A
história tem contradições interessantes. Alemanha e Japão foram os dois
maiores perdedores da Segunda Guerra Mundial. O Japão foi por muitos anos o
segundo país mais rico do mundo e a Alemanha o terceiro, e o mais rico da
Europa. Situação melhor do que a da Inglaterra e a da França, que ganharam
a guerra. Alemães e japoneses fizeram as suas partes, mas isso só foi possível devido
aos bilhões de dólares investidos na reconstrução da Europa por meio do Plano
Marshall e a ajuda econômica dos
Estados Unidos ao Japão. País que dezenove anos depois de ter recebidos duas
bombas atômicas sediou as Olímpiadas de Tóquio.
Faixa de Gaza |
Mas vou deixar para escrever sobre isso em outra ocasião. No momento quero escrever sobre a recuperação da Palestina após o fim do genocídio cometido por Israel e o Hamas. O leitor já percebeu que quero associar a Palestina aos derrotados que se reinventaram.
E a pergunta que não quer calar é: está
Israel preparado para ter a vizinha Palestina como um país ? Quais a
consequências disto para os judeus ?
Que a morte de milhares de crianças não
tenha sido em vão. Que Israel consiga eliminar o Hamas da face da Terra, como
conseguiu destruir tantos lares e vidas inocentes com a cumplicidade do próprio
Hamas.
Para a Palestina se tornar uma nação, os terroristas não podem ter qualquer poder sobre os palestinos. Eles existem única e exclusivamente para eliminar Israel. São movidos pelo ódio e não pelo desejo de criar o seu próprio país. Se não forem capturados, que desapareçam como organização. Mas a forma que Netanyahu optou para fazer isso, essa desgraça que está ocorrendo na Palestina, fez a Europa, os Estados Unidos, os países árabes e a ONU decretarem: tem de haver dois países. E já se mostraram dispostos a ajudarem a implantarem esse projeto.
Mas Israel está preparado para isso ? E por
que não estaria ? Antes de responder essa pergunta, gostaria de fazer algumas
considerações dessa guerra Israel-Hamas contra o povo palestino.
Essa guerra evidenciou algumas coisas que
não se achava provável que acontecesse. Primeiro que o todo poderoso Mossad, não
é tão poderoso assim. Tido como um dos serviços secretos mais competentes do
mundo, não previu os ataques terroristas de 7 de outubro. Descobriu pela forma
mais dolorida que os palestinos sabem guardar segredo. Segundo - isso deve ter
assustado bastante - a época que Israel acabava em 24 horas os ataques do Hamas, do Hezbollah e do Fatah, é passado. Em mais de 50 dias de bombardeios, muita destruição e
desgraça, Israel ainda não conseguiu dizer: “Acabou ! O Hamas está dizimado.
Libertamos os reféns”. O Hamas ainda hoje consegue jogar umas bombas em Israel.
Logo no início desse conflito o presidente
Joe Biden - mais para demonstrar apoio político, para agradar políticos e o público
interno de origem judaica, em ano de eleição, e menos para frear possíveis
países árabes mais afoitos - mandou um porta-aviões para a região. O envio do
segundo porta-aviões teve motivações diferentes, reais e concretas. Biden levou
em consideração os seguintes fatores:
- A crueldade da reação de Israel com
bombardeios que mataram milhares de civis, o impedimento da ajuda humanitária e
a destruição de hospitais fizeram o mundo esquecer um pouco a selvageria do Hamas
no dia 7 de outubro e a focar no que Israel estava fazendo. Isso provocou
indignação e manifestações em todo mundo. Até mesmo entre judeus;
- Crescente reclamações no mundo árabe. A
rainha da Jordânia, Rania Al
Abdullah, se posicionou contra o massacre na Faixa de Gaza. Isso poderia ser o
início de protestos de outras autoridades na região. A paciência dos 22 países
árabes poderia acabar e o Irã poderia somar forças contra Israel;
- Segundo um analista da CNN, o Hamas tinha “somente” 18 mil mísseis, mas Hezbollah, um inimigo em potencial, tem 180 mil mísseis. Se a CNN sabe disso, o presidente americano também sabe;
- A Turquia
também condenou a situação. Ela tem o maior exército da Europa, e devido a sua
localização e poder, segundo a revista Foreign Affairs, americanos e russos não
a querem como inimiga;
- Considerando, também, que Israel não conseguiu ainda conter o Hamas lutando sozinho, o envio de segundo porta-avião, para desestimular qualquer agressão contra Israel era necessário. Uma guerra com países árabes para defender Israel obrigaria os Estados Unidos a guerrear contra aliados.
