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domingo, 13 de novembro de 2011

NYTIMES: O Brasil assusta os vizinhos


Brasil, ou a República Federativa do Brasil, é o maior país da América do Sul em área e população, com cerca de 200 milhões de habitantes. Durante a última década tornou-se também uma das potências econômicas que mais rapidamente crescem no mundo.
O sucesso do Brasil é o resultado de uma confluência de sorte e tendências econômicas globais, com países como a China famintos por suas commodities, que incluem minério de ferro e soja, para não mencionar o petróleo recentemente encontrado em abundância no seu litoral. A onda de fazer negócios e da resiliência da moeda do Brasil, o real, tem atraído banqueiros e investimentos estrangeiros, gestores de fundos hedge e investidores de risco. Brasileiros qualificados estão voltando do exterior. Vantagens pagas a alguns executivos rivalizam-se com pagas em Wall Street.
Ascensão meteórica do país ocorreu sob a liderança tranquila de Luiz Inácio Lula da Silva, um ex-trabalhador de uma fábrica de automóveis, que foi presidente do Brasil de 2002 até 2010. Popular, o Sr. da Silva - conhecido como Lula dentro do Brasil - presidiu o país durante um período de crescimento econômico significativo que solidificou o Brasil como o centro de gravidade na América Latina e um player cada vez mais importante no mundo.
O Sr. Silva fomentou este crescimento através de uma combinação de centro respeitando os mercados financeiros e focando em programas sociais, que tirou milhões da pobreza e diminuiu a grande diferença de renda entre ricos e pobres. Em outubro de 2011, foi anunciado que o ex-presidente tem câncer na garganta. A divulgação de sua condição veio em um momento quando ele ainda era admirado como o mais imponente líder político contemporâneo do Brasil.
Em janeiro de 2011, o Sr. da Silva foi sucedido por Dilma Rousseff, o primeiro (sic) presidente do país, do sexo feminino. Sua eleição foi vista como um chamado para continuar as políticas econômicas e sociais de seu popular antecessor. Dilma atuou como chefe de gabinete de Lula e ela é o seu 'candidato foi escolhido a dedo'.
Cada vez mais exercitando seu poder
Como domínio americano na região declina, o Brasil cada vez mais exercita seu recente poderio político e econômico, ele começou a experimentar as armadilhas desta função também: reação contra o poder crescente no hemisfério.
Mais de um século atrás, antes de se tornar uma república, o Brasil era um império com investidas ocasionais no território dos vizinhos, muitas vezes servindo como um árbitro em disputas na América Latina. O Brasil agora conta com um corpo diplomático sofisticado, aumentou os pagamentos de ajuda estrangeira, e os bolsos cheios do seu banco de desenvolvimento [BNDES] - um gigante financeiro que supera o volume de empréstimos feitos pelo Banco Mundial e tornou-se o principal meio para o Brasil projetar o seu poder na América Latina e mais além.
Mas os esforços do Brasil estão sendo recebidos com cautela em vários países da América Latina. Uma proposta, para construir uma estrada através da selva da Guiana até a sua costa, está parada por causa de temores de que o Brasil possa tomar conta do seu pequeno vizinho com a migração e comércio.
Na Argentina, as autoridades suspenderam um grande projeto por uma empresa de mineração brasileira, acusando-a de não contratar operários locais o suficiente. Tensão no Equador sobre uma usina hidrelétrica levou a uma difícil batalha legal, e protestos de índios Ashaninka na Amazônia peruana ter colocado em cheque, um projeto da represa brasileira.
Mas talvez nenhum projeto brasileiro na região provocou a ira tanto quanto um na Bolívia.
Financiado pelo banco de desenvolvimento nacional do Brasil [BNDES], o plano era construir uma estrada através do remoto território indígena boliviano. Mas provocou uma revolta de combustão lenta; centenas de manifestantes indígenas empreenderam uma extenuante marcha de 520 quilômetros desde das terras baixas centrais da Bolívia até La Paz, a capital, denunciando o seu ex-lider, o presidente da Bolívia, Evo Morales, por apoiá-lo.
Morales, primeiro presidente indígena da Bolívia e um ambientalista confesso, de repente viu-se em desacordo com uma parte importante da sua base política, defendendo um projeto brasileiro que poderia aumentar o desmatamento. Ele finalmente cedeu às exigências dos manifestantes e descartou a estrada.
O Brasil continua financiando uma variedade de planos na Bolívia, incluindo vários projetos hidrelétricos e de uma ambiciosa política antidrogas que envolve a implantação de aeronaves teleguiadas na fronteira, treinamento e fornecimento de equipamentos para as forças de segurança bolivianas.
Mas a disputa sobre a estrada colocou o Brasil em observação aqui.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A ZFM acabou

"As regiões são vistas como pontos nodais na sociedade de rede mundial globalizada. As fontes da competividade regional estão aparentemente mudando na era pós-fordista. Esse desenvolvimento é caracterizado por uma mudança da produção em massa para uma produção na direção da economia baseada no conhecimento."
Richard Florida, 1998, in Calibrating the Learning Region

 
Introdução
Três situações provocaram esse post: a declaração do superintendente interino da Suframa, Oldemar Ianck, ao jornal A Crítica, no dia 2 de novembro, dizendo que ZFM acabou; a palestra “Parques Tecnológicos x Sistemas Locais de Inovação” dada pelo finlandês, Martti Launonen, no seminário “Sistemas Locais de Inovação e Sustentabilidade”, dia 28 de outubro, dentro da VI FIAM, coordenado pela SECT; e a matéria do jornal A Crítica, de 7 de novembro: "Parlamentares afiam discurso em defesa da Zona Franca de Manaus".
A declaração do superintendente interino e a palestra têm uma forte ligação. O que o pesquisador finlandês disse, pode ser a salvação da lavoura. O seu conteúdo e prática estão intimamente relacionados com o que o PIM necessita. Isto venho repetindo há muitos anos: a necessidade da transformação do PIM de um parque de montadoras em um parque tecnológico de empresas inovadoras. Mas não se está sugerindo que a montadoras tenham que ir embora. Nem devemos permitir que isso aconteça. E estimular o desenvolvimento de empreendimentos endógenos, como disse o interino, é uma idéia muito boa, que deve ser perseguida, mas não é nova. O CIDE, Centro de Incubação e Desenvolvmento Empresarial; o Ayty, a incubadora do IFAM (Instituto Federal do Amazonas) e outras incubadoras, como a da UFAM, tem um papel importante nesse processo.

