A Eucaristia: presença viva de Cristo entre nós
“Em
verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não
beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe
o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a
minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida.” (João 6, 53-55)
Diante de palavras tão fortes e misteriosas, um grande questionamento se impõe: como é possível comer a carne e beber o sangue de Cristo - não apenas naquele momento, mas por todas as gerações, até o fim dos tempos?
Jesus
falava de algo muito além do literal. Ele falava de um mistério eterno, que se
realizaria plenamente na Eucaristia, o sacramento do seu Corpo e Sangue,
instituído na Última Ceia. E para que isso pudesse continuar acessível em todos
os tempos e lugares, Ele mesmo providenciou os meios: a consagração do pão e do
vinho, realizada pelos sacerdotes da Igreja Católica, em sua missão de agir na pessoa de
Cristo.
É o mistério da fé encarnada e continuada sacramentalmente, onde o eterno se
torna presente, e o invisível se entrega ao visível para alimentar a alma.
Na
Última Ceia (Mt 26,26-28), Jesus concretizou o que havia anunciado em João 6,
53-55.
Ele
tomou o pão e disse: “Isto é o meu corpo.”
E
tomando o cálice, declarou: “Este é o meu sangue, o sangue da nova e eterna
aliança, que será derramado por vós.”
Ele
não disse “isto representa”, mas “isto é”. Com essas
palavras, instituiu a Eucaristia, não como símbolo, mas como presença
real. O pão e o vinho, depois da consagração, deixam de ser apenas pão e
vinho. Tornam-se, na fé da Igreja, o próprio Cristo: Corpo, Sangue, Alma e
Divindade, oferecido em sacrifício e dado como alimento.
Se
fosse meramente representativo, como poderia de fato se cumprir a exigência-promessa
de Jesus em João 6,53-55 ?
Como
poderíamos comer sua carne e beber seu sangue, se Ele nos deixasse apenas um
símbolo ? Um mero memorial simbólico não comunica a vida eterna; somente o
próprio Cristo vivo na Eucaristia pode ser verdadeiro alimento e verdadeira
bebida.
Santo Inácio de
Antioquia em carta aos Esmirnenses, capítulo 7, versículo 1 escreveu:
“Abstêm-se
eles da Eucaristia e da oração, porque não reconhecem que a Eucaristia é a
carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nossos pecados e
que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou.”
O
próprio Cristo nos adverte sobre as consequências de rejeitar essa comunhão:
“Em
verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não
beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.”
Essa
Palavra revela que a vida verdadeira, a vida eterna, está intimamente ligada à
participação na Eucaristia - a comunhão com Jesus, que se entregou por nós para
nos salvar.
São
Francisco em carta a todos os fiéis (1224) escreveu:
“Adorai
o Santíssimo Sacramento com toda a devoção do coração, porque é o corpo do
Senhor Jesus, verdadeiramente presente sob as espécies do pão e do vinho.”
A Consagração: palavra eficaz de Cristo, pronunciada pelo sacerdote.
Para
que essa realidade continue acontecendo através dos séculos, Cristo confiou à
Igreja o poder de repetir esse gesto, dizendo: “Então Jesus tomou o pão, deu
graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é
dado por vós; façam isto em memória de mim.” (Lucas 22:19)
Essa
“memória” não é mera lembrança, mas tornar presente o que foi realizado
uma vez por todas na cruz. Quando o sacerdote, na missa, pronuncia as palavras
da consagração, ele o faz na pessoa de Cristo, com o mesmo poder e
eficácia. Nesse momento, por ação do Espírito Santo, o pão e o vinho são
transformados substancialmente no Corpo e Sangue de Jesus. Esse mistério é
chamado pela Igreja de transubstanciação.
Santo
Ambrósio na obra “Sobre os Sacramentos”, capítulo 4, parágrafo 4 dizia:
“A
palavra de Cristo que pôde criar do nada o que não existia, não pode
transformar em algo diferente aquilo que existe? De fato, não é menos dar às
coisas uma natureza totalmente nova do que mudar aquela que já tem. (…) Este
corpo que produzimos sobre o altar é o corpo nascido da Virgem. (…) Com certeza
é a verdadeira carne de Cristo que foi crucificada, que foi sepultada; é,
portanto, realmente o sacramento da sua carne. (…) O próprio Senhor Jesus
proclama: ‘Este é o meu corpo.”
Milagres Eucarísticos: Quando a fé se torna visível.
Ao
longo da história, Deus permitiu que, em alguns momentos extraordinários, o
mistério da Eucaristia se tornasse visível aos olhos humanos - como
um sinal para fortalecer a fé na presença real de Cristo.
Lanciano
(Itália, séc. VIII): Um monge que duvidava da presença real consagrou o
pão e o vinho, e viu a hóstia transformar-se em carne e o vinho em sangue
diante de seus olhos. Séculos depois, exames científicos comprovaram que a
carne é tecido de um coração humano vivo e o sangue pertence ao
tipo AB, o mesmo encontrado no Santo Sudário.
Santarém
(Portugal, séc. XIII): Uma mulher, em crise matrimonial, procurou uma
feiticeira. Para agradá-la, roubou uma hóstia consagrada. No caminho, a hóstia
começou a sangrar em sua mão. Esse milagre é venerado até hoje, e o sangue
continua visível em Santarém.
Cássia
(Itália, séc. XIV): Um sacerdote foi chamado às pressas para levar os
sacramentos a um doente. Em dúvida sobre sua fé, ele guardou a hóstia entre as
páginas do breviário. Quando o abriu, viu que a hóstia havia sangrado,
manchando as páginas. O milagre é preservado até hoje no convento de Santa
Rita.
