Esse texto foi escrito há três anos (8 de maio de 2010) e lido por mais de 9.000 pessoas (até 2022), segundo estatísticas oferecidas pelo Blogger. É muito, considerando que eu esperava que fosse lido apenas por um público formado por amigos. Hoje, na data de seu terceiro aniversário, ele é republicado, pois o tema continua atualíssimo. No entanto, fiz pequenos acréscimos.
http://nogueiraclaudio.blogspot.ca/2013/04/o-destino-em-nossas-maos-por-jaime.html), que traz excelentes e factíveis propostas, havia afirmado que gostaria de fazer alguns comentários.Vou aproveitar a oportunidade e acrescentá-los aqui. Os tempos são outros, temos um novo prefeito, secretários ocupados com o centro histórico de Manaus; e o secretário que tem a chave do cofre veio da iniciativa privada; portanto, tem visão empresarial.
O Fim da Manaus Antiga, Início da Manaus Moderna - escrito originalmente
em 08.05.2010 - com acréscimos.
Os jornais noticiaram que a Prefeitura vai acabar com a Manaus Moderna. Que beleza ! Que maravilha! Aquilo ali pode se tornar em um dos mais bonitos cartões postais de Manaus, até mesmo da região norte. Dependendo do que for feito, o Amazonino pode entrar para história da cidade [infelizmente não entrou, vamos torcer pelo Arthur Neto],como entrou Eduardo Ribeiro.
Aquilo lá de moderno não tem nada. A Manaus Moderna, naquela área, poderá estar nascendo agora. Dependendo do que lá for feito. Aquilo é a Manaus atrasada; porque a Manaus antiga, com a arquitetura do mercado municipal, era muito bonita.
Manaus Atrasada |
Por que não privatizar o mercado Adolpho Lisboa ou cedê-lo em uma concessão por uns 30 anos ? Semana passada, visitei o Marché Bonsecours, em Montreal, que era o "Adolpho Lisboa" deles: sujo, cheio de
barracas de verdura dentro e fora. Hoje, é um shopping center. A questão aqui
não é a verdura; é a bagunça, é a sujeira da feira da banana. A feira do Byward
Market, bem no centro de Ottawa, onde moro no momento, vende frutas,
verduras, flores, comida, etc., e é uma gracinha.
Minato Mirai 21 e o Manaus Rio Negro Bayside
Em 2000, voltei ao Japão - onde morei por dois anos - depois de dez anos. Passei dois meses fazendo um curso sobre desenvolvimento e projetos industriais. Tínhamos aulas em Tóquio, mas nos deslocávamos com frequência para outras cidades, a fim de visitarmos empreendimentos públicos e privados. E um dos projetos que recebemos informações detalhadas foi a revitalização da área portuária de Yokohama.
Byward - Ottawa |
A área, segundo a administração do consórcio que a revitalizou, tinha a
forma da letra U. Em uma das pontas, o porto; na outra a estação ferroviária; que
no Japão são sempre bem movimentadas. E no meio: nada. Nada que prestasse.
Desvalorização imobiliária, prostituição, degradação material e humana,
marginalidade, cheiro de urina, drogas, e tudo mais que conhecemos muito bem.
O que foi que o governo fez ? Um novo bairro ? Sim, essa é a resposta
deles. A minha é que fizeram uma pequena cidade dentro de Yokohama; com
shopping centers, centro de convenções, museus, hotéis, supermercados, a torre
mais alta do Japão, Landmark Tower, o Cosmo Clock 21, um parque de diversões, e
uma infinidade de atividades de prestações de serviços.
Como fizeram isso? Criaram uma empresa, cujos sócios eram os governos
estadual e municipal e empresas privadas; algo parecido com a nossa PPP,
parceria pública privada. A empresa comprou a área, fez a infraestrutura e os
prédios que desejava fazer e revenderam o resto. Depois que a iniciativa
privada soube o que iria ser feito, não faltou comprador, assim ajudou a
financiar o investimento. O resultado foi espetacular.