Muito mais que a prorrogação
No dia 15 de setembro deste ano, num auditório do INPA, aconteceu um seminário promovido pela Associação Panamazônia e pela Fundação da Defesa da Biosfera (FDB), onde os palestrantes, com várias intervenções da platéia, mencionaram as dificuldades que a ZFM enfrenta; as ameaças presentes e futuras (China, Medidas Provisórias, infraestrutura precária, contingenciamento de verbas, etc.). Realisticamente, embora contentes com a previsão, ninguém soltou fogos pela possibilidade do faturamento do PIM este ano passar dos US$ 40 bilhões de dólares. Qual o motivo?
Porque ninguém quer isso por pouco tempo; mas com o modelo que temos, e por causa de uma série de outras variáveis, as nossas vantagens comparativas estão diminuindo. Talvez por isso, e embora bem vindo, o anúncio, por parte da presidente Dilma Roussef de que os incentivos fiscais serão prorrogados por mais 50 anos, não provocou nenhuma queima de fogos; muito pelo contrário, não foram poucas as vozes dizendo que isso é pouco. Ou melhor, necessário, mas não suficiente. Agora o titular interino da Suframa afirma que a ZFM acabou. Isso é uma boa notícia. Se o PIM produz mais de 40 bilhões de dólares pagando impostos, isso é muito bom. A ZFM pode acabar; quem não pode acabar é o PIM. Sem a isenção fiscal, que é a nossa vantagem comparativa - e se não a temos mais, ou se ela está sendo reduzida - temos que agir imediatamente no sentido de perenizar o PIM sem os incentivos. Precisamos agora termos vantagens competitivas.
E qual é a solução? Possivelmente, não exista uma única, mas costumo apresentar a minha. Na realidade, ao e-leitor que já leu alguma coisa que escrevi (e isto já está ficando até chato, mas repito porque os meus cem novos alunos desse semestre não sabem disso), digo sempre que na minha tese de doutorado, eu apresento 12 propostas para que o PIM não precise mais de incentivos fiscais (no futuro), para ser perenizado. Isso leva tempo, obviamente (o projeto CT-PIM é um projeto de 20 anos). Por isso o quanto mais cedo começarmos, melhor.
Apresento quatro propostas a mais do que o canadense e estudioso de clusters, Roger Voyer. Ele ensina os “Oito Ingredientes para o Sucesso de um Cluster” que serviram de base para as minhas propostas. Mas não acreditem em mim, porque santo de casa não faz milagres, acreditem em vários autores e practitioners de clusters, como o finlandês, Marti Launonen, que apresentou a palestra e o seu livro “HubConcepts – The Global Best Practice for Managing Innovation Ecosystems and Hubs”. No seu livro - que ele trouxe um único exemplar, e meio a contragosto me presenteou - ele narra suas experiências e contribuições em concentrações industriais, além de vários casos na própria Finlândia. Os estudos de casos apresentados são os seguintes: na Coréia do Sul (3), na China (4), no Japão (3), na costa oeste dos Estados Unidos (2), na costa leste (1), na França (3) e no Reino Unido (1). Portanto, volto a dizer o que já disse antes: há empresas e especialistas – que já publicam as suas experiências, em livros e papers – que ajudam as concentrações industriais a se moverem para o próximo estágio, de aglomerações industriais para um cluster de base tecnológica. Nesse texto apresento algumas capas de alguns livros que contam essas experiências.

De Distrito Industrial a Cluster de Base Tecnológica
A declaração do sr. superintendente e a palestra do finlandês fizeram-me lembrar do texto "De Distrito Industrial a Cluster de Base Tecnológica", que escrevi em setembro e que deverá ser publicado em breve (aqui um excerto):
“O que precisa ser feito foge da expertise da Suframa, mas isso não a exime de continuar a exercer a liderança. Ela, que já teve uma autonomia maior, quando construía camp
i, hospitais e abria estradas vicinais, hoje tem receitas contingenciadas. Ela deverá trabalhar mais como o governo estadual, que tem uma responsabilidade maior nesse processo [no mínimo mais independência], devido às ações que pode e deve tomar [em breve apresento o post University Science Parks e o Novo Campus da UEA], bem como a pressão que pode exercer sobre o governo federal [a Suframa também é mais limitada nesse aspecto]. Os casos de clusters espontâneos (bottom up) são raríssimos [o PIM não vai se transformar sozinho], quase todos são do tipo top down, criados por iniciativas governamentais.
Na década de 90, a Suframa se propôs um planejamento estratégico onde não via a si mesma como mera fiscalizadora e concessora dos incentivos fiscais federais, mas como agência de fomento regional. Hoje, além da crise interna que passa [texto escrito antes da renúncia da superintendente], administra um polo industrial repleto de ruas esburacadas cercado de favelas [http://www.blogmarcossantos.com.br/2011/08/23/suframa-perde-r-69203-milhoes-por-polemica-no-asfaltamento-do-distrito-obras-usam-agora-recursos-proprios/].
A Suframa - cuja administração, em tempos idos, fazia sombra ao governo estadual - precisa de ajuda e de experts [como o finlandês, por exemplo] para o PIM sair da situação de um distrito industrial, que cresceu e amadureceu, e pode envelhecer em alguns setores, do ponto de vista da evolução e inovação tecnológica. É preciso ser intensificados os projetos como CBA, CAPDA, CT-PIM e CIDE . O novo PIM passa por eles [precisa deles]. Para isso, a Suframa precisa de apoio político"

E de dinheiro. A Suframa precisa de dinheiro até para pagar fornecedores. Eu questionava a não participação da Suframa em fóruns internacionais, como a Conferência Global anual promovida pelo The Competitiveness Institute , onde experiências sobre concentrações industriais são compartilhadas entre estudiosos, prefeitos, administradores de clusters, etc. Lembro também que esse ano, em Ouro Preto, MG, aconteceu a 6a Conferência Latino Americano de Clusters; e no mesmo período da VI FIAM, realizou-se na Guatemala, a XV Conferência de Zonas Francas Latinas (a décima foi realizada em Manaus em 2006). Hoje prefiro acreditar que a falta de dinheiro contribuiu para a ausência da Suframa nesses debates. Tendo isso em mente - falta de dinheiro - ainda não entendi a utilidade do Minapim, que é realizado pela Suframa no mesmo período “O evento tem como objetivo difundir a micro nanobiotecnologia no estado da arte com aplicações industriais e soluções para a sociedade, como para a medicina ou o meio-ambiente."
da Feira Internacional. Diz o site do Minapim:

O encontro convida palestrantes de instituições estrangeiras, que veem a Manaus expor o que o Primeiro Mundo faz com as nanotecnologias. Isso deve custar dinheiro. E qual a utilidade prática para nós aqui no PIM. Ficamos de espectadores ? Não estaríamos queimando etapas?

