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sábado, 8 de janeiro de 2011

Um novo PIM

Recebi do professor doutor da UFAM, Jonas Gomes, um texto com o título "Inovação, o que podemos aprender com Cingapura", que "será publicado dia 8 ou 9 na coluna Inovação do Jornal do Comércio".
Eu e o Jonas trabalhamos juntos no curso de Engenharia de Produção da UEA; eu fui o primeiro presidente da Associação da Amazônia Ocidental dos ex-Bolsistas no Japão- AMEOJAPÃO (nome cunhado por ele) e ele o segundo.
Bolsa no Japão
Como um assunto puxa outro, registro que o governo japonês há mais de quatro décadas oferece, na nossa região, bolsas de estudo em qualquer área do conhecimento. Engenheiro concorre com enfermeiro, que concorre com contador, que concorre com professor de educação física, etc. O período mínimo da bolsa é de dois anos como pesquisador, podendo já no segundo ano iniciar o mestrado ou doutorado. O Jonas ficou lá seis anos. É uma das melhores bolsas do mundo financeiramente falando, e também porque o governo japonês, de certa forma, toma conta do estudante oferecendo hospedagem a preço módico, atividades e viagens culturais. Até 2006 o número de vagas para a Amazônia Ocidental era de três, o mesmo número oferecido para Rio de Janeiro e Minas Gerais somados. Mas desde de 2007, por falta de candidatos, uma vaga nos foi tirada. A nossa Associação busca todos os anos informar a um maior número de candidatos, por meio de palestras nas universidades e faculdades da cidade. Esse ano, no início de abril, irão dois engenheiros, mas poderiam ser dois enfermeiros ou administradores. Um deles foi meu aluno na EST-UEA ou outro e formado na Fucapi. Jonas e eu, juntos com membros do consulado local, temos nos últimos anos participado do processo de escolha dos candidatos. Há mais de quarenta ex-bolsistas de todas as áreas: professor de educação, dentista, bacharel em direito, etc.
O período de inscrição da bolsa é feita no consulado japonês na rua Fortaleza, na praça de N.S. de Nazaré, no mês de maio. Em junho ou julho ocorre uma prova de língua inglesa, os candidatos aprovados são submetidos a uma entrevista pessoal. Maiores informações liguem para 3232-2000.
Sistema local de inovação
Mas vamos voltar ao assunto que deu origem a esse post, um assunto que eu gosto muito e pesquiso há mais de dez anos: inovação. Primeiro quero agradecer ao Jonas a gentileza. E como um assunto puxa outro (de novo!?) quero agradecer ao doutores da Fucapi, Niomar Lins Pimental, Guajarino Araújo Filho e Dimas José Lasmar pelo texto final que me enviaram sobre um possível Sistema Local de Inovação. Muito obrigado.
Quem já leu esse blog mais de uma vez deve ter lido outro post ( O PIM perde centro de P&D em http://nogueiraclaudio.blogspot.com/2010/05/o-pim-perde-centro-p-d_29.html) sobre esse assunto, pois é exatamente o assunto do meu doutorado. Principalmente, a formação de um sistema regional de inovação e a evolução do PIM de um distristo industrial para um cluster industrial produzindo bens de maior valor agregado ou cluster tecnológico.
Para saber para que serve e quais as suas vantagens, você vai ter de ler a tese. Não precisa tanto. Entre no google e escreva: "regional/local innovation system". E por que não em português ? Por que os que têm no Brasil ainda estão em fase de formação, e o que alguns autores chamam de sistema regional ou local de inovação, por acharem bonito, não tem nada a ver. E igual aos bispos da igreja Universal. Um dia um sujeito diz: "A partir de hoje tu és bispo". Como diz D. Paulo Evaristo Arns: "Compare a origem de um bispado numa igreja e na outra." Não foi exatamente assim que ele disse, mas foi parecido. Ou melhor exemplificando, é o mesmo que uma faculdade com poucos cursos auto intitular-se de universidade.
Um novo PIM

