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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

E agora Arthur ?


Ottawa – 28.10.2012
 Apurado os votos, Arthur venceu. Derrotou Lula, Eduardo e Vanessa. E agora Arthur ? Como se diz por essas bandas: What’s next, Mr. Arthur ?

  Tem muita gente tirando conclusão precipitada, ou misturando realidade com desejo. É verdade que em Manaus Lula foi derrotado, tanto quanto os senadores Eduardo Braga e Vanessa  Grazziotin. Foi para o Arthur uma revanche e tanto. Não foi mais uma simples-eleição-e-a-vida-continua, como declarou a senadora ( “Vanessa após a derrota afirmou que: A derrota não faz parte da minha vida”), em http://acritica.uol.com.br/manaus/Manaus-Amazonas-Amazonia-derrota-vida-Vanessa-resultado-urnas-eleicoes_2012_0_800319997.html).
Foi sim uma derrota, mais de caráter pessoal, do que político. Politicamente, está muito cedo para se cantar vitória (eu, no lugar do novo prefeito, não desperdiçaria a oportunidade) e se prever o fim de um grupo político. Foi um abalo, perda de terreno, diria. Vale lembrar ao e-leitor, que Lula, como se dizia do MDB na década de 70, conseguiu eleger um poste em São Paulo (“Haddad: Eu sou o segundo poste do Lula”,
em http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-10-29/haddad-eu-sou-o-segundo-poste-do-lula.html). Poste, para quem não se lembra, significava o MDB, nos anos 70, no auge da ditadura, conseguir eleger qualquer um que fosse do partido. Não tinha nada a ver com a competência ou a falta dela por parte do candidato. Foi sim, uma vitória importante do PT e de Lula na capital paulista. Politicamente, a vitória lá, apaga um pouco a vitória aqui  (ou melhor aí).
O senador Eduardo Braga não deixa de ter certa razão quando afirma: "O que adianta o PSDB fazer o prefeito de Manaus e o (José) Serra perder São Paulo? Compare a Prefeitura de São Paulo com a de Manaus...   Tentar extrapolar e dar a isso uma importância nacional é dar ao Artur e ao PSDB do Amazonas uma força que eles não têm". That’s right ! Vejo nessa frase um pouco de dor de cotovelo.
Só tem um pequeno detalhe senador, foi o ex-presidente, ultrapopular, que deu um sabor diferente a vitória do Arthur Neto. Poderia ter vindo (ido) a Manaus, e ter feito campanha para Vanessa, sem citar diretamente o nome do ex-senador; seu pronunciamento, contudo, querendo Braga ou não, dá um outro contexto a vitória de Virgílio Neto. Este poderá garbosamente colocar essa eleição no seu curriculum; e Lula-JK, desnecessariamente, elevou-o ao status de seu Carlos Lacerda.
Desta forma a vitória de Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto em Manaus, foi uma vitória para lavar a alma dele e de todos aqueles que lhe apoiaram, mas o day after vem aí. Muda tudo e continua tudo com antes. 
E nada garante ou, até o momento, impede que Eduardo Braga seja o próximo governador. Por que o Lula e a Dilma vão apoiá-lo? Nada disso. Eles apoiaram o Alfredo Nascimento, e este perdeu. Tem algumas variáveis que precisam ser analisadas, ou até mesmo removidas (por aqueles  que não desejam que Eduardo volte). O que é uma missão hercúlea, posto que a próxima eleição para governador, está marcada por um certo determinismo. O que é exatamente isso ? Vou explicar mais adiante.
Não é o Planalto que pode eleger Eduardo, “o cara” chama-se Omar Aziz. Esse sim é o coronel eleitoral mais importante da próxima eleição. E com o resultado da atual, ele se tornou de fato, o político mais importante do Estado. Ele talvez se torne o grande interlocutor de Dilma e Lula com o Amazonas. E pelo que li daqui, não me pareceu que ele tenha assumido tanto rancontagonismo contra Arthur. E esse pragmatismo, para alguns é preocupante. Seria a prática da máxima do Toninho Malvadeza ? Cujo Neto, ganhou a Prefeitura de Salvador? Na política não seja inimigo demais que não possa compor, nem amigo o suficiente, que não possa decompor.
Mas voltando ao Omar: “Isso é um processo democrático, não é uma guerra”, segundo o jornal A Crítica em: http://acritica.uol.com.br/manaus/Manaus-Amazonas-Amazonia-Omar-Aziz-eleicoes-2012_0_800319969.html.  O resultado da eleição em Manaus fortalece o governador. Principalmente, se em algum momento, intramuros, defendeu a candidatura de Rebeca Garcia, e aceitou, mas não escolheu, a candidatura da Vanessa.
Falando em sucessão estadual, não apostaria minhas fichas em Amazonino. Não o vejo com chances reais. A menos que seja urgindo pelo Omar, mas não vai. Não tem idade, não tem votos. Não vai, mesmo que conte com o apoio financeiro do Arthur. Exatamente, como nessas eleições municipais, se as pesquisas não lhe forem favoráveis, ele não se candidata, vai arranjar uma safena qualquer como desculpa. Quando lançou a programa “ O Leite do Meu Filho” acreditava que arrasaria, e a reeleição estava certa. Não decolou.
Arthur também não será candidato, é mais provável, na ausência do Amazonino, que apoie o Serafim. Ou até mesmo o Hissa, se o Serafim não for candidato. Hissa, se inteligente for, continuará vice, para ganhar experiência administrativa. Foi meu aluno no CIESA, é inteligente.Alguém aí perguntou pelo Pauderney ou Henrique Oliveira ?
Quanto ao novo prefeito, precisará de todos os quatros anos para mostrar a que veio. A Copa do Mundo está na porta. Se desejar se candidatar a governador, terá um ano meio para mostrar serviço, o que praticamente impossível com o orçamento que a Prefeitura possui, comparado com as necessidades que Manaus tem. Ele sabiamente deverá continuar com a sua política pragmática de paz & amor. Dirá que não guarda rancor de ninguém, nem de Lula, e quer governar com todos. Vai pedir - após ser recebido pelo Omar, e saírem abraçados em uma foto - uma audiência com a Dilma; e se ela bobear, ele dá um beijo nela.
Pragmatismo ( que  é diferente de oportunismo, o povo não é bobo) é necessário para evitar chá de cadeira nos ministérios. Isso eu já havia escrito dias atrás num grupo restrito de amigos no Facebook; mas ontem, ao votar, o prefeito Amazonino Mendes confirmou as minhas suspeitas: A presidente Dilma nunca me recebeu, só me recebeu na época da eleição. Eu faço votos que o novo prefeito não enfrente isso. Emendas parlamentares não foram pagas. A gente passa meses e meses e vamos ter que adular uma série de senadores. Isso tudo são coisas que acontecem e temos que ser sábios para aprender com isso. Acho que Manaus vai dar uma lição linda no dia de hoje”. Observem bem que o prefeito Amazonino é da base aliada.  
Arthur, que não é bobo, não vai querer comer o pão que o Lula amassou e a Dilma assou.  A verdade é que todos nós, devemos torcer pela gestão de Arthur Neto na Prefeitura de Manaus. Se ela  não der certo, vai causar alguns danos à carreira política dele – correndo o risco de voltar para alguma capital europeia – mas será um dano maior na população como um todo, que precisa de um prefeito com bastante energia e disposição para trabalhar. Com uma cidade cheia de problemas para resolver, sendo um deles um trânsito infernal. Peitar o Planalto, é última coisa que Arthur quer nesse momento.
Paradoxalmente, as chances de Arthur  Neto de se candidatar e se tornar governador podem vir do Planalto, mas para que isso aconteça é necessário que vários fatores conspirem simultaneamente, entre eles: completa falta de dinheiro e/ou medidas anti-ZFM que o tornem o paladino da defesa de nossos interesses, to name a few. Não temos vereador federal, por que não ter prefeito  federal ? Quando você se torna amigo demais do rei, você não tem coragem de dizer que ele está nu, alguém tem de fazer isso. 
Será uma relação delicada e nova também para o Planalto, que terá também de pensar bastante antes de mexer a próxima pedra. Em 2014 também teremos eleição presidencial, e o Amazonas deu mais de 1 milhão de votos líquidos para a presidenta (como gosta de ser chamada). A urna deu o seu recado. Como dizem os texanos: don't mess with Amazonas.
Encerro por aqui - contra a minha vontade - porque já fui taxado de prolixo, mas não acabei; só vou dividi-lo em partes. Falta explicar, esse negócio de determinismo.
Apenas deixo aqui umas lembranças para a sua reflexão: Omar com o apoio do Eduardo Braga, então  governador batendo recordes de popularidade, ficou em terceiro lugar para a Prefeitura de Manaus, dois anos depois foi eleito governador. Arthur Neto perdeu a cadeira de senador para Eduardo Braga e Vanessa Grazziotin, dois anos depois derrota os dois e vira prefeito. Isso dá outro texto, não dá ? Vamos escrever sobre isso.
E as forças ocultas? Será que a Rebeca Garcia colocou o nome da Vanessa na boca do sapo ? Je n’y crois pas ( lembre-se Ottawa é bilíngue). Pura intriga da oposição, por três motivos: primeiro por que a senadora, agora, está com o corpo fechado, a foto acima prova isso; segundo, não seria da índole da deputada e; terceiro,tivesse sido Vanessa eleita prefeita, o papai da deputada, Chiquinho Garcia se tornaria senador. Então fica aqui a pergunta: que forças ocultas seriam essas ? Investigaremos.
Parabéns e boa sorte ao novo prefeito Arthur Neto. Parabéns ao Hissa, so far, so clean. Good boy. Que somou nessa eleição.

Esse texto expressa unicamente a minha opinião, e a ninguém mais pode ser atribuído crédito ou descrédito por isso. Debitem na minha conta.

Cláudio Nogueira.