Se especialistas como Martti Launonen, o finlandês; Jukka Viitanen, Roger Voyer, Akifumi Kuchiki, Masatsugu Tsuji, Michael Porter, o mais famoso e respeitado de todos; Jorge Niosi, Richard Florida, Zoltan J. Acs, AnnaLee Saxenian, Ifor Ffowcs-Williams , Benget-Ake Ludvall, Philip Cooke, Christopher Freeman e outros podem nos dizer como foi que algumas concentrações industriais, onde atuaram e estudaram a fundo, passaram do estágio de distrito industrial para clusters industriais de base tecnológica ou baseados no conhecimento; podemos também, irmos direto as fontes e verificar como Cingapura; Bangalore (Índia) e a República da Irlanda, e regiões como Catalunha (Barcelona), Lombardia (Itália), Baden-Wuerttemberg (Alemanha), Rhône-Alpes (França), Ottawa-Toronto(Canadá) conseguiram em tão pouco espaço de tempo obter resultados tão significativos. O e-leitor que me acompanha sabe o que vou dizer agora: em apenas 25 anos de existência, o parque tecnológico de Bangalore conseguiu 2500 laboratórios de P&D. Igualmente extraordinários são os exemplos de Cingapura e da Irlanda. Cingapura monta um cluster, inicia outro.
Até nos anos 80, a Irlanda era um dos países mais pobres da Europa Ocidental. Repito:pobre. E em 2008, antes da crise que passa a zona do euro, o seu PIB per capita, segundo o CIA Factbook, era de US$ 41.700. Isso merece um post. Mas antecipo aqui alguns comentários sobre o cluster de tecnologia da informação e comunicação (ICT) desenvolvido a partir dos anos 90.
Segundo a Comissão Européia,“entre 1980 e 1991, mais de 200.000 irlandês foram tentar a vida em outros países. Mas Durante as duas últimas décadas [90-00], a Irlanda alcançou um notável transformação econômica – deixou de ser um dos mais pobres para se tornar em um dos Estados-Membros mais ricos da União Européia, quando medido pela renda per capita.” ."

Em outra fonte encontra-se:,“Durante a última década, a Irlanda experimentou a mais rápida taxa de crescimento da produção e emprego de qualquer país da OCDE , com o número de empregos em toda economia aumentando em 42% entre 1990-99. Embora o setor de serviços seja a principal fonte deste aumento, o emprego industrial também cresceu rapidamente em sua maior parte em atividades com alta agregação de valor, baseadas no conhecimento [knowledge-based activities]. A escala e a composição deste crescimento deu origem ao termo ‘Tigre Céltico’ e as dúvidas iniciais sobre a sua sustentabilidade foram todas desfeitas,alcançando a mudança estrutural cumulativa.
[O modelo irlandês ] é essencialmente voltado para a exportação, com mais de 55 por cento do PIB [US$ 172,3 bilhões, em 2010, pela paridade do poder de compra, e US$ 111,3 bilhões em exportações] vendido ao exterior e um crescimento médio no volume das exportações de 12% ao ano, durante toda a década de 90. A Irlanda tem consistentemente registrado um superávit comercial ao longo deste período superior a 10 por cento do PIB, principalmente devido ao impulso dado por um grande, globalizado e, cada vez mais sofisticados, setor de ICT. Recentes dados da OCDE indicam que a Irlanda tem a maior proporção de indústrias de alta tecnologia representada na sua fabricação de exportações de todos os países da OCDE.
Atividades de ICT na Irlanda foram caracterizadas principalmente nas fases iniciais de desenvolvimento pela fabricação e montagem de hardware, mas isso foi rapidamente ultrapassando pela produção integrada mais complexa e por operações de software, incluindo aqui empresas locais, pois as operações de montagem mudaram-se para países de mão-de-obra mais barata. Durante a década de 1990, as empresas locais alcançaram taxas anuais de crescimento de emprego de 11%, o valor das vendas aumentaram 25% ao ano e as exportações em quase 40%. Enquanto o setor de eletrônicos continua ser dominado por grandes empresas multinacionais, o emprego no setor de produtos de softwares e serviços é mais dividido entre estrangeiros e empresas locais, principalmente PMEs.”."

Knowledge Workers – 40 PhDs.
Se ficou na cabeça do e-leitor que tudo deve ser cobrado da Suframa, isso deve ser desfeito. É necessário que se diga que todas essa regiões têm uma coisa em comum: universidades ou institutos tecnológicos produzindo conhecimento e inovação. E o que chamamos de mão-de-obra qualificadíssima, eles chamam de knowledge workers. Sem eles não se vai a lugar nenhum. Portanto, nem tudo pode ser debitado na conta da Suframa.
Sobre a necessidade de knowledge workers no PIM, eu conto duas histórias que ouvi na II Semana de Economia, da UFAM, realizada recentemente. Duas palestras em dias e horários diferentes. Em uma palestra, o professor Admilton Salazar, gestor do CT-PIM, que mostrou-se conhecedor de conceitos e das necessidades de um cluster, contou que convidou uma

empresa francesa a se instalar em Manaus, e obteve como resposta, que com incentivos fiscais ou sem incentivos fiscais a empresa viria, desde que tivéssemos uns 40 PhDs em engenharia eletrônica. História similar, ouvi dos professores José Alberto Machado e Mauro Vieira e do empresário Wilson Périco, presidente da CIEAM, sobre a tentativa de trazerem uma empresa de semicondutores para o PIM. A empresa perguntou: Tem areia (óxido de silício)? Sim, responderam. Tem água? Muita. Tem uns 40 PhD em eletrônica?
Não é somente em eletrônica que falta mão-de-obra. O professor Salazar acrescenta:“Falta capital intelectual (PhDs) em eletrônica, em química fina, em micromecânica, entre outras. Mas faltam também investimentos em infraestrutura tecnológica e laboratorial em nível de prototipagem que permita a atração, absorção e retenção dessa mão de obra altamente qualificada, caso contrário os poucos que conseguirmos formar serão atraídos por quem ofereça condições (e salários) mais satisfatórios fora da nossa Região. Os incentivos do PIM são apenas um “plus”, um adicional interessante, mas o fundamental para a atração de investimentos de alta tecnologia é a oferta de Capital Intelectual altamente qualificado.”"


Instituições de Pesquisas
Com quem contam as regiões citadas, em termos de academia? Instituições seculares? Com 300 anos como a Harvard University ? Nada disso. Muitas foram recém criadas para fins específicos. Desde 2000 os indianos criaram sete institutos de tecnologias. Em Cingapura, a Nanyang Technological University (NTU) criou, em 2001, a Escola de Ciências Biológicas, dentro da Faculdade de Ciências; e a Escola de Engenharia Química e Biomédica dentro da Faculdade de Engenharia, para formar capital intelectual para o cluster biomédico (BMS), que teve início em 2000.
Cingapura é um hub e líder mundial na manufatura de produtos eletrônicos e de tecnologia de informação. Começaram exatamente como nós: com montadoras multinacionais, atraíndo DFI, investimento estrangeiro direto. Evoluíram de concentração industrial, para um cluster de firmas inovadoras. Mas partiram para outros clusters como, farmacêutico e o naval. Em 2000, decidiram iniciar o Singapore BMS cluster, e para isso “um fundo de US$ 1 bilhão foi inicialmente alocado para impulsionar o investimento público em várias áreas; para estimular o investimento em diversos novos institutos de pesquisas das ciências da vida (life sciences research institutes), para co-financiar novos projetos de P&D de empresas farmacéuticas globais, e para iniciar a construção de um novo complexo de ciências chamado Biopolis.”
Quem foi para lá ? Não dá para relacionar nesse espaço, mas eis algumas companhias: GlaxoSmith Kline, Schering-Plough, Wyeth-Ayerst, Aventis, Pfizer, Merck Sharp & Dohme, Novartis, Ciba Vision, Abbort, UpJohn, e mais umas cinqüenta empresas.
Antes da atração de empresas, foi criado, em 1987, o Institute of Molecular and Cell Biology (IMCB); em 1995, o Bioprocessing Technology Institute; em 1998, foram estabelecidos o Centre for Drug Evaluation e a Johns Hopkins University Singapore, campus avançado de uma das mais respeitadas universidade do mundo em ciências da vida. Em 2000 foi estabelecida a Agency for Life Sciences, Technology and Research (A*Star); em 2001, foi estabelecido o Bioinformatics Institute (BII); em 2003, a Biopolis foi inaugurada. É grande lista de instituições de apoio criadas. Então, senhor governador, o campus da UEA será construído nas margens direita do rio Negro? Vamos criar algo novo por lá, além de boas instalações prediais. Como escrevi no outro texto, cujo título é mencionado acima, precisamos de uma política educacional de Estado do tipo 50 anos em 5.

