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quarta-feira, 8 de maio de 2013

O Fim da Manaus Antiga, Início da Manaus Moderna II

Esse texto foi escrito há três anos (8 de maio de 2010) e foi lido por  mais de 9000 pessoas (até 2022), segundo estatística oferecida ao blogger. É muito para quem esperava que fosse lido por um público constituído apenas de amigos. Hoje na data de seu terceiro aniversário, ele é republicado, porque o tema continua atualíssimo. Mas fiz pequenos acréscimos.

Na introdução do post anterior - O Destino em Nossas Mãos, por Jaime Benchimol 
(http://nogueiraclaudio.blogspot.ca/2013/04/o-destino-em-nossas-maos-por-jaime.html),  que traz excelentes e factíveis propostas, havia afirmado que gostaria de fazer alguns comentários; vou aproveitar a oportunidade e acrescentá-los aqui. Os tempos são outros, temos um novo prefeito, secretários ocupados com o centro histórico de Manaus; e o secretário que tem a chave do cofre veio da iniciativa privada; portanto, tem visão empresarial.

O Fim da Manaus Antiga, Início da Manaus Moderna - escrito originalmente em 08.05.2010 - com acréscimos.

Os jornais noticiaram que a Prefeitura vai acabar com a Manaus Moderna. Que beleza ! Que maravilha! Aquilo ali pode se tornar em um dos mais bonitos cartões postais de Manaus, até mesmo da região norte. Dependendo do que for feito, o Amazonino pode entrar para história da cidade [infelizmente não entrou, vamos torcer pelo Arthur Neto],como entrou Eduardo Ribeiro.

Aquilo lá de moderno não tem nada. A Manaus Moderna, naquela área, poderá está nascendo agora. Dependendo do que lá for feito; insisto. Aquilo é a Manaus atrasada; porque a Manaus antiga, com a arquitetura do mercado municipal  era muito bonita. 

Manaus Atrasada 

Por que não privatizar o Adolfo Lisboa ou cedê-lo em uma concessão por uns 30 anos? O Marché Bonsecours de Montreal era o Adolfo Lisboa deles; sujo, cheio de barracas de verdura dentro e fora; hoje é um shopping center. A questão aqui não é a verdura; é a bagunça, é a sujeira da feira da banana. A feira do Byward Market, bem no centro de Ottawa, onde moro no momento, vende frutas, verduras, flores, comida, etc. e é uma gracinha.

Minato Mirai 21 e o Manaus Rio Negro Bayside

Em 2000, voltei ao Japão - onde morei por dois anos - depois de dez anos. Passei dois meses fazendo um curso sobre desenvolvimento e projetos industriais. Tínhamos aulas em Tóquio, mas nos deslocávamos com frequência para outras cidades, a fim de visitarmos empreendimentos públicos e privados. E um dos projetos que recebemos informações detalhadas foi a revitalização da área portuária de Yokohama. 
Quem esteve lá, para a final da Copa de 2002, possivelmente, conheceu uma parte muito bonita da cidade chamada Mirato Mirai 21, ou Porto do Futuro 21 (http://www.japan-guide.com/e/e3200.html), uma referência ao novo século que se aproximava. Lá tem um prédio bastante alto, no formato de um barco a vela, que mais tarde foi imitado, e também pode ser visto em Dubai.

Byward - Ottawa

A área, segundo a administração do consórcio que a revitalizou, tinha a forma de um U. Em uma das pontas, o porto; na outra a estação ferroviária; que no Japão são sempre bem movimentadas. E no meio, nada. Nada que prestasse. Desvalorização imobiliária, prostituição, degradação material e humana, marginalidade, cheiro de urina, drogas, e tudo mais que conhecemos muito bem.

O que foi que o governo fez ? Um novo bairro ? Sim, essa é a resposta deles. A minha é que fizeram uma pequena cidade dentro de Yokohama, com shopping centers, centro de convenções, museus, hotéis, supermercados, a torre mais alta do Japão, Landmark Tower, o Cosmo Clock 21, um parque de diversões, e uma infinidade de atividades de prestações de serviços.

Como fizeram isso? Criaram uma empresa, cujos sócios eram os governos estadual e municipal e empresas privadas; algo parecido com a nossa PPP, parceria pública privada. A empresa comprou a área, fez a infraestrutura e os prédios que desejava fazer e revenderam o resto. Depois que a iniciativa privada soube o que iria ser feito, não faltou comprador, assim ajudou a financiar o investimento. O resultado foi espetacular.