PS 1. Economista Rodemarck Castelo Branco chefe do grupo de transição? Excelente escolha.
PS 2. Phryné Maryan, como fica a relação ACM Neto e o Planalto ?

PS 3. No dia seguinte a publicação deste post a profecia se cumpriu: Arthur Neto foi visitar o governador Omar Aziz, e os dois saíram felizes numa foto: http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=omar-e-artur-anunciam-acao-conjunta-em-manaus-04020D9B3364CCA13326

PS 4. E ACM Neto também acenou que não tem condições de peitar o governo Federal:  'Espero a melhor relação possível com o PT', diz ACM Neto : http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-10-31/espero-a-melhor-relacao-possivel-com-o-pt-diz-acm-neto.html





quinta-feira, 31 de maio de 2012

De Distrito Industrial a Cluster de Base Tecnológica

Este texto foi escrito em setembro do ano passado, a pedido do professor José Seráfico e de Belisário Arce, após o encontro realizado no INPA, no dia 15 de setembro de 2011, como título de A Nova Conjuntura Nacional Regional e Internacional Desafios para o Modelo Zona Franca de Manaus. No que resultou em livro com o mesmo nome, lançado ontem, com mais debates sobre o futuro da ZFM. O livro contém treze textos, com contribuições importantes dos demais autores.

De Distrito Industrial a Cluster de Base Tecnológica

Por Cláudio Nogueira

“Nos últimos cinco anos, segundo a Suframa, 123 fábricas tiveram os incentivos fiscais cancelados ou fecharam as portas no Polo Industrial de Manaus (PIM).”
Diário do Amazonas, 10.10.2011

No seminário sobre a Zona Franca de Manaus realizado pela Fundação Panamazônia e pela Fundação de Defesa da Biosfera (FDB) constatou-se que existem vários profissionais - economistas, engenheiros, administradores, empresários, consultores, servidores públicos, etc. ligados à indústria, à academia e às associações de classes - que convivem intensamente com o modelo Zona Franca de Manaus, que acreditam que este está superado e que esta chegou à maturidade. E como tudo que é maduro demais, pode vir a se decompor. Há profissionais que acreditam que o modelo deve ser revisado, repensado, até ser reinventado.
Qual o motivo que leva a esse grupo de pessoas a pensar desta forma, considerando-se que o faturamento do Polo Industrial de Manaus (PIM) tem batido consecutivos recordes, excetuando-se apenas anos recentes da crise mundial? Mas ainda assim faturando US$ 33 bilhões, em 2010, e com uma perspectiva [concretizada] de US$ 40 bilhões para este ano [2011]. O que é que alguns veem e outros não, ofuscados que estão por números tão eloquentes ?
Como muito bem expôs o economista Rodemarck Castelo Branco, a conjuntura atual, nacional e mundial, é completamente diferente de 1967, quando o modelo foi implantado. Houve quem mencionasse que somente a prorrogação a ZFM não nos garante competitividade, pois estamos, gradualmente, perdendo algumas vantagens comparativas. Outros palestrantes deram contribuições importantes, que nos faz pensar na gravidade da situação; a realidade, escondida atrás dos números. Esse é o perigo. Denis Minev [Preocupa-te Amazonas! Ou Um argumento sobre o triste destino reservado a sociedade industriais complacentes], ex-secretário de Estado do Planejamento, mostrou-nos cidades manufatureiras, que atingiram uma maturidade e posteriormente a decadência.
E por que acredito que o modelo deva ser modificado, aprimorado? Porque devemos desenvolvê-lo com vistas à perenização do Polo Industrial de Manaus, para que sobreviva, se necessário for, sem os incentivos fiscais. Se estes acabarem ou outros estados brasileiros contarem, também, com a redução de impostos, ou alíquotas especiais, quantas empresas do PIM permanecerão aqui ?

Cluster ou Distrito Industrial ?
Não raro as indústrias de motocicletas do PIM são referidas como pertencentes ao Polo de Duas Rodas ou Cluster de Duas Rodas. Os mesmos conceitos são atribuídos às empresas fabricantes de relógio. Há, portanto, dentro do PIM clusters industriais ?
O neozelandês Ifor Ffowcs-Williams, (conversamos em Ottawa, em 2004, na conferência anual e global da TCI) presidente da empresa Cluster Navigators Ltd e ex-presidente do The Competitiveness Institute (TCI), a mais respeitada instituição internacional quando o assunto é reunir especialistas mundiais para debaterem sobre clusters, definiu o Polo Industrial de Manaus como um clump e não um cluster industrial [Não consta no livro: O PIM "reminds me of Dubai where I was earlier this year. As in Dubai, you are describing a clump rather than a high performance cluster. An agglomeration with poor linkages and a lack of interaction between creators and knowledge users"].
Roger Voyer (com quem tive contato pessoal e muito ajudou na minha tese de doutorado) ,professor canadense, practitioner, profundo conhecedor de clusters, autor da metodologia “Oito Ingredientes para o Sucesso de um Cluster”, o definiu como uma concentração MNC, ou de multinational companies [Não consta no livro: "Manaus finds itself in the same situation as other manufacturing and assembly centres that want to move to higher value-added production and into knowledge-based industries. An example is Penang, Malaysia"].
Afinal o que realmente é a Zona Franca de Manaus ? Isso faz diferença ? Sim. É muito mais do que uma questão de conceitos, é a descrição da realidade, é a forma que essa concentração de indústrias está estabelecida. E dependendo desta realidade, os seus resultados são bem diferentes. Para entendermos isso, é necessário contar uma pequena história.
Em 1994, Annlee Saxenian,  professora do Department of City and Regional Planning da  Universidade da California, Berkeley, e diretora da School of Information da mesma universidade, publicou um trabalho intitulado “Vantagem Regional: Cultura e Competição no Vale do Silício e da Rota 128” que se tornou referência mundial, onde compara duas áreas industriais nos Estados Unidos. No seu livro Saxenian faz o seguinte questionamento:  Por que é que os negócios no Vale do Silício, na Califórnia, floresceram, enquanto ao longo da Rota 128, na região de Boston, Massachusetts, declinaram na década de 90? A resposta, Saxenian sugere, tem a ver com o fato de que, apesar de histórias semelhantes, o Silicon Valley desenvolveu um sistema descentralizado, mas de intensa cooperação industrial, enquanto que Rota 128 passou a serdominada por companhias independentes e auto-suficientes.” Saxenian constata que o cluster Silicon Valley é o core de um sistema maior, enquanto que a concentração industrial localizada ao longo da Rota 128, não. Aí reside toda a diferença entre um cluster e um distrito industrial.
A inovação e a produção  do Vale do Silício é muito superior ao da Rota 128. Outra constatação: clusters produzem e inovam mais que distritos industriais, e são mais competitivos. Deve ser observado que a Rota 128 é servida por duas das melhores universidades do mundo, Harvard University e pelo Massachussetts Institute of Technology (MIT), consequentemente, pode-se concluir que, embora seja sabido que para se ter um parque tecnológico produzindo produtos de alto valor agregado, a existência de centros de excelência é fundamental, é essencial, mas não é condição suficiente, outras variáveis estão involvidas.
O Silicon Valley é um cluster. É o pai de todos os clusters; a Rota 128 é um concentração híbrida, menos que um cluster,  muito mais do que um distrito industrial.
A definição de cluster industrial, ou cluster baseado no conhecimento ou cluster de base tecnológica é um conceito internacionalmente aceito como definido pelo professor da Harvard University, Michael Porter [http://www.isc.hbs.edu], o mais respeitado pesquisador mundial sobre o assunto. Distrito Industrial é um conceito de Alfred Marshall, professor da Universidade Cambridge, economista inglês, um dos mais respeitados  economistas do século XX, falecido em 1924.
Para aqueles vivem, como nós, em uma cidade com uma concentração industrial, é possível, até para o simples cidadão, perceber as vantagens de se agrupar as indústrias em um único local, ao invés de espalhadas pela cidade. Elas se beneficiam do que Marshall chamou de externalidades, mas hoje sabe-se que um distrito industrial poderá ser ou não um estágio anterior de um pré-cluster; poderá ou não se tornar um cluster. A vantagem deste sobre aquele, é conhecida por todo o globo, pois há vários clusters no mundo, como há vários distritos industriais.
Para Michael Porter, clusters são concentrações industriais de firmas geograficamente próximas, com intensa interação entre as empresas – cooperação e concorrência - e destas com as universidades e institutos de pesquisas, com fornecedores de insumos, tais como componentes, máquinas e serviços,  e uma infraestrutura especializada. Dotado de empresas em indústrias relacionadas por habilidades, tecnologias, ou insumos comuns. Incluem, também, instituições governamentais e outras - como universidades de qualidade, think tanks, instituições de formação profissional, e associações comerciais e industriais - que fornecem treinamento especializado, educação, informação, pesquisa e apoio técnico.
A essência dos clusters é a interação, tanto formal como informal, gerando inovação. Interação empresa-empresa, empresa-academia, empresa-governo. Apoiado por uma academia que produz knowledge workers, sem os quais o cluster não se realiza. O cluster baseado no conhecimento ou de base tecnológica é o core, o núcleo, o componente central e industrial, de um Sistema Regional de Inovação (SRI), composto pelas indústrias, universidades, institutos tecnológicos, escolas profissionalizantes, institutos de P&D e instituições governamentais. Todos interagindo, produzindo ou fomentando conhecimento e inovação, e materializando esse conhecimento.
No Brasil, segundo scholars e practitioners, como são chamados aqueles que vivem no ambiente de um cluster e/ou trabalham na sua implantação, e segundo publicações indexadas, o que mais se parecer com um cluster, como definido acima, é a região no entorno da cidade de Campinas, em São Paulo.
E Clump, o que é isso ? Etimologicamente, tem o mesmo significado de cluster. Ambos significam agrupamento, concentração, aglomeração, etc. O conceito clump, emitido por Ifor Williams, significa, segundo ele mesmo: “uma concentração de indústrias atomizadas, sem nenhuma interação entre si ou com academia.”

