Pesquisar este blog

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Trump e o Kim Jong-un

O mundo está conectado na TV para saber a que horas a guerra da Coreia do Norte contra os Estados Unidos vai começar. E como esse blogueiro de araque adora dar palpites, não vai perder essa oportunidade de comentar essa briga antes que ela comece de fato.

Quando acabou, em 1953, a guerra-não-acabada, que dividiu a Coreia em duas, uma comunista e outra capitalista, os Estados Unidos, com o pretexto de proteger a Coreia do Sul, chegaram a ter até 50 mil homens por aquelas bandas. 
Arrefecendo-se os ânimos com o fim da Guerra Fria, esse contingente diminuiu, mas continua lá. Mas o que o Uncle Sam queria mesmo era ficar o mais perto possível da União Soviética, o que lhe seria vantajoso no caso de uma guerra. 
Os soviéticos tentaram torna Cuba, devido à proximidade com os Estados Unidos, a Coreia do Sul deles. Mas todo mundo sabe o que aconteceu: Kennedy cercou a ilha, e os navios soviéticos voltaram para casa.
Como todo e qualquer ditador que explora o seu povo e vive na maior mordomia no poder, Kim II-Sung, avô de  Kim Jong-un, com medo de ser deposto e invadido pelo sul, e com a ajuda dos chineses começou a se armar. A Rússia tem culpa no cartório também. E muito.
China e Rússia não queriam de forma nenhuma que tropas americanas chegassem tão perto de suas fronteiras. E ainda não mudaram de ideia. A Coreia do Norte era barreira gigante e perfeita para impedir isso.
E ajudou o fato que os norte coreanos não esquecem que na guerra das Coreias: "Em apenas três anos de luta, os EUA realizaram bombardeios contínuos contra a Coreia do Norte, matando um quinto de sua população. O comandante das Forças Aliadas, o general americano Douglas MacArthur, sugeriu o uso de '30 a 50 bombas atômicas', o que, na época, foi muito drástico para o então presidente dos EUA, Harry S. Truman." 
Isso não dá para esquecer não. E mesmo com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos nunca deixaram de fazer maneuver em conjunto com as tropas da Coreia do Sul.
Conhecem o ditado que ensina que não se deve ameaçar demais um covarde, de forma que o medo seja tanto, que ele vire corajoso?
Assim com ajuda financeira e tecnológica dos chineses e, segundo as boas línguas, como o maior fabricante de dólares falsos do mundo, distribuídos via cassinos de Macau, os nortes coreanos foram se armando. E com medo da reação chinesa, os americanos nada fizeram. Só ameaçavam com boicotes econômicos.
Tiveram tempos mais amenos. Nos anos 90 estima-se que cerca de 300 mil norte coreanos morreram vítimas de uma fome devastadora. Houve até ajuda humanitária coordenada  pela ONU. Ao invés de produzirem pão, estavam usando o dinheiro para produzir canhão. E isso se repete hoje. A ONG internacional “Ação contra a Fome” ajuda a Coreia do Norte com mais de dois bilhões de euros. É tudo que o Kim Jong-un quer. Sobrar mais dinheiro para construir bombas.
A guerra fria acabou. Os chineses viraram capitalistas, com uma ditadura de partido único; se tornaram o maior comprador de títulos do tesouro americano. Hoje a dívida americana com a China passa de 1 trilhão de dólares. Já foi maior: em 2013 era US$ 1,3 trilhão. Se fosse considerado Hong Kong esse valor subiria para US$ 1,44 trilhão. Quem é doido de querer briga com alguém que lhe deve tanto?
Todos se tornaram amigos. Os Estados Unidos
diminuíram o contingente na Coreia do Sul (mas não a um nível desejado pela população). Não havia mais necessidade de invadir a Rússia. 
A Coreia do Norte ficou meio desorientada. Chineses, americanos e russos se tornarem amigos não estavam nos seus planos. O fim da guerra fria causou medo a ela. Os chineses não a defenderiam em caso de um ataque vindo do sul. O que ela fez: decidiu se armar mais ainda. Para atacar o sul e os Estados Unidos? Nada disso. Para intimidar possíveis agressores. 
Aí o Porquinho, que tem diarreia toda vez que pensar que pode perder o poder e até mesmo a vida, resolveu se armar até os dentes. 
Amigos meus disseram que os Estados Unidos ainda não invadiram a Coreia do Norte com medo da reação da China. O que poderia iniciar uma guerra nuclear.
Uma guerra nuclear entre a China e os Estados Unidos não sobraria absolutamente ninguém. Então vocês acham mesmo que a China defenderia a Coreia (o que ela ganharia com isso?), e perder a prosperidade econômica que está desfrutando nos últimos vinte anos?