O consórcio, como eles chamam a empresa, recebe empresas, governadores, prefeitos, executivos, estudantes e curiosos do mundo inteiro para conhecer como se deu o processo, e explicam tudo nos detalhes.

Com vasto material sobre o assunto, voltei para o Brasil empolgado com a ideia. A área que tinha em mente era justamente a da Manaus Moderna. Sempre achei que aquela bagunça e sujeira tinham de sair dali. Vivo incomodado de vivermos de costas para o rio.

Mandei o material para o vice-governador Samuel Hanan, depois falei com o prefeito Alfredo Nascimento, a quem entreguei  o material pessoalmente.
Como se diz por aqui: it is easier said than done. No vernáculo: falar é fácil. Não posso criticá-los; cada governo tem suas prioridades e limitações orçamentárias. É um  projeto arrojado, tem de se ter uma disposição muito grande em fazê-lo. Tem de se ter um pensamento e disposição de JK ou de Eduardo Ribeiro.
Apesar de ter passado apenas uma década da minha visita, a situação do Brasil é outra. Ontem mesmo éramos devedores do FMI; hoje somos credores. Vamos emprestar US$ 286 milhões para a Grécia via Fundo Monetário Internacional, noticiaram os jornais essa semana. Mas não posso deixar de elogiar a atitude da atual administração [de 2010].
 

Minato Mirai 21 - Yokohama











O material entregue trazia um texto explicativo, números e valores; fazia referência a outras áreas, cidades e países, e quão bonito a frente de Manaus poderia se tornar.

De que estamos falando? De derrubar o mercado/feira (da carne e da banana) do local e fazer uma praça bonita? Que pobreza! Isso é pensar pequeno. Falo de algo como bastante conhecido dos amazonenses: Bayside Market Place, em Miami; ou do Vieux Carré, em Nova Orleans (antes do Katrina); Puerto Madero, em Buenos Aires, Water Front de Atlantic City, em Nova Jersey e assim por diante. No nosso caso seria um beira-rio caboco.

De onde viria o dinheiro? Do orçamento próprio da Prefeitura, do governo do Estado, do Banco Mundial, da Corporação Andina de Fomento (que já financiou viadutos), do Banco Interamericano de Desenvolvimento, do Ministério das Cidades, do Ministério do Turismo, do BNDES, do Jorge Paulo Lemann, que anda distribuindo dinheiro; do Ike Batista, que comprou o Maracanã; das construtoras, dos parceiros privados, das revendas de lotes comprados, etc.

É trabalhoso, mas é possível e viável. Brasília foi tudo isso e muito, muito mais; em uma dimensão muito maior.

De que estamos falando ? Estamos falando de um mega projeto, arrasa-quarteirões, no sentido figurado e físico. Para quem fez o Prosamim, faz a ponte sobre o rio Negro (R$ 1,1 bilhão), vai fazer a nova Arena esportiva (R$ 600 milhões), o monotrilho (?) (R$1,3 bilhão), o novo campus da UEA, fazer a verdadeira Manaus Moderna não seria nenhum bicho de sete cabeças.

E o que fazer com o povo que trabalha na velha Manaus Moderna ? O povo que trabalha lá vem de longe, muito longe. Portanto, se deslocar é com eles.  E o povo que compra também; não obstante, muitos terem feiras nas proximidades onde vivem.

Quando era adolescente fui muitas vezes com o meu pai fazer compras no CEASA, que também fica perto do rio Negro, e está entregue as baratas. Muda esse povo para lá. Ou outra opção seria a estação de passageiros da balsa são Raimundo-Cacau Pireira recém-inaugurada (hoje fechada). Qual será a utilidade dela depois da inauguração da ponte? Com certeza, gestores e legisladores públicos estão muito mais capacitados do que eu para encontrar  uma solução. A função deles é encontrar soluções, a minha é dar palpite. E se a medida de fechar a Manaus Moderna já foi anunciada, é porque o novo local já existe.

É tudo uma questão de vontade política, já dizia JK. Quem sabe na nova “ação conjunta” entre Estado e Prefeitura isso seja possível, e construam a verdadeira e nova Manaus Moderna. Para mim o importante é ser construído. Seja pelo atual ( de 2010 - essa opção está descartada), ou um novo prefeito.