Distrito Industrial ou Clump ?
Temos universidades, centros de pesquisas, institutos que possam alimentar o PIM com uma massa crítica de mão de obra especializada, para perenizá-lo?  Em 2003, mandei um artigo para a Revista Brasileira de Inovação, que não foi aprovado pelo referee, pesquisador que analisa o texto para a revista. Pedi para ver seus argumentos. Ele, professor de uma instituição do Rio de Janeiro, dizia que o artigo estava errado, e que conhecia bem a ZFM, porque por aqui realizava trabalhos, onde havia intensa interação e competências tecnológicas.
Quando fazia pesquisa, em 2003, para a minha tese de doutorado, entreguei um questionário com 52 perguntas para dirigentes de mais 150 empresas. Foram entregues pessoalmente, ou protocolei junto as suas secretárias; mais de 80 voltaram. A proposta básica era conhecer o nível de inovação e interação empresa-empresa, empresa-academia no PIM. E o resultado não apresentou surpresas. As interações - salvo situações pontuais que somadas cabem em uma mão – eram quase inexistentes. Inovações eram pouquíssimas. O pesquisador não ajudou a direção da Suframa a perceber essa realidade [Não consta no livro:  na realidade, ele queria continuar mamando nas tetas da Suframa, não queria concorrência; mas hoje ela existe, o NEPI da Fucapi pode muito bem substituí-lo]. Sejam bem vindos aqueles que realmente desejam nos ajudar [como os que aqui vem ajudar na formação profissional, em mestrados e doutorados interinstitucionais].
Não obstante os esforços feitos pelo governo estadual na última década com a criação da UEA, da FAPEAM e da SECT, e de programas do governo federal para a região norte, com a criação de mestrados e doutorados pelas nossas principais universidades, muito mais precisa ser feito. Digo isto não para criticar, mas para lembrar que a vontade política é de fundamental importância, e que muito mais deve ser feito em tempo mais curto. Algo como um plano educacional de 50 anos em 5. Lembro que a demanda é urgentíssima. Relembro também, que o primeiro curso de engenharia eletrônica no Amazonas, foi implantado na UTAM, somente quando a ZFM já tinha sete anos de existência [graduando a primeira turma quando a ZF tinha dez anos]; e na UFAM, o curso de engenharia elétrica foi estabelecido em 1977, quando a ZFM tinha 10 anos [graduando a primeira turma quando a ZF tinha quinze anos].Estamos sempre correndo atrás do prejuízo.
No encontro da Panamazônia/FDB, perguntei a professora Marilene Corrêa - ex-reitora da UEA e ex-Secretária Estadual de Ciência e Tecnologia, portanto, pessoa que teve papel atuante neste processo de implantação de novos cursos - se poderíamos dizer que a vontade política seria capaz de fazer um plano educacional do tipo 50 em 5, levando em consideração que foi a vontade política que criou a Petrobrás, uma das maiores empresas petrolíferas do mundo, num país com (então) parcas reservas de petróleo. Foi a vontade política que criou a Embraer, a quarta maior empresa fabricante de aviões do mundo, e líder mundial na classe que produz, e para que pudesse se concretizar foi criado um instituto superior de excelência, o ITA, Instituto de Tecnologia da Aeronáutica. Muito embora a professora não tenha dito sim diretamente, ela lembrou que a construção de Brasília, custou US$ 3 bilhões, há mais de 50 anos passados [Pense bem prezado(a) e-leitor(a) o poder de compra de 3 bilhões de dólares há 51 anos atrás]. Quantia elevada até nos dias de hoje, e muito mais difícil para um Brasil muito menor.
A menção de Brasília me lembra de um plano educacional do tipo 50 em 5, que poderia se estender pelas outras regiões do Brasil. Hoje temos mais de US$ 320 bilhões de reservas internacionais, que poderiam ser utilizadas com essa finalidade. Aqui no Amazonas mesmo, trouxemos vários músicos do leste europeu para compor a nossa orquestra sinfônica. Por que não usamos um pouco dessas reservas, considerando que a nossa moeda está estável e não sofre nenhum ataque especulativo, para importarmos cérebros, equiparmos laboratórios, para construirmos centros tecnológicos nas universidades, ou tornar o CBA, efetivamente, um centro de excelência ? Quanto custará a Arena da Amazônia ? Temos muito mais dinheiro do que vontade política [Não consta no livro: Temos menos vontade política do que juízo].
A nossa luta, além da prorrogação da ZFM, é pela manutenção do PIM e da renda, direta e indireta, de milhares de famílias neste Estado; é para que mesmo que a ZFM se acabe, o PIM permaneça de pé. Que a perenização seja pela capacidade instalada, pelas competências existentes, pelo nível da mão de obra qualificada, pela inovação tecnológica. Temos de criar as condições de nos tornamos um parque industrial que exista sem a presença dos incentivos fiscais. Se neste momento a prorrogação da ZFM por mais 50 anos nos dá um pouco mais de tempo para planejarmos o nosso futuro, para criar as condições favoráveis, contudo, não nos garante vantagens competitivas. Lembro que hoje temos [uma ameaça chamada] República (Capitalista) Popular da China, ditadura de direita. Os chineses devem ter aprendido a lição com seus vizinhos sul-coreanos, como uma ditadura capitalista pode produzir um impulso muito grande na economia. Nós conhecemos isso: com a ditadura não há sindicatos fortes, não há pressão salarial, nem greves, etc. Com o agravante de que a China, com uma população enorme, salários baixos, não somente é intensiva de mão de obra, mas agora está rica, é intensiva de capital também.
Há mais de 10 anos, Eugênio Staub, então presidente da Gradiente, profetizava, mais ou menos assim: “Se não tomarmos alguma medida, a China vai acabar conosco, como acabou com os polos de calçados de Franca [SP] e de Novo Hamburgo” [RS].  Tivéssemos uma academia forte (não é culpa dos que nela trabalham, mas por falta de uma política educacional de Estado) a Foxconn e os seus tabletes talvez viessem vindo para o PIM. Mas foram para Jundiaí, em São Paulo.

O que fazer ?
Qual é o próximo passo ? Apresento uma análise mais detalhada e resposta mais completas no meu livro “Estratégias Governamentais para o Desenvolvimento do Polo Industrial de Manaus”. [Não consta no livro: Mas também pode-se ter uma ideia no post: "Parque Tecnológico de Manaus-PTM" (http://nogueiraclaudio.blogspot.com.br/2012/03/parque-tecnologico-de-manaus-ptm.html) ou em "A ZFM Acabou" (http://nogueiraclaudio.blogspot.com.br/2011/11/zfm-acabou.html)].
Como nos tornamos um Vale do Silício? Nada disso. O nosso referencial não é ele. Em 1992, vinte e cinco anos depois da criação da ZF de Manaus, os indianos criaram o Science Park de Bangalore, onde oferecem incentivos fiscais por apenas cinco anos, e mais um ou outro subsídio, como para a eletricidade. O objetivo inicial era atrair empresas produtoras de software, nas quais eram obrigadas a exportarem 50% da produção, e para tanto criaram três institutos tecnológicos (Indian Institute of Science, Institute of Bioinformatics and Applied Biotechnology e o Indian Institute of Information Technology). Hoje Bangalore possui mais de 2500 laboratórios de P&D. E nós quantos temos ? O que eles fizeram e nós não ? É isso que devemos aprender.
Saxenian no seu livro, descreve a importância da interação informal, o qual ela chamava de social network, como um dos fatores mais propulsores de inovação na Califórnia; interação não encontrada em Boston. Ela menciona pubs, bares, restaurantes e clubes, onde a inovação está no ar; onde engenheiros de diferentes empresas, entre uma conversa e outra, decidem abrir novas firmas. Os indianos foram atrás, também, desses pequenos detalhes, e criaram um fórum de debates chamado Software Process Improvement Network (SPIN)  para que os pesquisadores dos laboratórios e dos institutos se encontrassem para conversar sobre inovação.
Há vários exemplos em economias do tamanho da nossa. A Zona Franca de Barcelona e o seu Parc Tecnològic del Vallès, constituído em 1987 para atrair empresas de base tecnológica, são exemplos bem sucedidos os quais devemos fazer benchmark. Estudar o que eles fizeram. Em Barcelona, a Universitat Autònoma de Barcelona tem o seu campus dentro do parque industrial, para atendê-lo e com ele ter maior interação. Cingapura, que até 1963 era uma ilha cheia de malária pertencente à Malásia, hoje tem construído sucessivos clusters, um dos mais recentes é o farmacêutico. Há outros exemplos, como o cluster de tecnologia de informação e comunicações & fotônicos,  na região de Ottawa-Toronto. A República da Irlanda, que no momento se encontra com problemas, como vários países da Zona do Euro, com sua política de clusters, deixou de ser um dos países mais pobres da Europa, para um per capita superior de US$ 35 mil ( US$ 41 mil, em 2008)
O que precisa ser feito foge da expertise da Suframa,  mas isso não a exime de continuar a ser exercer a liderança. Ela, que já teve uma autonomia maior, quando construía campi, hospitais e abria estradas vicinais, hoje tem receitas contingenciadas. Deverá trabalhar mais com o governo estadual, que tem uma responsabilidade maior nesse processo, devido às ações que pode e deve tomar, bem como a pressão que pode exercer sobre o governo federal. Os casos de clusters espontâneos (bottom up) são raríssimos, quase todos são do tipo top down, criados por iniciativas governamentais.
Na década de 90, a Suframa se propôs um planejamento estratégico onde não via a si mesma como mera fiscalizadora e concessora dos incentivos fiscais federais, mas como agência de fomento regional. Hoje, além da crise interna que passa, administra um polo industrial repleto de ruas esburacadas, cercado de favelas. A Suframa, cuja administração, em tempos idos, fazia sombra ao governo estadual, precisa de ajuda e de experts para o PIM sair da situação de um distrito industrial, que cresceu, amadureceu e está envelhecendo, do ponto de vista da evolução e inovação tecnológica. É preciso ser intensificados os projetos como CBA, CAPDA, CT-PIM e CIDE. Para isso a Suframa precisa de apoio político.
E não é com profissionais exógenos que aqui vem e ganham com relatórios e palestras que ela vai encontrar a solução dos problemas. Ela tem de contratar especialistas (ou capacitar a prata local) que já trabalharam em situações concretas em outras concentrações industriais, e que já passaram por esse processo. Todos os anos o The Competitiveness Institute realiza  um encontro mundial - que esse ano [2011] terá sua décima quarta edição, no período de 28 de novembro a 2 de dezembro, em Auckland, na Nova Zelândia – onde pesquisadores, administradores de parques tecnológicos, professores universitários, prefeitos e todos interessados no assunto discutem sobre clusters e concentrações industriais. Via de regra, essa conferência muda de continente a cada ano.
Este ano [2011], no mês de maio, na cidade de Ouro Preto, MG, aconteceu o Sexto CLAC, Conferência Latino Americana de Clusters. A Suframa participa de algum tipo de conferência relacionada a esse assunto ?

