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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Pesquisa, estatística, tecnologia e empreendedorismo em evidência em 2014

A consultora de carreiras e fundadora da Singulari Consultoria, Luciana Jacob Nogueira, fala da importância da orientação vocacional e da demanda de coaching executivo das empresas de Manaus.

Essa entrevista pode ser encontrada no site do jornal Diário do Amazonas: http://www.d24am.com/noticias/economia/pesquisa-estatistica-tecnologia-e-empreendedorismo-em-evidencia-em-2014/104061i ]

Entrevista feira por  Henrique Saunier . 

Manaus Humanas ou exatas? Qual curso escolher? Por realização pessoal ou por dinheiro? Essas são apenas algumas das perguntas que o jovem se faz quando está no processo de escolha da sua profissão, decisão muito importante para se fazer tão cedo e sem um apoio de um especialista, ou mesmo dos pais.
Para a consultora de carreiras e fundadora da Singulari Consultoria, Luciana Jacob Nogueira, essa escolha não pode ser feita por pressão, sob o risco de criar futuros profissionais frustrados. A psicóloga e empresária fala da importância da orientação vocacional, da demanda de coaching executivo das empresas de Manaus, além do importante equilíbrio que a pessoa deve fazer entre optar pelo que gosta e o que oferece retorno financeiro. A entrevistada  acredita  que  marketing digital,  pesquisa e estatística, desenvolvimento de novas tecnologias e  empreendedorismo serão os ramos de maior evidência em 2014.

Quando os pais percebem uma certa vocação para alguma área específica em seus filhos, vale a pena investir desde cedo? 
Antigamente se falava muito em vocação. Hoje em dia não falamos muito, porque parece muito restritivo. Ninguém nasce para ser professor, por exemplo, mas sim com características, como gostar de pessoas e facilidade para se expressar. Hoje, temos um número muito maior de novas profissões, como analista de mídias sociais. Ninguém pode dizer que nasceu com vocação para analista de mídias sociais, por exemplo.

O fato de os pais ‘empurrarem’ seus filhos para determinada área, pode atrapalhar ou ajudar no processo de escolha da carreira? 
Muitas vezes, os pais querem suprir uma demanda sua por meio dos filhos. Eles investem para que o filho seja médico, mas aquilo pode não ter nada a ver com o que o jovem queira. Obviamente, os pais estão preocupados com a remuneração do filho e é natural que eles se preocupem. Os pais devem tomar muito cuidado para não impor suas próprias aspirações e as suas frustrações nos filhos. Recomendaria aos pais mostrarem um leque de profissões e até apresentaram amigos de profissões diferentes aos filhos. Temos muitas opções de cursos e quanto mais opção, mais difícil a escolha. Um número muito grande de troca de cursos. A minha recomendação é entender não só a ideia da profissão, mas o seu dia a dia.


É cada vez mais comum nessa geração a troca de ramo? Por que acontece isso? 
Isso acontece por falta de informação de como é o curso, da grade curricular e de como será a vida profissional. A imaturidade também conta. Às vezes, a pessoa mudou tanto dos 16 aos 25 anos e ela percebe que aquele curso não tem nada a ver com ela. Para quem sente essa dúvida, eu recomendo que busque ajuda profissional. Adolescentes entram na faculdade em grupo, por empolgação porque os amigos escolherem o mesmo curso. Os pais só precisam tomar cuidado para que a informação não se transforme em uma pressão. Mas existem casos de pessoas que descobrem que não querem aquilo depois de terminarem a faculdade. Ou pessoas que trabalham dez anos na profissão, mas dizem ‘cansei’.

O chamado teste vocacional já se modificou muito com os anos. Hoje, qual a importância? 
A orientação profissional é importante para evitar uma escolha errada. O objetivo principal é ajudar a tomar uma decisão consciente. Uma série de fatores podem levar à infelicidade, então é preciso eliminar esses fatores do caminho. A partir da entrada do Ensino Médio já se pode começar a se preocupar com isso. Nesse período, dá para conhecer profissionais de diferentes áreas, ir a feiras feitas pelas faculdades. Como as pessoas entram no mercado muito cedo, é comum depois de alguns anos elas terem a vontade de mudar.

