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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Amazonino presenteia amigos com seis milhões

ACORDA AMAZONINO !

http://www.blogdosarafa.com.br/

Na democracia o partido que ganha a eleição, governa. O que perde recebe a responsabilidade do povo de fiscalizar o que ganhou. É assim que funciona.

Em 2004, o PSB ganhou as eleições municipais em Manaus e foi para o Governo. O grupo de partidos que apoiou o Amazonino foi para a oposição. Em 2008, as posições se inverteram. Portanto, agora ele governa e nós fiscalizamos.

Nesse contexto, o PSB ao tomar conhecimento de visíveis irregularidades que estavam e estão sendo praticadas na área de eventos da Prefeitura, principalmente no que tange ao Reveillon da Cidade onde, conforme publicações no Diário Oficial, duas ONGS – a Associação Sociocultural Noemia Santana e o Clube de Mães Dr. Mário Cunha – receberiam SEIS MILHÕES, CENTO E SESSENTA MIL REAIS para realizar o evento.

Ninguém é criança e é evidente que essas duas entidades não tinham como não têm capacidade para organizar o evento. Elas serviriam como entidades de fachada e os verdadeiros beneficiários do dinheiro público ficariam ocultos, como ainda estão.

Esse o fato denunciado pelo PSB inicialmente através das redes sociais, depois em representação ao Ministério Público, transbordando obviamente para a imprensa.

A Prefeitura é como se fosse um barco e esses convênios são furos no casco. O que fizemos foi mostrar que o barco está fazendo água. O comandante do barco, ao invés de agradecer e tapar os buracos para o barco não ir ao fundo, ficou brabo. Fez cara feia. Fez beicinho. Olha a cara que ele fez:


O Amazonino é um homem inteligente, mas está agindo como se estivesse fora do seu raciocínio normal. Ao que parece não era na cadeira de prefeito que ele gostaria de estar sentado. Era em outra. Só isso explica o seu absoluto desprezo pela administração da cidade. Não quer nem saber das coisas, por mais graves que sejam. Será que ele acha que eram essas duas entidades mesmo que realizariam o evento?

Parece que não, porque logo de saída ele já cancelou o convenio com uma. Ficou a outra. Publico abaixo a foto dessa entidade para que ele veja a sua fachada, que funciona dentro de um imóvel onde também existe um Centro Municipal de Educação Infantil. E por aí, ele, inteligente como é, já pode tirar suas conclusões.


Ontem companheiros do PSB tiveram acesso a todos os empenhos do setor de eventos da Prefeitura. Nesse primeiro momento, vou dizer ao Amazonino que as coisas são muito mais graves do que eu imaginava. Sei que ele não gosta de informática. Chama computador de “troço”. No entanto, para o bem dele, para o bem da cidade, ele deve acessar o sistema e ver a relação das ONGS e empresas de eventos que “prestaram serviço” para o Município e tirar ele próprio as suas conclusões.

Veja, por exemplo, o quanto recebeu e para o que recebeu a ONG “ASSOCIAÇÃO SAÚDE SEM FRONTEIRAS”.

Ano que vem vamos continuar conversando sobre esse e outros assuntos.

Por enquanto devo dizer apenas:

“ACORDA AMAZONINO!”

domingo, 26 de dezembro de 2010

OS 15 ANOS DE GLÓRIA

OS 15 ANOS DE GLÓRIA
José Ribamar Bessa Freire
26/12/2010 - Diário do Amazonas
ou http://www.taquiprati.com.br

Quem foi a primeira amazonense que usou uma garrafa térmica? Se essa pergunta cair numa prova do vestibular, marque com um “x” a resposta certa: Cleomar dos Anjos Feitosa. Isso mesmo! Foi a Cleomar. Ninguém me contou. Eu vi. Não apenas vi. Usufrui. Aconteceu em outubro de 1955, num piquenique no balneário das Pedreiras, no igarapé do Mindu, em Manaus. Era uma garrafa alaranjada, de um litro, marca Alladin, made in USA, recém trazida dos Estados Unidos pelo padre redentorista Thomé Morrissey.

Consciente do momento histórico que vivia, Cleomar ergueu o recipiente térmico como um troféu, num gesto que Bellini faria anos depois com a taça Jules Rimet. Sua mão direita ligeiramente aberta deixou o dedo mindinho flutuando no ar, exibindo uma unha pintada de vermelho vivo. Confesso que jamais presenciei nada tão chique em minha vida. Diante de um público embasbacado, ela desenroscou a tampa de rolha de cortiça, serviu um suco de taperebá que eu, menino de oito anos, bebi, e declarou à posteridade:

- É impressionante! Conserva o café quente e o suco gelado. O que é quente fica quente, o que é frio, fica frio.

Parece banal, mas não é. O Brasil, até então, não produzia garrafa térmica e ninguém sabia que diabo era aquilo. Era novidade, raridade. Seu uso constituía prova de refinamento e sofisticação. Nonato Garcia em sua coluna social Nogar Tudo Vê Tudo Informa chegou a registrar a existência de algumas delas, importadas, em algumas mansões manauaras. A geladeira Gelomatic gelava, o fogão Rey esquentava, mas uma geringonça portátil que tinha a dupla função, só mesmo vendo pra crer. Tinha de ser coisa dos States. Era a modernidade nos tocando de perto.

A modernidade

Nem sei se a própria protagonista lembra o fato. Mas eu lembro inclusive a data por causa de duas mulheres – uma miss e uma cantora - para quem o ano de 1955 foi decisivo. Acontece que nesse dia, nas Pedreiras, todo mundo só falava da renhida disputa na qual Anette Stone fora eleita Miss Amazonas, derrotando Auxiliadora Câmara. Além disso, as irmãs Feitosa passaram o piquenique cantando músicas da Carmen Miranda, falecida em agosto daquele ano, duas delas inesquecíveis:

- Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim. Ou ainda: - Kalu, Kalu, tira o verde desses óio de riba deu.