No Fim do Mundo
Nós não estamos no fim do mundo. Nós estamos no meio do mundo, na linha do Equador, apenas a 5 horas dos Estados Unidos. Não somos uma ilha. Onde está localizada Cingapura, ali sim é o fim do mundo, além de ser uma ilha. Ela não abastece nenhum dos seus grandes consumidores por meio de estrada, mas por navios, e principalmente, primordialmente, por transporte aéreo. O mesmo acontece com Bangalore, que também está no fim do mundo. No fim do mundo fica a cidade de Montevidéu. Mas o governo uruguaio não pensa assim, recentemente construiu um novo aeroporto, Carrasco, com capacidade de 7 milhões de passageiros por ano, o dobro da população do país.
Acredito que fizemos muito, por isso não devemos ter medo de sermos ousados. Na realidade, o momento exige isto. Saímos das indústrias de juta para aparelhos celulares, potentes motocicletas e televisores de alta definição em cristal líquido. Mas precisamos fazer muito mais. Disto depende o nosso futuro. Essa é a nossa luta. Isso depende somente da nossa disposição, de visão, de planejamento e vontade política.


PS. José Seráfico é diretor da Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera - FDB, e Belisário Arce e presidente da Associação Panamazônia.













sábado, 7 de abril de 2012

O Santo Sudário: Ciência Confirma Igreja

" Santo Sudário é o pano de linho puro, que foi utilizado para envolver o corpo de Jesus Cristo após sua crucificação, antes que este tenha sido levado ao Santo Sepulcro. Mede 4 metros e 36 centímetros de comprimento por 1 metro e 10 centímetros de largura. Encontra-se hoje na cidade de Turim, na Itália. No tecido encontramos manchas de sangue humano, com as marcas do flagelo e suplício sofridos por Jesus de Nazaré. Este pano é a prova maior da existência de Cristo e do que este sofreu."
Para Ciência é Impossível Reproduzir o Santo Sudário
Os estudos mais exigentes sobre o Santo Sudário de Turim não têm respiro. Técnicas das mais avançadas aplicam-se continuadamente sobre ele ou sobre suas amostras.E quanto mais sofisticadas, tanto mais surpreendentes são os resultados.É o caso dos estudos concluídos pelo ENEA italiano, Agência Nacional para as Novas Tecnologias, a Energia e o Desenvolvimento Econômico sustentável, noticiados pelo blog “The Vatican Insider” do jornal “La Stampa” de Turim O ENEA publicou um relatório com os resultados de cinco anos de experimentos. Estes aconteceram no centro do instituto em Frascati. O objetivo foi analisar os “tingimentos semelhantes aos do Sudário em tecidos de linho por meio de radiação no extremo ultrarroxo”. Equipe da ENEA: Daniele Murra, Paolo Di Lazzaro e Giuseppe BaldacchiniEm termos mais simples, procurou-se entender como é que ficou impressa a imagem de Cristo no pano de linho do Sudário de Turim. Quer dizer, “identificar os processos físicos e químicos que podem gerar uma coloração semelhante à da imagem do Sudário”. Os responsáveis do trabalho foram os cientistas Paolo Di Lazzaro, Daniele Murra, Antonino Santoni, Enrico Nichelatti e Giuseppe Baldacchini. Eles tomaram como ponto de partida o único exame interdisciplinar completo realizado pela equipe de 31 cientistas americanos do STURP (Shroud of Turin Reasearch Project) em 1978, um dos mais importantes e respeitados jamais feitos.ENEA: equipamentos da unidade de FrascatiO relatório do ENEA desmente com muita superioridade e clareza a hipótese desprestigiada de que o Sudário seja produto de um falsário medieval.E chega a taxativa conclusão: “A dupla imagem (frontal e dorsal) de um homem flagelado e crucificado, visível com dificuldade no lençol de linho do Sudário, apresenta numerosas caraterísticas físicas e químicas de tal maneira peculiares que tornam impossível no dia de hoje obter em laboratório uma coloração idêntica em todos os seus matizes, como foi mostrado em numerosos artigos citados na bibliografia. Esta incapacidade de reproduzir (e portanto de falsificar) a imagem do Sudário impede formular uma hipótese digna de crédito a respeito do mecanismo de formação da imagem”. Resumindo com nossas palavras:1) É impossível, mesmo em laboratório, produzir uma imagem como a do Santo Sudário.2) Não somente é impossível copiá-lo, mas não dá para saber como é que foi feito. Dr. Paolo di Lazzaro explica inexplicabilidade do SudárioOs 31 cientistas do STURP não tinham achado em 1978 quantidades significativas de pigmentos (corantes, tintas), e nem mesmo marcas de algum desenho. Por isso concluíram que não foi pintada, nem impressa, nem obtida por aquecimento. Além do mais, a coloração da parte mais externa e superficial das fibras que constituem os fios do tecido é irreproduzível.As medidas mais recentes apontam que a parte colorida mede um quinto de milésimo de milímetro. O STURP também verificou que o sangue é humano, mas que debaixo das marcas de sangue não há imagem;– que a difusão da cor contém informações tridimensionais do corpo; – que as fibras coloridas são mais frágeis que aquelas não coloridas;– que o tingimento superficial das fibras da imagem deriva de um processo desconhecido que provocou a oxidação, desidratação e conjugação da estrutura da celulose do linho. Ninguém jamais conseguiu reproduzir simultaneamente todas as características microscópicas e macroscópicas da relíquia. “Neste sentido, diz o relatório do ENEA, a origem da imagem ainda é desconhecida. A ‘pregunta das perguntas’ continua de pé: como é que foi gerada a imagem corpórea do Sudário?”. Um dos aspectos que intrigou os cientistas italianos é que há “uma relação exata entre a difusão dos matizes da imagem e a distância que vai do corpo ao pano”. "O homem do Sudário", curitiba 2011. Clique para agrandar.Acresce que a imagem foi gerada até em partes em que o corpo não esteve em contato com o pano. Por exemplo, na parte de cima e de baixo das mãos ou em volta da ponta do nariz. “Em consequência, podemos deduzir que a imagem não se formou pelo contato do linho com o corpo”.Outra consequência dessas sábias minucias é que as manchas de sangue passaram ao pano antes mesmo que se formasse a imagem.Portanto, a imagem se formou em algum momento posterior à deposição do cadáver no túmulo. Mais ainda, todas as manchas de sangue têm contornos bem definidos, pelo que se pode supor que o cadáver não foi carregado com o lençol. “Faltam sinais de putrefação que correspondam aos orifícios das feridas, sinais esses que se manifestam por volta de 40 horas após a morte. Por conseguinte, a imagem não depende dos gases da putrefação e o cadáver não ficou dentro do Sudário durante mais de dois dias”. Uma das hipóteses mais aceitas para tentar explicar a imagem era a de uma forma de energia eletromagnética que pudesse produzir as características do Sudário: a superficialidade da coloração, a difusão das cores, a imagem das partes do corpo que não estiveram em contato com o pano e a ausência de pigmentos. "O homem do Sudário", curitiba 2011. Clique para agrandar.Por isso, foram feitos testes que tentaram reproduzir o rosto do Homem do Sudário por meio de radiação. Utilizaram um laser CO2 e obtiveram uma imagem num tecido de linho passável em nível macroscópico. Porém, o teste fracassou quando analisado no microscópio. A coloração era profunda demais e muitos fios estavam carbonizados. Todas essas características são incompatíveis com a imagem de Turim.Os cientistas do ENEA aplicaram ainda uma radiação brevíssima e intensa de VUV direcional e puderam reproduzir muitas das características do Sudário.Porém eles constataram que “a potencia total da radiação VUV requerida para corar instantaneamente a superfície de um lençol de linho correspondente a um corpo humano de estatura média [deveria ser] de 34 bilhões de Watt, fato que torna até hoje impraticável a reprodução de toda imagem do Sudário”, uma vez que até agora não foi construído um equipamento de tal maneira potente. E concluem: “Estamos compondo as peças de um puzzle científico fascinante e complexo”. O enigma da origem do Santo Sudário continua ainda para a ciência como “uma provocação à inteligência”. E, para as almas de Fé, um poderoso estímulo à adoração entusiasmada e racional, bem como uma confiança sem limites em Deus Nosso Senhor.
Feliz Páscoa a todos.
Cláudio Nogueira