Dá para haver o equilíbrio entre o gostar da profissão com a questão financeira? 
Pregamos muito o lema ‘faça o que você ama e ame o que você faz’. Mas algumas pessoas levam isso muito ao pé da letra e limitam as suas possibilidades. Você precisa entender o que gosta de maneira geral. Dá para combinar isso, mas é preciso ser racional. Para algumas pessoas, ter sucesso e ser realizado, não é ter muito dinheiro. É ter tempo livre, passar mais tempo com a família, mesmo optando por um salário menor. Mas é difícil tomar essas decisões quando jovem, porque, nessa época, não há esse tipo de preocupação. Não se pode escolher determinada profissão só porque ela está dando mais dinheiro no momento.

Na área de coaching de carreiras, quais são os segmentos que mais procuram esse tipo de serviço e as causas? 
Atendemos profissionais de serviço, comércio e do distrito. As dificuldades encontradas têm a ver muito com as questões individuais. Antes, havia um investimento maior das organizações. Hoje, vejo muito mais os próprios executivos querendo investir no seu desenvolvimento. Muitos profissionais nos procuram independente da sua empresa.

Perfil

Luciana Jacob Nogueira
Psicóloga formada pela Ulbra e mestre em Engenharia da Produção (UFRJ). Fundadora da Singulari Consultoria, com experiência como consultora de gestão de pessoas no Brasil e no exterior, tendo trabalhado na Holanda na Samhoud. É membro da Diretoria da Associação Brasileira de Recursos Humanos, professora de pós-graduação e autora do livro ‘Sucessão em Empresas Familiares: Um estudo multicaso no Amazonas’.
 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Polo Industrial de Manaus, para onde estamos indo ?


Parte 1
Singapura 
Começou da mesma forma que comestamos   
Em 1967 fazia apenas quatro anos que Singapura tinha obtido a independência do Reino Unido; e dois que tinha se separado em definitivo da União Malásia (Malaia + Ásia), que era composta do país chamado Malaia  e mais algumas ilhas nas redondezas. Na realidade ela foi expulsa da união. Desta forma, em 1967, fazia dois anos que era realmente independente.
Lee Kuan Yew, fundador da Singapura rica e moderna, escreveu no seu livro de memórias, “From Third World to First – Singapore Story: 1965-2000”, que estavam sozinhos no mundo e tinham que lutar pela sobrevivência. Naquela época viviam com medo de serem anexados pela Malásia; não mais como um país associado, mas como parte desta; e, também, pela Indonésia, que anos mais tarde anexaria o Timor Leste por 24 anos.

A Saída dos Ingleses 
Apesar de terem concedido a independência a ilha, os ingleses permaneciam lá por questões de geopolítica internacional. Estávamos na Guerra Fria. Mas devido a situação econômica no Reino Unido, em 1968, o governo inglês anunciou que iria retirar suas tropas em 1971. Dito e feito. Isso deixou Yew, o primeiro ministro, muito preocupado, pois  não haveria empregos suficientes para todos quando os militares fossem embora. Então, saiu pelo mundo convidando empresas a instalarem suas fábricas na ilha. Saiu, também, em busca de ideias que lhe ajudassem a industrializar Singapura. Participou de seminários em Harvard, onde recebeu aulas sobre lucros. Teve vários encontros com industriais na Europa e Estados Unidos para convencê-los a investir na ilha.
Embora tenha estudado na London School of Economics and Political Science e na University of Cambridge, ambas listadas entre as melhores universidades inglesas; não se envergonhou de receber lições de como deveria proceder. Sobre sua curta temporada na Kennedy School of Government, já como primeiro ministro, fez o seguinte comentário: “Eu apreendi muito sobre a sociedade e economia americana lendo e conversando com os professores da Harvad Business School [isso mesmo, eu não misturei as escolas]; como as conversas que tive com o professor Ray Vernon. Vernon me deu uma lição valiosa sobre a mudança constante na natureza da tecnologia, das indústrias e dos mercados; e como custos, especialmente os salários em indústrias intensivas de mão-de-obra, determinam os lucros.” E assim ele continua, também, sobre as lições que recebeu sobre Taiwan e Hong Kong, que eram também pequenas, mas já vinham apresentando bons resultados econômicos.
Lee Kuan Yew, não confiou nos seus conhecimentos pessoais, apesar de serem vastos. Muito menos partiu para o “achismo”. Estudou o que outros países já haviam feito, como Israel, que era novo e também pequeno, mas já tinha 20 anos de existência.
Ele é, possivelmente, o único ser humano que comandou um país desde quando este era pobre, até este se tornar rico, muito rico. Outros personagens da história (*), em outros lugares, começaram esse processo, como em Dubai, por exemplo, mas foram seus sucessores que continuaram até o país enriquecer.
Como narra no livro, Yew também pediu ajuda para o UNDP, United Nation Development Programme, que lhe mostrou como Israel no meio de um ambiente hostil, estava se desenvolvendo.
Israel foi a grande inspiração para indústrias inovadoras. Sem poder negociar com os seus vizinhos, optou em desenvolver serviços ou produtos pequenos e de grande valor agregado, que pudessem ser exportados/ transportados com mais facilidade.