Como bom católico, Joe Biden deve estar rezando para todos os santos, pedindo para essa guerra acabar. .
Judeus protestando contra Israel na Grand Station em NY. |
Para
acalmar os árabes, Biden defendeu, ao término do conflito, a existência de duas
nações. Será que o primeiro-ministro de Israel gostou disso? Israel está
preparado para isso?
Após a
criação do estado de Israel em 1948, a cidade de Jerusalém foi dividida em duas
partes. O lado oriental foi entregue aos palestinos; mas Israel domina toda a cidade desde 1967.
A sua parte e a deles. Sendo por isso condenado pelas resoluções 252, 446, 452
e 465 das Nações Unidas; além de contrariar a Quarta Convenção de Genebra, que compõe o
núcleo do Direito Internacional Humanitário, o ramo do Direito Internacional
que regula a condução dos conflitos armados, buscando limitar seus efeitos.
Israel construiu milhares de kibutz dentro da Cisjordânia. Bem dentro do
território palestino. Nesses assentamentos vivem cerca de 400 mil israelitas.
Declarado o
estado Palestino, Israel vão devolver a parte de Jerusalém que anexaram ? Eles
vão sair das terras invadidas no território palestino? Será que Israel está
gostando dessa conversa de duas nações ?
A população
da Palestina é, somando-se a da Faixa de Gaza e a da Cisjordânia, um pouco mais
de 4 milhões e 900 mil. Segundo algumas fontes, 64% desse povo tem menos de 24
anos. Ou seja, é um povo em processo de multiplicação. Sessenta e quatro por
cento é cerca de 3,136 milhões. Se consideramos que 60% seja mulheres e
crianças, e o restante homens, temos 1 milhão e 254 mil homens, com potencial
de formar um exército regular, ajudado e treinado por outros países árabes ou
pelo Irã. Esse número cresce muito se considerarmos que os homens com mais 24
anos também estão aptos a servir as Forças Armadas. Será que Netanyahu está
gostando dessa estória de duas nações ?
Creio que
teremos de esperar para ver. Acredito que mais uma vez vamos perguntar quem ganhou e
quem perdeu a guerra. Quanto a Ucrânia, eu passaria um
muro separando o seu território da parte perdida; e desejaria felicidade a
aqueles que decidiram ser anexados pela Rússia.
Essa guerra
é a guerra da independência da Palestina. Que o sangue dos inocentes traga a liberdade e livre-a de grupos
radicais que há 75 anos não permitem a criação de um estado palestino para não admitirem
a existência de Israel. Que seja realmente livre. Há 56 anos vivem sobre o
domínio de Israel, na “maior prisão a céu aberto do mundo”.
É possível judeus e árabes viverem em paz ? A resposta é sim. Eles são irmãos. Ambos são filhos de Abraão. Eles conviviam em paz, juntos e misturados até 1948.
Que essa trégua seja o início do fim desta guerra. Rezemos, ao mesmo Deus de ambos os
povos, pela paz na Palestina.
PS1. Em 15 de novembro de 2023 a organização Voz Judaica pela Paz (Jewish Voice for Peace) fez um protesto pró-Palestina na Grand Central Station em Nova York.
“Ceasefire now!” Jews shut down Grand Central Station. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=u2Y0C6A4Cdc
“Milhares de
Judeus nos EUA Protestam em NY contra Israel”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7R4Fh4dTZ2o
PS2. Um dia após eu ter publicado esse post, o New York Times diz que Israel soube dos planos de ataque do Hamas há mais de um ano. Disponível em "Israel Knew Hama's Attack Plan More Than a Year Ago" : https://www.nytimes.com/2023/11/30/world/middleeast/israel-hamas-attack-intelligence.html
PS3. Israel está esticando a corda. Recep Tayyip Erdoğan, presidente da Turquia disse que Benjamin Netanyahu será julgado como criminoso de guerra (04.12.23). Mas ficou irritado mesmo quando soube que Israel disse que iria caçar o Hamas dentro da Turquia. "Turquia diz que Israel sofrerá 'consequências graves' após ameaças de caça ao Hamas em seu território." Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/12/04/turquia-diz-que-israel-sofrera-consequencias-graves-apos-ameacas-de-caca-ao-hamas-em-seu-territorio.ghtml