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Nós e os grupos

Aristóteles dizia que o homem é um ser político. Então, ele tem de se candidatar e entrar para um partido? Não é nada disso. Político vem de polis, cidade. O homem vive no meio de outros homens ( e mulheres também). Vive na urbis, não vive no mato, vive cercado de pessoas. E tem de aprender a conviver com elas. E aí vem o Babá e diz: Epa! Peraí ! Os índios vivem no mato, mas vivem em comunidade. Então tem de reclamar ao Aristóteles.
Na realidade, homens e mulheres vivem em grupos, de colegas de escola, de trabalho, de amigos, etc. etc. Eu, como é do conhecimento do e-leitor, já nasci dentro de uma comunidade.
Do nascer ao morrer nós temos os nossos grupos. Esse ano meus filhos mudaram de escola; e deixaram os primeiros amigos e colegas, conhecidos fora do âmbito famíliar. A Maria Fernanda (em 2010), João Paulo e Pedro Henrique deram adeus à Manuela, à Beatriz, ao Josh, ao Tales, ao Gustavo e a vários outros. O bom é que eles ainda não sabem o que é isso significa. Vão sentir mais tarde. Todos eram alunos da Escolhinha Maria Imaculada, localizada ao lado da igreja de N. S. de Nazaré, em Adrianópolis.
Há três anos, a partida da ex-diretora, irmã Alcinete, para trabalhar como missionária na África, já havia me dado a primeira sensação de que aquele grupo estava dissolvendo.
Não tem aquela história de que quem beija meus filhos, adoça a minha boca? Era assim que eu me sentia em relação a ela. O carinho com o João Paulo, a paciência, com as peraltices das minhas crianças, me deixava tranqüilo, em saber que eles estavam em boas mãos. Mas mais do que isso, ela era amiga deles. A irmã Nete se foi, ele sentiu um pouco, mas a vida continuou.
É a vida sempre continua. Tem o primeiro grupo. Da minha época da escola primária, lembro me bem de todos os anos. Não chegava a ser exatamente um grupo aparte, pois sendo uma escola de bairro, bairro de Aparecida, todo mundo que estudava lá era conhecido. Mas mesmo assim sobraram bons amigos, como o João Bosco Cantisani e o Cristóvão Martins. Já adulto trabalhei, em diferentes lugares, com os dois. Mas o primeiro e intenso grupo de relacionamento mesmo foi o pessoal da rua. Da rua não, do beco. Beco da Indústria. Indústria de meninos.
Alguém tem de fazer uma pesquisa porque nasceram tantos menino naquele beco num período de uns três anos. Não é por que nasceu tanta gente, é por que nasceram tantos homens ? Deve ser a posição dos astros que influenciaram na ovulação da mulhereda. A verdade é que, da minha idade, mais velho um ano, ou mais novo um ano, tinha, só no beco, uns 20 meninos ou mais. Digo, da mesma idade, porque homens naquele beco, só meus pais produziram sete. Eh! Mas, praticamente, menino de rua, dos sete, só era eu; e em menor escala o Thomaz; seguido pelo Junior com a medalha de bronze. Eu chegava da escola às onze, trocava de roupa e ia jogar futebol no sol de 40 graus na sobra, na frente da CEM (Companhia de Eletricidade de Manaus). A pele escura continuamente pipocava com bolhas por causa do calor. Magro feito vara de bater em doido. Quando aparecia para almoçar às 13 ou 14 horas, a surra vinha na entrada como aperitivo. Eu sempre fui tarado por futebol. Nunca tive muita paciência para assistir partidas. Só se for Copa do Mundo, ou decisão de campeonato, mas jogar, e mal, era comigo mesmo. Os bons eram o Paulinho Bololo, o melhor de todos; o Afonso, irmão dele; o Atílio, mais tarde cunhado dos dois. Tinha na rua, o (Vicente) Paulinho e Pedro Schettini, Hélcio e Claudioson, campeões de natação no Rio Negro; o Beto da dona Raimundinha; Luis Carcaça, que gordo não era; o Públio Caio e o Neto; os primos Ricardo Preto e Ricardo Branco, com mesmo nomes e idades, mas com cores diferentes; o PP, Pedro Potiguara, o Jorge do Carlão e Sidéria, os irmãos Mauro, Normando e Ulisses, da casa dos três leões; o Tadeu, irmão da Radiola e do Chuvisco, que vieram do Maranhão, passaram uns sete anos e depois foram embora; havia o Stefano-Robusteli-Filho-de-Italiano, o Tonton (Gladstone), da dona Fanchete; os irmãos Manel e Joca do seu Lima. Depois apareceram o Jair e o Jânio e vários outros mais velhos ou mais novos. Esse é praticamente o primeiro grupo. Crescemos juntos. Uns dois ou três fizeram um test drive do casamento, mesmo antes dos vinte anos, capotaram em seguida, mas continuaram tentando, e voltaram a fazer outros testes depois. Mas o recorde fica por conta do Ricardo Preto. Hoje Dr. Ricardo dos Santos. Foi pai aos 16, e hoje com 52 anos, está só no quinto casamento e apenas seis filhos.
Mesmo morando em bairros de diferentes da cidade, graças a Deus, esse grupo pode se reunir, se convocado for. Há duas lamentáveis baixas: o Luís Afonso, morto por engano, na briga de dois sujeitos, um deles armado, em pleno ensaio da escola de samba de Aparecida, e José William, o Joca, que também teve a vida interrompida por alguém.
Saio do Colégio Nossa Senhora da Aparecida e vou para o Colégio Militar de Manaus, que neste sábado, 7 de abril, faz 40 anos de inauguração. Eu estava lá. Formou-se mais um grupo.
Um grupo não se extingue para começar outro. O grupo do beco foi até os 18 anos. Na infância, paralelamente a este, teve o do Colégio Nossa Senhora Aparecida, depois o grupo do CMM, onde, praticamente, nos encontrávamos somente nos corredores do Colégio, mas isso foi por vários anos. E antes e depois teve o grupos de jovens da paróquia de N. S. Aparecida.
Dos 20 para cá vários outros grupos se formaram, mais isso pode ser lembrado mais tarde. Hoje quero lembrar dos meus amigos do Colégio Militar de Manaus. Sobre isso escreverei no sábado.
Esse texto, somente publicado hoje, foi escrito antes do post : Dando Graças: uma morte e várias vidas
que é uma espécie de continuação deste. Em sendo hoje sexta-feira da Paixão de Cristo, acho oportuno ser relido.
Uma boa Semana Santa para todos.
Cláudio Nogueira

quarta-feira, 28 de março de 2012

Vinte e cinco anos de saudades


Escrito por Hilário Nogueira

Dia 27 de março (ontem) o papai completou 25 anos de falecimento. Faleceu com apenas 63; eu tinha 17, apesar do pouco tempo, tenho enormes lembranças. Lembro muito bem do meu pai, ele era...
1. Rigoroso e Duro - com ele não existia meia verdade ou papo torto...o que é certo é certo, e o que é errado é errado, independentemente do assunto ou da pessoa, principalmente se você é um dos 18 filhos.
2. Amoroso e Mole - lembro-me de respeito e do carinho que tinha todos os dias pela minha mãe, ela era a rainha da vida dele. Lembro-me que todas as noites antes de dormir ele deitava na rede para cantar comigo. Somos uma família muito grande, mesmo assim, conseguia fazer eu me sentir especial.
3. Sensível a cócegas - eita brincadeira de mau gosto...rsrsrsrss !!!
4. Dedicado à família - quando morávamos na "casa velha" TODAS as mulheres dormiam num mesmo quarto, localizado no andar superior, e eu ainda criança, também dormia, noutro quarto, no mesmo andar; só tínhamos um banheiro que ficava no térreo...eu, juntamente com minhas poucas 11 irmãs íamos ao banheiro TODA noite e todos íamos acompanhados do meu pai. Contaram aí quantas vezes o papai acordava no meio da noite ?
Certa vez ele me levou para ver o desfile de 7 de setembro, mas estava lotado, e eu era pequeno e ele de baixa estatura e gordinho...qual foi a solução ? Fiquei quase 3 horas nos ombros do meu pai...naquele dia eu era a criança mais feliz do mundo e o meu pai o mais quebrado com certeza !!
5. Dedicado aos mais necessitados - minha casa que já tinha um monte de gente, pois somos 18 irmãos, era constantemente "invadida" por pedintes, moradores de rua, deficientes físicos e mentais...aprendemos com ele, que existe sempre alguém mais necessitado que nós, e mesmo que tenhamos pouco, sempre é possível ajudar os outros. Aprendemos a respeitar o próximo e a diversidade. Depois que ele faleceu ainda apareceu gente lá em casa, que nem mesmo minha mãe conhecia, que foram agradecer ajuda que receberam do meu pai.
6. Dedicado a Jesus e a Maria - O único lugar que vi meu pai dividir com a família, foi a Igreja. Para as coisas de Deus ele nunca mediu esforços, missas aos domingos era café pequeno, na Igreja participava de tudo que pudesse; tirava novenas nas terças-feiras, cantava e dava comunhão nas missas, cozinhava nos retiros, foi cursilhista, equipista, oblato redentorista e...e tudo mais que pudesse aproximá-lo da obra de Deus. TODAS as noites reunia a família INTEIRA pra rezarmos juntos, líamos a Bíblia depois cada um dizia o que entendeu do trecho lido. O Cláudio tem até hoje o quadro com a imagem de Jesus que ficava no quarto onde rezávamos.
7. Trabalhador - eu nunca vi meu pai acordar...nunca, sempre que eu acordava ele já estava acordado há muito tempo. Na função de alfaiate acordava sempre de madrugada para costurar, e depois perto das 7:30 ia ao trabalho na delegacia federal de saúde. Quando chegava a noite me pedia para tirar o sapato dele...e às vezes eu ainda reclamava, rsrsrsrs...agora mais velho descobri que além de merecer essa ajuda mínima que eu dava, o quanto é duro pra gordo abaixar pra tirar o sapato hein !!!
8. Especialista em futebol - bastava começar o jogo e em 2 (dois) ele já sabia que o Brasil ia perder...rsrsrsrsrsrs !!!