A grande diferença entre nós e eles, é que nós criamos a ZFM para ocupar a região, e acabamos preservando a floresta Amazônica Ocidental. Agora produzimos US$ 40 bilhões. Então está tudo muito bom, está tudo muito bem.
Precisamos de uma política de Estado. Brasília tem de ter interesse de transformar o PIM para um parque tecnológico, e ver os benefícios que isso pode trazer para todo o país. Até mesmo no futuro cancelar a política de isenção fiscal. Eu citei alguns exemplos, o pesquisador finlandês cita dezessete exemplos, e somente dois ou três oferecem incentivos fiscais. E ainda assim por período determinado, contando a partir da instalação da indústria. E por isso, por mais que a Suframa se esforce, não vai conseguir sozinha, se não convencer o governo central; e com um forte apoio e parceria do governo do Amazonas.
No que diz respeito a Suframa, cabe-lhe, na medida do possível, pressionar o governo federal (falar é muito mais fácil do que fazer). Mas poderia também fazer a sua parte, abrindo mão de querer que o CBA lhe pertença e permaneça sobre a sua jurisdição. Da forma que ele se encontra não vai atingir os objetivos pelo qual foi criado. E esse imbróglio jurídico tem de ser resolvido. O CBA não pode contratar ninguém. Nunca terá um quadro permanente de pesquisadores. Como é que vai empregar cientistas? Todos os seus colaboradores são bolsistas financiados pela FAPEAM. Sobre o CBA, em 2003, escrevi um texto de 30 páginas intitulado ‘Quem vai Gerir o Centro de Biotecnologia da Amazônia ? O texto continua atualíssimo até hoje. Houve quem tenha tentado levá-lo para o governo do Estado, mas Suframa permaneceu com ele, possivelmente, pelo fato de que entre todos os consignatários do documento que o criou , praticamente, somente a Suframa, cumpriu com os desembolsos acordados. Na realidade, desembolsou a sua parte e muito das partes dos demais sócios. Mas o CBA está muito longe de dar a sua contribuição ou prestar os serviços esperados. A sua gestão deve ser entregue a um profissional que o prepare para vôo solo, para que possa atingir todo o seu potencial e produzir conhecimento como fazem os diversos centros similares espalhados pelo mundo. Nada impede de ter o governo federal como o seu mantenedor, como o INPA, a UFAM, ou algo como a Embrapa. Continuar com está e perca de tempo. Ele não pode ser uma “anta branca no meio da floresta.”
Em tempo: O CBA não é tão importante para o PIM-eletrônico, mas é importantíssimo para o desenvolvimento da região, do uso da biodiversidade, e desta nos econegócios, na biotecnologia e química de produtos naturais, visando à transformação do capital natural em produtos de alto valor agregado;servindo como instituição âncora para o estabelecimento de outros laboratórios na região.

Outro projeto importante mantido pela Suframa é o CT-PIM. Iniciado em 2002, e desenhado para atingir a maturidade em 20 anos. Quem o conhece, e a que se propõe, sabe que é um projeto extremamente estratégico para a perenização do Polo Industrial de Manaus, mas também sofre com o contingenciamento de verbas que passa a Suframa. Portanto, embora tente manter-se dentro programado - por falta de verbas - encontra-se com o cronograma atrasado. O projeto não se encontra no estágio esperado para quase dez anos de funcionamento, embora seja previsto para breve ter a sua sede construída.
O projeto Centro Tecnológico do Polo Industrial de Manaus prevê a criação de um Parque Tecnológico de Microssistemas, que venha fomentar empresas de base tecnológica do cluster, estimular a formação de recursos humanos e promover competências, principalmente, voltadas para a fabricação de circuitos integrados.

A Prata da Casa
Somente os pesquisadores estrangeiros podem colaborar na evolução do PIM ? Nada disso. Fiz e desfiz – para não omitir ninguém - uma relação de mais de vinte profissionais (academia, governo e empresas) que aqui vivem, que podem dar sua colaboração apontando soluções para o PIM.
Poderíamos dividi-los em grupos de trabalho, para apresentarem soluções em: (1) Demandas de infraestrutura/logística; (2) Ameaças externas e internas; (3) Demandas educacionais específicas; (4) Demandas empresariais; (5) Incubadoras; (6) Legislação; (7) Região Metropolitana; (8) Venture Capital e fontes de financiamentos, etc. Obviamente isso é apenas uma idéia.
E que patrocinaria isso? A SUFRAMA, FIEAM/CIEAM, SEBRAE, FAPEAM, Governo do Estado, MCT, MDIC, ANPEI, FINEP, ABIPTI e outros.

Para finalizar gostaria de deixar um excerto do The Economist: “ A razão maior de se esperar mais clustering é que ele funciona... sucesso tende a ocorre em cluster” Citado por Alec Hansen em Introduction to Cluster (2004), onde nos lembra que: “Em 1995 a pequena Cingapura tinha 45% do mercado mundial de discos rígidos para computadores e o condado de Ringkøbing, na Dinamarca, com apenas 120 mil habitantes, no mesmo ano, possuía 60% do mercado mundial de turbinas eólica.” E acrescenta: “O mundo está tornando-se mais especializado, e todas as regiões econômicas precisam está prontas para esse tipo de competição”.
Preparemo-nos, senão não será somente a ZFM que vai acabar, mas o PIM também.
Cláudio Nogueira

1 - Link das reportagens citadas:
Superintendente interino da Suframa diz que a Zona Franca 'acabou': http://acritica.uol.com.br/manaus/Manaus-Amazonas-Amazonia-Superintendente-interino-Suframa-Zona-Franca_0_583141777.html

PS. O CBA é uma 'anta branca'. "Uma anta branca no meio da floresta. É o que parece o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) para o secretário de Política Tecnológica e Empresarial do Ministério da Ciência e Tecnologia, Francelino Grando. A razão da crítica é que o projeto foi concebido sem um modelo de gestão previamente definido, o que vem emperrando o início das atividades do centro.” Publicado no jornal A Crítica em 13 de maio de 2003,texto de Joubert Lima e Terezinha Torres. Também encontrado em: http://www.amazonia.org.br/noticias/print.cfm?id=67468







quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Vale do Silício é bem ali

Pré- texto de Vicente Gioielli para o UOL Tecnologia

Os estereótipos atribuídos ao sertão nordestino são dezenas e muito conhecidos. Os mais difundidos remetem à imagem de rostos e corpos magros, maltratados pela dura vida na seca que racha em milhares de pedaços o chão e os sonhos sertanejos. No entanto, uma pequena cidade encravada no Sertão dos Inhamuns, no Ceará, mostra uma realidade diferente daquela que estamos acostumados a ver e ouvir.