Portanto, indubitavelmente, o ano foi 1955. Quanto ao mês era, indubitavelmente, outubro, mês das missões, quando o pessoal da Quermesse de Aparecida realizava seu piquenique anual. O uso aqui de dois “indubitavelmente” é para não deixar qualquer dúvida aos incrédulos. Testemunharam o fato: Jiddu Rebouças, Rosa Magaly, Angélica Arruda, Maria do Carmo Toledo, Odaísa Braga, Amazonina, Graciema, Georgina, Edina Soares e Glória Nogueira, entre outros.

Por que agora estou lembrando essa história? Porque nessa terça-feira, 28 de dezembro, uma das protagonistas – Maria da Glória Queiroz Nogueira – completa 80 anos. Amanhã, dia 27, às 19h30 haverá uma missa na Igreja de Aparecida e na terça-feira uma recepção no Elegance Festas e Convenções, na Rua Salvador, em Adrianópolis. E essa história serve para ilustrar as relações da Glória com os amigos, com os vizinhos e com a modernidade.

Glória é Glória e seus amigos. Com eles teceu relações sólidas de afeto. No livro de poesia que será lançado no aniversário, ela canta esses amigos. Lá estão dona Rosa Feitosa e as filhas – Lucimar, Dagmar, Cleomar e Dulcimar. No dia de Natal – lembra Glória – depois da missa do galo elas desciam a Xavier e entravam no Beco da Indústria cantando pelas ruas, sempre cantando, músicas natalinas, “unidos na mesma fé, o natal comemorando”. Era um espetáculo. Cleomar, que é lembrada aqui carinhosamente, continua atuando ainda hoje com seu coral de mil vozes.

Netos e bisnetos

Mas Glória é também Glória e seus filhos, Glória e seus netos, Glória e seus bisnetos. Quantos são? Segundo o último recenseamento do IBGE, Glória teve 19 filhos dos quais 16 foram gerados no seu ventre e três adotados, sendo doze mulheres e sete homens. Com exceção de uma falecida, todos casaram, tiverem filhos e deram-lhe 50 netos e 12 bisnetos. Vários deles estão presentes também no livro

O livro começa com uma declaração de amor a Brígido Nogueira, um alfaiate de Santarém que migrou pra Manaus, com quem Glória se casou em 1951. Era uma família modesta, que conseguiu com muito esforço educar seus filhos, todos com curso universitário. Um deles, Cláudio, que estudou no Japão e no Canadá, onde Glória foi visitá-lo, dá seu depoimento no livro, lembrando o pai e a mãe:

- “Com vocês aprendemos a lutar, a competir, mas de forma honesta. Nos ensinaram muitas outras coisas, que para alguns são virtudes, mas aprendemos que são obrigações. Não ensinaram ninguém a ser “esperto” e “nem a se dar bem”, mas que é necessário esforço, estudo e dedicação para obtermos o que almejamos. De vocês, herdamos o que é mais importante, a fé em Cristo Jesus”.

O depoimento de uma das netas merece o registro aqui. Neyla, que deu duas bisnetas a Glória, ficou surpresa num encontro recente com a avó que se preparava para a festa de 80 anos: “Minha avó nunca usou adornos de nenhum tipo, nem batom, nem qualquer outro tipo de maquiagem, mas na quinta-feira passada quando fui almoçar com ela tomei um baita susto!!! A ‘velhinha’ tinha acabado de furar a orelha!! E quando manifestei minha surpresa, ela respondeu que a ocasião pedia, pois já que não tinha tido festa de 15 anos, a festa dos 80 anos seria seu début e ela precisava estar à altura”.

É isso aí. Não foi só a garrafa térmica. Glória assistiu a chegada da modernidade: panela de pressão, geladeira, fogão a gás, máquina de lavar roupa – presente de sua irmã Cleonice - rádio, TV, celular, internet. Sempre atenta, nunca escancarou as portas ao consumismo, mas sempre deixou janelas abertas para se renovar. Adotou a modernidade, mas não permitiu que ela esfarinhasse as relações humanas, a vida familiar, matando o que ela tem de consistente. Sempre soube combinar modernidade e tradição. Se duvidar, ela ainda entra no face-book e arranja seguidores no twitter.

Numa vida, cabem vários 15 anos. Na terça-feira, dia 28, Maria da Glória Queiroz Nogueira, muito amada pelos seus, estará debutando, celebrando num só aniversário, vários rituais de quinze anos. Esse escriba que ainda guarda na memória o gosto daquele suco gelado de taperebá, em nome dos 17 irmãos, rende aqui homenagem e admiração à Glória, não só à irmã mais velha, mas à mulher bonita, cheia de graça e sabedoria, de olhos vivos, lúcidos e inteligentes, que com a heroicidade anônima do cotidiano construiu um patrimônio ético no meio de tantas adversidades.

P.S. Link para o texto nos 75 anos de Glória http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=211



GLÓRIA NAS ALTURAS
José Ribamar Bessa Freire
25/12/2005 - Diário do Amazonas

Diga lá: anjo tem sexo, tem pulmão? Há controvérsias. Uma coisa, porém, é certa: anjo tem garganta, o que pode ser comprovado nas canções tradicionais de natal, chamadas pelos espanhóis de ‘villancicos’. Elas têm esse nome, porque eram cantadas pelos ‘villanos’, moradores humildes e simples de pequenas vilas. Nos ‘villancicos’, existe sempre um coro angelical soltando a voz. Num deles, bastante conhecido, anjos anunciam o nascimento de Jesus, entoando a plenos pulmões: “Gló-ooo-ooo-ria”. O eco das montanhas repete o estribilho em latim, no mesmo tom: “In excelsis Deo”.

Existem versões desse ‘villancico’ em quase todas as línguas do mundo. Dizem que ele foi cantado pela primeira vez por camponeses da França, por isso, lá , os anjos são apresentados como cabocões do interior. Numa tradução em meados do séc. XIX, os ingleses deram aos anjos um perfil feminino e urbano. Na Espanha e em Portugal, eles ficaram assexuados. Na Itália, são escandalosos e distribuem “auguri di buon Natale” indiscriminadamente. Na Alemanha, mastigam pedra: “Laut erschallt das Gloria” . No alto Rio Negro (AM), cantam em língua tukano, prestando bem atenção: Bax´as-nãrã.