O texto do Jonas chegou dois dias depois que comprei o livro do Amazon.com entitulado "From Agglomeration to Innovation: Upgrading Industrial Clusters in Emerging Economies" ou "De Aglomeração para a Inovação: Atualizando Clusters Industriais em Economias Emergentes" de Masatsugu Tsuji. Na realidade, "atualizando" não é a tradução correta, upgrade é elevar uma coisa para um nível mais elevado, é exatamente disso que precisamos. Tomar o PIM um cluster hi-tech é toda a preocupação da tese, e um sistema regional/local de inovação tem um papel fundamental para se chegar lá. Esse livro deve ser lido por todos interessados nesse processo.
No início do capítulo seis da minha tese deixo uma mensagem antes de começar o texto:" A razão maior de se esperar mais clustering é que ele funciona ...sucesso tende ocorre em cluster" (THE ECONOMIST, p.65 apud HANSEN, 2004). Nesse capítulo Cingapura é citada. Mas o que quero chamar atenção, e esse virou o meu mantra particular, está na primeira página do capítulo, que tem tudo a ver com esse livro (afirmo):

O que se tem em Manaus é um clump e não um cluster industrial, muito menos um cluster baseado no conhecimento. “Manaus é um clump, uma aglomeração ou concentração industrial com ligações pobres e com falta de interação entre os criadores de conhecimento e os usuários de conhecimento” . O autor do segundo parágrafo é Ifor Ffowcs-Williams, especialista em clusters e chief executive da Cluster Navigators Ltd, (http://www.clusternavigators.com/). Na realidade o texto está editado, ele afirma que Manaus se parece com Dubai, no sentido das formação do nosso aglomerado industrial.
E continuo escrevendo na tese:
"... pode-se enquadrar o PIM na classificação proposta por Voyer (2004), um MNC cluster. Uma aglomeração que atrai corporações multinacionais (MNC) com atividades de montagem/produção, que,principalmente, provê um ambiente de baixo custo. Esse tipo de concentração industrial é comum em países em desenvolvimento, que tenham dificuldades de se mover para atividades de maiores valores agregados, devido ao modelo de desenvolvimento econômico adotado.
Considerando-se a classificação de Anderssen (2004) sobre clusters, apresentada no capítulo 3, conclui-se que o PIM encontra-se na fase de um pré-cluster. Um aglomerado de empresas, predominantemente, multinacionais que desenvolvem produção em massa, com quase nenhuma interação entre elas e com a academia. Embora, existam algumas parcerias pontuais entre algumas empresas e os institutos privados de pesquisa, e destes com as universidades públicas.
Devido a constatação de que o PIM não se enquadra no conceito de cluster, mas de aglomeração industrial, fez-se a opção pela formatação de um sistema regional/local de inovação (SRI) com objetivo de torna o PIM em cluster industrial baseado no conhecimento inscrito dentro de um ambiente de um SRI.
E o que é que tem de ser feito para fazermos essa transição ? O livro mencionado deve trazer essa resposta, e é isso que eu quero saber. Mas eu tenho as minhas próprias respostas, na realidade aponto doze propostas. Uma delas está no post mencionado lá em cima (releia-o), mas gostaria de dizer uma coisa para finalizar, e é direcionado principalmente ao governo estadual e a Suframa, que são os principais atores motivadores nesse processo. O vale do Silício, o maior cluster tecnológico do mundo, é um dos poucos exemplos de cluster cuja formação foi botton-up também chamado cluster orgânico, que ocorreu sem a participação inicial governamental como incentivador, isso só ocorre em países ricos; no nosso caso o processo é top-down, isto é, o as instituições governamentais tem de puxar o processo senão ele não ocorre. Como ocorreu na zona franca de Barcelona e no Parque Tecnológico de Bangalore, na Índia, para citar apenas dois exemplos.
O que deve ser feito não cabe aqui, afinal este é apenas um blog para se passar o tempo.

Cláudio Nogueira


PS. Nota sobre o livro: Esse livro de autor japonês foi editado pelo Institute of Developing Economies do Japan External Trade Organization -IDE -JETRO.
"Aglomeração industrial está no centro da atenção mundial. A implementação de aglomeração ajudou as economias emergentes a reduzir a pobreza, alcançar o crescimento econômico e reduzir as disparidades regionais. Este livro oferece uma ferramenta coerente e útil para explicar a formação de aglomeração e do processo de inovação endógena para elevar clusters industriais para o nível superior de P&D. Este livro contém estudos de países, inclusive, as indústrias de pequenos e médios porte de clusters na China, o cluster da indústria de software na Índia [Bangalore], a política do Japão para clusters industriais; os clusters da indústria automobilística, na Malásia, o cluster industrial da Grande Bangkok, na Tailândia, o cluster da indústria de biotecnologia em Cingapura, e os agrupamentos industriais, no Rio de Janeiro."

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