trouillot do Haiti (1991) não chegaram ao poder pelo voto direto.

Resultado da Eleição Presidencial de Domingo II

No post "Resultado da Eleição Presidencial de Domingo" de 29.10.10 considerando a pesquisa Datafolha que previa que Dilma teria 56% dos votos válidos e Serra 44%, eu escrevi que nesse caso Dilma teria 56.890.485 votos e Serra teria 44.699.667 votos, fazendo uma diferença entre eles de 12.190.818 votos. A diferença de domingo foi 12.041.141 votos. Não estou tão mal assim.
Os institutos de pesquisa dizem as margens percentuais, mas não o valor absoluto, porque ninguém sabe quanto será a abstenção, os votos brancos, os votos nulos e para onde vão os votos dos indecisos, que segundo a pesquisa era 4%.




Os resultados reais e minhas previsões:

Dilma votos obtidos = 55.752.529
Dilma votos previstos = 56.890.485

Serra votos obtidos = 43.711.388
Serra votos previstos = 44.699.667

Diferença real = 12.041.141 votos
Diferença prevista = 12.190.818 votos

Erro absoluto = 149.677 votos
Erro percentual = 0,14%