Seja como for, não posso deixar de elogiar a iniciativa da atual administração de acabar com a feira/mercado na frente da cidade. Herança de uma época que já acabou; mas ainda é comum em várias cidades do interior, localizadas nas margens dos rios onde elas foram fundadas. Na ribeira encontra-se o mercado e mais adiante a igreja.

Vamos substituir a velha Manaus Moderna por algo que o turista lá de dentro do transatlântico se admire e os manauaras sintam orgulho.

Zoo e Jardim Botânico

Dos bondes que cruzaram Manaus, eu só vi os trilhos, antes de serem cobertos por asfalto nas ruas onde circulavam. Mas, ainda que vagamente, me lembro do aquário público existente na praça da Matriz, e do zoológico do CIGS, onde levei algumas vezes meus filhos. O aquário acabou, e o zoológico tá que dá pena.
No texto mencionado acima, 
O Destino em Nossas Mãos, o economista Jaime Benchimol escreveu:  Já que - acertadamente - abrimos mão de usar boa parte dos recursos da nossa natureza [isto é, não destruir a floresta] , devemos buscar exibi-los através de museus que façam justiça a nossa riqueza nas áreas de ciências naturais e de cultura indígena. Precisamos de jardim botânico, aquário, orquidário, zoológico, parques ecológicos com teleféricos para visualização da vegetação e dos animais nas copas das árvores etc."

Biodôme - Montreal

É muito bom ter pessoas pensando assim. Meus prezados e minhas prezadas e-leitores. Agora não sou eu quem está dizendo isso. Não é esse palpiteiro de plantão, mas uma pessoa séria, respeitada. Então acredite nele. Porque ele entende de economia e é empresário; sabe o que afirma é factível.

Se você visitar o Biodôme de Montreal, localizado na mesma área do parque olímpico, um dos sítios das Olimpídas de 1976, entre outras coisas, você encontra a floresta Amazônica: " A floresta tropical do Biodôme contém milhares de plantas e animais, incluindo a arara vermelha, um papagaio cujas penas são regularmente cortadas para evitar que sejam devoradas por jacarés, uma espécie de crocodilo que compartilham espaço ecossistema com as aves." E mesmo que a temperatura esteja abaixo de zero, ao entrar no local, você vai dizer: Voltei para Manaus. A primeira coisa que se sente é aquele bafo quente que sentimos quando as portas do aeroporto Eduardo Gomes se abrem e saímos do ar-condicionado, quando se chegar em Manaus. Umidade igual, água correndo, mata, bichos, piranhas, araras etc. Não tem nada lá que não tenhamos de sobra aí. E o pavilhão está sempre repleto de gente querendo ver como é a Rain Forest. E nós aí em Manaus, que temos todo esse material, não temos uma estrutura para recepcionar o turista de forma que possa apreciar nossa natureza.

No zoológico da cidade de Buffalo, no estado de Nova York, a história se repete em uma proporção menor. Tem uma parte do zoo que reproduz a nossa floresta e lá habitam nossos animais, como jacarés, tartarugas, araras, tucanos, peixe-boi e até um tamanduá bandeira.

Ao ver pessoalmente, nessas localidades, as nossas riquezas naturais, enche-me de orgulho e de tristeza ao mesmo tempo. 

Não na mesma intensidade, mas a história se repete no Georgia Aquarium em Atlanta. Lá há uma ala sobre os nossos peixes, com destaque para a piranha "vermelha". As quatro fotos seguidas mais abaixo mostram um pouco sobre isso. Ao entrar nele o sentimento descrito se repetiu. Chego até sentir uma revolta. Não contra eles, mas conosco mesmo.

Zoo de Buffalo, NY










Moral da história: nós não temos leão, girafa, pinguim; e nem precisamos deles, mas o que temos é do interesse do mundo.
E como financiar tudo isso ? Com recursos de todas as instituições mencionadas acima, com patrocínios e doações.

Doações aí é que reside o problema. Nós não sabemos pedir, pedimos mal e erradamente. Por essas bandas e nos Estados Unidos se pede e se recebe muito. Na América do Norte não tem universidade pública grátis; e mesmo as privadas, pedem e pedem muito, e recebem muito.