Tauá, município localizado a 340 km de Fortaleza, é pacata como tantos outros recantos do interior cearense. Ficou bastante conhecida pela produção de cabras, ovelhas e bodes, e há poucos meses foi surpreendida por uma novidade cujo nome foi inspirado pelos pastos locais: o Bodefone.

À primeira vista, trata-se de uma cabine telefônica de acrílico, que leva a imagem do caprino. Mas a tecnologia da telefonia deste "orelhão" exige grande conectividade em Internet banda larga - o que o município, surpreendentemente, possui. O sistema utilizado pelos Bodefones é o VoIP (Voice over Internet Protocol), que barateia muito os custos das ligações telefônicas.

Vale do Silício é bem ali
Publicado em 30 de outubro de 2011 no Diário do Nordeste
Por Mauro Oliveira - ex-sec. Telecomunicações do Ministério das Comunicações

Steve Jobs "partiu pra sua nuvem", recentemente, sem a autorização de seus 5 milhões de admiradores (youtube.com/watch?v=66f2yP7ehDs). "Menino danado" do Vale do Silício americano, ele se tornou um ícone de inovação tecnológica para os terráqueos cibernéticos. Entretanto, Malcolm Gladwell em seu instigante best-seller "Outliers" (Fora de Série) argumenta que o talento inato é apenas uma parte do sucesso. Segundo Gladwell, sem formação, oportunidade e ambiente cultural favorável, Steve Jobs, Bill Gates e outros famosos passariam, provavelmente, despercebidos no "international digital jet-set".

Ou seja, ser a pessoa certa, na hora certa, no lugar certo e numa cultura favorável é fundamental para o "self-made man". Shakespeare, talvez não tivesse a mesma notoriedade se nascido na terra do Cafita, o querido animador da sociedade itapipoquense durante várias décadas e que inspirou a criação da RUI (www.maurooliveira.com.br), a primeira "rádio na Internet", em 1992.

O município de Tauá, no Ceará, dá ares de ter compreendido cedo o mundo de Gladwell.

O futuro de seus jovens talentosos será afetado pela cultura digital que o município inaugurou no início desse século, que já se vai rápido demais.

Tendo a universalização da Internet "no rumo da venta", Tauá tornar-se-á, em novembro deste ano, o primeiro município digital do Brasil com 100% de cobertura de Internet gratuita em seu território.

Não é por acaso que o item banda larga é um dos considerados pelo Fórum Econômico Mundial que avaliou a Suiça como o país mais competitivo do planeta. Na Finlândia, mais de 96% das residências têm banda larga (100 Mbps, assegurados por lei), o que certamente contribui para que ela seja a nação mais próspera do mundo, segundo o Legatum Prosperity Index de 2009, publicado na famosa Economist.

A primeira aplicação (uso) em grande escala do nosso Cinturão Digital deverá acontecer em Tauá, experiência que poderá ser reaplicada para o restante do estado.

Trata-se do projeto LARIISA, uma solução para apoiar a tomada de decisão na área da saúde cujo protótipo está sendo iniciado.

Antes, o município já tinha marcado presença no cenário eletrônico nacional com vários projetos de inclusão digital, tais como os quiosques digitais em lugares públicos e o Teletauá, popularmente conhecido como Bodefone, orelhões que permitem ao cidadão comum fazer chamadas telefônicas gratuitas, via computador.

A agenda Tauá 2020 prevê, em breve, o lançamento do conceito de cidade universitária em Tecnologia da informação (TI) com a instalação de cursos de graduação e mestrado profissional em TI.

Paralelamente, um parque tecnológico em TI se inicia com a consolidação de empresas do projeto Incubadoras Digitais e com a cooperação técnico-cientifica firmada com a Microsoft e com o LDS, Laboratório de Desenvolvimento de Software do IFCE (Instituto Federal Cearense).

Que a ousadia de Tauá em quebrar velhos paradigmas econômicos, por vezes ineficazes no semiárido, inspire outros municípios a investirem na democratização da TI como ferramenta de desenvolvimento socioeconômico.

Quem sabe, em 2020, quando "gringos" chegarem no Pinto Martins a procura do Vale do Silício Cearense, qualquer "cabra da peste" saiba responder: é bem ali, lá em Tauá!

Mauro Oliveira - ex-sec. Telecomunicações do Ministério das Comunicações

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A Morte de um iGênio

Morreu ontem, dia 5 de outubro, aos 56 anos, o mais famoso garoto propaganda do mundo, Steve Jobs. Nessa função usava sempre uma única roupa: uma camisa preta, uma calça jeans e um tênis. Ninguém lançava um produto melhor do que ele. Steve Jobs era também o co-fundador e CEO, aquele que manda em todos, da Apple. Foi chamado para inovar em algum outro lugar. Sorte de quem vai recebê-lo.
Será, possivelmente, lembrado como uma das mais inventivas mentes do fim do século XX, e início do novo milênio; e como o homem que criou a intimidade do cidadão comum com a tecnologia digital. Segundo alguns, ele foi o homem que inventou o futuro.
Ele inventou coisas que não sabíamos que precisávamos como o personal computer, o Apple II; foi o primeiro a produzir o chamado all-in-one (todos componentes agrupados, como CPU, monitor, drive de CD, etc.), iMac, MP3, iPod, iPad, iPhone, computadores com menos de 1 cm de espessura, até chegar nos tablets. Inventou coisas que hoje não conseguimos viver sem elas. Foi também o primeiro a usar o mouse em um computador. Muito antes da internet ser criada, profetizou que os computadores nos uniria a todos em uma grande rede.
Não será difícil a Apple continuar inovando sem ele, mas acho difícil encontrarem alguém que pare a mídia mundial no lançamento de um novo produto como ele fazia. O mundo adorava ver o criador e a criatura juntos.
O que pouca gente sabe que a gravadora dos Beatles chamava-se Apple Records, e quando Steve Jobs e Steve Wozniak criaram a maça mordida, tiveram de pedir autorização da Apple Records, que concordou desde que a nova empresa não entrasse no ramo de gravação ou comercialização de discos ou records.
Abaixo tem um vídeo que se tornou famoso, onde ele fala dele mesmo em uma formatura na Stanford University, na Califórnia. É interessante por vários motivos. Mas antes do vídeo, temos algumas frases ditas por ele:

“Não me incomodo com o sucesso deles. Só me incomodo com o fato de que eles fazem produtos de terceira categoria”. -- Sobre a Microsoft, em 1996