Hoje, dia de Natal, nas cidades da Europa, no interior da Ásia, em muitos países da África e até mesmo em várias aldeias indígenas da América Latina, povos de diferentes línguas e culturas, estão cantando seus ‘villancicos’, onde os anjos aparecem metendo o pé na jaca, entoando Glo-ooo-ooo-ria. Porém, numa casa do Beco da Indústria, no bairro de Aparecida, em Manaus, esse canto vai se prolongar por mais três dias, com outro sentido. É que no dia 28 de dezembro , Glória completará 75 anos de vida . É sobre ela que eu queria conversar hoje contigo, leitor (a).

O CANTO DO BRÍGIDO

Brígido Nogueira, um humilde alfaiate de Santarém, gostava de cantar ‘villancicos’. Tinha voz de tenor, com a qual gritava os bingos da quermesse da paróquia. Participava do coro do Apostolado da Oração da igreja de Aparecida com João Toledo, Zecafonso, João Dantas Cyrino e outros. Faziam contraponto com as irmãs Feitosa: Cleomar, Dagmar, Lucimar, Dulcimar e a mãe delas, a saudosa dona Rosa. Nos natais da paróquia e do bairro, além do jingobel, as músicas tradicionais de natal traziam alegria e beleza.

Um dia, Brígido conheceu uma menina de 16 anos, órfã de pai e mãe. Era Glória. Acostumado a cantar ‘villancicos’, com sua voz de tenor, cantou Glória, com ajuda dos anjos. Os dois se casaram em 1951 e, juntos, viveram uma relação amorosa exemplar que durou 35 anos. Quando ele se despediu da vida, a viúva ficou protegida pelo amor dos filhos e netos. Telefonei para um deles – o Dandão – pedindo detalhes demográficos. Demorou horas para responder. Pensei que estivesse contando um por um. Na verdade, seria impossível uma pessoa só realizar tal tarefa. Ele estava consultando o órgão responsável.

- “Segundo o último recenseamento do IBGE – disse Dandão – a mamãe teve 19 filhos dos quais 16 gerados no seu ventre e três adotados, sendo 12 mulheres e 7 homens. Todos casaram, tiveram filhos, e deram-lhe 46 netos e 9 bisnetos . Além disso, ela teve 17 irmãos . Esse é o balanço oficial do momento”.

Essa é a Glória. Maria da Glória Queiroz Nogueira, 75 anos, esposa, mãe, tia, avó, bisavó, irmã. Um dia, em Niterói, tive o prazer de acompanhá-la numa visita ao Museu de Arte Contemporânea, projetado por Oscar Niemeyer. O museu parece um disco voador, é uma gigantesca taça de concreto, embaixo do qual fica um espelho d' água, dando a impressão de que está levitando. Glória fez alguns comentários despretensiosos, mas tão interessantes e originais sobre o uso da água como ornamento, que me estimulou a pensar em outros lances que nunca havia pensado.

A GLÓRIA DOS FILHOS

Ela tem muita sabedoria acumulada, sensatez, raciocínio rápido e capacidade argumentativa, o que torna a conversa com ela muito agradável. Especialista em relações interpessoais, fala sobre relações amorosas entre marido e mulher, pai e filho, vizinhos. Com seus olhos vivos, inteligentes e sorridentes, discorre sobre fé, ética, beleza, tristeza, solidariedade, caridade, conflitos, doença, a morte e seus mistérios, o milagre da vida. Sempre aproveita lances da vida real. Em seu discurso, uma história envolvendo filhos, netos e vizinhos tem a mesma função da parábola no Evangelho, servem para ilustrar um princípio mais geral.

Como foi possível um alfaiate e uma dona de casa, pobres, conseguirem educar tantos filhos, todos eles profissionais bem sucedidos? Reproduzo aqui o que um deles – o já citado Mário Dandão – escreveu, discriminando os saberes acumulados por sua mãe.

Economia – Deu lições ao Delfim Neto. Com o salário do velho Brígido, realizou o verdadeiro milagre econômico. Nada de o bolo crescer para ser dividido, dividiu-o quando ainda era minúsculo. Aprendemos a compartilhar solidariamente o pirão.

Nutrição – A panela de comida era enorme, do tamanho daquelas usadas nos quartéis para abastecer a tropa. Se dependesse da D. Glória, o Sesc não faria o prato Brasil, pois não havia perdas, a sobra de hoje (quando raramente ocorria) virava o bolinho ou a torta de amanhã, com um cardápio variado e rico.

Saúde – Consultava o Dr. Contente em casos extremos, para não ser acusada de exercício ilegal da medicina. No geral, usava o melhor da medicina caseira. Minha casa foi um verdadeiro centro de referencia. Crescemos todos sadios, sem plano de saúde.

Meio Ambiente – A casa era pobre , mas limpa, muito limpa. As roupas eram humildes, mas limpas, sempre limpas.

Educação – Poderia assessorar qualquer secretário de educação sobre evasão escolar, nesta área deveria receber o título Doutor Honoris Causa da Sorbonne. Registrou-se apenas uma ou outra desistência e isso mesmo só ocorreu no 3º Grau.

Logística – Conseguiu com muita eficiência organizar, empacotar e distribuir um bando de malas que todos os dias iam para o trabalho e a escola, com turnos e horários variados, alguns deles usando a mesma farda e o mesmo sapato em turnos diferentes.

Direito – Incutiu em todos os filhos um forte sentimento de justiça. Sempre soube respeitar os outros, e era uma leoa na defesa dos próprios filhotes.

Recursos Humanos – Ela soube, como ninguém, motivar os filhos, otimizar o potencial de cada um e orientar para o seu melhor, além de ensinar o verdadeiro espírito coletivo de equipe.

Assistência Social – Silenciosa e discretamente, todas as terças-feiras, numa grande mesa colocada no quintal de sua casa, ela alimenta 30 a 40 meninos que trabalham na feira, fazendo carreto.

