Erro de digitação
Possivelmente
o(a) prezado(a) e-leitor(a) deve estar pensando: Ele se enganou e digitou João
Paulo II ao invés de Bento XVI. Porque, hoje 28 de fevereiro de 2013 - dia dos
77 anos da minha querida tia Damiana Queiroz, a Dadazinha, que eu amo muito - quem
renunciou às 20 horas em Roma, foi o cardeal Ratzinger. Contudo, meus amigos e minhas
amigas, vos afirmo que o texto é sobre a renúncia de João Paulo II. Espere
somente um pouco que logo chego lá.
Dois Papas
Considerando
que o assunto é renúncia papal, vamos registrar o que o Vaticano divulgou essa
semana: Bento XVI terá o título de Papa Emérito. Bento XVI não deixará de
existir; e o Cardeal Joseph Ratzinger não voltará a tomar posse daquele corpo.
Ele continuará a ser chamado de sua santidade.
Isso é uma novidade muito
grande. Teremos dois papas, e desta vez não vai ser um em Avignon, na França e
outro em Roma, como da última vez. Os dois morarão no Vaticano. Bento XVI não
será ex-Papa, ele será um Papa aposentado.
Quando
um bispo completa 75 anos, ele tem que se aposentar compulsoriamente; isto é,
ele deixa de ser o administrador de sua prelazia, diocese ou arquidiocese, e é
substituído por outro; mas, todavia, contudo, não obstante, não deixa de ser
bispo. Torna-se o bispo emérito da sua diocese. Assim, teremos um papa e um
papa emérito pela primeira vez na história da Igreja, considerando que há
seiscentos anos atrás, quando o último papa renunciou, os bispos, exatamente
como os papas, morriam no cargo. Bento XVI será não somente o primeiro papa
emérito, como o primeiro bispo emérito de Roma. Isto eu já havia afirmado no post abaixo, muito antes do Vaticano se pronunciar a respeito. Na realidade, o bispo de Roma, é o primus
inter pares, o primeiro entre iguais, e por ser o bispo de Roma, sucessor de
São Pedro é que se torna papa
Dom Paulo Evaristo Arns pede a renúncia
No texto do post abaixo "O Pastor Alemão ou Non Habemus Papa".http://www.nogueiraclaudio.blogspot.ca/2013/02/o-pastor-alemao-parte-ii-ou-non-habemus.html
sobre a renúncia de Bento XVI (que os seus desafetos na impressa gostam de chamá-lo de Rottweiller de Deus), creio ue de certo modo ficou subentendido que a renúncia por questões de idade e/ou saúde poderá ser uma rotina entre os futuros papas, como é com os bispos. Bento XVI deu o exemplo. Talvez não seja bem assim. Talvez ele tenha recebido esse exemplo de João Paulo II. Como ?
Dom Paulo Evaristo Arns pede a renúncia
No texto do post abaixo "O Pastor Alemão ou Non Habemus Papa".http://www.nogueiraclaudio.blogspot.ca/2013/02/o-pastor-alemao-parte-ii-ou-non-habemus.html
sobre a renúncia de Bento XVI (que os seus desafetos na impressa gostam de chamá-lo de Rottweiller de Deus), creio ue de certo modo ficou subentendido que a renúncia por questões de idade e/ou saúde poderá ser uma rotina entre os futuros papas, como é com os bispos. Bento XVI deu o exemplo. Talvez não seja bem assim. Talvez ele tenha recebido esse exemplo de João Paulo II. Como ?
Escrevi
no post abaixo: “Os
bispos têm de renunciar aos 75 anos de idade, por razões físicas, mentais, etc.
Os cardeais com 80 anos não votam nem podem ser votados no Conclave (= com
chaves = trancados). E por que o Papa não deve renunciar? Esse argumento já foi
usado por D. Paulo Cardeal Arns quando João Paulo II estava na reta final. Ele
sabia que quando um Papa está debilitado, a Igreja é administrada pela Cúria
Romana. Na época achei um absurdo, uma falta de respeito, desumano, até mesmo
falta de fé? Quem não acharia até segunda-feira desta semana ? Todo mundo
achava.”
Vamos
dar oportunidade para o próprio Dom Paulo Evaristo Arns se explicar. Em 2004,
ele fez a seguinte declaração: "Sim, chegou a hora do papa renunciar
para que a Igreja possa continuar
respondendo às mudanças históricas e para este momento crítico que estamos passando”. João Paulo II faleceu em abril do ano seguinte.
Muito antes disso, declarou: “Eu falei com ele [João
Paulo II] sobre
isso com toda a simplicidade. Indiretamente,
perguntei-lhe se não era demais para ele
[as obrigações que tinha]. Esta foi a sua resposta: ‘Paulo, daqui até aqui (apontando do peito até a cabeça) eu me sinto
bem. Eu sou a mesma pessoa que
era quando fui eleito para o
papado. Eu não vejo qualquer razão para renunciar
porque minha cabeça, meu coração e meus
órgãos estão todos bem’"
Esse
encontro ocorreu quando o
Cardeal Arns ainda ia a Roma regularmente,
como arcebispo de São Paulo. Dom Paulo Arns se aposentou das suas funções em 9
de abril de 1998, aos 76 anos. "O papa tinha alguma dificuldade para andar, mas nós andamos para cima e para baixo no corredor. Nós falamos
em alemão. Ele fala
alemão claramente, e eu também,
pois era a minha segunda língua em casa.”