Relações destrutivas não ajudam ninguém na indústria atualmente” -- Ao anunciar a parceria com a Microsoft, em 1997

“Não faz sentido olhar para trás e pensar: devia ter feito isso ou aquilo, devia ter estado lá. Isso não importa. Vamos inventar o amanhã, e parar de nos preocupar com o passado” -- Em 2007, comentando sua orientação aos funcionários da Apple em 1997, quando voltou à empresa:

“Se você faz algo de bom e tudo dá certo, acho que é hora de pensar em outra coisa e tentar adivinhar o que vem pela frente”: -- 2006, em entrevista ao canal NBC:

“Não penso muito em legado para as próximas gerações. Penso apenas em acordar de manhã e trabalhar com pessoas brilhantes para criar coisas que, espero, sejam tão apreciadas por outras pessoas como são apreciadas por nós”. -- Em 2007, em evento do Wall Street Journal

“Para se ter sucesso, é necessário amar de verdade o que se faz. Caso contrário, levando em conta apenas o lado racional, você simplesmente desiste. É o que acontece com a maioria das pessoas.” -- Em 2007, em evento do Wall Street Journal:

“Ninguém quer morrer. Mesmo as pessoas que querem chegar ao Paraíso não querem morrer pra estar lá. Mas, apesar disso, a morte é um destino de todos nós. Ninguém nunca escapou. E deve ser assim, porque a morte é provavelmente a maior invenção da vida. É o agente de transformação da vida. Ela elimina os antigos e abre caminho para os novos”. -- Em 2005, durante palestra na Universidade de Stanford, um ano após ter passado por cirurgia para retirada de um tumor no pâncreas.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Irmão Sol, Irmão Lua, Irmão Zé Alberto


 “O temor do Senhor é o começo da sabedoria” Salmo 110


Será que existe alguém que entende como funciona a cabeça de Deus ? Possivelmente, somente Ele mesmo e o Filho de Dele, o que é a mesma coisa.
José Alberto Barbosa partiu hoje, cercado pela esposa, filhos, cunhados, irmãs, parentes e amigos que o amavam muito. Partiu em paz , em clima de oração, todos orando serenamente em sua volta, cantando hinos de louvares. Partiu como poucos partem. Partiu às 18 horas, hora do Angelus.
Partiu dessa para melhor. Aí é que reside a questão. O Barbosa, como o chamavam uns, ou Zé Alberto chamado por outros, partiu para o Paraíso. Só não foi para lá se não quis. Portador de doença na próstata há uns seis anos, tendo nesse período vários momentos difíceis, teve oportunidade de sobra de se arrepender de seus pecados, condição simplória para se entrar no Paraíso.
A Fabiana sempre me questionou: Então basta o sujeito se arrepender no último minuto que está tudo perdoado? Exatamente. Não foi isso que aconteceu com o ladrão arrependido ao lado da Cruz de Cristo ?
- “Em verdade te digo hoje mesmo estarás comigo no Paraíso.” ( Lucas 23,43)
Pronto simples desse jeito.
- Então quer dizer que o sujeito pinta e borda, e no último segundo se arrepende, ele está salvo ? Pergunta ela.
-Exatamente, respondo eu. Só que tem um detalhe: há milhões de pessoas que morrem todos os dias que não se utilizam deste presente de Deus, por alguns motivos: não acreditavam em Deus; tinham outras religiões e não sabiam que isso era possível ou morreram tão rapidamente, inesperadamente.
E há os sujeitos que pintam e bordam, que não vão se lembrar de se arrepender no último segundo. Deus que é perfeito e conhece a cada um, vai permitir ou não que o sujeito se lembre de pedir perdão no último segundo. E uma doença prolongada, pode produzir um sofrimento aqui, justamente para que não haja sofrimento lá, e a pessoa tenha bastante tempo para fazer uma reflexão e se arrepender sinceramente de seus pecados. É sempre bom lembrar que a Deus ninguém engana.
Conheci um senhor que aprontou muito, várias mulheres, várias esposas ao mesmo tempo, filhos da mesma idade com mulheres diferentes. Fazia séculos que não entrava em uma igreja, um dia disse que tinha sonhado com Dom Bosco, e este lhe dizia  que se confessasse. Ex-aluno do Colégio Salesiano de Manaus, atendeu o pedido do santo. Se estava realmente arrependido, e tinha firme próposito de não mais repetir o que fazia de errado, se contou tudo para o padre, nunca saberemos; mas pouco mais de um mês depois veio a falecer.
Então, é Deus que conhece a cada um de nós. Se vamos ou não nos arrepender das nossas faltas no último segundo, isso será decidido por ele. Se deixarmos para a última hora, talvez isso não ocorra. Se o Barbosa tivesse deixado para a última hora, estaria em situação difícil, por que na última hora não estava mais acordado.
O perdão de Deus como consequência do nosso arrependimento é expresso na Bíblia de várias formas, como a do ladrão citada acima. Tem o perdão dado ao rei Davi, que pecou para ficar com a mulher de Urias;  Maria Madalena foi perdoada, e assim o Filho Pródigo. Existem várias outras passagens da Sagrada Escritura sobre a misericórdia de Deus.
“ O Senhor é bom e misericordioso, lento para a cólera e cheio de clemência. Ele não está sempre a repreender, nem eterno é o seu ressentimento. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos castiga em proporção de nossas faltas.” (Salmo 102,8-10).

A Matemática da Fé e a Ausência de Lógica

Desde que o Zé Alberto adoeceu - este que já era uma pessoa muito religiosa, cercado de familiares e amigos religiosos - as orações foram intensificadas. Foram rezados centenas de rosários. Multiplicaram-se os encontros, várias noites de orações, vários pedidos, várias súplicas, muitos louvores e agradecimentos. Sem sobra de dúvida a doença do Zé serviu para sarar muita gente, e com certeza a ele mesmo. Somando-se  crença e fé com a inteligência, com certeza gerou o arrependimento. Em seis (ou sete ?) longos anos de dor, com o sofrimento e as orações o Zé Alberto se penitenciou, e ganhou um lugar melhor que esse. Mal ele sabia que seria justamente no dia do aniversário de sua mãe, Francisca, por causa do Francisco. Não pode ter sido coincidência.
Mas agora vem a pergunta que não quer calar: O José Alberto partiu para o Paraíso, mas em contrapartida deixou a esposa, ainda jovem, três filhos, mais jovens ainda, três netos e uma multidão de amigos sofrendo a dor da saudade. Isso tem lógica ? A primeira resposta é: Isso não foi feito para ter lógica. A fé é uma coisa irracional. Deus é que nem eletricidade, a gente sente mas não vê.
Vou repetir: O Zé Alberto partiu para o Paraíso e a Vânia ficou sofrendo. Sofrimento repetido, pois ainda adolescente passou por tudo isso com a doença do pai dela. Isso tem lógica ? Pare e pense quantas coisas na vida você entende como funciona. Muita gente não entende como é que a imagem da TV chega na sua casa, e várias outras coisas simples da vida, como é que vai entender isso ? Você entende como um óvulo é fecundado e sozinho, vai se multiplicando, se multiplicando e se transformando,  se transformando, até se formar um ser humano ? Aquele que deu a vida  gratuitamente  tem o direito de tirar quando bem lhe aprouver porque tudo a Ele pertence.
Quantas pessoas foram curadas pela doença do Zé Alberto, talvez, ele tenha sido chamado para outra missão, outra etapa de sua existência. Quem sabe a ele foi designado um grupo de pessoas por quem deve orar e pedir ao Pai constantemente, coisa que não faria se estivesse aqui, por motivos óbvios. Talvez o plano inicial era somente adoecer e ficar curado, mas tocou tanta gente, que foi premiado. Quem sabe... ?  Talvez... Nunca saberemos.
O que sabemos é devemos agradecer a Deus por termos tido ele em nossas vidas. Sempre muito prestativo,sempre disposto ajudar, sempre encabeçando, gerenciado ações de ajuda aos outros. Agradecer a Deus, como ele mesmo agradeceu, por tantos momentos felizes vividos com a sua família, com os amigos. As viagens, os churrascos dominicais na Vivenda, e muitos outros grandes momentos.
Talvez não tenha vivido como um santo, como nós também não vivemos, mas Deus na sua infinita misericórdia, fez uma caminhada com ele, e o preparou para a Sua Glória.
Vai ser muito difícil para a sua família viver sem ele, mas peço a Deus que lhes dê força nesse momento tão difícil.
Irmão Zé Alberto intercessada por nós, que estaremos aqui sempre intercedendo por vós.

