Ontem visitei no hospital Check Up, o José Alberto Alves Barbosa, o Barbosão, marido da prima Vânia Bessa Cyrino Barbosa. Somente há dois dias fui informado disso, mas ele já está hospitalizado há dez dias. Já faz algum tempo que luta contra doença na próstata.
Ir ao Check UP já virou rotina. No mês passado, por estar muito perto da escola das crianças, ficou muito fácil visitar, quase que diariamente, o padre Carlos Steiner, amigo nosso, que ficou quase um mês internado lá.
Ontem a Vânia me disse, que tem um grupo de amigos de oração - uma cinquenta pessoas - que se reunem às quintas-feiras para rezar pela saúde do Zé Alberto, também como é conhecido.Não realidade o número é bem maior, se considerarmos os parentes e amigos (os nogueiras estão sempre rezando) que não frequentam o grupo, e que também rezam pela a recuperação do Barbosa ( A Maria Cecília, minha sobrinha, chama-o de tio grandão).
O outro hóspede do Check UP, padre Carlos, nascido William (Bill) Steiner, americano, que come e adora tudo que os caboquinhos daqui comem, está no Brasil há quase sessenta anos - membro ativo em diversas pastorais, que congregam pessoas de vários bairros de Manaus - não consegue partir em paz (graças a Deus !). Os anjos o chamam pra lá, os dois milheiros de amigos seguram ele por aqui. Mas puxem-no pelas mãos, não toquem nas pernas, pois querendo ser caboco de verdade, carrega em uma das pernas uma erisipela braba, que não lhe dá trégua. Se tivesse vivido na sua Chicago, isso não teria acontecido. Mas também não teria provado da costela de tambaqui no tucupi, que tanto gosta.
Tem muita gente rezando por eles ( tem gente orando também, porque crente não reza, ora. Qual é a diferença ? Não sei. Talvez mera questão de marketing, diferenciação de produto). Como disse, tem muita gente rezando pelo padre Carlos e pelo Zé Alberto. Isso demanda, requer e exige uma reflexão; e a seguinte pergunta: Afinal quem é que está salvando quem nessa história ? Somos nós que estamos salvando eles, ou são eles que estão nos salvando ?
Cristo nos salvou com a sua dor. Se ele tivesse vindo, pregado, feito milagres e voltado, muito possivelmente não estaríamos ligados a Ele, ou até mesmo, simplesmente, falando Nele como estamos.
Rezamos pelos dois porque gostamos deles, e queremos que fiquem aqui mais um pouco. O meu raciocínio é muito simples: como católico acreditamos na existência do Inferno, Purgatório e Céu. Acreditamos que a alma é eterna, e é para um desses lugares que iremos, depois que alma e corpo forem separados (eu acho que vou ser mandado para um Reformatório. Coitado do Mário Dandão, que é crente - ou seria descrente ? - e não acredita em Purgatório). Eu acredito, que um dia teremos o seguinte diálogo com quem estiver por perto:
- Eu vivi na Terra há duzentos anos atrás.
- Só!? Eu vivi há setecentos anos.
Talvez, seja este o único motivo que segure carlos e zealbertos por aqui. Pra que pressa? O tempo por aqui é curtíssimo. O de lá é infinito. Deixem eles curtirem um pouco mais os seus amigos, confrades, filhos, netos, esposa, etc.
Fora isso a partida dos dois só causa prejuízos (emocional, etc.) em quem fica.
Afinal quem está salvando quem ? Quantas orações você já fez pelo padre Carlos ? E pelo Barbosa ?
Engraçado né ? Se eles tivessem vendendo saúde, você teria rezado tanto assim ? Você teria aumentado tanto a sua intimidade com Deus? Quem está salvando quem ? Quem é que está sendo curado ? Já foram ditas tantas orações por esses dois, que os contadores de pecados deles devem estar zerados.
Se não fosse tanto a vontade deles de ficar, poderíamos dizer que não deveriam mais resistir, mas que partissem em paz. Mas sabem que quem não vai ficar em paz somos nós.
Veja como são as coisas, possivelmente, devido aos seus exemplos de vida, aos seus arrependimentos pessoais, somado as nossas orações, eles estejam salvos, e se fossem espertos (e egoístas) deveriam pedir para partir agora. E nós poderíamos, de certo modo, dizer que contribuímos para a salvação deles. Mas há uma certa reciprocidade, os sofrimentos deles contribuem para a nossa salvação, exatamente como o sofrimento de Cristo. Com uma diferença enorme: o sofrimento de Cristo foi deliberado, gratuito. Mas mesmo assim, o sofrimento de cada um não está sendo em vão.