De todas as lembranças do meu pai...a que mais me marcou é que NUNCA o vi reclamando das dificuldades da vida, ele tinha tido 15 filhos e adotou mais 3 sobrinhas, ou seja éramos 18 pra comer, dormir, vestir, educar, amar, etc, etc, e etc. E ele minha mãe eram SUPER FELIZES !!!
Vocês não acham que ele e eu não merecíamos um pouco mais tempo juntos por aqui ??

QUE SAUDADE QUE TENHO DO MEU QUERIDO PAI !!!

PS1. O Hilário é o caçula dos homens; e dos filhos biológicos é o de número 14.
PS2. Essa imagem de Jesus foi um presente do bispo Redentorista Thomas William Murphy, futuro bispo de Juazeiro, Bahia, e auxiliar de Salvador, em 16 de novembro 1946.

A Copa de 2014 é uma Canoa Furada

Eu vejo toda hora a FIFA fazer uma exigência a mais para a realização da Copa do Mundo no Brazil em 2014. Será que para Copa de 1994 a FIFA fez tantas exigências para os americanos como está fazendo para o Brasil? Talvez a resposta seja: eles já tinham a estrutura preparada. Talvez.
Eu assisti a Copa nos Estados Unidos. O Geraldo, meu irmão, morava no Texas, então nos deslocávamos de carro; chegamos a viajar até 17 horas de El Paso, (TX),  a Pasadena(CA) para assistirmos a final. Os outros jogos na Califórnia, nós já estávamos de férias na área. Fomos também a Dallas. Só não assisti o primeiro jogo  entre Brasil e Suécia (jogaram duas vezes) porque foi em Detroit, muito longe. Mas o Geraldo foi.
Não vi nada de especial nos estádios, nenhum foi construído com tal finalidade, foi feito apenas adaptações no gramado e colocado traves nos estádios de futebol americano ou de baseball.
Aqui, há muito já deu para perceber que a Copa do Mundo de 2014, um sonho de todos nós, foi uma grande roubada que o Brasil se meteu. Estava justamente pensado como abordar esse assunto, aí apareceu o texto abaixo do frei Betto, que repasso para os senhores.
Um amigo escreveu:
"Caros amigos,
Frei Betto, como sabem, foi um dos teóricos mais influentes e assessor especial de Lula nos anos 1970, durante o processo e após a fundação do PT em 1980, no Colégio Sion, em S. Paulo. Depois esteve na presidência da República como assessor especial do programa fome zero, até se desiludir do governo quando do evento do Mensalão. Betto então tirou o time de campo e voltou a recolher-se ao Convento dos Dominicanos onde se dedica principalmente a escrever seus maravilhosos livros (quem pode esquecer de Batismo de Sangue?).
Neste artigo traça um quadro real do Brasil submisso à chamada base aliada e, no caso, à Fifa. Como se vê, os partidos políticos só têm compromisso com o povo brasileiro no período eleitoral. Depois, eleitos, tchau e bênção. Cada um por si.


Abraços.

Osiris Silva

ESSA COPA NÃO SERÁ NOSSA
Frei Betto

Para bem funcionar, um país precisa de regras. Se carece de leis e de quem zele por elas, vale a anarquia. O Brasil possui mais leis que população. Em princípio, nenhuma delas pode contrariar a lei maior – a Constituição. Só em princípio. Na prática, e na Copa, a teoria é outra.Diante do megaevento da bola, tudo se enrola. A legislação corre o risco de ser escanteada e, se acontecer, empresas associadas à Fifa ficarão isentas de pagar impostos.A lei da responsabilidade fiscal, que limita o endividamento, será flexibilizada para facilitar as obras destinadas à Copa e às Olimpíadas. Como enfatiza o professor Carlos Vainer, especialista em planejamento urbano, um município poderá se endividar para construir um estádio. Não para efetuar obras de saneamento…A Fifa é um cassino. Num cassino, muitos jogam, poucos ganham. Quem jamais perde é o dono do cassino. Assim funciona a Fifa, que se interessa mais por lucro que por esporte. Por isso desembarcou no Brasil com a sua tropa de choque para obrigar o governo a esquecer leis e costumes.A Fifa quer proibir, durante a Copa, a comercialização de qualquer produto num raio de 2 km em torno dos estádios. Excetos mercadorias vendidas pelas empresas associadas a ela. Fica entendido: comércio local, portas fechadas. Camelôs e ambulantes, polícia neles!Abram alas á Fifa! Cerca de 170 mil pessoas serão removidas de suas moradias para que se construam os estádios. E quem garante que serão devidamente indenizadas?A Fifa quer o povão longe da Copa. Ele que se contente em acompanhá-la pela TV. Entrar nos estádios será privilégio da elite, dos estrangeiros e dos que tiverem cacife para comprar ingressos em mãos de cambistas. Aliás, boa parte dos ingressos será vendida antecipadamente na Europa.A Fifa quer impedir o direito à meia-entrada. Estudantes e idosos, fora! E nada de entrar nos estádios com as empadas da vovó ou a merenda dietética recomendada por seu médico. Até água será proibido.Todos serão revistados na entrada. Só uma empresa de fast food poderá vender seus produtos nos estádios. E a proibição de bebidas alcoólicas nos estádios, que vigora hoje no Brasil, será quebrada em prol da marca de uma cerveja made in usa.Comenta o prestigioso jornal Le Monde Diplomatique: “A recepção de um megaevento esportivo como esse autoriza também megaviolação de direitos, megaendividamento público e megairregularidades.”A Fifa quer, simplesmente, suspender, durante a Copa, a vigência do Estatuto do Torcedor, do Estatuto do Idoso e do Código de Defesa do Consumidor. Todas essas propostas ilegais estão contidas no Projeto de lei 2.330/2011, que se encontra no Congresso. Caso não seja aprovado, o Planalto poderá efetivá-las via medidas provisórias.Se você fizer uma camiseta com os dizeres “Copa 2014” , cuidado. A Fifa já solicitou ao Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) o registro de mais de mil itens, entre os quais o numeral “ 2014” .(Não) durmam com um barulho deste: a Fifa quer instituir tribunais de exceção durante a Copa. Sanções relacionadas à venda de produtos, uso de ingressos e publicidade. No projeto de lei acima citado, o artigo 37 permite criar juizados especiais, varas, turmas e câmaras especializadas para causas vinculadas aos eventos. Uma Justiça paralela!Na África do Sul, foram criados 56 Tribunais Especiais da Copa. O furto de uma máquina fotográfica mereceu 15 anos de prisão! E mais: se houver danos ou prejuízo à Fifa, a culpa e o ônus são da União. Ou seja, o Estado brasileiro passa a ser o fiador da FIFA em seus negócios particulares.É hora de as torcidas organizadas e os movimentos sociais porem a bola no chão e chutar em gol. Pressionar o Congresso e impedir a aprovação da lei que deixa a legislação brasileira no banco de reservas. Caso contrário, o torcedor brasileiro vai ter que se resignar a torcer pela TV.
Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros.
http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto



domingo, 18 de março de 2012

iPIM, o Parque Tecnológico de Manaus

O ex-ministro chefe da Casa Civil, no primeiro governo Lula, José Dirceu, escreveu, em 10.03.2012, no seu "Blog do Zé" o seguinte:

"Mudanças para levar a indústria brasileira ao século XXI

O diagnóstico da estagnação e dos riscos da indústria brasileira já está feito. A participação da indústria de transformação no PIB era, ao final de 2011, de 14,6%. Comparando o índice brasileiro com dados para 2010 da ONU, países como China (43,1%), Coreia (30,4%) ou mesmo Alemanha (20,8%) têm participação muito maior de sua indústria no PIB. São muitos os fatores que levaram a isso: os altos custos dos encargos da mão-de-obra (32,5% na folha); o alto custo do capital (juros e spreads" bancários); a apreciação do câmbio, que aumentou a concorrência, em nosso mercado interno, com produtos importados; os custos elevados dos insumos; a necessidade de investimentos na infraestrutura do país; a necessidade de uma política de inovação .
...
E, fundamentalmente, precisamos alimentar as raízes do futuro: fazer uma revolução na educação e na inovação. Só com uma mudança tecnológica efetiva na matriz de nossa indústria é que vamos concorrer no novo mundo do século XXI."
Vamos escolher umas keywords: "a necessidade de uma política de inovação", "fazer uma revolução na educação e na inovação", "mudança efetiva na matriz de nossa indústria."

E em 06.03.2012, José Dirceu havia publicado:

"Urge enfrentarmos os desafios da economia mundial
A queda dos preços das commodities e a desaceleração do crescimento da China, um dos nossos principais compradores de commodities, já eram esperados. E o eram, porque já haviam sido anunciados."
...
[Acrescento: isso não é novidade para ninguém, o crescimento das nossas exportações, nos últimos anos, ocorreu, em boa medida, graças ao crescimento extraordinário China, e a sua demanda pelas nossas commodities.

“Ocorre que o crescimento da participação de commodities na nossa pauta de exportações tem sido contínuo e significativo o que implica em menor remuneração aos exportadores, uma vez que tais produtos se diferenciam no mercado mercado internacional pelo preço baixo e não necessariamente pela qualidade percebida. Tal fenômeno tem ocorrido em decorrência ainda da grande participação da China no cenário internacional, que tem atuado de forma compradora em decorrência de sua transformação econômica.” [blog da Revista do Autor -link no post scriptum]

Continua o blog do José Dirceu:
...
Precisamos acelerar os investimentos na inovação,na educação e na infraestrutura, na integração Sul-Americana, inclusive, ainda, em toda nossa política comercial e de exportações, sem ilusões sobre a situação internacional.
Keywords: "investimentos na inovação, na educação e na infraestrutura"

Vamos juntar todas as palavras chaves:

“a necessidade de uma política de inovação”, "fazer uma revolução na educação e na inovação", "mudança efetiva na matriz de nossa indústria","investimentos na inovação, na educação e na infraestrutura", "* melhorar a qualidade da pesquisa","** ampliação do parque tecnológico e o reforço no investimento em pesquisa e inovação".