Essa é a Glória, minha irmã querida, a glória dos irmãos, dos filhos, dos genros, noras, netos e bisnetos, motivo de orgulho para todos nós, que com ela convivemos. Exemplo de resistência e de fé. Dia 28, os anjos certamente estarão cantando ‘villancicos’, acompanhados pela voz do Nogueira, colocando Glória nas alturas.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ser ou não ser ministro. Eis a questão.

O novamente e o ex-futuro ministro
O jornal Estado de São Paulo noticiou, na segunda-feira 6, que o ex-governador e senador eleito pelo Amazonas, Carlos Eduardo de Souza Braga havia sido escolhido para ser o futuro ministro da Previdência Social no governo de Dilma Roussef, e outras mídias anunciaram a volta do senador Alfredo Pereira do Nascimento ao ministério dos Transportes. Na terça-feira o mesmo "Estadão" publicou que Eduardo Braga não aceitou ser ministro. Na realidade, ele não aceitou o ministério que lhe deram: "O nome do ex-governador do Amazonas e senador eleito Eduardo Braga chegou a ser confirmado. Segundo peemedebistas, Braga teria aceitado ser ministro, mas com a expectativa de assumir outra pasta. Ele queria um ministério mais ligado à área empresarial e industrial. Como não foi possível trocar de ministério, o ex-governador desistiu de assumir a Previdência." Melhor para ele, melhor para o Amazonas.
Palpiteiro (leitura opcional)
Gostaria de fazer um comentário sobre isso. E por falar em comentário, os que farei aqui é um passatempo que tenho, que seria recomendado pelo minha terapeuta, se eu tivesse uma, e levasse a sério as recomendações dela. Digo isso para evitar que e-leitor sinta a mesma coisa que sinto quando estou dirigindo e ouço um trio de donos da verdade, que deveriam ser consultados pelo governo federal antes de tomar qualquer decisão. Primeiro ouço Miriam Leitão, que numa frase diz que na economia o bicho vai pegar, por esse e aquele motivo (todos por culpa do governo), para em seguida ter de admitir com índices, como os recordes sucessivos de vendas de automóveis, que o mundo tem agora de nos respeitar porque somos uma país em franca ascensão; outro é o Merval Pereira e outra é a Lúcia Hipólito. Eu não posso me comparar a esses comentaristas; primeiro, porque eles ganham para isso; segundo, não me julgo o dono da verdade, sou um palpiteiro, não me levo tanto a sério. Dar palpites pelo blog é muito bom, porque quem ler (se ler) não interrompe o meu raciocínio, eu escrevo até o fim. E como dizia o escritor Rubem Braga: "O leitor que é feliz fecha o livro e vai embora, eu tenho de ficar aqui escrevendo." Feliz sou eu. Escrever é preciso, viver não é preciso.
A Previsão
De quando em vez, eu coloco as variáveis no cérebro, chacoalho ele bem e chego perto do resultado. Eu previ aqui, com quase-exatidão o resultado da eleição presidencial e a diferença do número de votos entre Serra e Dilma. Os institutos de pesquisa acertaram o percentual de cada um, eu acertei o absoluto. Por que isso agora ? Para dizer que alguns prognósticos eu acerto, fruto da lógica, ou do óbvio lulante ou a partir de agora o óbvio dilmante. Eu disse várias vezes aqui, que Alfredo Nascimento seria ministro e Eduardo Braga não. Acertei novamente. Não era, e não é, um desejo. Apenas uma previsão, isso e somente isso. Quando o desejo entra na previsão, esta fica comprometida. Quem recebe os meus textos antes mesmo da existência desse blog, talvez se lembre do texto "O Pastor Alemão" que previa que o cardeal Ratzinger seria o novo Papa, choveu emails contestando essa afirmação. Deu no que deu.
Em vários post escritos aqui (e todos estão aí ) disse que o senador Alfredo Nascimento seria ministro do novo governo, e que Eduardo Braga dificilmente seria ministro porque no PMDB tem mais caciques do que índios, o resultado está aí, Renan Calheiros e José Sarney complicando a vida de Braga. Na realidade, é o contrário, no PMDB tem muito índio e somente três caciques.
Chance de Ouro
Quanto a escolha de Alfredo Nascimento o raciocínio era simples, mas muita gente me disse que ele não seria escolhido, perdeu a eleição, e Dilma não escolheria dois ministros do Amazonas. Vejamos: O PR faz parte da base aliada, elegeu 43 deputados federais; todo partido da base aliada tem, no mínimo, um ministro; Nascimento é o presidente do partido dele; trabalhou diretamente com Lula e Dilma, que gostaram do trabalho dele. Como é que eu sei ? Não deram apoio a candidatura dele ? Ele não foi chamado duas vezes para o ministério? Devem ter gostado. A propósito, creio que com essa terceira convocação, Nascimento entrou para Guinness World Records como o sujeito que ficou mais tempo como ministro dos Transportes, e em governos diferentes. Há também um motivo adicional bastante forte para Alfredo virá ministro: o suplente dele é do PT. Com tudo isso ele nem precisava ser um político do Amazonas. A sua escolha não tem nada a ver com o fato dele ser do Amazonas. A escolha dele mata três cachorros com uma pedrada: Agradece ao povo amazonense, aumenta a bancada do PT no Senado e completa a vaga do PR.
Quem apostou ou fez lobby para o ex-governador Blairo Maggi no lugar de Nascimento esqueceu desses pequenos detalhes, ou misturou desejo com realidade.
Alfredo Nascimento volta para um super ministério, um com dos maiores orçamento da União, portanto, está tendo novamente uma chance de ouro de conquistar outra vez a simpatia do eleitor amazonense. Daqui há quatro anos a disputa ao Senado com o atual governador Omar Aziz vai ser pedreira. E a (última???) chance dele de "melar" os planos da dobradinha Omar-Eduardo de ficarem 40 anos no poder, alternando Senado governo do Estado.
A escolha de Eduardo