Há alguns dias a Coreia do Norte explodiu uma bomba de hidrogênio. O Trump falou, falou, falou, escreveu, escreveu, escreveu no twitter dele, e não fez nada. 
Chamou o Obama de frouxo. Mas Kim Jong-un lança um míssil atrás do outro e o Trump não faz nada. Só tuíta e ameaça. Depois morde e assopra. Está perdido. 
O homem mais poderoso do mundo descobriu que tem maluco que brinca de ser mais poderoso do que ele. Trump está de mãos amarradas. Por quê? Explico já. Não age, só reage.
E por que isso? Porque ainda lhe resta um pouco de juízo. Kim Jong-un continua lançando bombas-foguetes não porque deseje a guerra - pois ele sabe que se houver uma ele será o principal alvo - mas justamente para persuadir os Estados Unidos a não atacá-lo. Mas será que isso vai dar certo? Até quando essa corda vai ser esticada? Esse menino não tem mãe para dar umas palmadas nele ?
Na época da guerra fria dizia-se que os Estados Unidos poderiam acabar quatro ou cinco vezes com a União Soviética, e que essa poderia acabar uma vez com os Estados Unidos. Aqui é a mesma coisa.
Os Estados Unidos estão numa sinuca de bico. Trump disse que responderia com "fogo e fúria." Até parece nome de filme. Mas primeiro precisa ser atacado. Nunca foram tão humilhados. 
Kim Jong-un explodiu uma bomba de hidrogênio e os Estados Unidos tiveram que pedir ajudar da ONU. Mas Mr. Trump, o senhor não é um tough guy, um cabra macho ? O frouxo não era o Obama?
O little bad boy coreano é maluco, mas não é burro, nem suicida. Não vai atirar a primeira pedra. Entrementes, vai curtindo o seu passatempo predileto: ameaçar os Estados Unidos e produzir bombas voadoras. Observem que todas as vezes que aparece perto de uma bomba, ele está rindo.
As bombas voadoras de Kim Jong-un não atingem os Estados Unidos. Eles estão muitos longe territorialmente. Levariam certo tempo para chegar ao território americano. Elas seriam interceptadas por navios americanos e/ou pelas bases militares americanas na Europa. Ou por outra coisa que não conhecemos e que nunca fui usada. Mas elas seriam interceptadas se fossem lançadas sobre o Japão? E sobre Seul?
Recebi um vídeo, e coloco-o aqui, de exercícios militares americanos perto da fronteira das Coreias. Um amigo foi à loucura. Disse que em trinta segundos os Estados Unidos acabariam com a Coreia do Norte. Como dizem os americanos: Just like that? It is easier said than done. No vernáculo: falar é fácil. Se isso fosse possível já teriam feito. Só se ele jogar uma bomba atômica matando milhares de civis, como fez em Hiroshima e Nagasaki.
Vejam o vídeo. Artilharia assim os norte coreanos também têm. Eles têm bomba atômica, por que não teriam tanques assim? Esse é o problema. É a resposta porque os americanos estão de mãos amarradas. Seul, a capital do sul fica apenas 60 km da fronteira. Mísseis lançados do norte chegariam em segundos, matando imediatamente milhões de pessoas. Os Estados Unidos reageriam, mas aí a Inês, suas amigas e várias outras mulheres, homens e crianças já estariam mortos. Ele venceria essa guerra, mas muita gente no sul morreria. Então, ele não pode esperar se atacado. Teria de atacar primeiro.
A situação está complicada. Kim Jong-un com medo de ser atacado vai continuar mostrando o seu poderio militar, e os Estados Unidos cada vez ficam mais desmoralizados. Só na retórica. 
Situação jamais vista no mundo: o rato encurralando o leão. Não.  Peraí. Isso lembra a guerilha na guerra do Vietnam. Onde isso vai acabar? 

Relatório da CIA disponível na internet, sobre a Coreia do Norte, diz que: “O estoque de capital industrial [leia-se máquinas industriais] é quase irreparável como resultado de anos de subinvestimento, falta de peças sobressalentes e falta de manutenção. O gasto militar em larga escala e o desenvolvimento de seu programa de mísseis balísticos e nuclear derrubaram os recursos necessários para o investimento e o consumo civil. As fábricas industriais estagnaram anos níveis de produção pré-1990. Os problemas frequentes nas colheitas relacionados com o clima agravaram a escassez crônica de alimentos causada por problemas sistêmicos em curso, incluindo a falta de terras aráveis, práticas agrícolas coletivas, má qualidade do solo, fertilização insuficiente e falhas persistentes de tratores e combustível.” É grana que Kim Jong-un quer.
Para mim uma solução sem a guerra, passa por uma pressão séria dos chineses (que compram mais de 76% das exportações norte coreanas. O resto é quase todo vendido para o Irã) sobre o monstrinho que eles criaram, ou por alguns bilhões de dólares dados a Kim Jong-un pelos americanos, com a garantia de que poderá ser ditador pela resto da vida. Aí ele vai pensar em discutir a redução do seu arsenal nuclear.
Em caso de guerra, e como uma possível vitória americana, unido as Coreias, quem não vai querer esse arsenal atômico por perto são os chineses e russos. E a presença militar americana na península não terá mais sentido. 
Seja como for Trump nunca mais vai chamar Obama de frouxo.
Rezemos todos pela paz.

Um bom feriado a todos.

Cláudio Nogueira




PS1. Em 2018, Trump e Kim Jong-un encontraram, apertaram as mãos, e por hora então em paz. Minha teoria estava certa. O mal menino da Coreia do Sul pegou um puxão de orelha da China, sem a qual ele não é absolutamente nada. Primeiro deve ter ouvido os gritos pelo telefone; depois pegou um trem e foi a Pequim pedir desculpas e pegar o puxão de orelha pessoalmente.
Trump a muito vinha pressionando os chineses a darem uma prensa no líder coreano. Funcionou. Os chineses são muito pragmáticos. Eles tinham tudo a perde com uma guerra na península coreana.

PS2. "A misteriosa chegada de trem norte-coreano a Pequim e os rumores sobre a primeira viagem de Kim Jong-un ao exterior."
 https://www.bbc.com/portuguese/internacional-43553355


Nenhum comentário:

Postar um comentário