As frases (*) e (**) não constam no texto de Zé Dirceu, constam em matéria publica no jornal Em Tempo do dia 11.03.12, sobre o novo campus da UEA Assunto que abordado no post, A UEA e o seu Science Park",mas se enquadram muito bem no objetivo deste deste texto.

Mudança na matriz tecnológica

Em alguns textos aqui deste blog foi dito que a ZFM precisava de uma política de Estado, algo vindo lá de Brasília e, que se ela foi criada para ocupar a floresta, agora precisava ser inserida em uma nova política industrial, porque por mais que a Suframa se esforce, não vai conseguir implantar as mudanças necessárias, sem apoio político de todos, principalmente do Poder Central. E o que significa "precisamos" escrito por José Dirceu ? Acredito que todos nós, isto é, o Brasil de norte a sul, precisamos rever a nossa matriz industrial. E quem deve liberar esse processo é o governo federal; então, precisamos de uma política industrial inovadora, educacional de Estado.
Mas agora quem está falando em uma mudança da matriz industrial é um político importante da cúpula do PT, foi chefe dos ministros, e é do partido que governa o país.
Eu deixei meu comentário no Blog do Zé Dirceu. Já faz algum tempo que venho repetindo isso como um mantra. Há outras pessoas repetindo também, não sou o único, mas parece que finalmente a ficha caiu. E esse assunto nos diz respeito, e muito. O PIM faz parte do Brasil. Na sua existência reside a nossa sobrevivência.

Não vou ficar aqui repetindo eu disse, eu disse, eu avisei..., mas o perfil de nosso parque industrial precisa mudar, e mudar muito; de empresas de produção em massa para firmas de base tecnológicas, produzindo bens de maior valor agregado, maior produtividade, mais competitividade. A frase seguinte é perfeita para nós, aqui da ZFM: "Precisamos alimentar as raízes do futuro: fazer uma revolução na educação e na inovação. Só com uma mudança tecnológica efetiva na matriz de nossa indústria é que vamos concorrer no novo mundo do século XXI."
Não sejamos ingratos com as empresas aqui instaladas, e que nos propiciaram o padrão que hoje temos. Estamos falando de termos novas empresas, as chamadas empresas inovadoras, para saímos de um sistema regional de produção para um sistema regional de inovação. O que ficou claro nos excertos citados é a necessidade de sermos inovadores, e para tal precisamos de um novo parque industrial, nós precisamos de um science ou technology park, precisamos criar o Parque Tecnológico de Manaus.

Mesmo antes da existência deste espaço, em escritos em pdf, eu defendia a transformação do Polo Industrial de Manaus (PIM), num knowledge-based cluster; por essas bandas traduzido como cluster de base tecnológica, ou cluster tecnológico, ou cluster intensivo de conhecimento. Agora vou apresentar ao e-leitor outras denominações, science park ou technology park.

Talvez o meu approach estivesse um pouco equivocado, ao propor (várias vezes) a transformação do PIM, de distrito industrial (vou repetir aqui: um conceito alfred-marshalliano) para um cluster tecnológico (conceito michael-porteriano - (http://www.isc.hbs.edu). Estava propondo - mal comparando - transformar um televisor preto e branco (mesmo que de boa qualidade) em um televisor colorido, o que é impossível; ou o Vivaldão na Arena da Amazônia, o que seria extremamente trabalhoso, e sem garantia de êxito. A proposta agora, embora o resultado final seja o mesmo, é criar o Parque Tecnológico de Manaus ou Manaus Technology Park.

Parque Tecnológico

O site do Investe São Paulo - Agência Paulista de Investimento e Competitividade - define Parques Tecnológicos como "Mecanismos consolidados mundialmente como plataforma de desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação, os parques tecnológicos têm como objetivo promover e incentivar o desenvolvimento econômico e tecnológico, por meio da atração de investimentos e da geração de novas empresas intensivas em conhecimento" . Disse tudo.
É uma concentração de empresas inovadoras, high tech, com tecnologia de ponta ou estado-da-arte. Existem vários pelo mundo e são chamadas de science ou technology parks. O de Bangalore, por exemplo, sempre citado por mim, o seu nome oficial é Software Technology Parks of India, Bangalore.

Observe o e-leitor pouco a ligado no economês, que as economias pobres e com grandes populações (a China no passado) são chamadas de intensivas de mão-de-obra (barata); as ricas, de intensivas de capital. Agora ser intensiva de capital não é suficiente, embora necessária, é preciso ser intensiva de conhecimento.

Vamos abrir um parêntese aqui: a China causa medo, porque agora é intensiva de mão-de-obra e de capital, além de manter a sua moeda artificialmente desvalorizada. Não tem como competir com ela. Ela ainda vai fazer muitas empresas estrangeiras fecharem as portas. Fecha parêntese.

O Investe São Paulo acrescenta: "A partir da integração entre universidades, institutos de pesquisa, setor privado e órgãos públicos, busca-se assegurar o desenvolvimento de atividades intensivas em conhecimento e tecnologia, com a criação de um ambiente favorável ao surgimento de novas empresas de base tecnológica, à geração e difusão do conhecimento e ao fomento da capacitação tecnológica em setores-chave para o desenvolvimento nacional"[ou regional].
Releia com calma, você leu muito rápido. Preste atenção nas seguintes palavras: "integração entre universidades, institutos de pesquisa, setor privado e órgãos públicos", "desenvolvimento de atividades intensivas em conhecimento e tecnologia, novas empresas de base tecnológicas, fomento da capacitação tecnológica." Essa é a própria definição de cluster, visite o site de Michael Porter, professor de Harvard, citado acima.

Academic Gossip
(leitura opcional - pode ser pulada sem comprometer o entendimento do post)

Sou forçado pelas circunstâncias a abrir outro parêntese, e esse será um pouco mais longo. Ao ler a definição acima chego à conclusão que alguém está fazendo o dever de casa. Volte à primeira definição: "Mecanismos consolidados mundialmente como plataforma de desenvolvimento de C,T&I". Isso nada mais é do que um cluster tecnológico baseado no conhecimento ou de base tecnológica, várias vezes mencionado e defendido nesse blog. E daí?

Na VI Feira Internacional da Amazônia, realizada de 26 a 29 de outubro do ano passado, houve um seminário, coordenado pela SECT, com a presença de um pesquisador finlandês [já escrevi sobre isso, em "A ZFM acabou"
(http://nogueiraclaudio.blogspot.com/2011/11/zfm-acabou.html] que palestrou sobre clusters tecnológicos em diversos países. No mesmo seminário, palestraram antes e depois do finlandês, o casal José Cassiolato e Helena Lastres, conhecidos pesquisadores. E na sua fala, ela deixou evidente, o que é muito comum em alguns pesquisadores no Brasil, o desconhecimento (no que eu não acredito) e/ou a aversão ao conceito de Knowledge-based cluster (nisso eu acredito). O desconhecimento eu percebi, quando pesquisava para o doutorado, em textos de autores nacionais quando misturavam as coisas. O que a professora Helena fez, no seminário, foi mostrar indiferença ao dizer, que não entendia bem sobre o assunto, pois não entende bem inglês, pois o pesquisador finlandês falou em inglês. Ou ela mentiu na palestra ou mentiu na Plataforma Lattes, pois lá no seu CV ela diz que é doutora pela University of Sussex, na Inglaterra, e com certeza, ela, lá, não estudou em português.

O que desejo registrar, antes que o Vicente Nogueira me critique e diga que ela entrou no texto como Pilatos no Credo, é que alguns pesquisadores tupiniquins, como ela, torcem o nariz quando ouvem as palavras clusters tecnológicos, mas ainda assim os citam, misturando alhos com bugalhos. É que ainda estão com o conceito de "arranjos produtivos", o que é outra coisa. A propósito, ela apresentou-se - se não me falha a memória - como assessora ou coisa parecida, de arranjos produtivos do BNDES. Arranjo produtivo é arranjo produtivo, distrito industrial é distrito industrial, cluster tecnológico é cluster tecnológico. Vírus não é bactéria, nem vice-versa. Nem se tem virose a partir de bactéria. Mas há muito texto misturando as coisas: “... arranjos produtivos em Pernambuco”, para no mesmo texto chamá-lo de “aglomeração de empresas ou clustering)...” Fecha parêntese.

Manaus Science ou Technology Park

Parque tecnológico e muito mais que uma simples questão conceitual. Está umbilicalmente relacionado com o perfil da indústria instalado nele. Sua missão é atrair investimentos de tecnologia de ponta, propiciar a geração de empresas inovadoras através de incubadoras. São, na sua grande maioria (mas não necessariamente), compostos de empresas voltadas para a exportação. A agência ou instituição que administra o parque oferece uma gama de atrações, principalmente de infraestrutura (transportes, energia, IT&C,etc.). Alguns parks oferecem até mesmo instalações prediais. Produzem produtos de maior valor agregado. O que é isso ? Compare a evolução de features em uma motocicleta com um aparelho celular. O que foi que mudou em uma motocicleta, mesmo com a tecnologia mais avançada, nos últimos dez anos ? E o que mudou em um telefone celular ? Do tamanho de um tijolo, para uma coisa que cabe em qualquer bolso, tem mais de um chip, filma, faz download de música, tira foto, conecta-se a Internet, etc. etc.

Visite o site do Investe São Paulo e veja o que ele oferece como atração, algo muito mais do que terreno a preço baixo (lembre-se que o parque deles ainda não está consolidado - na realidade não é somente em um local). Nós oferecemos isso e isenção fiscal. O que pode ser (e tem sido) um grande diferencial. Mas não foi suficiente para atrair empresas de tecnologia de ponta, nem para trazer para o PIM a indústria de tabletes (prefiro o vernáculo) e nem impediu que empresa de duas rodas tenha preferido ir para o nordeste. Somos carentes de infraestrutura e de knowledge workers ( releia o post A Zona Franca acabou sobre os 40 PhDs), trabalhadores do conhecimento (termo muito usado nos dias atuais, mas que tem a minha idade. Foi cunhado por Peter Drucker, em 1959, no livro Landsmark of Tomorrow). Precisamos formá-los até termos uma massa crítica. Se a nova UEA for “se consolidar como uma das instituições de ensino mais importante do Brasil” , como diz o seu reitor, estamos no caminho certo.