Dezenas de pessoas rezam e oram pelos dois, porque os amam. E calados eles não respondem, mas nos salvam. As orações por eles nos aproximam de Deus e contribuem para a nossa salvação.
E agora fiquei na dúvida. Eu rezo pelo pronto restabelecimento dos dois ? Mas se eles ficarem curados, nós vamos parar de rezar ? A resposta é o que eu gosto de chamar de poupança espiritual. O negócio é rezar sempre, antes que qualquer tragédia nos aconteça. Vamos rezar antecipadamente.
Querem outro paradoxo ? Na dor nos reunimos para rezar, nos aproximamos de Deus. Possivelmente cada um faz a sua reflexão pessoal, se arrepende de seus pecados. Se não se arrependeu, perdeu tempo, melhor que estivesse assistindo a novela das oito. A dor nos salva. E nos salvamos na tristeza.
E nas festas estamos felizes, alegres. Mas, talvez, fazendo coisas que nos afastam de Deus. É ou não é um paradoxo ? It depends, diria o padre Carlos. Não necessariamente. Podemos muito bem nos aproximar de Deus sem que estejamos com problemas, na alegria também. A Bíblia, nos Salmos de Davi, nos exorta a louvamos ao Senhor com instrumentos musicais. Já ouviram falar da cítara ? Pois é. Então, nas festas também podemos nos aproximar do Senhor, e lhe agradecer por tantos momentos bons que vivemos com os amigos e familiares.
Desde modo padre Carlos e Zé Alberto descansem em paz... recuperem as forças que há muito ainda para ser vivido por aqui. Não se empolguem.
No mais espero que o dia mais feliz de nossas vidas, seja o dia da partida de cada um.
Cláudio Nogueira.
PS1. Quando o padre Carlos estava meio indeciso, “vou ou fico”, eu aproveitei a oportunidade, no seu apartamento lá no Check Up para lhe dizer: Nós queremos muito o senhor aqui, mas se o senhor partir, lembre-se que lhe amamos, e dê um beijo no meu pai quando se encontrar com ele.
PS2. José Alberto partiu dia de São Francisco, 4 de outubro. No dia do aniversário de sua mãe. Padre Carlos partiu dia 17 de novembro. Estava sendo submetido a hemodiálise por três vezes ao dia. Graças a Deus isso acabou. Estão os dois na casa do Pai. Lá há muitas moradas, eles devem está em uma delas.
Ir ao Check UP já virou rotina. No mês passado, por estar muito perto da escola das crianças, ficou muito fácil visitar, quase que diariamente, o padre Carlos Steiner, amigo nosso, que ficou quase um mês internado lá.
Ontem a Vânia me disse, que tem um grupo de amigos de oração - uma cinquenta pessoas - que se reunem às quintas-feiras para rezar pela saúde do Zé Alberto, também como é conhecido.Não realidade o número é bem maior, se considerarmos os parentes e amigos (os nogueiras estão sempre rezando) que não frequentam o grupo, e que também rezam pela a recuperação do Barbosa ( A Maria Cecília, minha sobrinha, chama-o de tio grandão).
O outro hóspede do Check UP, padre Carlos, nascido William (Bill) Steiner, americano, que come e adora tudo que os caboquinhos daqui comem, está no Brasil há quase sessenta anos - membro ativo em diversas pastorais, que congregam pessoas de vários bairros de Manaus - não consegue partir em paz (graças a Deus !). Os anjos o chamam pra lá, os dois milheiros de amigos seguram ele por aqui. Mas puxem-no pelas mãos, não toquem nas pernas, pois querendo ser caboco de verdade, carrega em uma das pernas uma erisipela braba, que não lhe dá trégua. Se tivesse vivido na sua Chicago, isso não teria acontecido. Mas também não teria provado da costela de tambaqui no tucupi, que tanto gosta.
Tem muita gente rezando por eles ( tem gente orando também, porque crente não reza, ora. Qual é a diferença ? Não sei. Talvez mera questão de marketing, diferenciação de produto). Como disse, tem muita gente rezando pelo padre Carlos e pelo Zé Alberto. Isso demanda, requer e exige uma reflexão; e a seguinte pergunta: Afinal quem é que está salvando quem nessa história ? Somos nós que estamos salvando eles, ou são eles que estão nos salvando ?
Cristo nos salvou com a sua dor. Se ele tivesse vindo, pregado, feito milagres e voltado, muito possivelmente não estaríamos ligados a Ele, ou até mesmo, simplesmente, falando Nele como estamos.
