O resultado
da eleição de 2018 ainda fornecerá muito material para estudos sociológicos,
econômicos, filosóficos, antropológicos e, sobretudo psicológicos. Enquanto
isso não acontece, eu vou fazendo uma pequena parte do que me cabe neste
latifúndio.
Começando pelo
Amazonas, Amazonino Mendes perdeu para um novato, Wilson Lima. Na realidade,
não tenho a menor idéia quem seja. Perguntei e me disseram que tinha um
programa na TV. Como não assisto TV aberta, não sei de quem se trata. O
Amazonas não ficou indiferente a onda de mudança. A senadora Vanessa Graziotin
também perdeu o emprego. Por quê? “É comunista; apoiava a Dilma e é apoiada
pelo PT.” Será que foi isso mesmo? Se for, contraditoriamente, o candidato a
deputado federal mais votado foi o deputado estadual pelo PT, José Ricardo
Wendling, que há dois anos havia concorrido a prefeito de Manaus e havia sido o
candidato mais votado na capital, em plena movimentação do impeachment da
Dilma. O eleitor foi coerente: desempregou alguns deputados inoperantes e em
seus lugares colocou outros. José Ricardo, político atuante e honesto, foi um
deles. Por algumas vez dispensou os “penduricalhos”, muito comum hoje em dia,
recebida por muita “gente de bem” na política e em outras esferas do serviço
público.
No resto do Brasil,
a polarização foi escancarada, e quem ficou no meio se deu mal. O Brasil antes
das eleições ficou dividido entre coxinhas e mortadelas. Mas quando chegaram as
eleições a divisão ficou entre pró-PT e pró-Bolsonaro. E que foi que aconteceu
com o PSDB, MDB e a Marina?
Sobre o PSDB, o
senador Tasso Jereissati já fez a mea culpa. Fizeram campanha contra o
resultado da eleição de 2014, desde o dia que saiu o resultado. E apoiaram o
Temer, o presidente mais odiado de todos os tempos, e se deram muito mal. No
meio dessa confusão, Temer conseguiu ser uma unanimidade: à esquerda o odiava
porque traiu a Dilma. E a direita o odiava por ter sido vice da Dilma. Além do
que ele também tem os seus deméritos pessoais neste quesito. Então, o apoio a
Temer e o fato dele ser do MDB causou o desastre eleitoral dos dois partidos.
Juntos os dois perderam 38 parlamentares. O PSDB chegou a ter, nas eleições de
2010, oito governadores. Em 2014 foram reduzidos a seis; e agora serão apenas
três. No Senado, a redução foi de 11 para 8 senadores.
Foi vergonhosa a
votação de Geraldo Alckmin para a presidência da República, este ano. E o
partido está envolvido em um imbróglio brado. Alckmin, o criador, após o seu
desastre, acusou a criatura, João Dória, de tê-lo traído. Este, com a vitória
em SP, tornou-se a estrela mais brilhante do partido. Até aí tudo bem. O
problema é ele se jogou incondicionalmente aos pés de Bolsonaro, e disse (se
não disse pensou): “Faremos tudo que o sr. mestre mandar.” E agora FHC,
Alckmin, Serra, Jereissati, Aécio e Arthur Neto? Vocês vão embarcar nessa? Vão
fazer parte da base aliada do Bolsonaro? Possivelmente, ou Dória sai do PSDB ou
PSDB sai do Dória. O Arthur Neto já disse que está pensando em desembarcar.
Como o MDB a
situação não é diferente. Temer, Romero Jucá e Padilha estarão desempregados em
breve. Espero que continuem vivendo e comendo à custa do Estado, fazendo
companhia a outro membro da quadrilha, Geddel Viera. Fazem parte do grupo dos
que “ninguém os ama, ninguém os quer”. Nem coxinhas, nem mortadelas.
Eunicio Oliveira, do MDB,
presidente do Senado, perdeu por 12 mil votos; num total de mais de 6,3 milhões
de votos. No seu Ceará, Cid Gomes, do PDT e apoiado pelo PT, teve mais votos do
que Eunício Oliveira e o outro candidato juntos. Ele ficou meio que em cima do
muro, foi punido por ser emedebista. Renan Calheiros, que se posicionou contra
Temer e seus seguidores, e flertou com o PT, foi o grande vencedor; não só se
reelegeu, como reelegeu o filho no primeiro turno, como governador de Alagoas.
Deve estar rindo do povo investigado pela Operação Greenfield, também conhecida
como “Quadrilhão do MDB.”
O MDB teve a sua
bancada no Senado reduzida de 19 para 12 senadores.
O Partido Social
Liberal, PSL, de Bolsonaro, o foi o grande vencedor. Era um partido nanico. Em
2014, elegeu apenas um deputado. Mas houve as trocas, hoje tem 8 deputados. Mas
em 2019 terá 52. Não tem nenhum no Senado, mas terá 4, no próximo ano. Será a
segunda maior bancada da Câmara; ficando apenas atrás do Partido dos
Trabalhadores.
E o PT? “O PT
acabou.” Dizem algumas pessoas. Há outros comentários. Mas esses são
impublicáveis. Quando ouço isso, eu sempre me lembro que nos últimos dez anos,
a revista Veja fez umas três capas afirmando essa vontade.
Devagar com o andor
que o santo é de barro. O PT teve uma baixa considerável, mas não morrerá. Em
2014, o PT elegeu 68 deputados. Hoje tem 61. Apesar de ter sua bancada reduzida
na próxima legislatura, ainda foi o partido que mais elegeu deputados, 56.
Estou achando que está meio difícil dele acabar. Atualmente são 25 partidos na
Câmara. Ano que vem serão 30. Se os nanicos não morreram por que o PT morreria?
Sua perda no Senado foi a maior de todos os partidos. Tinha 13 senadores, terá
6. Mas para desespero de milhões – 57.797.847 – para ser exato, ele vai dar muito
trabalho como oposição. Como disse Arthur Neto, em entrevista recente: “O PT
vai continuar sendo protagonista. O PSDB não.”
A PT fez o maior número de
governadores: Camilo Santana (Ceará), Wellington Dias (Piauí), Rui Costa
(Bahia) e Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte). PSL, MDB, PSDB e PSB fizeram
três governadores cada.
E a Marina? Ela foi vítima da
polarização, como foi Ciro Gomes, ou ele foi vítima de si mesmo? Só que nos
momentos mais tensos da convulsão nacional do período que antecedeu ao
impeachment da Dilma Rousseff, Ciro se posicionou a favor da presidente. A
Marina ficou meio escondida, não querendo desagradar gregos e goianos. Tanto
que parte da cúpula do seu partido saiu da legenda, reclamando a falta de
posicionamento dela. O leitor dela também é de esquerda. E não foi esquecido
que ela apoiou Aécio Neves contra a Dilma no segundo turno de 2014. A
quantidade de votos dela nessa eleição foi ridículo. Tendo menos votos que o
Cabo Daciolo. Se ainda quiser disputar novamente - mas acho muito difícil - eu no lugar dela não sumiria
por quatro anos, e participaria ativamente da política nacional.
No próximo post vamos falar sobre os
políticos fichas sujas eleitos. Bolsonaro se elegeu prometendo combater a
corrupção. Com certeza não vai querer o apoio de nenhum político ficha suja. Isso é o que veremos. Pelo seu desempenho em 28 anos com deputado federal e como militar, não é de se esperar que seja grande presidente. Vamos esperar para ver.
Um bom feriado a todos.
Cláudio Nogueira
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