Pesquisar este blog

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Nós e os grupos

Aristóteles dizia que o homem é um ser político. Então, ele tem de se candidatar e entrar para um partido? Não é nada disso. Político vem de polis, cidade. O homem vive no meio de outros homens ( e mulheres também). Vive na urbis, não vive no mato, vive cercado de pessoas. E tem de aprender a conviver com elas. E aí vem o Babá e diz: Epa! Peraí ! Os índios vivem no mato, mas vivem em comunidade. Então tem de reclamar ao Aristóteles.
Na realidade, homens e mulheres vivem em grupos, de colegas de escola, de trabalho, de amigos, etc. etc. Eu, como é do conhecimento do e-leitor, já nasci dentro de uma comunidade.
Do nascer ao morrer nós temos os nossos grupos. Esse ano meus filhos mudaram de escola; e deixaram os primeiros amigos e colegas, conhecidos fora do âmbito famíliar. A Maria Fernanda (em 2010), João Paulo e Pedro Henrique deram adeus à Manuela, à Beatriz, ao Josh, ao Tales, ao Gustavo e a vários outros. O bom é que eles ainda não sabem o que é isso significa. Vão sentir mais tarde. Todos eram alunos da Escolhinha Maria Imaculada, localizada ao lado da igreja de N. S. de Nazaré, em Adrianópolis.
Há três anos, a partida da ex-diretora, irmã Alcinete, para trabalhar como missionária na África, já havia me dado a primeira sensação de que aquele grupo estava dissolvendo.
Não tem aquela história de que quem beija meus filhos, adoça a minha boca? Era assim que eu me sentia em relação a ela. O carinho com o João Paulo, a paciência, com as peraltices das minhas crianças, me deixava tranqüilo, em saber que eles estavam em boas mãos. Mas mais do que isso, ela era amiga deles. A irmã Nete se foi, ele sentiu um pouco, mas a vida continuou.
É a vida sempre continua. Tem o primeiro grupo. Da minha época da escola primária, lembro me bem de todos os anos. Não chegava a ser exatamente um grupo aparte, pois sendo uma escola de bairro, bairro de Aparecida, todo mundo que estudava lá era conhecido. Mas mesmo assim sobraram bons amigos, como o João Bosco Cantisani e o Cristóvão Martins. Já adulto trabalhei, em diferentes lugares, com os dois. Mas o primeiro e intenso grupo de relacionamento mesmo foi o pessoal da rua. Da rua não, do beco. Beco da Indústria. Indústria de meninos.
Alguém tem de fazer uma pesquisa porque nasceram tantos menino naquele beco num período de uns três anos. Não é por que nasceu tanta gente, é por que nasceram tantos homens ? Deve ser a posição dos astros que influenciaram na ovulação da mulhereda. A verdade é que, da minha idade, mais velho um ano, ou mais novo um ano, tinha, só no beco, uns 20 meninos ou mais. Digo, da mesma idade, porque homens naquele beco, só meus pais produziram sete. Eh! Mas, praticamente, menino de rua, dos sete, só era eu; e em menor escala o Thomaz; seguido pelo Junior com a medalha de bronze. Eu chegava da escola às onze, trocava de roupa e ia jogar futebol no sol de 40 graus na sobra, na frente da CEM (Companhia de Eletricidade de Manaus). A pele escura continuamente pipocava com bolhas por causa do calor. Magro feito vara de bater em doido. Quando aparecia para almoçar às 13 ou 14 horas, a surra vinha na entrada como aperitivo. Eu sempre fui tarado por futebol. Nunca tive muita paciência para assistir partidas. Só se for Copa do Mundo, ou decisão de campeonato, mas jogar, e mal, era comigo mesmo. Os bons eram o Paulinho Bololo, o melhor de todos; o Afonso, irmão dele; o Atílio, mais tarde cunhado dos dois. Tinha na rua, o (Vicente) Paulinho e Pedro Schettini, Hélcio e Claudioson, campeões de natação no Rio Negro; o Beto da dona Raimundinha; Luis Carcaça, que gordo não era; o Públio Caio e o Neto; os primos Ricardo Preto e Ricardo Branco, com mesmo nomes e idades, mas com cores diferentes; o PP, Pedro Potiguara, o Jorge do Carlão e Sidéria, os irmãos Mauro, Normando e Ulisses, da casa dos três leões; o Tadeu, irmão da Radiola e do Chuvisco, que vieram do Maranhão, passaram uns sete anos e depois foram embora; havia o Stefano-Robusteli-Filho-de-Italiano, o Tonton (Gladstone), da dona Fanchete; os irmãos Manel e Joca do seu Lima. Depois apareceram o Jair e o Jânio e vários outros mais velhos ou mais novos. Esse é praticamente o primeiro grupo. Crescemos juntos. Uns dois ou três fizeram um test drive do casamento, mesmo antes dos vinte anos, capotaram em seguida, mas continuaram tentando, e voltaram a fazer outros testes depois. Mas o recorde fica por conta do Ricardo Preto. Hoje Dr. Ricardo dos Santos. Foi pai aos 16, e hoje com 52 anos, está só no quinto casamento e apenas seis filhos.
Mesmo morando em bairros de diferentes da cidade, graças a Deus, esse grupo pode se reunir, se convocado for. Há duas lamentáveis baixas: o Luís Afonso, morto por engano, na briga de dois sujeitos, um deles armado, em pleno ensaio da escola de samba de Aparecida, e José William, o Joca, que também teve a vida interrompida por alguém.
Saio do Colégio Nossa Senhora da Aparecida e vou para o Colégio Militar de Manaus, que neste sábado, 7 de abril, faz 40 anos de inauguração. Eu estava lá. Formou-se mais um grupo.
Um grupo não se extingue para começar outro. O grupo do beco foi até os 18 anos. Na infância, paralelamente a este, teve o do Colégio Nossa Senhora Aparecida, depois o grupo do CMM, onde, praticamente, nos encontrávamos somente nos corredores do Colégio, mas isso foi por vários anos. E antes e depois teve o grupos de jovens da paróquia de N. S. Aparecida.
Dos 20 para cá vários outros grupos se formaram, mais isso pode ser lembrado mais tarde. Hoje quero lembrar dos meus amigos do Colégio Militar de Manaus. Sobre isso escreverei no sábado.
Esse texto, somente publicado hoje, foi escrito antes do post : Dando Graças: uma morte e várias vidas
que é uma espécie de continuação deste. Em sendo hoje sexta-feira da Paixão de Cristo, acho oportuno ser relido.
Uma boa Semana Santa para todos.
Cláudio Nogueira

Nenhum comentário:

Postar um comentário