Cláudio Nogueira

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A Dor que Salva

Ontem visitei no hospital Check Up, o José Alberto Alves Barbosa, o Barbosão, marido da prima Vânia Bessa Cyrino Barbosa. Somente há dois dias fui informado disso, mas ele já está hospitalizado há dez dias. Já faz algum tempo que luta contra doença na próstata.
Ir ao Check UP já virou rotina. No mês passado, por estar muito perto da escola das crianças, ficou muito fácil visitar, quase que diariamente, o padre Carlos Steiner, amigo nosso, que ficou quase um mês internado lá.
Ontem a Vânia me disse, que tem um grupo de amigos de oração - uma cinquenta pessoas - que se reunem às quintas-feiras para rezar pela saúde do Zé Alberto, também como é conhecido.Não realidade o número é bem maior, se considerarmos os parentes e amigos (os nogueiras estão sempre rezando) que não frequentam o grupo, e que também rezam pela a recuperação do Barbosa ( A Maria Cecília, minha sobrinha, chama-o de tio grandão).
O outro hóspede do Check UP, padre Carlos, nascido William (Bill) Steiner, americano, que come e adora tudo que os caboquinhos daqui comem, está no Brasil há quase sessenta anos - membro ativo em diversas pastorais, que congregam pessoas de vários bairros de Manaus - não consegue partir em paz (graças a Deus !). Os anjos o chamam pra lá, os dois milheiros de amigos seguram ele por aqui. Mas puxem-no pelas mãos, não toquem nas pernas, pois querendo ser caboco de verdade, carrega em uma das pernas uma erisipela braba, que não lhe dá trégua. Se tivesse vivido na sua Chicago, isso não teria acontecido. Mas também não teria provado da costela de tambaqui no tucupi, que tanto gosta.

Tem muita gente rezando por eles ( tem gente orando também, porque crente não reza, ora. Qual é a diferença ? Não sei. Talvez mera questão de marketing, diferenciação de produto). Como disse, tem muita gente rezando pelo padre Carlos e pelo Zé Alberto. Isso demanda, requer e exige uma reflexão; e a seguinte pergunta: Afinal quem é que está salvando quem nessa história ? Somos nós que estamos salvando eles, ou são eles que estão nos salvando ?
Cristo nos salvou com a sua dor. Se ele tivesse vindo, pregado, feito milagres e voltado, muito possivelmente não estaríamos ligados a Ele, ou até mesmo, simplesmente, falando Nele como estamos.
Rezamos pelos dois porque gostamos deles, e queremos que fiquem aqui mais um pouco. O meu raciocínio é muito simples: como católico acreditamos na existência do Inferno, Purgatório e Céu. Acreditamos que a alma é eterna, e é para um desses lugares que iremos, depois que alma e corpo forem separados (eu acho que vou ser mandado para um Reformatório. Coitado do Mário Dandão, que é crente - ou seria descrente ? - e não acredita em Purgatório). Eu acredito, que um dia teremos o seguinte diálogo com quem estiver por perto:
- Eu vivi na Terra há duzentos anos atrás.
- Só!? Eu vivi há setecentos anos.
Talvez, seja este o único motivo que segure carlos e zealbertos por aqui. Pra que pressa? O tempo por aqui é curtíssimo. O de lá é infinito. Deixem eles curtirem um pouco mais os seus amigos, confrades, filhos, netos, esposa, etc.
Fora isso a partida dos dois só causa prejuízos (emocional, etc.) em quem fica.
Afinal quem está salvando quem ? Quantas orações você já fez pelo padre Carlos ? E pelo Barbosa ?
Engraçado né ? Se eles tivessem vendendo saúde, você teria rezado tanto assim ? Você teria aumentado tanto a sua intimidade com Deus? Quem está salvando quem ? Quem é que está sendo curado ? Já foram ditas tantas orações por esses dois, que os contadores de pecados deles devem estar zerados.
Se não fosse tanto a vontade deles de ficar, poderíamos dizer que não deveriam mais resistir, mas que partissem em paz. Mas sabem que quem não vai ficar em paz somos nós.
Veja como são as coisas, possivelmente, devido aos seus exemplos de vida, aos seus arrependimentos pessoais, somado as nossas orações, eles estejam salvos, e se fossem espertos (e egoístas) deveriam pedir para partir agora. E nós poderíamos, de certo modo, dizer que contribuímos para a salvação deles. Mas há uma certa reciprocidade, os sofrimentos deles contribuem para a nossa salvação, exatamente como o sofrimento de Cristo. Com uma diferença enorme: o sofrimento de Cristo foi deliberado, gratuito. Mas mesmo assim, o sofrimento de cada um não está sendo em vão.
Dezenas de pessoas rezam e oram pelos dois, porque os amam. E calados eles não respondem, mas nos salvam. As orações por eles nos aproximam de Deus e contribuem para a nossa salvação.
E agora fiquei na dúvida. Eu rezo pelo pronto restabelecimento dos dois ? Mas se eles ficarem curados, nós vamos parar de rezar ? A resposta é o que eu gosto de chamar de poupança espiritual. O negócio é rezar sempre, antes que qualquer tragédia nos aconteça. Vamos rezar antecipadamente.
Querem outro paradoxo ? Na dor nos reunimos para rezar, nos aproximamos de Deus. Possivelmente cada um faz a sua reflexão pessoal, se arrepende de seus pecados. Se não se arrependeu, perdeu tempo, melhor que estivesse assistindo a novela das oito. A dor nos salva. E nos salvamos na tristeza.
E nas festas estamos felizes, alegres. Mas, talvez, fazendo coisas que nos afastam de Deus. É ou não é um paradoxo ? It depends, diria o padre Carlos. Não necessariamente. Podemos muito bem nos aproximar de Deus sem que estejamos com problemas, na alegria também. A Bíblia, nos Salmos de Davi, nos exorta a louvamos ao Senhor com instrumentos musicais. Já ouviram falar da cítara ? Pois é. Então, nas festas também podemos nos aproximar do Senhor, e lhe agradecer por tantos momentos bons que vivemos com os amigos e familiares.
Desde modo padre Carlos e Zé Alberto descansem em paz... recuperem as forças que há muito ainda para ser vivido por aqui. Não se empolguem.
No mais espero que o dia mais feliz de nossas vidas, seja o dia da partida de cada um.

