Ontem foi um dia tenso para São Martinho, muito diferente dos outros 11 de novembro, que costumam ser o melhor dia da sua morte. Ele ama essa data.
Em todas as missas, o seu feito - cortar a capa ao meio com a espada e dar a metade a um mendigo para que se protegesse do frio - é lembrado.
Ele adora isso. Fica ansioso para que chegue logo esse dia.
Mas ontem foi diferente. Ao olhar para baixo, levou um susto. Logo ao amanhecer, havia nuvens escuras e outras cinzentas. Nenhum sinal do sol.
Desesperado, correu à sala de São Pedro e disse:
- Pedro, que nuvens são essas? O que está a acontecer?
Com um olhar meio vaidoso, acrescentou:
- Hoje é o dia do Verão de São Martinho, percebes? É o dia em que toda a gente...
(aqui sua voz perdeu força, o semblante entristeceu um pouco)
...toma vinho e come castanhas. Esqueceste, pá?
São Martinho era um soldado romano que, numa noite fria de novembro, dividiu a sua capa ao meio com um mendigo para o proteger do frio. Diz a lenda que, nesse momento, o clima mudou, surgindo um breve período de sol, que os seus devotos passaram a chamar de Verão de São Martinho. As chuvas constantes do outono dão, neste dia, uma trégua ao sol e deixam-no brilhar.
Nessa época, terminam as colheitas de outono: as uvas viram vinho novo, as castanhas estão maduras e prontas para assar, e toda a gente celebra a fartura e a generosidade. É por isso que, nesse dia, se prova o vinho novo e se comem castanhas assadas, em festa e memória do santo.
- Pedro, no dia de São Genaro, o sangue coagulado dele torna-se líquido novamente, e no meu dia não chove, é como se fosse um dia de verão. Que nuvens escuras são essas?
- Acontece que, este ano, me distraí e choveu muito pouco no mês de outubro. Foram vários dias de sol, um verão prolongado. Preciso recuperar. Há muita nuvem que precisa ser descarregada, e não posso dispensar mais nenhum dia, comentou São Pedro.
- Não posso acreditar no que estou a ouvir! Logo no meu dia queres mandar chuva para a terra? Não podes deixar isso para amanhã? Queres acabar com o meu prestígio? — perguntou São Martinho.
Depois de um breve bate-boca, chegaram a um acordo: às 10 horas o sol brilhava. Mas, à tarde, São Pedro estava meio impaciente e colocava nuvens sóbrias, ofuscando o sol.
São Martinho, ao ver isso, murmurou:
- Pedro... calma-te. Não me obrigues a pedir ajuda ao “Chefe”.
São Pedro respondeu:
- Está bem! Mas assim que escurecer, mando a chuva. O que não consegui enviar hoje, mandarei amanhã.
Promessa feita. Promessa cumprida.
Cláudio Nogueira

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