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domingo, 29 de março de 2020

Morrer ou ficar Desempregado? Eis a questão.


 Nas redes sociais vejo uma batalha dos que defendem a quarentena total - na qual só se deve sair de casa em caso de extrema necessidade (para comprar alimentos, por exemplo) - e os que defendem que a vida continue normalmente ou que apenas alguns membros da família fiquem em casa e outros saiam para trabalhar. É a chamada quarentena vertical.
Poderíamos sumarizar dizendo que tem um povo que entende a gravidade do problema e sabe que parar vai trazer problemas econômicos, mas a vida é mais importante; e há quem não perceba que essa parada é necessária, justamente para que as perdas de vidas e econômicas sejam minimizadas. Têm a visão curta: preferem perder a vida a ter uma perna amputada. Uma perna que pode vir a ser saudável novamente.
Precisa ser ainda comprovado quem está com razão. Errado. A eficácia, em cada caso, já está comprovada.
O COVID-19, em tese, começou em Wuhan, cidade com 11 milhões de habitantes, na China. Os primeiros casos começaram em dezembro do ano passado e foram registrados em janeiro último. O governo da China mandou todo mundo ficar em casa. Isso durou dois meses. O resultado disso foi que a China, com mais de 1,4 bilhão de habitantes, já voltou a normalidade. A Itália decidiu o oposto: permitiu que o povo circulasse livremente.
Com apenas 60 milhões de habitantes, a Bota, está sofrendo por ter tomado essa decisão. E não há previsão de recuperação ou diminuição dessa tragédia tão cedo.
O que aconteceu na Itália? As causas são várias. Uma delas foi devido ao fato do governo da cidade de Milão, no norte do país, ter convocado o povo a circular normalmente. Como Bolsonaro queria fazer aqui e, felizmente, a Justiça vetou. Lá fizeram campanha contra a quarentena: “Milão não para.” Há dois dias o prefeito de Milão publicou um vídeo pedindo desculpas e admitindo que “...dizer para não fechar a cidade foi um erro.”

Vamos ver alguns dados sobre os dois países com relação ao COVID-19.

Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/
A China, até ontem, teve uma morte para cada grupo de 436.159 pessoas. Um em cada 17.673 chineses contraiu a doença. Na Itália para cada grupo de 6.032 pessoas, uma morreu. Um entre 653 italianos está infectados. Só para se ter uma ideia o que isso representa; se a Itália tivesse a população da China, considerando sua taxa de mortalidade (que, infelizmente, quando eu terminar de escrever esse texto vai estar maior) hoje já teriam morrido 238.602 italianos, contra 3.300 chineses.
Alegação do povo que defende o não confinamento é que haverá desemprego e falência se a quarentena for praticada. Isso é verdade. Se ficarmos em casa haverá recessão. E se sairmos haverá depressão. A primeira é quando o seu vizinho está desempregado, a segunda é quando o seu vizinho e você estão desempregados.  
Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/
Quem defende a quarentena não promete que não haverá desemprego e morte. Com a quarentena estes serão em escala bem menor. Se esse vírus infectar a população com a velocidade exponencial que está contaminando, teremos milhões de mortes. Milhões? Sim milhões. A gripe espanhola (1918-1920) matou, segundo estimativas, porque os países sonegaram informações, entre 20 a 50 milhões de mortes.
O aumento de casos de pessoas infectadas pelo corona vírus poderá fazer estragos na economia por muito tempo e criar um verdadeiro caos nos sistemas de saúde de muitos países. A crise mal começou e o sistema de saúde de Paris (vejam bem não é uma cidadezinha qualquer) anunciou que está à beira de um colapso. Quem tiver outra doença precisando de UTI ou algum tratamento hospitalar, esquece, vai morrer.
Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/
Sobre isso o Imperial College de Londres, uma das mais respeitadas universidades do mundo publicou a sua modelagem estatística para os cenários do COVID-19 em vários países, inclusive no  Brasil. Dá medo. São vários cenários possíveis. Eles começam o trabalho assim:
No começo da pandemia o governo do Reino Unido havia decidido apostar em uma estratégia de “imunidade de massa”, que consistia em não tomar medidas restritivas; em vez de parar o país, deixariam que o vírus infectasse a população de modo que rapidamente as pessoas pudessem ficar imunizadas.
Porém, o governo do Reino Unido desistiu dessa ideia quando uma equipe de especialistas epidemiológicos do Imperial College de London apresentou uma previsão de como se desenrolaria a disseminação do COVID-19 em diferentes cenários de contenção para o Reino Unido e para os Estados Unidos. Para elaborar essa previsão, utilizaram dados de contágio, estatísticas de hospitalização e óbitos vistos em outros países, estudaram como o vírus se dissemina em diferentes ambientes etc..
Como um breve resumo: se circular livremente, o vírus tem a capacidade de infectar cerca de 80% da população geral em um período muito curto. Das pessoas infectadas, cerca de 20% precisam de hospitalização, 5% dos casos são críticos e precisam de UTI e suporte respiratório, e cerca de metade dos casos críticos vêm a óbito.”
Vamos ao caso do Brasil, segundo a previsão deles. Há cenários intermediários. Aqui estão somente o pior e o menos grave: 

