Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. (Salmo 102)
Há exatos 45 anos, em 7 de abril de
1972, era inaugurado oficialmente o Colégio Militar de Manaus. Está vivo para
relembrar esse dia, com o meu irmão Thomaz, que também estudou lá, e com vários
outros amigos de banco escolar, é uma benção. Por esse motivo não posso deixar
de agradecer a Deus Pai Todo Poderoso por essa generosidade; lembrando-me com
saudades dos amigos que já se foram.
Como já disse em textos
anteriores sobre esse assunto, o CMM foi criado em 2 de agosto de 1971; somente
no papel. Em seguida foi realizado o concurso de admissão para os filhos de civis.
Em fevereiro de 1972 aprendermos a marchar, ordem unida, etc. Em março
começaram as aulas; mas como é testemunhado pelos jornais da época e por esses
olhos que a terra a de comer, o Colégio Militar de Manaus foi inaugurado - com formatura na frente do seu prédio e desfile do Corpo de
Alunos em volta do mesmo - no dia 7 de abril de 1972.
Para maiores detalhes e outras estórias aconselho ao e-leitor ler esse texto: 7 de abril de 1972 ( clique nele para abri-lo). Já escrevi demais sobre isso. Nesse post vou colocar o bonito texto de Lúcio Bezerra de Menezes, escrito em 16 de abril de 2013.
Reminiscências
Por Lúcio M. S. B. Menezes
Parecia
que ia ser um ano como outro qualquer aquele de 1972, ano que o Colégio Militar
chegava a Manaus. A cidade era uma província, o censo demográfico do IBGE de
1970 (dois anos antes do inicio das atividades do CMM) registrava 314.197
habitantes, nós, descendentes de Ajuricaba, hibernávamos esparramados sobre
o status quo da hereditariedade
silvícola. Não estávamos preparados para as mudanças que adviriam nos anos subsequentes,
afinal, a população feminina era maior que a masculina (ainda bem) e nos éramos
“os caras”. Eu morava na rua José Clemente e o contingente de alunos internos
do CMM vindos das mais distintas plagas desse país continente, também.
7 de abril de 1972 |
Em
meados dos anos noventa eu estava em Lissenshousen, uma minúscula cidade nos
arredores de Munique. Chamou-me atenção à reação do jovem Simon, um alemãozinho
filho do meu estimado amigo Rolf Seiter, que após ouvir o meu relato do modo de
vida dos jovens manauaras e cotejá-lo ao dos jovens da Bavária, escapou-lhe a
seguinte exclamação: “Manaus is a paradise!” Se para o Simon a Manaus dos anos
noventa era um paraíso o que dizer da Manaus dos anos setenta?
A
chegada daquele bando de “pica-paus estrangeiros” aparentemente seria
insignificante e, em tese, não abalaria nossa Taba, abalou. Quatro fatores,
creio, responderam pelo abalo: muitos dos “pica-paus estrangeiros” eram vistos
pelas nativas como o Nacib era visto pela Gabriela: moços bonitos. A estatura
média deles era superior à nossa, os dialetos desses muitos Brasis aqui
aportaram trazendo um diferencial que a elas encantava e essas, como que sob-hipnose,
esqueciam o encanto milenar dos botos do lugar e se extasiavam com as estórias
de pica-paus.
Os
japoneses, em ataque surpresa, bombardearam Pearl Habour com aviões e navios
torpedeiros, os estrangeiros do CMM bombardearam nosso Porto de Lenha com seus
moços bonitos de olhos matizados, dialetos e estórias de pica-paus. Foi
avassalador. Os caras atacaram as tribos do Bancrévea, Cheik, Beasa, União
Esportiva, Círculo Militar e outras menos populosas a conquistar, em profusão,
os corações das cunhãs. Como pássaros, andavam em bando e era comum, quando do
retorno das invasões às tribos antes mencionadas e com os ponteiros do relógio
a passar da meia-noite, ouvir os pica-paus contando suas conquistas, os
corações arrebatados, os beijos arrancados, as carícias ousadas, os seios
bolinados... Ouvir aquilo desde a janela ou o batente da minha casa era um
golpe de morte, o cheiro de perfídia se espalhava pelos quatro cantos da
cidade, a famosa desculpa do “vamos dar um tempo” virou epidemia, o caos se
instalou. O quadro era desastroso, não era um caso de xenofobia, não, é que
mexia com os nossos brios, com a nossa masculinidade, não havia hipótese de
aceitação pacifica. Égua, que porra é essa! Nossa miscigenação não acolhe o
sangue dos conterrâneos de Charles de Gaulle, mas precisávamos mostrar
resistência, resistimos.