O consórcio, como eles chamam a empresa, recebe visitas de empresas, governadores,
prefeitos, executivos, estudantes e curiosos do mundo inteiro para conhecer
como se deu o processo, e explicam tudo nos detalhes.
Com vasto material sobre o assunto, voltei para o Brasil empolgado com a
ideia. A área que tinha em mente era justamente a da Manaus Moderna. Sempre
achei que aquela bagunça e sujeira tinham de sair dali. Vivo incomodado de
vivermos de costas para o rio.
Mandei o material para o vice-governador Samuel Hanan, depois falei com
o prefeito Alfredo Nascimento, a quem entreguei o material pessoalmente.
Como se diz por aqui: it is easier said than
done. No vernáculo: falar é fácil. Não posso criticá-los; cada governo tem
suas prioridades e limitações orçamentárias. É um projeto arrojado, tem
de se ter uma disposição muito grande em fazê-lo. E sobretudo uma vontade política. Tem de se ter um pensamento e disposição de JK ou de Eduardo Ribeiro.
Minato Mirai 21 - Yokohama |
O material entregue trazia um texto explicativo, números e valores;
fazia referência a outras áreas, cidades e países, e quão bonito a frente de
Manaus poderia se tornar.
De que estamos falando? De derrubar o mercado/feira (da carne e da
banana) do local e fazer uma praça bonita? Que pobreza! Isso é pensar pequeno.
Falo de algo como bastante conhecido dos amazonenses: Bayside Market Place, em
Miami; ou do Vieux Carré, em Nova Orleans (antes do Katrina); Puerto Madero, em
Buenos Aires; Water Front de Atlantic City, em Nova Jersey e assim por diante.
No nosso caso seria um beira-rio caboco.
De onde viria o dinheiro? Do orçamento próprio da Prefeitura,
do governo do Estado, do Banco Mundial, da Corporação Andina de Fomento
(que já financiou viadutos), do Banco Interamericano de Desenvolvimento,
do Ministério das Cidades, do Ministério do Turismo, do BNDES, do
Jorge Paulo Lemann, que anda distribuindo dinheiro; do Ike Batista, que comprou
o Maracanã; das construtoras, dos parceiros privados, das revendas de
lotes comprados, etc.
É trabalhoso, mas é possível e viável. Brasília foi tudo isso e muito,
muito mais, em uma dimensão muito maior.
De que estamos falando ? Estamos falando de um mega projeto,
arrasa-quarteirões, no sentido figurado e físico. Para quem fez o Prosamim, faz
a ponte sobre o rio Negro (R$ 1,1 bilhão), vai fazer a nova Arena esportiva
(R$ 600 milhões), o monotrilho (?) (R$1,3 bilhão), o novo campus da UEA,
fazer a verdadeira Manaus Moderna não seria nenhum bicho de sete cabeças.
E o que fazer com o povo que trabalha na velha Manaus Moderna ? O povo
que trabalha lá vem de longe, muito longe. Portanto, se deslocar é com
eles. E o povo que compra também; não obstante, muitos terem feiras
nas proximidades onde vivem.
Quando era adolescente, fui muitas vezes com meu pai fazer compras na feira da CEASA, que também fica perto do rio Negro, onde os barcos vindos do interior podem descarregar seus produtos. A feira tem amplas instalações, mas está entregue às baratas. Que mudem esse povo para lá. Outra opção seria a estação de passageiros da balsa São Raimundo–Cacau Pireira, recém-inaugurada (hoje fechada). Qual será a utilidade dela após a inauguração da ponte?
Com certeza, gestores e legisladores públicos estão muito mais capacitados do que eu para encontrar uma solução. Afinal, a função deles é resolver problemas; a minha é dar palpites. E, se a medida de fechar a Manaus Moderna já foi anunciada, é porque o novo local já deve existir.
É tudo uma questão de vontade política, já dizia JK. Quem sabe na nova
“ação conjunta” entre Estado e Prefeitura isso seja possível, e construam a
verdadeira e nova Manaus Moderna. Para mim o importante é ser construído. Seja
pelo atual ( de 2010 - essa opção está descartada), ou um novo prefeito.