Rezamos pelos dois porque gostamos deles, e queremos que fiquem aqui mais um pouco. O meu raciocínio é muito simples: como católico acreditamos na existência do Inferno, Purgatório e Céu. Acreditamos que a alma é eterna, e é para um desses lugares que iremos, depois que alma e corpo forem separados (eu acho que vou ser mandado para um Reformatório. Coitado do Mário Dandão, que é crente - ou seria descrente ? - e não acredita em Purgatório). Eu acredito, que um dia teremos o seguinte diálogo com quem estiver por perto:
- Eu vivi na Terra há duzentos anos atrás.
- Só!? Eu vivi há setecentos anos.
Talvez, seja este o único motivo que segure carlos e zealbertos por aqui. Pra que pressa? O tempo por aqui é curtíssimo. O de lá é infinito. Deixem eles curtirem um pouco mais os seus amigos, confrades, filhos, netos, esposa, etc.
Fora isso a partida dos dois só causa prejuízos (emocional, etc.) em quem fica.
Afinal quem está salvando quem ? Quantas orações você já fez pelo padre Carlos ? E pelo Barbosa ?
Engraçado né ? Se eles tivessem vendendo saúde, você teria rezado tanto assim ? Você teria aumentado tanto a sua intimidade com Deus? Quem está salvando quem ? Quem é que está sendo curado ? Já foram ditas tantas orações por esses dois, que os contadores de pecados deles devem estar zerados.
Se não fosse tanto a vontade deles de ficar, poderíamos dizer que não deveriam mais resistir, mas que partissem em paz. Mas sabem que quem não vai ficar em paz somos nós.
Veja como são as coisas, possivelmente, devido aos seus exemplos de vida, aos seus arrependimentos pessoais, somado as nossas orações, eles estejam salvos, e se fossem espertos (e egoístas) deveriam pedir para partir agora. E nós poderíamos, de certo modo, dizer que contribuímos para a salvação deles. Mas há uma certa reciprocidade, os sofrimentos deles contribuem para a nossa salvação, exatamente como o sofrimento de Cristo. Com uma diferença enorme: o sofrimento de Cristo foi deliberado, gratuito. Mas mesmo assim, o sofrimento de cada um não está sendo em vão.
Dezenas de pessoas rezam e oram pelos dois, porque os amam. E calados eles não respondem, mas nos salvam. As orações por eles nos aproximam de Deus e contribuem para a nossa salvação.
E agora fiquei na dúvida. Eu rezo pelo pronto restabelecimento dos dois ? Mas se eles ficarem curados, nós vamos parar de rezar ? A resposta é o que eu gosto de chamar de poupança espiritual. O negócio é rezar sempre, antes que qualquer tragédia nos aconteça. Vamos rezar antecipadamente.
Querem outro paradoxo ? Na dor nos reunimos para rezar, nos aproximamos de Deus. Possivelmente cada um faz a sua reflexão pessoal, se arrepende de seus pecados. Se não se arrependeu, perdeu tempo, melhor que estivesse assistindo a novela das oito. A dor nos salva. E nos salvamos na tristeza.
E nas festas estamos felizes, alegres. Mas, talvez, fazendo coisas que nos afastam de Deus. É ou não é um paradoxo ? It depends, diria o padre Carlos. Não necessariamente. Podemos muito bem nos aproximar de Deus sem que estejamos com problemas, na alegria também. A Bíblia, nos Salmos de Davi, nos exorta a louvamos ao Senhor com instrumentos musicais. Já ouviram falar da cítara ? Pois é. Então, nas festas também podemos nos aproximar do Senhor, e lhe agradecer por tantos momentos bons que vivemos com os amigos e familiares.
Desde modo padre Carlos e Zé Alberto descansem em paz... recuperem as forças que há muito ainda para ser vivido por aqui. Não se empolguem.
No mais espero que o dia mais feliz de nossas vidas, seja o dia da partida de cada um.
Cláudio Nogueira.
PS1. Quando o padre Carlos estava meio indeciso, “vou ou fico”, eu aproveitei a oportunidade, no seu apartamento lá no Check Up para lhe dizer: Nós queremos muito o senhor aqui, mas se o senhor partir, lembre-se que lhe amamos, e dê um beijo no meu pai quando se encontrar com ele.
PS2. José Alberto partiu dia de São Francisco, 4 de outubro. No dia do aniversário de sua mãe. Padre Carlos partiu dia 17 de novembro. Estava sendo submetido a hemodiálise por três vezes ao dia. Graças a Deus isso acabou. Estão os dois na casa do Pai. Lá há muitas moradas, eles devem está em uma delas.
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