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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Israel está preparado para conviver com um Estado Palestino?

A história tem contradições interessantes. Alemanha e Japão foram os dois maiores perdedores da Segunda Guerra Mundial. O Japão foi por muitos anos o segundo país mais rico do mundo e a Alemanha o terceiro, e o mais rico da Europa. Situação melhor do que a da Inglaterra e a da França, que ganharam a guerra. Alemães e japoneses fizeram as suas partes, mas isso só foi possível devido aos bilhões de dólares investidos na reconstrução da Europa por meio do Plano Marshall  e a ajuda econômica dos Estados Unidos ao Japão. País que dezenove anos depois de ter recebidos duas bombas atômicas sediou as Olímpiadas de Tóquio.

Alguém tem dúvida que a Rússia vai ganhar a guerra contra a Ucrânia? Se tudo continuar como está há mais de um ano e meio, a Ucrânia vai perder um quinto do seu território. Aí eu peço ao leitor que aguarde e guarde esse texto por vinte anos. O que vai acontecer com a Ucrânia? Vai se tornar uma grande nação.  
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen,já fala em uma espécie de Plano Marshall para recuperar a Ucrânia, antes mesmo do fim da guerra. Se a Ucrânia perder vinte por cento do seu território, ainda será maior que a Alemanha.
Faixa de Gaza

Mas vou deixar para escrever sobre isso em outra ocasião. No momento quero escrever sobre a recuperação da Palestina após o fim do genocídio cometido por Israel e o Hamas. O leitor já percebeu que quero associar a Palestina aos derrotados que se reinventaram.

E a pergunta que não quer calar é: está Israel preparado para ter a vizinha Palestina como um país ? Quais a consequências disto para os judeus ?

Que a morte de milhares de crianças não tenha sido em vão. Que Israel consiga eliminar o Hamas da face da Terra, como conseguiu destruir tantos lares e vidas inocentes com a cumplicidade do próprio Hamas.

Para a Palestina se tornar uma nação, os terroristas não podem ter qualquer poder sobre os palestinos.  Eles existem única e exclusivamente para eliminar Israel. São movidos pelo ódio e não pelo desejo de criar o seu próprio país. Se não forem capturados, que desapareçam como organização. Mas a forma que Netanyahu optou para fazer isso, essa desgraça que está ocorrendo na Palestina, fez a Europa, os Estados Unidos, os países árabes e a ONU  decretarem: tem de haver dois países. E já se mostraram dispostos a ajudarem a implantarem esse projeto.

Mas Israel está preparado para isso ? E por que não estaria ? Antes de responder essa pergunta, gostaria de fazer algumas considerações dessa guerra Israel-Hamas contra o povo palestino.

Essa guerra evidenciou algumas coisas que não se achava provável que acontecesse. Primeiro que o todo poderoso Mossad, não é tão poderoso assim. Tido como um dos serviços secretos mais competentes do mundo, não previu os ataques terroristas de 7 de outubro. Descobriu pela forma mais dolorida que os palestinos sabem guardar segredo. Segundo - isso deve ter assustado bastante - a época que Israel acabava em 24 horas os ataques do Hamas, do Hezbollah e do Fatah, é passado. Em mais de 50 dias de bombardeios, muita destruição e desgraça, Israel ainda não conseguiu dizer: “Acabou ! O Hamas está dizimado. Libertamos os reféns”. O Hamas ainda hoje consegue jogar umas bombas em Israel.

Logo no início desse conflito o presidente Joe Biden - mais para demonstrar apoio político, para agradar políticos e o público interno de origem judaica, em ano de eleição, e menos para frear possíveis países árabes mais afoitos - mandou um porta-aviões para a região. O envio do segundo porta-aviões teve motivações diferentes, reais e concretas. Biden levou em consideração os seguintes fatores:

- A crueldade da reação de Israel com bombardeios que mataram milhares de civis, o impedimento da ajuda humanitária e a destruição de hospitais fizeram o mundo esquecer um pouco a selvageria do Hamas no dia 7 de outubro e a focar no que Israel estava fazendo. Isso provocou indignação e manifestações em todo mundo. Até mesmo entre judeus;

- Crescente reclamações no mundo árabe. A rainha da Jordânia, Rania Al Abdullah, se posicionou contra o massacre na Faixa de Gaza. Isso poderia ser o início de protestos de outras autoridades na região. A paciência dos 22 países árabes poderia acabar e o Irã poderia somar forças contra Israel;

- Segundo um analista da CNN, o Hamas tinha “somente” 18 mil mísseis, mas Hezbollah, um inimigo em potencial, tem 180 mil mísseis. Se a CNN sabe disso, o presidente americano também sabe;

- A Turquia também condenou a situação. Ela tem o maior exército da Europa, e devido a sua localização e poder, segundo a revista Foreign Affairs, americanos e russos não a querem como inimiga;

- Considerando, também, que Israel não conseguiu ainda conter o Hamas lutando sozinho, o envio de segundo porta-avião, para desestimular qualquer agressão contra Israel era necessário. Uma guerra com  países árabes para defender Israel obrigaria os Estados Unidos a guerrear contra aliados. 

Como bom católico, Joe Biden deve estar rezando para todos os santos, pedindo para essa guerra acabar. .

Judeus protestando contra Israel na Grand Station em NY.