Acho que já ficou claro que a escolha de Alfredo Nascimento não é, como possa parecer, um agradecimento aos votos de Dilma no Amazonas; embora, possa também servir para isso (e aceitamos como tal). Na realidade, para agradecer os votos dos amazonenses (não estou defendendo isso) seria necessário três ministros "amazonenses" (mesmo que naturalizados); porque a escolha de Eduardo Braga para o ministério da Previdência Social, não é (era) da "cota"do Amazonas, se é que tal coisa existe. Talvez até exista. O Maranhão também terá dois ministros, o veterano Edson Lobão, que volta para o ministério de Minas e Energia e o deputado federal Pedro Novais, que foi emplacado no ministério do Turismo. Se a moda pega, o governador Eduardo Campos vai querer um ministro pernambucano em agradecimento aos votos obtidos. Pernambuco, como o Amazonas e o Maranhão, deram vitórias expressivas a Dilma Roussef.
Mas vamos voltar ao texto. A escolha de Eduardo Braga é da cota pessoal de Lula e Dilma, que por pertencer ao PMDB e ser do Amazonas, acertaria três alvos com um único disparo. Mas teria de entrar na cota do partido, a contragosto de Renan Calheiros e Sarney, que não querem saber de novos caciques no PMDB.
Lembro-me de ouvir Dilma elogiar efusivamente Braga, muito feliz com a parceria dos dois governos. A cota de Dilma e Lula é o agradecimento por Braga ter financiado a campanha de Vanessa Graziottin, que desempregou o senador Arthur Virgílio Neto.
Senadores desempregados
Sobre isso, em breve, eu publico um post com o título "No Amazonas senador não se cria". Além de Fábio Lucena - que não completou o mandato - e Jefferson Peres, quanto senadores você conhece que conseguiram ser reeleitos ?
E falando em senador desempregado, Lula só não são ficou completamente feliz porque o Agripino Maia foi reeleito. Mas além de Arthur Neto, Tasso Jereissati e Heráclito Fortes também votaram para casa. Segundo o Blog do Zé Dirceu, Heráclito Fortes e Mão Santa, ambos senadores derrotados do Piauí, querem agora ser parlamentar do Parlasul e morar em Montevidéu. E segundo outros blogues os senadores não reeleitos Efraim Morais (DEM-PB), Marco Maciel (DEM-PE) também estão batalhando por essa boquinha.
Indo e vindo
Voltemos o que foi dito: o Eduardo Braga do PMDB foi escolhido na cota de Dilma e Lula. Pois aqui vai a afirmação que vai balançar a República (até parece coisa daqueles três comentaristas mencionados), o Amazonas sairia perdendo e muito com a escolha de Eduardo Braga para o ministério complicado burocrático da Previdência. Ainda bem que ele não aceitou. Peraí ! Se a tia Dilma ouve uma coisa dessas pode até ficar zangada comigo: "Escolhi o Braga justamente por ser complicado, queria um gestor com experiência." Então ok. De repente vou ter de deletar o que escrevi abaixo.
Eduardo Braga seria um ministro que em termos práticos não ajudaria em nada ao Amazonas. Não ajuda no Pólo Industrial, nem no saneamento básico, nem na educação, nem na geração de novos empregos, nem na abertura de novos portos ou rodovias, nem na Copa do Mundo, nem na luta contra a vazante dos rios, que agora, ano sim e outro também, virou a realidade Amazônica.
Braga queria um ministério mais importante, por ele mesmo, e em última instância, por comparação com o ministério recebido por Alfredo. Na realidade, corre a boca pequena que ele era o candidato de Dilma-Lula para presidir o Senado. Mas isso vai de contra aos interesses da dupla Renan-Sarney. Ou seria um trinca, incluindo o vice-presidente eleito. Mas do que o Michel temer ? Braga é ainda um outsider de sua panelinha. Este ainda "procura um cargo no primeiro escalão para acomodar Geddel Viera Lima, um dos integrantes do seleto grupo político do presidente da legenda e vice-presidente eleito..." Publicou o Estadão. Braga, o teacher's pet da presidência, era uma pedra nas pretensões dele. Renan Calheiros adorou a desistência e colocou Garidaldi Alves na Previdência, Temer ainda está procurando um ministério para o seu protegido.
Voto em Braga para o Senado
Sou a favor de que Eduardo Braga permaneça no Senado. Se ser ministro é um desejo dele, deve ser respeitado, mas a menos que seja um ministério que possa fazer muita coisa por essas bandas, caso contrário é bem melhor para o Amazonas que permaneça senador. Alfredo Nascimento recebeu uma pasta importante e tem como suplente João Pedro, político experiente, pós-graduado em política, ex-senador. No Senado pela sua ficha corrida, Braga já chega como cardeal, o que não aconteceria com os seus suplentes, e poderia muito ajudar o novo governo.
Se Eduardo Braga se tornar ministro, será substituído por sua esposa e suplente Sandra Braga, também do PMDB. Sua senhora fez um excelente trabalho como primeira dama do Estado e presidente do Conselho de Desenvolvimento Humano. Mas uma coisa é ser secretária de Estado onde o marido é o governador, outra é ser senadora da República. Esta senhora, acredito eu, não tem o perfil nem o traquejo político para entrar “na cova dos leões” e de lá sair viva. Vou ficar feliz se estiver enganado. Portanto, a sua participação no Senado será de mera espectadora (ao menos a princípio), uma coroinha no meio de tantos cardeais. Admito que possa ser alegado que ela terá tempo suficiente para aprender. O nosso Estado precisa de políticos atuantes, combativos, presentes e experientes; tanto quanto necessitará a Situação e o governo da presidente Dilma Roussef para fazer frente à Oposição. O que deverá ocorrer é que a esposa-suplente do senador Eduardo Braga, caso esse se torne ministro, deverá se licenciar para que o seu segundo suplente assuma; o empresário gaúcho Lírio Albino Parissoto, dono da Videolar, que também não possui as qualidades necessárias para o desempenho da função, por falta de experiência; principalmente quando comparado com a outra opção para o Senado que o Amazonas possui. O Amazonas já passou por triste experiência, quando Amazonino Mendes renunciou ao senado e foi substituído pelo Egberto Batista.
Portanto, para o bem do Amazonas é necessário que Eduardo Braga permaneça no Senado. Sua experiência como gestor público e no Parlamento nos será mais útil de que seriam os seus suplentes. Com ele no governo, ganhamos um ministro, mas perdemos um senador.