Não obstante o fato do nosso parque industrial ter produzido US$ 41 bilhões no ano passado, e termos os incentivos fiscais prorrogados por mais 50 anos, isso não nos garante um lugar tranquilo no futuro. Por quê ? Porque "Só com uma mudança tecnológica efetiva na matriz de nossa indústria é que vamos concorrer no novo mundo do século XXI."

Em resumo, o que fazer ? Primeiro devemos ficar atentos para participarmos efetivamente, já que somos uns dos maiores parques industriais desse país, de uma possível política industrial visando mudar a matriz produtiva; vamos tentar nos inserir nessa revolução na educação, inovação e infraestrutura, proposta por José Dirceu. Para isso precisamos de todos os nossos parlamentares.
E como se inicia um parque tecnológico ou intensivo de conhecimento ? O mesmo que fizemos para atrair empresas para o nosso distrito industrial, mas agora o objetivo é atração de outro tipo de indústria. Fornecendo toda a infraestrutura necessária, de transportes, tecnologia de informação e comunicação (IT&C), empresas de venture capital (que andam de mãos dadas com firmas inovadoras) e institutos tecnológicos ou universidades (se tiver uma única muito boa, serve) em seu entorno produzindo conhecimento, transferindo-o para a indústria, fornecendo, sobretudo, uma massa crítica de mão-de-obra especializada. E isso não se consegue em curto prazo de tempo, obviamente que não. Vamos ver em breve e de forma detalhada, que o projeto CT-PIM - iniciado há dez anos, mas que anda a passos de cágado, por falta de recursos - pode ter sido o passo inicial de todo esse processo.
O primeiro passo é nos conscientizarmos do que precisa ser feito. Muitos autores aconselham a se procurar uma âncora (é essa a expressão. da mesma forma que se diz para uma grande loja num shopping center); se ela concordar em se instalar, ela trará uma dúzia de fornecedores satélites. Se ela der certo, competidores viram atrás, tanto quanto inovadores em outras áreas.

Eu ia citar alguns exemplos, mas sugiro ao e-leitor que entre no Google e procure por technology ou science parks, ou visite os sites daqueles que já citei aqui, em vários textos, diversas vezes. No Google você vai encontrar vários exemplos, inclusive o Techno Park Campinas (http://www.technopark.com.br), e surpreenda-se em saber que eles também oferecem incentivos fiscais.
Campinas e seu entorno é praticamente a única aglomeração industrial no Brasil que recebe o nome de Knowledge-based cluster dos pesquisadores estrangeiros, em livros e na literatura especializada.

O que este post propõe, em síntese, é a criação de uma nova área física, administrada pela Suframa, que chamaria (apenas uma sugestão) de Polo Tecnológico de Manaus.
Espero que o e-leitor não perca o foco, e pense que não tenho ideia do que isso significa. Simplesmente fico sugerindo coisas aqui como tivesse uma varinha mágica: diz para a Suframa fazer isso e pronto. Quando digo para não perder o foco, chamo atenção, que difícil ou não, não sou o único a pensar nesta necessidade. O que José Dirceu disse foi para a indústria nacional, e nós fazemos parte dela. E porque ele disse, é verdade ? Sim, porque ele não é o único a dizer isso.
Em debate realizado sobre o assunto no auditório do INPA, em setembro do ano passado, onde os palestrantes eram economistas, ex-secretários de Estados, empresários, pesquisadores, etc., todos mostraram apreensão quanto ao futuro da ZFM. Na ocasião - vou repetir o que já disse antes - ninguém soltou fogos, embora contentes, com a notícia de que a ZFM foi prorrogada por mais 50 anos, porque sabemos que isso não será suficiente para garantir a nossa competitividade, ou segurar empresas no PIM.
E quando digo da necessidade de Polo Tecnológico de Manaus, não estou me referindo somente à atração de indústrias de produtos eletrônicos de consumo, mas de farmacêuticos, de um polo de biotecnologia, ou de um polo de petroquímica. O jornal A Crítica noticiou em 14.03.2012: "Pesquisa desenvolve biocombustível a partir de espécies vegetais da Amazônia". Nós temos de identificar qual é a nossa vocação. Já escrevi antes: “Em 1995 a pequena Cingapura tinha 45% do mercado mundial de discos rígidos para computadores e o condado de Ringkøbing, na Dinamarca, com apenas 120 mil habitantes, no mesmo ano, possuía 60% do mercado mundial de turbinas eólica.”

Adjunta de Inovação Tecnológica

E para melhor desenvolver essa missão (opino na qualidade de cidadão, e palpiteiro de plantão, foi exatamente com essa intenção que criei esse blog), me parece ser necessário à criação de mais uma superintendência adjunta na Suframa, algo como adjunta de Tecnologia e Inovação. Uma adjunta menos voltada para as atividades meios, mas mais voltadas para as atividades fins, que trabalhe na missão de montar esse novo parque. Uma que coordene as atividades do CAPDA (em nível local, posto que ele é coordenado por um representante do MDIC) e fiscalize os incentivos da lei de Informática, dos recursos que trata o inciso II do § 4o do art. 2o da Lei no 8.387, de 1991 (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT); conectada ao CT-PIM, e ao CBA, que agregasse o departamento de Gestão Tecnológica, que faça um liaison com as universidades e centros de pesquisas, com instituições como a ANPEI, Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras; com ABIPTI, Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (ABIPTI), com as pesquisas da UEA, da UFAM e INPA, com a SECT, FAPEAM, com as incubadoras já implantadas (UFAM, FUCAPI, CIDE, IFAM), que criasse um fórum de debates permanente, coisa que Suframa nunca teve.

Exposição e Conferência Mundial
A Suframa, junto com outras instituições locais, vai participar, como convidada, da Expocomer, no Panamá, "O evento, que começa no próximo dia 21 [vai até o dia 26], no Centro de Convenções Atlapa, na Cidade do Panamá, contará com um Pavilhão Brasileiro promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), com apoio da Câmara de Comércio Brasil-Panamá e da Embaixada do Brasil naquele país." Informa o site da Suframa.
Motivado por tal notícia ( obviamente que não é a mesma coisa), me empolgo e proponho que a Suframa seja a host city da 16th Annual Globol Conference sobre clusters, no mesmo período da VII Feira Internacional da Amazônia, em 2013. Essa conferência, coordenada pelo The Competitiveness Institute -TCI (http://www.tci-network.org), é o mais importante encontro mundial de debates sobre clusters. Onde pesquisadores, administradores de clusters, empresários, policy markers, etc. se encontram anualmente. Esse ano, sua décima quinta edição ocorrerá, de 16 a 19 de outubro, no país Basco, na Espanha. É muito comum em cada edição ela mudar de continente; ano passado, foi na Nova Zelândia, e em 2010, na Índia. Seria um muito bom para todos nós aprendermos como quem já passou por situações com a que nos encontramos (dê uma olhada no PS6). Seria um bom teste para a nossa cidade, receber um evento internacional desse porte, um ano antes da Copa do Mundo, no ano da Copa das Confederações. Acredito ser mais útil, para a Suframa e para a nossa cidade, uma conferência deste tipo, do que o encontro realizado no período da Feira, chamado Minapim, onde se discute "micro e nanotecnologia do Polo Industrial de Manaus".E isso existe ? Esse encontro tem sempre palestrantes internacionais, expondo nanotecnologia utilizada por eles. Pagos por quem ?
A inscrição para ser a host city está aberta:"Open invitation for proposals to host a TCI conference in 2013 (http://www.tci-network.org/news/card/395).

Finalizando

Termino com um texto de meu amigo Antônio Botelho ( o sujeito que mais publicou livros sobre a ZFM) escrito em 2003 para os seus alunos da CESF/FUCAPI na disciplina Política Industrial e Inovação Tecnológica.
A SUFRAMA tem um papel estratégico neste direcionamento, especialmente pela postura pró-ativa com que vem agindo desde que superou sua simples competência de administrar incentivos, agregando valor com a função promoção de investimentos, agora incrementada com os vetores da tecnologia e do comércio internacional.

A Suframa tem de liberar sim, mas sem o apoio de todos, dos parlamentares, da classe empresarial, dos sindicatos - considerando a enorme dificuldade da tarefa - ela não logrará êxito. E quando o assunto é a sobrevivência do PIM, ele não tem dono, é assunto que diz respeito a todos nós.

Cláudio Nogueira

Post Scriptum

PS1 - Mudanças para indústria brasileira ao século XXI:

PS2 - Urge enfrentarmos o desafio da economia mundial:
http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=14703&Itemid=2

PS4 - Sistema Paulista de Parques Tecnológicos - SPTec, criado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia:
http://www.investe.sp.gov.br/porque/porque_parques_tecnologicos

PS5 - International Association of Science Parks - IASP - Aqui você encontra definições em várias línguas:
http://www.iasp.ws/publico/intro.jsp

PS 6- Sugestão de leituras:
- Clusnet Final Report - Organising Cluster for Innovation: Lessons from City Regions in Europe:
http://www.tci-network.org/media/asset_publics/resources/000/004/170/
- Collective Goods for Reformatting the Rio de Janeiro Software Cluster into a Local Innovation System, por Antônio José Botelho, Alex da Silva Alves e Glaudson Mosqueira Bastos, capítulo 5 do livro From Agglomeration to Innovation - Upgrading Industrial Clusters in Emerging Economies, editora IDE-JETRO (Institute of Developing Economies e The Japan External Trade Organization), 2010.