Cenário 1- Sem medidas de mitigação:
- População total: 212.559.409
- População infectada: 187.799.806
- Mortes: 1.152.283
- Indivíduos necessitando hospitalização: 6.206.514
- Indivíduos necessitando UTI: 1.527.536

Cenário 5 – Com supressão precoce: 
- População infectada: 11.457.197
- Mortes: 44.212
- Indivíduos necessitando hospitalização: 250.182
- Indivíduos necessitando UTI: 57.423
- Demanda por hospitalização no pico da pandemia: 72.398
- Demanda por leitos de UTI no pico da pandemia: 15.432

Queira Deus que essas previsões não se realizem.

Vejo nas redes sociais três tipos de defensores da não-quarentena. Não há uma distinção clara entre eles. Estão juntos e misturados: os desinformados (não leem nada; puro achismo), os empresários e os apoiadores do Bolsonaro. Entre esses últimos há desertores que discordam do capitão e já expressam as suas próprias opiniões. Esses pensam. São dotados de senso crítico. Alguns acreditam que está na hora do Mourão assumir. Mas a maioria acredita que o presidente é a perfeição que se fez carne e veio governar entre nós. Um verdadeiro messias. O que eles pensam e acreditam? Não pensam; acreditam (e defendem) em tudo que o capetão acreditar. Quando o presidente muda de opinião, eles mudam junto. Faz sentido. Primeiro, porque não pensam, só repetem o que o Bolsonaro diz; e ,segundo, sendo este perfeito, todas as suas atitudes são perfeitas.
Esse grupo também acredita na Teoria de Conspiração. Todo mundo conspira contra o presidente: os governadores, a Justiça, o Congresso, o STF, a "Globolixo", a mídia comunista, nacional, internacional e esse escriba esquerdopata/comunista (confesso que já fui chamado de coisa melhor). “Esse vírus é uma invenção da China, para derrubar o governo Bolsonaro.” Só quem não conspira é o Sílvio Santos, o Edir Macedo, o Datena e o Ratinho, que receberam dinheiro para fazerem entrevistas chapa branca. E "tenham cuidado com a comunista CNN. Assistam a FoxNews."
Por conta de sua postura nosso presidente volta a ser destaque na imprensa internacional. E como sempre, de forma negativa. A revista “The Atlantic”publicou: “O movimento de negação de coronavírus agora tem um líder.”
“O presidente brasileiro Jair Bolsonaro atacou as autoridades locais que implementaram severos bloqueios, acusando-os de destruir o país.”
Acompanhando a atitude negacionista do presidente, há os que chamam essa crise de histerismo e utilizam-se de argumentos tão ridículos que não se deve se dar o trabalho de contestá-los. Alegam que morrem x pessoas de câncer e y pessoas por acidente de trânsito todos os anos; e não tem essa histeria. Dá para perder tempo com um cara desses? Alguém está vendo a morte de pessoas com câncer, por exemplo, crescendo de forma exponencial? Um dia morrem mais 1000, no outro 2000, no outro 3000. São 33.178 mortes em menos de três meses.
Há os dizem que quem não concorda com o presidente é inimigo da Pátria. Outros, com a cabeça mais oca ainda, partem para o palavrão porque não sabem como contra argumentar. Contra fatos não há argumentos.
Esse texto está maior do que deveria; e manhã já estará desatualizado. Poderia continuar mostrando que governantes de vários países já se arrependeram de não terem acreditado que era necessário fechar mais cedo. Começam aparecer as primeiras mortes entre adolescentes e jovens adultos. A Índia, com uma população de 1,3 bilhão de pessoas, decretou o fechamento por 21 dias. Mas o Bolsonaro resiste a essa ideia. Isso deve mudar. Assim que Trump mandar, ele vai fechar tudo também.

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