Eu o vi no programa “60 Minutos” da CBS, dizendo que se a China invadisse Taiwan, os Estados Unidos iria defendê-la. E depois do início do conflito no Oriente Médio, a China andou passeando com seus navios e aviões em volta da ilha. É provável que o encontro recente com o líder chinês, Xi Jinping, tenha sido movido pela necessidade para aliviar as tensões entre os dois países. O presidente Biden aprendeu no catecismo que somente Deus é onipresente. É muito difícil está na Ucrânia, no Oriente Médio e em Taiwan ao mesmo tempo.                                                                                        Por isso os Estados Unidos têm interesse de acabar esse conflito o mais breve possível. Por esse motivo o Secretário de Estado, Antony Blinken está indo à região pela terceira vezes em menos de um mês, para segurar os árabes e pedir a Netanyahu: “Pelo amor de Deus deixa a ajuda humanitária entrar na Faixa de Gaza. Para de matar gente inocente. Termina logo com isso e não complica mais a nossa situação. Temos também a guerra na Ucrânia.”

Para acalmar os árabes, Biden defendeu, ao término do conflito, a existência de duas nações. Será que o primeiro-ministro de Israel gostou disso? Israel está preparado para isso?

Após a criação do estado de Israel em 1948, a cidade de Jerusalém foi dividida em duas partes. O lado oriental foi entregue aos palestinos; mas Israel domina toda a cidade desde 1967. A sua parte e a deles. Sendo por isso condenado pelas resoluções 252, 446, 452 e 465 das Nações Unidas; além de contrariar a Quarta Convenção de Genebra, que compõe o núcleo do Direito Internacional Humanitário, o ramo do Direito Internacional que regula a condução dos conflitos armados, buscando limitar seus efeitos.

Israel construiu milhares de kibutz dentro da Cisjordânia. Bem dentro do território palestino. Nesses assentamentos vivem cerca de 400 mil israelitas.

Declarado o estado Palestino, Israel vão devolver a parte de Jerusalém que anexaram ? Eles vão sair das terras invadidas no território palestino? Será que Israel está gostando dessa conversa de duas nações ?

A população da Palestina é, somando-se a da Faixa de Gaza e a da Cisjordânia, um pouco mais de 4 milhões e 900 mil. Segundo algumas fontes, 64% desse povo tem menos de 24 anos. Ou seja, é um povo em processo de multiplicação. Sessenta e quatro por cento é cerca de 3,136 milhões. Se consideramos que 60% seja mulheres e crianças, e o restante homens, temos 1 milhão e 254 mil homens, com potencial de formar um exército regular, ajudado e treinado por outros países árabes ou pelo Irã. Esse número cresce muito se considerarmos que os homens com mais 24 anos também estão aptos a servir as Forças Armadas. Será que Netanyahu está gostando dessa estória de duas nações ?

Creio que teremos de esperar para ver. Acredito que mais uma vez vamos perguntar quem ganhou e quem perdeu a guerra. Quanto a Ucrânia, eu passaria um muro separando o seu território da parte perdida; e desejaria felicidade a aqueles que decidiram ser anexados pela Rússia.

Essa guerra é a guerra da independência da Palestina. Que o sangue dos inocentes  traga a liberdade e livre-a de grupos radicais que há 75 anos não permitem a criação de um estado palestino para não admitirem a existência de Israel. Que seja realmente livre. Há 56 anos vivem sobre o domínio de Israel, na “maior prisão a céu aberto do mundo”.

É possível judeus e árabes viverem em paz ? A resposta é sim. Eles são irmãos. Ambos são filhos de Abraão. Eles conviviam em paz, juntos e misturados até 1948.

Que essa trégua seja o início do fim desta guerra. Rezemos, ao mesmo Deus de ambos os povos, pela paz na Palestina.

 


PS1. Em 15 de novembro de 2023 a organização Voz Judaica pela Paz (Jewish Voice for Peace) fez um protesto pró-Palestina na Grand Central Station em Nova York. 

“Ceasefire now!” Jews shut down Grand Central Station. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=u2Y0C6A4Cdc

“Milhares de Judeus nos EUA Protestam em NY contra Israel”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7R4Fh4dTZ2o

 

PS2. Um dia após eu ter publicado esse post, o New York Times diz que Israel soube dos planos de ataque do Hamas há mais de um ano. Disponível em "Israel Knew Hama's Attack Plan More Than a Year Ago" https://www.nytimes.com/2023/11/30/world/middleeast/israel-hamas-attack-intelligence.html


PS3. Israel está esticando a corda. Recep Tayyip Erdoğan, presidente da Turquia disse que  Benjamin Netanyahu será julgado como criminoso de guerra (04.12.23). Mas ficou irritado mesmo quando soube que Israel disse que iria caçar o Hamas dentro da Turquia. "Turquia diz que Israel sofrerá 'consequências graves' após ameaças de caça ao Hamas em seu território."  Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/12/04/turquia-diz-que-israel-sofrera-consequencias-graves-apos-ameacas-de-caca-ao-hamas-em-seu-territorio.ghtml

 

PS4. O presidente Biden descobriu, em 12 de dezembro, o que já sabia há muito tempo: "O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não quer dois estados." Disponível em: 

 https://observador.pt/2023/12/12/joe-biden-avisa-que-israel-esta-a-perder-apoio-e-defende-que-netanyahu-tem-que-mudar-o-governo-conservador/

 

 

 

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