Georgia Aquarium - Atlanta
Georgia Aquarium - Atlanta

Georgia Aquarium - Atlanta
Georgia Aquarium - Atlanta

Vamos começar pela que mais arrecadou em doações um único ano: a Stanford University arrecadou um bilhão de dólares ano passado. Antes que seja dito que esse exemplo não serve, me antecipo e digo: não serve. Mas é útil para ilustrar a cultura de doação existente na Estados Unidos e Canadá. É muito comum uma instituição rica, um Bradesco, uma Votorantim americana apoiar financeiramente um museu, um zoológico, uma orquestra etc. Você entrar em um museu americano, lá está à lista das instituições que patrocinam suas atividades. Jorge Paulo Lemann, dono da cadeia de lanchonete Burger King, dono da AB Inbev, a maior cervejaria do mundo; das Lojas Americanas e de mais meia dúzia de empresas; fundador da Fundação Estudar, "uma organização sem fins lucrativos criada em 2002, e [que] tem como objetivo melhorar a qualidade da educação pública no Brasil", doou 16,5 milhões de dólares para a Universidade de Illinois, para o Centro de Estudos Latinos e Caribenhos; e mais alguns muitos milhões para a criação do "Lemann Institute for Brazilian Studies" na Universidade de Columbia. Isso serve para exemplificar que é pedindo que se recebe. Ou como diz o ditado  chinês: quem não chora não mama.

A revista Forbes, em dezembro do ano passado, para a edição comemorativa de seu 30aniversário reuniu 161 bilionários e milionários na Biblioteca Pública de Nova York, no dia 26 de junho de 2012, para The Forbes 400 Summit on Philanthropy. Encontros de bilionários para falarem de suas atividades assistenciais. Para tanto, muitos deles criaram empresas unicamente com essa finalidade. Lá estavam Warren Buffet, Bill Gates, Oprah Winfrey e muitos outros. Há relatos de vários tipos de atividades  filantrópicas. Um jovem milionário, John Kluge, 29 anos, criou uma empresa para construir um milhão de sanitários em países pobres. A lista de doações e enorme, e nela constam vários museus, zoos e outras coisas do gênero.
Aqui, no Exército da Salvação, uma instituição sem fins lucrativos, que vende coisas usadas doadas pela população, tem cartazes com fotos de favelas brasileiras, pedindo dinheiro para o Brasil. Já vi também onde se pedia dinheiro para a conservação da floresta amazônica.

Como é mais fácil dizer do que realizar, diria que o começo é se ter um projeto pronto. Não é difícil sonhar. Com uma ideia definida na cabeça, determinando a área que se deseja trabalhar, e com um profissional que saiba utilizar a ferramenta gráfica CAD (desenho realizado com ajuda do computador), pode-se ter em 3D uma noção e visão do resultado desejado. E depois é sair pelo mundo em buscar de patrocinadores. Tenho um amigo em Manaus que criou há mais ou menos uma década uma ONG que presta muitos serviços à comunidade em que está instalada; e devido a uma constante pesquisa tem conseguido alguns patrocínios no exterior.
Trabalhemos por um zoo decente para Manaus, ou um jardim botânico, por uma Manaus Moderna.

Vou acrescentar uma frase hoje ao texto de 2010: Que a Manaus Moderna seja transferida para a CEASA JÁ !

Cláudio Nogueira

 


PS1. Prefeito visita obra e confirma a entrega do Mercado Adolpho Lisboa para outubro: 
http://www.youtube.com/watch?v=XyixvU3B0wE.

PS2. Esse negócio de Manaus Rio Negro Bayside ou Manaus Water Front pode ser substituído por um nome mais amazônico.

PS3.The Biodôme: Inside the Tropical Rainforest of the Americas Ecosystem: http://montreal.about.com/od/biodome/ss/biodome-tropical-rainforests-montreal-ecosystems-zoo.htm   ou  htpp://espacepourlavie.ca/en/ecosystems/tropical-rainforest

PS4. Zoo de Buffalo, NY: http//www.buffalozoo.org

PS5. Comentava-se na época da construção da ponte sobre o rio Negro, que o governo do Estado pretendia construir em Cacau Pireira, uma espécie de Irandubai ou Iranbubay.

PS6. Acrescento mais dois bons exemplos: A Estação das Docas, na Baía de Guajará, em Belém - https://viagemeturismo.abril.com.br/atracao/estacao-das-docas/ . Um excelente exemplo que se enquadra dentro da nossa realidade  e a revitalização da zona portuária de Rio de Janeiro, chamado de Porto Maravilha, com a criação do maior aquário marinho da América do Sul.

PS6. Ao que foi dito "não temos nada", devo fazer uma correção: não posso deixar de mencionar o MUSA - Museu da Amazõnia - 
 http://museudaamazonia.org.br/pt/