PS1. Eu e os outros membros da minha família temos CPF diferentes, cada um paga o seu próprio imposto separadamente, somos independentes uns dos outros. Portanto, a minha opinião expressa aqui, não pode ser generalizada para irmãos, primos, tios, etc. Eu não sou porta-voz de ninguém.
PS2. Segundo o Estadão, quando o senador Almir Lando foi ministro da Previdência não conseguiu mandar nem no INSS.
PS2. Será que alguém por aí tem o texto "O Pastor Alemão", que em uma limpeza no meu computador, eu o deleitei acidentalmente. Uma vez o professor Heyton Bessa me disse que tinha, mas infelizmente ele já nos deixou.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Dilma responde ao Washington Post

An interview with Dilma Rousseff, Brazil's president-elect
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/12/03/AR2010120303241.html
By Lally Weymouth
Friday, December 3, 2010

The Washington Post
Uma entrevista com a presidente eleita do Brasil
Quatro semanas atrás, os brasileiros elegeram sua primeira presidente do sexo feminino - Dilma Rousseff, a candidata escolhida pelo Luiz Inácio Lula da Silva, o popular presidente do Brasil que se despede do cargo. Dilma Rousseff chega ao poder com um percurso invulgar: Ela lutou nos anos 60 contra o regime militar que então governava o Brasil, e ela foi presa e torturada entre 1970 e 1972. Ela então começou na política local [Porto Alegre] e entrou para o governo Lula, em 2002, como ministra de Minas e Energia, tornando-se sua chefe de gabinete. Em 02 de dezembro, em sua primeira entrevista longa desde da eleição, Dilma Rousseff falou sobre seus planos para os próximos quatro anos. Trechos da entrevista:

Ter sido preso político dar-lhe mais simpatia por outros presos políticos?
Não há dúvida sobre isso. Devido ao fato de que eu experimentei pessoalmente a situação de um preso político, eu tenho um compromisso histórico para todos aqueles que foram ou estão presos apenas porque expressam seus pontos de vista, suas opinião pública, suas próprias opiniões.

Então, isso afetará sua política em relação ao Irã, por exemplo? Por que o Brasil apoiar um país que permite que as pessoas sejam apedrejadas, e põe os jornalistas nas cadeias?
Creio que é necessário para que façamos uma diferenciação no [o que queremos dizer quando nos referimos ao Irã]. Eu considero [importante], uma estratégia de construção da paz no Oriente Médio. O que vemos no Oriente Médio é a falência de uma política - de uma política de guerra. Estamos falando do Afeganistão e do desastre que foi a invasão do Iraque. Nós não conseguimos construir a paz, nem conseguimos resolver os problemas do Iraque. Hoje o Iraque está em guerra civil. Todo dia, soldados de ambos os lados morrem. Tentar construir a paz e não para ir para a guerra é o melhor caminho.
[Mas] eu não endosso apedrejamento. Eu não concordo com as práticas que têm características medievais [quando se trata de] para as mulheres. Não há nuances, não vou fazer quaisquer concessões a esse respeito.

Brasil se absteve de votar sobre a recente resolução sobre os direitos humanos da ONU.
Eu não sou o presidente do Brasil [hoje], mas eu me sentiria desconfortável como uma mulher presidente eleita, em não dizer nada contra o apedrejamento. Minha posição não vai mudar quando eu tomar posse. Eu não concordo com a maneira como o Brasil votou. Não é minha posição.

Muitos norte-americanos tinham simpatia pelo povo iraniano que se protestaram nas ruas. É por isso que eu quis saber se a sua posição sobre o Irã seria diferente da do seu atual presidente, que tem boas relações com o regime iraniano.
O presidente Lula tem a sua própria reputação. Ele é um presidente que defendeu os direitos humanos, um presidente que sempre defendeu a construção da paz.

Como você vê a relação do Brasil com os Estados Unidos? Como você gostaria de vê-la evoluir?
Considero que a relação com os EUA muito importante para o Brasil. Vou tentar estreitar os laços com os EUA, eu tive grande admiração pela eleição do presidente Obama. Eu acredito que os EUA naquele momento mostraram grande capacidade para mostrar que é uma grande nação, e surpreendeu o mundo. Pode ser muito difícil de ser capaz de eleger um presidente negro nos EUA - como era muito difícil eleger uma mulher presidente no Brasil.
Eu acredito que os EUA tem uma grande contribuição a dar ao mundo. E acima de tudo, acredito que o Brasil e os EUA têm de desempenhar um papel em conjunto no mundo. Por exemplo, temos um grande potencial para trabalhar juntos na África, porque na África, podemos construir uma parceria para disponibilizar tecnologias agrícolas, produção de biocombustíveis, [e] ajuda humanitária em todos os campos.
Acredito também, neste momento de grande instabilidade devido à crise global, é fundamental que encontremos maneiras que garantam a recuperação das economias dos países desenvolvidos, pois isso é fundamental para estabilidade do mundo. Nenhum de nós no Brasil se sentirá bem, se os EUA carrega altos índices de desemprego. A recuperação dos EUA é importante para o Brasil, porque os EUA tem um mercado consumidor extraordinário. Hoje, o maior superávit comercial dos EUA estão com o Brasil.

Você culpa que a flexibilização quantitativa?
A flexibilização quantitativa é um fato que nos preocupa muito porque isso significa uma política de desvalorização do dólar, que tem efeitos sobre o nosso comércio exterior e também na desvalorização de nossas reservas de divisas que são em dólares. Para nós, uma política de dólar fraco não é compatível com o papel que os EUA têm devido ao fato de que a moeda dos EUA serve como reserva internacional. E uma política de desvalorização sistemática do dólar pode provocar reações de protecionismo, que nunca é uma boa política a seguir.