Eles e Nós
Em 1967, Singapura tinha 2 milhões de habitantes. Um pouco mais que a população de Manaus hoje. Possivelmente, não tinha os problemas que temos; resultado de um crescimento rápido e desordenado. Mas também não tinha indústrias e nem empregos. Segundo Yew, tinham o porto, que não era grande coisa (hoje um dos mais movimentados do mundo em volume de cargas), os militares ingleses e os empresários de Taiwan e Hong Kong, “que trouxeram baixa tecnologia tais como têxtil e produção de brinquedos, intensivo de mão de obra, mas sem larga escala.” O PIB era aproximadamente 1,237 bilhão de dólares e um per capita de US$ 615  (valores já atualizados para outubro de 2010. (Fonte FMI).
A cidade de Manaus tinha, segundo o Censo de 2010, uma população 1.802.525 habitantes. E  uma estimativa de 1.982.117 até o final de 2013(IBGE). Em 2010, o PIB de Manaus era  de R$ 48,5 bilhões e PIB per capita de R$ 26.961.15 (IBGE). Naquele ano, o valor mais alto do dólar americano foi de R$ 1,8670.
Para facilitar o nosso raciocínio vamos utilizar esse valor como se fosse único. Desta forma, em dólares americanos, o PIB de Manaus seria, em 2010, algo em torno de US$ 26 bilhões, e PIB per capita mais de US$ 14 mil. Tendo um parque industrial com mais de 400 indústrias com produção anual que ultrapassou os 40 bilhões de dólares.
E se nosso começo tivesse sido em 2010 (só para utilizar os dados disponíveis), onde estaremos daqui a 50 anos, quando os incentivos da Zona Franca acabarem? Temos uma população menor que Singapura tinha em 1967. Somos 21 vezes mais ricos do que eles “não” eram. Mas isso é uma medida relativa. Posto de outra forma: somos US$ 24,7 bilhões de dólares mais ricos; temos mais de 400 indústrias que produzem mais de US$ 40 bilhões por ano. Temos duas universidades públicas, duas grandes universidades privadas, várias instituições de ensino superior (IES); temos o INPA, o CBA, Ifam, Fucapi,etc. etc.
Em 1967, Singapura tinha uma população composta de 75% de descendentes de imigrantes chineses, seguidos por minorias  de  malaiosindianos  e outros. Tinha sérios conflitos raciais, com brigas nas ruas da cidade/estado. Além de quatro línguas oficiais: o inglês, o  malaio, o chinês e o tâmil.
Hoje, Singapura tem 5,4 milhões de habitantes, ou 7.540 habitantes/Km2. O município de Manaus (que é maior que a parte habitada) tem 11.401 km2, e uma densidade demográfica de 158 habitantes/Km(fonte IBGE).
Se considerarmos 1967 o ano-base deles, e 2010 o nosso ano-base, onde estaremos daqui a 30 anos ?
Em 1977, o PIB per capita deles era US$ 2.888. Um acréscimo de 370% em 10 anos. Em 1987, O PIB era de US$ 7.634 (valores atualizados. Fonte: UNData). Ainda inferiores ao nosso de 2010. Mas, em 1997, trinta anos depois que eles começaram a buscar a industrialização, o PIB per capita era de US$ 27.051. Um avanço extraordinário. Em 2007, o PIB per capita de Singapura era de US$ 38.731; e em 2011, US$ 50.087, em valores atualizados pela UNData, da Nações Unidas.
E como eles começaram ? Exatamente como começamos. Como narra Yew:
“Após vários anos de desanimadora tentativa e erro, nós concluímos que a melhor esperança para Singapura era as multinacionais americanas (MNC) [Multinational Corporation]... As MNC americanas trouxeram alta tecnologia e operações em larga escala, criando muitos empregos. Eles tinham peso e confiança...
A percepção aceita pelos economistas do desenvolvimento, naquela época [hoje também] era que as MNCs eram exploradoras de mão-de-obra barata, terra e recursos naturais. Essa ‘escola da dependência’ dos economistas argumentava que MNCs continuavam o modelo explorador da colonização que deixou os países em desenvolvimento vendendo matéria prima para os países desenvolvidos e comprando produtos acabados deles. As MNC controlavam a tecnologia  e as preferências de consumidor, e formavam alianças com os governos anfitriões para explorar o povo e mantê-los embaixo. Líderes do Terceiro Mundo acreditavam nessa teoria de exploração neocolonialista, mas Keng Swee [na época ministro da Defesa, mas havia sido ministro das Finanças] e eu não estávamos impressionados. Nós tínhamos um problema da vida real a resolver, não poderíamos se dar o luxo de ficar conscritos por uma teoria ou dogma. De qualquer forma, Cingapura não tinha recursos naturais para MNCs explorarem.
Tudo que tínhamos era um povo trabalhador, uma boa infraestrutura básica, e um governo que estava determinado a ser honesto e competente. Nossa obrigação era criar um meio de vida para 2 milhões de singapurenhos. Se as MNCs podiam dar empregos aos nossos trabalhadores e ensiná-los habilidades  técnicas e de engenharia, e know-how gerencial, nós tínhamos de buscar as MNCs.
A segunda parte da minha estratégia foi criar um oásis de Primeiro Mundo, numa região de Terceiro Mundo. Isso é algo que Israel não podia fazer porque estava em guerra com os seus vizinhos [a Guerra dos Seis Dias foi em 1967]. Se Singapura pudesse estabelecer padrões de Primeiro Mundo em segurança pessoal e pública, saúde, educação, telecomunicações, transportes e serviços, ela se tornaria uma base para empreendedores, engenheiros, gerentes e outros profissionais que teria negócios na região. Isso significava que tínhamos de treinar nosso pessoal, e equipá-los para fornecer serviços com o padrão de Primeiro Mundo...
Tínhamos que ser melhores. “Se fôssemos tão bom quanto os nossos vizinhos, não haveria razão para eles fazerem suas bases aqui.”

