Observação importante ! Leia até o final.
A boa notícia é que ele a essa hora já está no céu brincando com os bichos, caso lá também existam alguns. A notícia ruim é que o padre Vincent Aggler nos deixou.
A grande maioria do povo do Amazonas, onde ele
trabalhou por 46 anos, não tem a menor ideia de quem se trata. Mas se eu disser
que se trata do padre Noé, da Congregação do Santíssimo Redentor, que trabalhou
por vários anos em Codajás, Coari, Manacapuru e Manaus, muito gente boa vai se
lembrar dele.

Porque era Noé e não Vicente, não sei informar. Nem
saberei, a menos que ele nos diga. A última vez que o vi foi em março de 2014. Fui
a Liguori, no estado de Missouri. Uma localidade que está no mapa sem existir.
Liguori fica na cidade de St. Louis em Barnhart, uma cidade a vinte
minutos ao sul de St. Louis. Liguori está no mapa porque dentro dela, além da editora Liguori dos padres redentoristas, tem um posto dos Correios.
Noé dos Bichos

Outra paixão do padre Noé era tomar açaí. Era addicted, ou seja viciado. Nesse momento deve estar conversando
sobre o assunto com o padre Domingos, igualmente viciado, que uma vez me
confidenciou que gostava de usá-lo como molho na salada de alface.
Os Causos
Os Causos
Padre Noé, a meu pedido, me contou alguns causos que aconteceram com sua participação quando trabalhava no inferno verde. Poderia até ser um inferno para muita gente, mas não era para ele.
“A primeira vez que fui chamado pra benzer um anjinho, pensei: que coisa é essa...? Imaginava algo voando na igreja. Quando comecei a benzer o cadaverzinho, ele começou a se mexer. Então, eu o batizei José — ou Maria —, como fomos orientados em tais casos, quando ainda não havia nome.
E a primeira vez que fui chamado a visitar um doente, quando cheguei à casa dele, já estavam amarrando o queixo.
Cheguei à Aparecida na primeira semana de agosto de 1960 — mais precisamente em 30 de julho. Ainda estavam rebocando a torre esquerda da igreja. O que mais me impressionou foi o andaime de varas, do chão até o alto das torres. Não havia mais bonde, mas os trilhos ainda existiam em vários lugares — até a capela de Santo Afonso, em Flores — e, mais adiante um pouquinho, era o fim de Manaus.

E a primeira vez que fui chamado a visitar um doente, quando cheguei à casa dele, já estavam amarrando o queixo.
Cheguei à Aparecida na primeira semana de agosto de 1960 — mais precisamente em 30 de julho. Ainda estavam rebocando a torre esquerda da igreja. O que mais me impressionou foi o andaime de varas, do chão até o alto das torres. Não havia mais bonde, mas os trilhos ainda existiam em vários lugares — até a capela de Santo Afonso, em Flores — e, mais adiante um pouquinho, era o fim de Manaus.

Quando os confrades de Coari, Codajás e Manacapuru chegavam nos seus barcos durante a seca, atracavam na rua Xavier de Mendonça [que termina em uma escadaria que vai para dentro do rio Negro]; e, na cheia, no igarapé de São Raimundo. E sempre era uma luta para não pagar os estivadores — tiravam mesmo uma licença para isso.
Cheguei no tempo em que estava terminando Os Pregadores de Esquina. Não vi esse trabalho, mas lembro-me dos homens que o faziam… Brígido Nogueira era um.
Cheguei no tempo em que estava terminando Os Pregadores de Esquina. Não vi esse trabalho, mas lembro-me dos homens que o faziam… Brígido Nogueira era um.

Quando estava vindo para cá, ele me levou ao aeroporto e, tomando um lanche, me disse: “Eis a sua última lição… está vendo o número da nossa garçonete? Cuidado com este número no Brasil…” Era 24.
Na primeira semana
de fevereiro de 1961, zarpei para Codajás a bordo de uma aeronave PBY Catalina,
famoso avião da Segunda Guerra Mundial. Ao levantar voo na água, cerca de meia
dúzia das cadeiras traseiras, visíveis pelas janelas, ficava submersa, e o
passageiro se sentia como um peixe em aquário.
Um dia, eu estava celebrando a missa… acho que era domingo… teu pai estava fazendo uma leitura. De repente, eu o vi cair durinho como um mourão e bater a cabeça em cheio no chão. Pensei comigo mesmo: ele não se levantará de lá. Parece que foi o primeiro sinal do câncer.

Mas, de repente, o velhinho começou a mexer os pés de tal modo que deu para ungi-los. Depois, perguntei aos presentes por que ele tinha descoberto os pés… perguntaram ao velho no ouvido e escutaram, bem pertinho, a resposta dele: disse que tinha sido sacristão anos atrás, no Ceará.
Quase cinco décadas no Brasil produziram muitas estórias vividas. Padre Noé vai deixar saudades.
Conclusão
Tenho andado muito ocupado e, nas
horas livres, vou adiantando alguns textos. Escrevi este para ser publicado
caso eu já não esteja mais aqui quando chegar o momento de publicá-lo. Havia
prometido ao padre Noé prestar-lhe uma homenagem após sua partida, como fiz com
os padres William “Carlos” Steiner e John “Domingos” McCarthy. Cumpro,
portanto, essa promessa de forma antecipada. A boa notícia é que ele ainda não
morreu — e está bem. Como direi? Está “alugando saúde” naquele endereço
mencionado acima, onde o encontrei pela última vez: o St. Clement Health
Center, onde padres aposentados da Congregação Redentorista, nos Estados Unidos,
vivem com toda a assistência médica necessária. Um lugar cheio de homens que
dedicaram suas vidas ao Evangelho.
Padres Kelvin e Noé. Liguori, Missouri, 2014. |
Lá, inesperadamente, encontrei,
trabalhando na casa, o padre Kelvin Fraher, que também serviu na Amazônia. Em
2015, padre Kelvin, sem aviso prévio e sem pedir autorização a ninguém, partiu.
Foi encontrado sem vida, possivelmente rezando, em uma cadeira, no sótão da
casa.
Este
texto está inacabado, porque ainda falta acrescentar os dados bibliográficos do
padre Noé. É para que ele leia, revise e me diga se faltou alguma coisa. Quando
chegar a data certa, eu publico. Ou, se eu não estiver mais aqui, a Fabiana
publica.
Padre Noé, reze por nós aqui na
Terra mesmo.
Uma abençoada Quaresma a
todos.
Cláudio Nogueira
PS. Para reforçar o caixa, estou fazendo homenagens de todos os tipos. Entrem em contato. Abaixo estão alguns exemplos.
Alyrio Lima, o Padre Construtor,
http://nogueiraclaudio.blogspot.com.br/2013/07/alyrio-lima-o-padre-construtor.html
O Anjo Dunga ou Americans are gone II
http://nogueiraclaudio.blogspot.com.br/2011/02/o-anjo-dunga.html
A Deus Dr. Contente
http://nogueiraclaudio.blogspot.com.br/2010/04/deus-dr-contente.html