Quando você planeja visitar os Estados Unidos? Eu sei que você foi convidado para ir antes de sua posse, em 01 de janeiro, mas você não pode ir.
Eu não estou aceitando todos os convites que recebo. Eu não estou visitando todos os países estrangeiros. Eu tenho que montar o meu próprio governo. Eu tenho 37 ministros a nomear. Estou planejando visitar o presidente Barack Obama no primeiro dia após minha posse, se ele me receber.

E então você vai convidar o presidente Barack Obama para vir ao Brasil?
Já o convidei informalmente, durante a reunião do G-20.

Existem preocupações na comunidade empresarial dos EUA sobre se o Brasil vai continuar no caminho econômico definido pelo presidente Lula.
Não há dúvida sobre isso. Por quê? Porque, para nós esta foi a grande conquista do nosso país. Não é uma conquista de uma administração única - é uma conquista do Estado brasileiro, do povo de nosso país. O fato de que conseguimos controlar a inflação, ter um regime de câmbio flexível e da consolidação orçamental assim que hoje estamos entre os países no mundo que tem a menor relação dívida-PIB. Além disso, temos um déficit que não é muito significativo. Eu não quero me gabar, mas nós temos um déficit de 2,2 por cento. Pretendemos, nos próximos quatro anos reduzir a relação dívida - PIB e garantir essa estabilidade inflacionária.

Você já disse publicamente que gostaria de ver as taxas de juros baixarem. Você vai cortar o orçamento ou reduzir o aumento anual dos gastos do governo?
Não há nenhuma maneira que você possa cortar as taxas de juros, a menos que você reduza seu déficit fiscal. Nós somos muito cautelosos. Nós temos um objetivo em mente: a de que as nossas taxas de juros sejam convergentes com as taxas de juros internacionais. Para conseguir chegar lá, uma das questões mais importantes é a redução da dívida pública. A outra questão importante é melhorar a competitividade da nossa produção e da agricultura. Também é muito importante que o Brasil racionalizar o seu sistema fiscal.
Se você quiser trazer as taxas de juros, você deve cortar gastos ou aumentar a poupança doméstica.
Você não pode esquecer sobre o crescimento econômico. Você tem que combinar muitas coisas.

Qual é seu plano?
Meu plano é continuar a trajetória que temos seguido até hoje. Conseguimos reduzir nossa dívida de 60 por cento para 42 por cento. Nosso objetivo é chegar a 30 por cento do nosso PIB. Eu preciso racionalizar os meus gastos e, ao mesmo tempo ter um aumento do nosso produto interno bruto, que conduzirá o país para frente.

Então o que você quer dizer quando diz "racionalizar gastos"?
Não estamos em uma depressão aqui. Nós não temos que cortar os gastos do governo. Nós vamos cortar despesas, mas continuar crescendo.
Estamos seguindo um caminho muito especial. Este é um momento onde o país está crescendo. Nós temos a estabilidade macroeconômica e, ao mesmo tempo, temos muito orgulho no fato de termos conseguido reduzir a extrema pobreza no Brasil.
Nós trouxemos 36 milhões de pessoas para classe média. Tiramos 28 milhões da pobreza extrema. Como conseguimos isso? Políticas de transferência de renda. O Bolsa Família é um dos seus principais exemplos.

Explique como funciona o Bolsa Família.
Nós pagamos um salário, que é uma bolsa de renda para os pobres. Eles ganham um cartão e retiram os seu rendimentos, mas eles têm duas obrigações que têm de respeitar: Eles têm que colocar seus filhos na escola, e eles têm que provar que comparecem a 80 por cento das aulas. Ao mesmo tempo, as crianças também devem receber todas as vacinas, e eles têm que passar por uma avaliação médica quando recebem suas vacinas. Este foi um fator que foi responsável, mas não foi o único.
Nós criamos 15 milhões de novos empregos durante a administração do Presidente Lula. Este ano, já criamos 2 milhões de novos empregos.

Você é tão próxima do presidente Lula. Você realmente vai ser diferente, ou vai ser apenas uma continuação do seu governo?
Eu acredito que o meu governo será diferente do presidente Lula. O governo do presidente Lula, que eu fazia parte, construiu uma base a partir da qual vou avançar. Não vou repetir a sua administração, porque a situação no país hoje é muito melhor do que era em 2002. Eu tenho os programas governamentais em andamento, que eu ajudei a desenvolver, como o chamado Minha Casa, Minha Vida, que é um programa de habitação.
Meus desafios são outros. Vou ter de resolver questões como a qualidade dos cuidados de saúde pública no Brasil. Vou ter que criar soluções para problemas de segurança pública.
O Brasil passou por mais de 30 anos sem investir em infraestrutura em uma quantidade suficiente. O governo do presidente Lula começou a mudar isso. Eu tenho que resolver as questões rodoviárias no Brasil, as ferrovias, as rodovias, os portos e aeroportos.
Mas há uma boa notícia: Descobrimos petróleo em águas profundas.

Você está sugerindo que esse achado vai financiar a infraestrutura?
Criamos um Fundo Social [em que] alguns dos recursos do governo vindos do óleo serão investidos em educação, saúde, ciência e tecnologia.

Vocês têm que preparar o país para a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Sim, mas eu também tenho outro compromisso, e que é para acabar com a pobreza absoluta no Brasil. Nós ainda temos 14 milhões na pobreza. Esse é o meu grande desafio.

Todos os empresários que eu encontrei em São Paulo disseram que tinham que estar muito preparados para se encontrarem com você porque você está muito familiarizada com a maioria dos projetos.
Sim, é verdade. Eu acho que é uma característica feminina. Nós apreciamos os detalhes. Eles não.

O que significa para você ser a primeira mulher presidente do Brasil?
Ainda acredito que é surpreendente.

Quando você decidiu que queria ser presidente?
Esse foi um processo. Não há nenhuma data. Comecei a trabalhar com o presidente Lula, e ele começou a dar algumas dicas sobre mim vir para a presidência, mas ele não foi claro sobre isso no começo. Foi uma grande honra para mim, mas eu não estava esperando por isso.
A partir do momento que ficou claro para mim que eu seria indicada há dois anos, eu sabia que tínhamos criado as condições adequadas para tornar possível ganhar as eleições. O presidente Lula teve uma excelente administração, e o povo brasileiro reconheceu isso e agradeceu isso. Somos uma administração diferente - nós ouvimos o povo.

