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terça-feira, 3 de agosto de 2021

De que a Minha Mãe Morreu ?

Nos últimos dias tenho respondido essa pergunta com muita frequência. “O que foi que aconteceu ? Ela estava bem.” Dizem alguns.

O que estava muito bem era a cabeça dela. A mamãe morreu dia 24 de julho e dia 28 faria 90 anos e 7 meses. Ela morreu repetindo: “Quando eu ficar velha…” Ficar velha para ela, era ter cabeça de anciã e corpo bastante limitado. Ela ainda dava ordens, administrava sua casa e tinha interação pessoal ou pelo whatsapp (ferramenta que dominava muito bem) com todos os membros de sua imensa família e com muitos amigos.
Passou sempre com excelentes notas nos exames de sangue, colasterol, triglicerídeos e etc. Deixando os médicos surpresos. E o Pulmão e o coração ? Esses sempre excelentes.
Mas há uns três anos ela me contou: “O médico me disse que eu tenho um coração excelente, mas a idade pesa e ele vai ficando fraco. As emoções vão acumulando e ele vai enfraquecendo.”
No dia da partida dela, a nossa vizinha, Severina, mais conhecida como Nega Pesado, que tem 91 anos, me disse: “ A Glória deveria fazer como eu: tomar um copo de vinho todos os dias.” Há aqui um pequeno detalhe. A Dona Nega tem um único filho. A Dona Glória tinha uma família (filhos, netos, bisnetos, genros e noras, dela e dos filhos) que passa de 100 pessoas. Ela era preocupada com os problemas de cada um. Nesse caso, um copo de vinho não era suficiente; seria necessário, no mínimo, uma garrafa inteira.
Dia 26 de julho, dois dias depois de sua partida, Dia dos Avós, Dia da Festa de São Joaquim e Santa Ana, ela comemoraria 70 anos do seu casamento. Casou, como me disse uns dias antes, no dia da festa dos santos da devoção dos noivos. E nós, seus 18 filhos, que moramos em Portugal (2), Estados Unidos, Curitiba (2), Sorocaba (SP) e Manaus estaríamos todos presentes. Mas Deus tinha outros planos: “Vocês estarão presentes na despedida dela. Todos os 18 e mais os netos e bisnetos, genros e noras; todos ao redor dela."
Amanheceu o dia 24 gravando vídeos para os filhos. Quando sentiu que a sua hora tinha chegado, falou para os que estavam por perto: " Chamem meus filhos que eu estou partindo. E estou em paz." E assim, depois disso, umas três horas depois, esperando que
até o último chegasse, partiu como quem apenas dorme.
Alguém pode dizer: “Poxa ! Não dava para esperar só mais uns dias ?” Não. Era assim que Deus queria que fosse.
A mamãe não morreu porque a sua válvula mitral já não funcionava normalmente e, por isso, sabíamos que a sua partida iria acontecer a qualquer momento; apesar da mente ainda funcionar maravilhosamente bem. A mamãe não morreu na véspera, nem um segundo antes e nem um segundo depois do que Deus decidiu.
A resposta a pergunta que muitos fazem é simples: A mamãe morreu de amor. Morreu por amar muito; os seus e desconhecidos, a quem ajudou muito com atos concretos de caridade. Os pedidos de orações chegavam toda hora e eram muitos. Ficávamos pensando como tirá-la do whatsapp. “ Meu filho” – ligou-me chorando – “morreram o Gama e a Amazonilda, estou pensando na dor das filhas deles.” “ A Auxilium perdeu o neto. Estou rezando pela dor deles.” E assim era.
Se amava muito, partiu convencida – e repetia sempre – que era muito amada. O amor que recebia dos parentes e amigos contribuiu para ela que vivesse muito. Era uma motivação para continuar vivendo. E esse amor recebido fortalecia o coração dela.
Uma vez o padre Noé, redentorista da Aparecida, me contou a seguinte estória: “ Um casal de velhinhos morreu e foi para o Paraíso. Chegando lá, vendo aquela maravilha toda, o velhinho falou meio irritado: ´Se não fosse a sua mania de comida natureba, nós já estaríamos aqui há dez anos.” Nós queríamos que a mamãe chegasse aos 100 anos, mas ela foi com dez anos de antecedência. Ela merecia isso.
Dia 26, ela, junto com o noivo, depois de 35 anos juntos e 35 anos separados, comemoraram os 70 anos de união. E nós, seus 18 filhos, também não poderíamos deixar passar essa data sem nenhuma comemoração: almoçamos juntos na casa dela, pela primeira vez sem a presenç
a física dela, mas felizes, rindo, chorando e como sempre, todos falando ao mesmo tempo. Depois, fomos para a frente da casa para a foto oficial. A vizinhança, especialmente a Dona Nega, que tudo
observava e não entendia nada, se perguntava: “ O que é essa alegria toda ? A mamãe deles não morreu há três dias?
Isso é fé. Fé em Deus. Fé que aprendemos com eles. E a alegria do agradecimento. É uma dívida impagável para com Deus. Pela sua bondade e generosidade para conosco, que não somos merecedores de ter tido os pais que tivemos.
Muito obrigado Deus Todo Poderoso.

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