Mas antes da industrialização, mesmo achando que não seria a salvação da lavoura, ele procurou incrementar a indústria do turismo, ouvindo a recomendação de um fabricante de refrigerantes. Lee Yew escreveu: “A indústria do turismo é intensiva de mão de obra, precisa de cozinheiros, arrumadeiras, garçons, lavadeiras, secadoras, guias turísticos, motoristas e artesãos confeccionadores de lembranças. O melhor de tudo: requeria pouco capital.”
Singapura conseguiu fazer a transição de uma aglomeração industrial de capital exógeno, para clusters tecnológicos inovadores com  firmas endógenas. Isso mesmo, aglomeração  no singular e clusters no plural. Isso exige outro post; embora, já tenha escrito um pouco sobre isso aqui.
E nós ? Coincidentemente começamos juntos. A Zona Franca de Manaus foi instalada em 28 de fevereiro de 1967. Nós conseguimos grandes avanços nesses 45 anos. Quanto era o nosso PIB naquela época, e quanto é hoje?  Mas águas passadas não movem moinhos. Precisamos definir onde estaremos daqui a 30 anos. Quando é que vamos conseguir fazer essa transição e sair de um sistema regional de produção para um sistema regional de inovação.

Era uma vez um PIB per capita
Vou  fazer uma pequeno parêntese aqui. O que podemos aprender com o PIB per capita ?
Seja a  cidade  A composta apenas por três doceiras. Cada uma obtêm  $ 5.000 com as vendas de doces. Esse é o PIB per capita. E o PIB total é $15 mil. Em outra cidade, B, com apenas 3 pessoas também, no mesmo ano, a situação é mais ou menos assim: cada doceira ganha com suas vendas $4.000. Esse é o PIB per capita e o PIB total é $ 12.000. Considerando que o número de doceiras lá e cá é o mesmo. As doceiras da cidade A são mais produtivas. Por algum motivo conseguiram fazer mais doces, no mesmo espaço de tempo.
O tempo passa é a cidade A tem 180 doceiras, e o PIB da cidade é $1,8 milhão; o per capita agora é $ 10 mil. Um acréscimo significativo. Mas as doceiras da cidade B aumentaram tanto a produção quanto a produtividade. A população da cidade B é de apenas 120 pessoas, e o PIB da cidade é $ 3,6 milhões. Então  o per capita da cidade B é de $ 30.000. Em tese, cada morador agora produz mais. É que eles descobriram que existem outras coisas que dão uma margem de lucro bem maior do que produzir simples bolos. Eles têm tecnologia para fazer bolos mais macios, o que aumenta a competitividade e arrasa com a concorrência. Após anos de pesquisas, eles aprenderam a fazer bolos confeitados e recheados. Técnica que as doceiras da cidade A não dominam. Agora eles produzem bolos com maior valor agregado; por isso cobram mais; e com maior automação, o que requer uma quantidade menor de pessoas na produção. Desta forma, uma quantidade menor de pessoas produz uma quantidade maior de riqueza. Ou dito de outra forma: a riqueza cresceu percentualmente mais que a cresceu a população (e o PIB per capita aumentou). Agora com custos mais baixos e lucros mais altos, com o investimento contínuo desses lucros, a riqueza não pára de crescer. E foi isso que aconteceu com  Singapura, que, em 2011, atingiu um PIB per capita, segundo dados da ONU, de US$ 50.087.