Seja como for, não posso deixar de elogiar a iniciativa da atual
administração de acabar com a feira/mercado na frente da cidade. Herança de uma
época que já acabou; mas ainda é comum em várias cidades do
interior, localizadas nas margens dos rios onde elas foram fundadas. Na ribeira encontra-se o mercado e mais adiante a igreja.
Vamos substituir a velha Manaus Moderna por algo que o turista lá de
dentro do transatlântico se admire e os manauaras sintam orgulho.
Zoo e Jardim Botânico
Dos bondes que cruzaram Manaus, eu só vi os trilhos, antes de serem
cobertos por asfalto nas ruas onde circulavam. Mas, ainda que vagamente, lembro-me do aquário público existente na praça da Matriz, e do zoológico do CIGS,
onde levei algumas vezes meus filhos. O aquário acabou, e o zoológico tá que
dá pena.
No texto mencionado acima, O Destino em Nossas Mãos, o economista
Jaime Benchimol escreveu: " Já que -
acertadamente - abrimos mão de usar boa parte dos recursos da nossa natureza
[isto é, não destruir a floresta] , devemos buscar exibi-los através de museus
que façam justiça a nossa riqueza nas áreas de ciências naturais e de cultura
indígena. Precisamos de jardim botânico, aquário, orquidário, zoológico,
parques ecológicos com teleféricos para visualização da vegetação e dos animais
nas copas das árvores etc."
Biodôme - Montreal |
É muito bom ter pessoas pensando assim. Meus prezados e minhas prezadas
e-leitores. Agora não sou eu quem está dizendo isso. Não é esse palpiteiro de
plantão, mas uma pessoa séria, respeitada. Então acredite nele. Porque ele
entende de economia e é empresário; sabe o que afirma é factível.
Visitei o Biodôme de Montreal, localizado na mesma área do parque olímpico, um dos sítios das Olimpíadas de 1976. Entre outras coisas, você encontra a floresta Amazônica: "A floresta tropical do Biodôme contém milhares de plantas e animais, incluindo a arara vermelha, um papagaio cujas penas são regularmente cortadas para evitar que sejam devoradas por jacarés, uma espécie de crocodilo que compartilha espaço ecossistema com as aves." E mesmo que a temperatura esteja abaixo de zero, ao entrar no local, você vai dizer: "Voltei para Manaus". A primeira coisa que se sente é aquele bafo quente e úmido que sentimos quando as portas do aeroporto Eduardo Gomes se abrem e saímos do ar-condicionado, quando se chega em Manaus. Umidade igual, água correndo, mata, bichos, piranhas, araras, etc. Não tem nada lá que não tenhamos de sobra aqui. E o pavilhão está sempre repleto de gente querendo ver como é a Rain Forest. E nós, aí em Manaus, que temos todo esse material, não temos uma estrutura para recepcionar o turista de forma que ele possa apreciar nossa natureza.
No zoológico da cidade de Buffalo, no estado de Nova York, a história se repete em menor escala. Eles também têm uma seção do zoológico que reproduz a nossa floresta, habitada por animais típicos, como jacarés, tartarugas, araras, tucanos, peixes-boi e até um tamanduá-bandeira.
Ao ver pessoalmente, nessas localidades, as nossas riquezas naturais, enche-me de orgulho e de tristeza ao mesmo tempo.
Não na mesma intensidade, mas a história se repete no Georgia Aquarium em Atlanta. Lá há uma ala sobre os nossos peixes, com destaque para a piranha "vermelha". As quatro fotos seguidas mais abaixo mostram um pouco sobre isso. Ao entrar nele o sentimento descrito se repetiu. Chego até sentir uma revolta. Não contra eles, mas conosco mesmo.
Zoo de Buffalo, NY |
E como financiar tudo isso ? Com recursos de todas as instituições mencionadas acima, com patrocínios e doações.
Doações aí é que reside o problema. Nós não sabemos pedir, pedimos mal e erradamente. Por essas bandas e nos Estados Unidos se pede e se recebe muito. Na América do Norte as universidade pública e privadas, pedem e pedem muito, e recebem muito.