Vários
foram os palcos de batalhas, com destaque para a Praça do Congresso e as
esquinas das ruas José Clemente com Lobo d’Almada. Algumas vezes, por conta do
enorme número de “inimigos”, apelávamos para tribos vizinhas e, em nosso
socorro, vinham guerreiros da Luiz Antony, Dez de Julho, 24 de Maio e
adjacências reforçar a nossa Tribo. Não há registros oficiais, contudo
arriscaria dizer que os moços bonitos sofreram muito mais revezes que nos, autóctones.
Eu
mesmo, guerreiro colecionador de revezes em embates de lutas corporais,
protagonizei a “Batalha da Calçada da Santa Casa”, não houve baixas, lembro
que, de punhos cerrados, eu pulava que nem um macaco, no fundo no fundo
torcendo para que o oponente mantivesse distancia, felizmente assim foi.
Dos
moços bonitos lembro os nomes: Marco Antônio, Peres, Emmanuel, Marco
Canongia e Noronha, mas Leal foi o grande predador, abateu muitas cunhãs e
dilacerou corações, Leal é um cara do bem, ele e eu firmamos boa amizade, Leal
é meu face friend.
Com
o passar dos anos as batalhas foram cessando e a paz foi selada. Os “pica-paus
estrangeiros” deixaram de ser novidade, o encanto inicial foi decantando,
perdendo sua intensidade; os olhos castanhos e pretos voltaram a reinar, os
botos do lugar resgataram suas majestades, a beleza dos Barés retomou seu
trono. Os moços bonitos foram se acomodando, namorando de porta, alguns
casaram, outros por aqui ficaram e, como o Leal, muitos se tornaram meus
amigos, não que eu tenha sido cooptado com espelhos, mas porque os tempos eram
outros e eles, percebendo que jamais seriam um de nos, assumiram termos e
expressões do amazonês; trocaram feijoada, churrasco, buchada e outras
iguarias, pela caldeirada de peixe e a incomparável tartarugada, os “pica-paus
estrangeiros” mimetizaram.
Das primeiras safras do Colégio Militar de Manaus homenageio os amigos nativos: Manoel Ribeiro, Hamilton Henrique, Claudio Barros Gomes, João Litaiff e Guilherme Sandoval.
Que tempo bom!
Eu de novo:
Obviamente que muita coisa pode ser dita desses 45 anos. Muitas conquistas dos seus ex-alunos, desde dos mais velhos e até os que saíram em 2016. Mas isso é assunto para um livro, não cabe nesse espaço.
Obviamente que muita coisa pode ser dita desses 45 anos. Muitas conquistas dos seus ex-alunos, desde dos mais velhos e até os que saíram em 2016. Mas isso é assunto para um livro, não cabe nesse espaço.
Deus seja louvado por esses 45 anos.
Um pouco dessa história contada em fotos:
TC Jorge Teixeira apresentando o CMM ao Gen. Muniz de Aragão |
Gen. Muniz de Aragão, chefe do Dep. de Ensino e Pesquisa passando revista no CMM |
Estudando ao som dos bate-estacas Construção dos prédios da Dez de Julho e Epaminondas |
Lembranças dos bate-estacas
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Selva! Em 1972 estava no CMR, onde ingressei em 1971. Em 1976 chegava no CMM, após passar pelo CMR e CMBH.
ResponderExcluirExcelente.
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