Parte 2
Dubai –  Começou da mesma forma que começamos
A essência de vários posts escritos aqui é pela criação das mudanças necessárias para nos tornamos uma cidade inovadora, produzindo bens com maior valor agregado, que não dependam de isenções fiscais para ser competitiva; criar condições para o desenvolvimento de firmas locais (sem desprezar o investidor estrangeiro). Que as firmas estrangeiras tragam os seus laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos (P&D). Que possamos fazer a transição como conseguiram Singapura e Bangalore. Em outras palavras, criar as condições para sobrevivermos sem as isenções fiscais, caso elas nos faltem. Se ainda existirem, serão vantagens adicionais, mas não imprescindíveis, sem as quais não corremos o risco de virarmos porto de lenha novamente.
Dubai é mencionada aqui por dois  exemplos: (1) O modelo que temos, concentração de MNC, está superado; mas se é para ficar parado nele, que seja ampliado. Foi o que Dubai fez; (2) Mesmo que seja ampliando ou aprimorado, o modelo não é suficiente. Não devemos parar nele. Que seja os que os estudiosos do assunto chamam de um pré-cluster.
Há alguns anos comentei em um texto uma conversa que tive, em 2004, numa conferência que participei em Ottawa, sobre competitividade e inovação tecnológica,  com um neo zeolandês Ifor Ffowcs-William, CEO da Cluster Navigators Ltd e autor do livro “Cluster Development: The Go-To Handbook”. Ele me disse, após ler um texto que escrevi (The Manaus Tax Free Trade Zone and the Knowledge-Based Industrial Clusters): “Manaus me lembra Dubai onde estive no início deste ano. Uma aglomeração de firmas atomizadas sem nenhuma ligação umas com as outras.”
Isso não deve fazer muito sentido para o e-leitor. Mas ele se refere que Manaus (e Dubai) não se enquadram na definição dos chamados clusters  de base tecnológica ou baseados no conhecimento, onde há intensa cooperação e competição entre as firmas, e essas têm uma forte interação com a academia, possuem laboratórios de P&D, e estão sempre na busca de um produto ou serviço inovador. 
Dubai é uma zona franca como nós somos. Lá, inicialmente, foi criada o Dubai Internet City (DIC), projeto desenvolvido com a ajuda da conhecidas firmas Arthur Andersen e McKinsey & Company.
Em Dubai fizeram a mesma coisa que Singapura fez no início; ou melhor, o que nós fizemos: atraíram multinacionais.
Os autores do livro “Start-Up Nation: The Story of Israel’s Economic Miracle”, Dan Senor e Saul Singer criticam o modelo de Dubai: “Atrair novos membros
para uma concentração industrial oferecendo meios mais baratos de se fazer negócios pode ser suficiente para criar uma concentração, mas não para mantê-la. Se o preço é a única vantagem competitiva da concentração, alguns outros países irão oferecê-lo mais barato.” 
A citação acima nos serve de lição e reforça o que venho escrevendo há muito tempo. Há autores dizendo que esse modelo é frágil. É bom que digam, pois ninguém é profeta em sua terra. 
Ainda assim, Dubai foi mais longe que nós. Pois não pararam aí. E quem descreve os que eles conseguiram são os próprios Senor e Singer: “ Em tempo recorde 180 firmas se inscreveram [no DIC], incluindo Microsoft, Oracle, HP, IBM, Compag, Dell, Siemens, Canon, Logica e Sony Ericsson."
E continuam dizendo: " De certa forma, DIC foi um sucesso notável: por volta de 2006, um quarto [25%] das quinhentas maiores companhias do mundo tinha presença em Dubai.” 
Observem que mesmo assim eles fizeram a crítica citada acima, pois isenção fiscal não é suficiente para sustentar uma concentração industrial. 
Mas nós, mesmo estando na mesma situação, poderíamos ir mais longe, como Dubai foi: “Dubai tentou repetir sua história de sucesso, fundando a Dubai Healthcare City, Dubai Biotechnology and Research Park, Dubai Industrial City, Dubai Knowledge Village, Dubai Studio City e Dubai Media City (onde Reuters, CNN,Sony, Bertelsmann, CNBC, MBC, Arabian Radio Network e outras companhias de mídia tem uma presença importante).” Escrevem Senor e Singer. 
A dupla de autores ainda acrescenta o seguinte comentário: “No DIC você não encontrará nenhum [laboratório de] P&D ou novas companhias inovadoras [qualquer semelhança não é mera coincidência, pois trata-se de um modelo bastante usado]. Dubai abriu suas portas para companhias globais inovadoras, e muitas vieram. Mas elas vieram para usar inovações feitas em outros lugares, para um mercado regional particular. Dubai, portanto, não criou nenhum próspero cluster inovador; alternativamente, ela construiu grande, hub de serviços de grande sucesso.” 
Afinal eles estão criticando ou elogiando ? Para achar a resposta releia o que disse o neo zelandês; a crítica feita lá em cima pela dupla de  autores; e o que eles disseram no início do parágrafo anterior. Nós também construímos um parque industrial de enorme sucesso, mas de 40 bilhões de dólares de faturamento por ano. Mas isso não é o suficiente do ponto de vista da competitividade e da sustentabilidade.

