O texto abaixo foi escrito por Jaime Benchimol, que não precisa de apresentação. Economista, empresário, professor da UFAM por muitos anos; onde tive a honra de ter sido seu aluno, e com quem aprendi muito, principalmente sobre microeconomia e economia monetária, que na época tinha o nome de moedas e bancos. O Jaime Benchimol, filho do respeitado professor Samuel Benchimol, é uma das cabeças mais brilhantes do Amazonas.
Quando fui seu aluno no início dos anos 80, já era uma cabeça brilhante, e com o passar do tempo ficou mais brilhante ainda, principalmente quando está suado e debaixo de uma lâmpada. Brincadeiras a parte, porque o assunto é sério. Pedi permissão dele para publicar o texto abaixo, lido durante a cerimônia do prêmio Grandes Amazônidas, conferido a ele pela Associação PanAmazônia. "Em 2010, a Associação Panamazônia criou a Medalha Grandes Amazônidas para enaltercer personalidades que desenvolvem a região na área econômica, social, cultural, na ciência e na tecnologia".
Eu gostaria muito de comentar alguns pontos mencionados pelo Jaime, mas percebi que o post ficaria muito longo. Vou fazer isso no próximo post, pois há coisas abordadas no texto que são músicas nos meus ouvidos. O Jaime Benchimol é um estudioso do modelo Zona Franca de Manaus, sendo autor de uma das primeiras teses de mestrado escrito sobre o assunto na Walter A. Haas School of Business da University of California, Berkeley.
Agradeço a Associação PanAmazônia pela homenagem que recebi hoje ao ser indicado para a IV Edição do Prêmio Grandes Amazônidas (18/03/2013)
Fico honrado pela lembrança do meu nome pela Associação PanAmazônia. Orgulha-me participar de um grupo tão seleto e com tantas contribuições nas áreas da cultura, da academia e do empresariado.
Como
sei que estou sendo lembrado como empresário, desejo compartilhar essa
distinção com todos os dirigentes, sócios e colaboradores da Bemol e da
Fogás
No
meu trajeto de Amazônida tenho me dedicado a compreender a região como
estudante, professor e especialmente como empresário. Nessa capacidade
nossas empresas tem buscado desenvolver estratégias específicas para
prosperar na região, respeitando a sua grandeza, criando oportunidades
para a sua gente, pagando impostos aos seus governos, atuando com
responsabilidade e respeito junto aos nossos Clientes e as comunidades
que servimos.
Ao
longo dos últimos 45 anos de prosperidade da ZFM reconheço que a região
avançou dramaticamente beneficiando a milhões de amazonenses e a
milhares de empresas, dentre as quais as nossas. Ao mesmo tempo
reconheço que nos tornamos vulneráveis por continuarmos alicerçados no
modelo do PIM, sujeito a instabilidades regulatórias, burocracia
excessiva e a choques externos advindos principalmente de mudanças e
avanços tecnológicos que nos colocam continuamente na incômoda posição
de dependente da união, de seus subsídios e isenções.
Penso que é hora de tomarmos o nosso destino em nossas próprias mãos...
Hoje
já temos orçamentos bilionários (o estado do Amazonas arrecada US$2.000
per capita, valor equivalente a arrecadação per capita do estado
Califórnia, um dos mais ricos dos EUA) e se gerirmos esses recursos com
eficiência podemos assumir o nosso destino, preservando a ZFM, mas ao
mesmo tempo criando alternativas econômicas convergentes com as nossas
vocações estratégicas.
Embora
já tenhamos feito algum progresso em áreas promissoras há ainda muito
mais a fazer nos setores econômicos que relaciono resumidamente a
seguir:
Na área de mineração além de óleo e gás temos grande potencial em potássio, calcário, ouro e muitos outros minérios.
Há desafios e grandes oportunidade na indústria naval, na piscicultura, em essências e fragrâncias,
na bio-genética para produção de fármacos e fitoterápicos. Nas culturas
como pimenta, cupuaçu, abacaxi, mamão que são apropriadas e adaptadas
ao nosso clima e ecossistema, produzimos as variedades mais saborosas
que conheço.
Precisamos
com urgência de portos modernos tanto para carga como para passageiros,
e tanto em Manaus quanto nos municípios do interior que nos permitam
desabrochar o pleno potencial de transporte da região. Atualmente, por
exemplo, apenas no município de Manaus é possível manusear containers
com alguma eficiência.
Ha
ainda oportunidade na indústria de Call centers e telesserviços que
empregam no Brasil mais de um milhão de pessoas em telemarketing,
pesquisas de mercado, serviços de cobrança, monitoramento remoto de
segurança etc para aos quais a distância amazônica pode ser superada a
baixo custo com as tecnologias atuais.
Gostaria
porém de enfatizar as oportunidades de agregação de valor na indústria
do turismo. Precisamos de mais do que o Teatro Amazonas, o Encontro das
Águas e o Boi-Bumbá. Já que - acertadamente - abrimos mão de usar boa
parte dos recursos da nossa natureza, devemos buscar exibi-los através
de museus que façam justiça a nossa riqueza nas áreas de ciências
naturais e de cultura indígena. Precisamos de jardim botânico, aquário,
orquidário, zoológico, parques ecológicos com teleféricos para
visualização da vegetação e dos animais nas copas das árvores etc.
Podemos ainda atrair eventos nacionais e internacionais de pesca, remo,
canoagem, motonáutica, esqui aquático, ciclismo, rallyes e corridas
off-road, triatlon, rapel, tirolesa, safaris fotográficos de animais, de
pássaros, de insetos, de flores e de plantas. As iniciativas nesse
sentido do INPA, MUSA e CIGS são esforços louváveis na direção certa,
mas são ainda tímidos, diante do profissionalismo com que essas
atividades são tratadas no mundo atual. Apenas como exemplo, visitei
recentemente em Cingapura (que tem a mesma latitude do Amazonas e
vegetação muito similar) o maior, mais sofisticado e espetacular Jardim
Botânico que eu conheço. Um investimento de US$800 milhões capaz de
atrair turistas e obrigá-los a estender em pelo menos um dia a visita
aquele país.
Essas
indústrias podem - em uma ou duas décadas - diversificar a nossa base
econômica e dar novo e sustentável ímpeto ao nosso crescimento, livre
das atuais dependências da união e em harmonia com as nossas mais
verdadeiras vocações.
Temos,
ao mesmo tempo, que nos reconciliar com as virtudes do capitalismo, da
empresa privada, da livre iniciativa e da liberdade de escolha. Essas
instituições formam o dínamo que impulsiona a inovação, a competição e o
crescimento econômico. Precisaremos de investidores privados para
empreender a maior parte das sugestões acima.
É
necessário aproveitar nossos melhores anos de arrecadação, de
entusiasmo empresarial e de interesse mundial para com o Brasil e com a
Amazônia para conquistarmos a autonomia sobre o nosso futuro.
Muito Obrigado.
Jaime Benchimol
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