Mesmo sugerindo a renúncia D.
Paulo Arns dizia na época, que o Papa estava ciente de suas
responsabilidades: "Esta consciência tem a ver com o espírito de fé, de inteligência
e das coisas que estão acontecendo ao nosso redor...Se ele acha que nem tudo está em ordem, então é provável que ele
continue a aguardar até que o nome de um novo papa comece a germinar nos
corações dos cardeais". Será que Bento XVI acredita que esse nome já
germinou ?
A Possibilidade de Renúncia
Em 1998,
João Paulo já tinha 78 anos, e desde de 1991 tinha Mal de Parkinson e a
renúncia já tinha passado pela sua cabeça. Com esse idéia em mente convocou alguns auxiliares, entre eles o Cardeal Ratzinger. Quem nos narra
esse episódio é o Cardeal Stanislaw Dziwisz, arcebispo de Cracóvia,
Polônia, que por quarenta
anos foi o secretário particular de Karol Wojtyla: “Sobre a questão da renúncia. Eu gostaria de destacar que João Paulo II
realmente lidou com essa questão mesmo antes do ano de 2000 [Ano do
Jubileu]. Paulo VI tinha decidido excluir
os cardeais acima de oitenta da eleição papal. Similarmente, João Paulo II se
perguntava se o Papa não estaria obrigado a deixar o cargo quando chegasse aos
oitenta, ou, como ele pois no seu testamento, se o seu aniversário de oitenta
anos não significaria que a hora tinha chegado [ele fez oitenta anos em 2000] ‘para dizer como Simeão da Bíblia, Nunc dimittis.’” “Agora, Senhor, despedes
em paz o teu servo, segundo a tua palavra (Lucas 2: 29).
“O Santo Padre, portanto,
decidiu consultar os seus colaboradores mais próximos, entre eles o Cardeal Ratzinger, prefeito para a
Congregação para a Doutrina da Fé. E, depois de refletir e examinar os
documentos deixados por Paulo VI sobre o assunto, ele chegou a conclusão que
ele deveria se submeter a vontade de Deus – isto é, que ele deveria permanecer
no cargo pelo período que Deus desejasse mantê-lo lá. ‘Foi Deus que me chamou.
Ele vai me chamar de volta, também, de acordo com a sua vontade.’
“Ao mesmo tempo,
João Paulo II trabalhou em um
procedimento de renuncia caso ele não mais fosse capaz de exercer sua missão
papal. Você vê, que ele realmente teve sérios pensamentos sobre a
possibilidade de renunciar. E ainda assim, ele decidiu fazer a vontade de Deus até o fim. Ele aceitou sua
cruz. Ele queria seguir o exemplo de Cristo e carregar seu fardo até o fim de
sua vida.”
Talvez
por isso a impressa tenha dado destaque as palavras do Cardeal Dziwisz, sobre a
renúncia do Papa Bento XVI, causando um certa controvérsia: “Você não desce da cruz.” Essa expressão
parece ter sido editada, ou dita dentro de um contexto, porque em uma
entrevista para EWTN – Global Catholic Network News, ele disse: “Nós devemos
aceitar a vontade de Deus. A decisão foi cheia
de oração, reflexão e o Santo
Padre certamente não pode ter feito isso facilmente.[Eu] Estando por muitos anos perto de João Paulo II,
eu sei que essas decisões custam muito.
E esta decisão foi difícil, mas corajosa.”
Idade é problema ?
João Paulo
II foi papa até completar 85 anos, 1 mês e 16 dias. Bento XVI até hoje, com 85 anos, 10 anos e 12 dias. Então de agora em
diante os papas vão renunciar quando completarem 85 anos? Não exatamente. Já
foi dito repetidas vezes que os bispos se aposentam compulsoriamente aos 75
anos de idade. Na realidade, ao completar essa idade, o bispo tem que apresentar
a renúncia da administração da Igreja local que é o pastor, mas cabe o papa aceitá-la ou não. Dom Paulo Arns foi
arcebispo de São Paulo até os 76 anos e meio. O sucessor do Cardeal Karol
Wojtyla na arquidiocese de Cracóvia ficou no cargo até os 78 anos de idade. Só
saiu após a morte do Papa João Paulo II, para ser substituído pelo Cardeal Dziwisz.
Mas o campeão de permanência no cargo pós-75 anos foi o Cardeal Kazimierz Świątek, que foi arcebispo de
Minski-Mohilev, na Bielorússia até a sua morte aos 96 anos, em 2011. É a inversão da regra, bispo morrendo sem se aposentar, papa se aposentando sem morrer.
Contudo,
o primeiro passo foi dado, ou o primeiro exemplo. Agora já temos Papa emérito,
só falta agora os filólogos criarem o coletivo de papas.
Cláudio
Nogueira
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