Finalizando

Nós no PIM não podemos contar com as isenções fiscais para manter a competitividade de nossos produtos; pois se fabricados de forma mais eficientes em outro lugar, esse aumento na produtividade e/ou redução dos custos vão anular os ganhos obtidos no PIM com a redução dos impostos. Vamos continuar produzindo o que estamos fazendo, mas vamos buscar a transformação do PIM atual para um iPIM. Não existe raça superior. O povo de Singapura não é mais inteligente que nós, e nem nós mais do que eles. Mas eles tinham uma meta, e souberam passa de uma fase para seguinte; coisa que ainda não conseguimos. E isso só é possível com esforços de todos. Mas para sermos honestos tem de ser mencionado que lá, "o cara" mandava no país inteiro. Ele podia decidir a política econômica, industrial, monetária, etc. Aqui, devemos nos unirmos e  termos  uma reivindicação uníssona, política, empresarial, sindical, das associações de classes, etc. etc. Nós, moradores de Manaus, somos a parte interessada. O Governo Central tem de ter uma política industrial de médio e longo prazo para a Zona Franca de Manaus, e não simplesmente tocando o dia a dia e vamos levando. Qual a meta? Onde desejamos estar daqui a trinta anos ? 
Falamos mais sobre isso no post iPIM, o Parque Tecnológico de Manaus  Não é a Suframa (no momento administrada por um sujeito que eu gosto muito)  que vai solucionar isso sozinha. Nem o governador. Não tem como. Os paulistas, que aqui não estão ganhando dinheiro, não deixarão.  Essa é uma luta de todos nós. E deve ser liderada por políticos com mandatos. E qual é a reivindicação? Uma plano de metas para o PIM para os próximos 30 anos. Mas como parte interessada cabe a nós apresentarmos as propostas.

Tenham todos um feliz e abençoado 2014.


Cláudio Nogueira

(*) Shimon Peres, ex-primeiro ministro de Israel e seu atual presidente; desde a fundação do país em 1948, até os dias de hoje, esteve fora do poder por poucas vezes. Ele  é quem mais perto chegou do feito de Lee Kuan Yew. Mesmo assim ainda está num segundo lugar muito longe.

Outros textos publicados aqui dentro desse assunto:


De Distrito Industrial a Cluster de Base Tecnológica - 31 de maio de 2012

iPIM, o Parque Tecnológico de Manaus - 18 de março de 2012
http://nogueiraclaudio.blogspot.com.br/2012/03/parque-tecnologico-de-manaus-ptm.html

A ZFM acabou - 8 de novembro de 2011
http://nogueiraclaudio.blogspot.com.br/2011/11/zfm-acabou.html