Você recentemente lutou contra um câncer.
Sim, mas eu acredito que eu consegui lidar bem com isso. As pessoas têm que saber que o câncer pode ser curado. Quanto mais cedo você descobrir isso, o melhor são suas possibilidades de cura. É por isso que a prevenção é importante. . . .
Acredito que o Brasil estava preparado para eleger uma mulher. Por quê? Porque as mulheres brasileiras atingiram isso. Eu não vim aqui por mim, pelos meus próprios méritos. Somos a maioria neste país.

Lally Weymouth é um editor associado sênior do The Washington Post.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Casamento gay pode ? E aborto ?

População rejeita mudanças na lei sobre aborto, gays e drogas
Temas polêmicos, que marcaram a campanha presidencial deste ano, foram abordados em pesquisa Vox Populi encomendada pelo iG
Matheus Pichonelli, iG São Paulo 05/12/2010 06:59


Eleita presidenta com 55 milhões de votos, a petista Dilma Rousseff pode ter dificuldade em conseguir apoio popular se quiser fazer mudanças nas leis que tratam de temas polêmicos como aborto, direitos dos homossexuais e consumo de drogas. Pesquisa Vox Populi encomendada pelo iG para mapear as expectativas dos brasileiros em relação ao futuro governo mostra que a maioria da população não aceitaria mudanças nas regras que regem atualmente essas áreas.

O aborto, em especial, entrou na pauta da disputa eleitoral deste ano e levou tanto Dilma quanto o presidenciável José Serra (PSDB) a prometerem que, caso eleitos, não promoveriam mudanças nas regras relacionadas ao assunto.

Dilma, que antes de ser candidata havia dado declarações favoráveis à descriminalização do procedimento, viu aumentar, na reta final da campanha, a resistência de setores religiosos à sua candidatura. A petista acabou escrevendo uma carta se comprometendo a manter as leis sobre o tema e “de outros temas concernentes à família e à livre expressão de qualquer religião no País”.

Para 82% dos entrevistados pelo Vox Populi, o aborto não deveria deixar de ser crime no País. Entre os habitantes das regiões Norte e Centro Oeste, 89% defendem a punição de quem pratica o ato, contra 77% no Sudeste, o menor índice. De acordo com o instituo, é mais fácil encontrar quem defenda mudanças na lei do aborto em grandes cidades (19%) do que em municípios menores (9%).

O índice de rejeição à prática do aborto não varia significativamente entre gênero, idade e renda – é maior apenas entre eleitores com nível superior: 19%, contra 10% de quem estudou até a quarta série, por exemplo. Os índices de rejeição também são os mesmos entre eleitores de Dilma e Serra (82%) e atingem altos patamares tanto entre eleitores religiosos (86% dos evangélicos rechaçam a ideia) como entre os que dizem não ter religião (78%).

Para 72% das pessoas, o governo Dilma não deveria sequer propor uma lei que discriminalize o aborto – ideia compartilhada tanto por católicos (73%) como por evangélicos (75%) e membros de outras religiões (69%).

União civil entre homossexuais
O Vox Populi mostra que, para 60% da população, a união civil entre homossexuais não deveria ser permitida no País - como prevê a lei atual - contra 35% que defendem o direito. A maior resistência é observada nas regiões Centro Oeste e Norte (69%) e em municípios pequenos (66%); a menor resistência é observada no Sudeste – onde 39% defendem os direitos.

A pesquisa mostra que quanto mais velha é a população, menor a aceitação sobre o assunto (69% dos que tem 50 anos ou mais não aceitam a mudança). Quanto maior a escolaridade, maior também a aceitação: 44% dos quem têm ensino superior apoiam a mudança na lei – e 63% dos que estudaram até a quarta série dizem que homossexuais não podem se unir legalmente.

O menor índice de aceitação à união entre gays é identificado entre evangélicos: 19% (contra 37% dos católicos praticantes e 41% dos católicos não praticantes). Com pessoas de outras religiões, a aceitação chega a 59%.

A rejeição não é exclusiva apenas a entrevistados que se declaram religiosos: 56% dos que afirmam não ter religião também se dizem contra a união civil entre gays – o maior índice, entretanto, é entre evangélicos: 78%. Eleitores que declararam voto em Dilma e Serra têm praticamente os mesmos índices de rejeição à ideia: 36% e 33%, respectivamente.

A pesquisa aponta também que os brasileiros rejutam qualquer proposta de lei para ampliar o direito civil entre homossexuais e igualar a união ao casamento: 63% dos entrevistados se dizem contrários à ideia – entre os evangélicos, o índice chega a 79%.
Ainda segundo o Vox Populi, a adoção de crianças por casais homossexuais não deve ser permitida no País para a maioria dos entrevistados: 61%. A maior rejeição é identificada no Nordeste (70%). A ideia enfrenta maior resistência também em cidades menores e entre eleitores mais velhos.

Quando a pergunta é se o governo deveria propor uma lei que facilite a adoção de crianças por casais gays, a maioria dos entrevistados (64%) diz ser contra. No Nordeste, o índice é de 71% e entre evangélicos, de 77%.

Uso de drogas
O Vox Populi mostrou também na pesquisa que praticamente nove em cada dez brasileiros (87%) são contra a descriminalização do uso de drogas. O índice chega a 93% no Nordeste.

A ideia é quase igualmente rechaçada entre entrevistados de diferentes religiões, idades, escolaridade e preferências políticas. Para a maioria (72%) o governo nem sequer deveria propor uma lei prevendo a descriminalização das drogas – no Sul, a rejeição à ideia de mudança na lei alcança 81% da população.

A margem de erro do levantamento, que contou com 2.200 entrevistas feitas entre os dias 19 e 23 de novembro, é de 2,1 pontos percentuais.