Cláudio Nogueira.

PS1. Quando o padre Carlos estava meio indeciso, “vou ou fico”, eu aproveitei a oportunidade, no seu apartamento lá no Check Up para lhe dizer: Nós queremos muito o senhor aqui, mas se o senhor partir, lembre-se que lhe amamos, e dê um beijo no meu pai quando se encontrar com ele.

PS2. José Alberto partiu dia de São Francisco, 4 de outubro. No dia do aniversário de sua mãe. Padre Carlos partiu dia 17 de novembro. Estava sendo submetido a hemodiálise por três vezes ao dia. Graças a Deus isso acabou. Estão os dois na casa do Pai. Lá há muitas moradas, eles devem está em uma delas.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Universidade da Aleam - Chamem a Polícia II

Ser político nesse país é um bom negócio. Eu preciso escrever aqui o porque? Não. Os meus e-leitores são capazes de escrever vários volumes, uma enciclopédia inteira de motivos, por isso não vou ficar aqui chovendo no molhado. Que existem políticos honestos, decentes, que realmente se preocupam com as coisas públicas, eles também sabem. Não só sabem como são capazes de nomeá-los. Quem presta e quem não presta, o povo sabe. Quem é capacho e quem honra os votos recebidos, o povo sabe. Eu mando, via email, esse texto para mais de 2000 pessoas: amigos, colegas de trabalhos, alunos, ex-alunos, professores, jornalistas, intelectuais, etc.; e para uma multidão de políticos daqui e de Brasília; então, tenho certeza que o sujeito se identifica, e pensa: o honesto sou eu; o capacho sou eu. Se me encontrar pessoalmente, sem eu mencionar o nome dele(s), o sujeito é capaz de me agredir, para eu parar de citá-lo. Como fez o vereador covarde, que agrediu uma repórter no Pará.
Pois bem! Agora no Amazonas, não é somente bom ser político, mas é muito bom trabalhar para eles, trabalhar com eles. Vocês se lembram das denúncias das bolsas de estudos distribuídas pela Assembléia ? Não !? Então vou recordar:

"A escandalosa distribuição de bolsas de estudo
O jornal A Crítica de hoje, está publicando uma relação de deputados e ex-deputados quem mantém, com o nosso dinheiro, filhos e apaniguados estudando em faculdades particulares. A benemerência é feita pela Assembleia Legislativa, como se aquele poder fosse a Casa São Vicente de Paulo, cuja finalidade é ajudar as pessoas carentes.
Um dos filhos do Belão, o pentapresidente, recebe uma pequena ajuda de quase 5 mil reais por mês, só para bancar os estudos."

Escreveu Ronaldo Tiradentes no seu blog:
http://www.cbnmanaus.com.br/ronaldotiradentes/?p=3501

Agora eles foram mais longe, e resolveram criar a Universidade da Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas - UniAleam. Sendo pública - portanto, financiada com o nosso dinheiro - todos os cidadãos amazonenses poderão fazer o vestibular dela, certo ? Errado. Só poderão estudar nela - e nós vamos pagar para isso - os funcionários da Casa: 2000.

Os funcionários públicos da Polícia Militar já tem o seu colégio, agora os funcionários da Assembléia terão a sua universidade. Amazonino se toca e transforma a Escola Municipal de Serviço Público em uma universidade municipal, exclusivamente para os funcionários. Ângela Bulbol seria uma magnífica reitora (além de bonita).
Cadê os funcionários da Secretaria Estadual de Saúde que não se mobilizam e pedem ao governador uma faculdade de medicina, outra de farmácia, outra de administração hospitalar e outra de saúde pública só para eles.

E o pessoal da Sefaz ? Que tal cria a ESAF-AM. Como a palavra o meu brother.

Onde estão os funcionários TJ-AM que não lutam para transformar a Escola de Magistratura em uma faculdade pública ministrando o curso de Direito somente para os servidores do Judiciário ?

Quinta-feira participei no auditório do INPA de um seminário sobre os problemas da ZFM. Na ocasião um economista lembrava que existem 125 mil funcionários públicos no Amazonas. Portanto, tem 123.000 funcionários que se desejarem entrar em uma universidade, ou fazer uma pós-graduação vão ter de rala muito, se submeter a um vestibular como todo mundo, ou tirar do seu bolso o pagamento da mensalidade escolar.

Está criado a figura do funcionário marajá. Eu sei que isso já existe há muito tempo, e em outros estados, mas nunca numa quantidade tão grande e com tanta cara de pau.

E põe cara de pau nisso. E nós temos caras de lesos. Num Estado que se constrói num dia um monumento horroso por R$5.500.000,00, e se derruba no outro, tudo é possível. Tudo é permitido. "Vai haver contestação de alguns babacas (será que estou nesse grupo?) num dia; a imprensa vai noticiar no outro, mais depois ninguém mais vai falar nada".
A pergunta que não quer calar é a seguinte: O governador Omar Aziz determinou a realização de eleição direta para o reitor da UEA, como é ele quem manda na Assembléia, será que haverá eleição direta para reitor da UniAleam ?
Claro!!! Político adora uma eleição direta. Ah bom ! Então vamos esperar para ver.

Deem uma lida nas matérias e veja o vídeo d' A Critica sobre a UniAleam:

" Unialeam terá investimentos na ordem de R$ 1,5 milhão nos próximos 18 meses
Segundo o diretor-geral da Aleam, Wander Mota, estima-se que devam ser investidos cerca de R$ 30 mil por curso pelo legislativo Estadual, mais R$270 mil de outras fontes financiadoras, tais como a Fapeam e a UEA."

http://acritica.uol.com.br/manaus/Unialeam-investimentos-ordem-milhao-proximos-Amazonia-Amazonas-Manaus_0_557344563.html

Unialeam começará com cursos sem a aprovação do MEC
O prazo para encaminhar as grades dos cursos para análise do Capes encerrou em julho deste ano, antes da criação da Universidade do Legislativo Estadual.

http://acritica.uol.com.br/manaus/Unialeam-comecara-cursos-aprovacao-MEC-Amazonia-Amazonas-Manaus_0_557944581.html

Tenham todos um bom dia.

Cláudio Nogueira
Abaixo reportagem da TV A Critica