Eu
já tive a felicidades de está na presença desses milagres. Em Lanciano foram
duas vezes. Em Cássia foram três vezes. Lá ficava ao lado do corpo da Santa, mas
recentemente, deslocou-se para um local de maior destaque, mas não tão longe do
corpo incorrupto de Santa Rita. Santarém é uma cidade um pouco ao sul de
Fátima.
Além
desses, a Igreja reconhece dezenas de outros milagres eucarísticos, como os de
Buenos Aires (Argentina), Sokolka (Polônia) e Tixtla (México), todos
documentados com laudos médicos e testes científicos modernos - sempre
revelando tecido vivo do coração humano com sinais de sofrimento.
Esses
milagres não criam uma nova verdade, mas confirmam a fé constante da
Igreja: na Eucaristia, está realmente presente Jesus Cristo vivo.
O beato Carlo Acutis, que será canonizado em 7 de setembro próximo pelo Papa Leão XIV compilou em um site mais de cem milagres eucarísticos (clique/carregue aqui para entrar/aceder) : Os Milagres Eucarísticos no Mundo
Sinais de união: êxtase místico diante da Eucaristia
Além dos sinais visíveis da Eucaristia em alguns milagres extraordinários, Deus também manifestou sua presença por meio da vida interior de muitos santos, que experimentaram uma união tão íntima com Cristo Eucarístico que entravam em êxtase espiritual após a comunhão. Esses momentos eram tão intensos que os sentidos físicos pareciam ceder diante da plenitude do divino.
Santa Teresa de Ávila, grande mística carmelita e Doutora da Igreja, relatou experiências sublimes após receber o Corpo de Cristo. Em seus escritos, especialmente no Livro da Vida, ela descreve como, após comungar, muitas vezes sua alma era tomada por uma presença divina irresistível. Ela dizia que parecia “sair de si” e ser levada por Deus, sentindo-se imersa em um amor tão profundo que nenhuma palavra humana podia descrever. A Eucaristia era, para ela, alimento que não apenas fortalecia a alma, mas que a transportava à morada interior onde Deus habita.
São Pio de Pietrelcina, sacerdote capuchinho do século XX, também vivia a Eucaristia com tal intensidade que frequentemente caía em êxtase durante ou logo após a Missa. Testemunhas relatam que, ao comungar, seu rosto transfigurava-se, tomado por lágrimas e silêncio, como quem contemplava o próprio céu. Em muitas ocasiões, permanecia imóvel, absorto na presença real de Cristo, alheio a tudo ao seu redor. A Eucaristia era, para ele, o centro da vida e o maior de todos os milagres, fonte de sua união com o Crucificado, que ele também trazia nos estigmas.
Essas experiências não foram simples emoções religiosas, mas sinais da eficácia sobrenatural da Eucaristia em almas totalmente entregues a Deus. Elas confirmam que a comunhão, vivida com fé, pode conduzir a uma verdadeira transformação interior – até mesmo à contemplação mística da presença viva de Jesus.
A Continuidade: Para todas as gerações.
Jesus
não instituiu um rito passageiro, mas um sacramento eterno. Seu comando: “fazei
isto”, é uma ordem perpétua. Por isso, a Igreja, em obediência a
Cristo, celebra diariamente a Eucaristia em todos os cantos do mundo.
Cada
Missa é uma participação real no sacrifício do Calvário, feito
presente sacramentalmente. Não se trata de repetir o sacrifício, mas de tornar
presente o único e eterno sacrifício de Cristo de forma incruenta.
No
livro Mysterium Fidei, abordado também no Catecismo da Igreja Católica
(nº 1375), São João Crisóstomo afirma:
“Não
é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tornem o Corpo e Sangue de
Cristo, mas o próprio Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura
de Cristo, pronuncia estas palavras, mas a sua eficácia e a graça são de Deus.
‘Isto é o meu Corpo’, diz ele. Esta palavra transforma as coisas oferecidas.”
A Sucessão Apostólica: Garantia da autenticidade.
Para
que essa graça se perpetuasse, Jesus confiou aos Apóstolos não apenas o poder
de celebrar, mas também o de ordenar outros ministros. Assim nasceu a sucessão
apostólica, pela qual o sacerdócio é transmitido de geração em geração,
garantindo que a Eucaristia continue sendo celebrada validamente até o fim dos
tempos. Essa transmissão se dá sacramentalmente por meio do rito da ordenação,
especialmente pela imposição das mãos, conforme praticado desde os tempos
apostólicos (cf. At 6,6; 1Tm 4,14; 2Tm 1,6). Ao impor as mãos, o bispo
comunica, com a oração consagratória, o dom do Espírito Santo e a autoridade
recebida dos próprios Apóstolos. Trata-se de uma verdadeira linha ininterrupta
que une cada sacerdote à missão confiada por Cristo aos Doze, assegurando a
autenticidade do ministério eucarístico em toda a Igreja.
O Mistério da Fé.
Diante
da promessa de Cristo - “quem come a
minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna” - vemos que a resposta
de Deus é clara, poderosa e contínua: a Eucaristia é o modo pelo qual essa
promessa se cumpre.
Por
isso, a Igreja proclama com fé em cada Missa: “Eis o mistério da fé!”
E
este mistério é Cristo vivo entre nós, que se oferece como alimento de
salvação, sustentando-nos nesta vida e prometendo-nos a ressurreição no último
dia.
Felizes
somos nós que participamos do banquete do Senhor: “Eis o Cordeiro de Deus.
Eis aquele que tira os pecados do mundo.”