Georgia Aquarium - Atlanta |
Georgia Aquarium - Atlanta |
Georgia Aquarium - Atlanta |
Georgia Aquarium - Atlanta |
Vamos começar pela que mais arrecadou em doações um único ano: Stanford University. Ela arrecadou um bilhão de dólares ano passado. Antes que
seja dito que esse exemplo não serve, me antecipo e digo: não serve. Mas é útil
para ilustrar a cultura de doação existente na Estados Unidos e Canadá. É muito
comum uma instituição rica, um Bradesco, uma Votorantim americana apoiar
financeiramente um museu, um zoológico, uma orquestra etc. Você entrar em
um museu americano, lá está à lista das instituições que patrocinam suas
atividades. Jorge Paulo Lemann, brasileiro, dono da cadeia de lanchonete Burger King, dono
da AB Inbev, a maior cervejaria do mundo; das Lojas Americanas e de mais meia
dúzia de empresas; fundador da Fundação Estudar, "uma organização sem fins
lucrativos criada em 2002, e [que] tem como objetivo melhorar a qualidade
da educação pública no Brasil", doou 16,5 milhões de dólares para a
Universidade de Illinois, para o Centro de Estudos Latinos e Caribenhos; e mais
alguns muitos milhões para a criação do "Lemann Institute for Brazilian
Studies" na Universidade de Columbia. Isso serve para exemplificar que é
pedindo que se recebe. Ou como diz o ditado chinês: quem não chora
não mama.
A revista Forbes, em dezembro do ano passado, para a edição comemorativa
de seu 30o aniversário reuniu 161 bilionários e milionários na
Biblioteca Pública de Nova York, no dia 26 de junho de 2012, para The Forbes
400 Summit on Philanthropy. Encontros de bilionários para falarem de suas
atividades assistenciais. Para tanto, muitos deles criaram empresas unicamente
com essa finalidade. Lá estavam Warren Buffet, Bill Gates, Oprah Winfrey e muitos outros.
Há relatos de vários tipos de atividades filantrópicas. Um jovem milionário,
John Kluge, 29 anos, criou uma empresa para construir um milhão de sanitários
em países pobres. A lista de doações e enorme, e nela constam vários museus,
zoos e outras coisas do gênero.
Aqui, no Exército da Salvação, uma instituição sem fins lucrativos, que vende
coisas usadas doadas pela população, tem cartazes com fotos de favelas
brasileiras, pedindo dinheiro para o Brasil. Já vi também onde se pedia
dinheiro para a conservação da floresta amazônica.
Como é mais fácil dizer do que realizar, diria que o começo é se
ter um projeto pronto. Não é difícil sonhar. Com uma ideia definida na
cabeça, determinando a área que se deseja trabalhar, e com um
profissional que saiba utilizar a ferramenta gráfica CAD (desenho
realizado com ajuda do computador), pode-se ter em 3D uma noção e visão
do resultado desejado. E depois é sair pelo mundo em buscar de
patrocinadores. Tenho um amigo em Manaus que criou há mais ou menos uma década
uma ONG que presta muitos serviços à comunidade em que está
instalada; e devido a uma constante pesquisa tem conseguido alguns
patrocínios no exterior.
Trabalhemos por um zoo decente ou um jardim botânico, por uma
Manaus realmente moderna.
Cláudio Nogueira
https://espacepourlavie.ca/en/tropical-rainforest-biodome
PS2. Zoo de Buffalo, NY: http//www.buffalozoo.org
PS3. Acrescento mais dois bons exemplos: A Estação das Docas, na Baía de Guajará, em Belém: https://viagemeturismo.abril.com.br/atracao/estacao-das-docas/
Um outro excelente exemplo que se enquadra dentro da nossa realidade e a
revitalização da zona portuária de Rio de Janeiro, chamado de Porto Maravilha,
com a criação do maior aquário marinho da América do Sul.
http://museudaamazonia.org.br/pt/
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