“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida por suas ovelhas. Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas conhecem a mim, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida por minhas ovelhas.” João 10, 13-15
Habemus
Papam !
Depois de dezessete dias de sede vacante, os cardeais escolheram um substituto à altura do insubstituível Papa Francisco: o cardeal peruano-americano Robert Francis Prevost, que já carrega Francisco em seu segundo nome.
É
muito significativo que seu ministério tenha começado em um Ano Jubilar, e que
seu primeiro domingo tenha sido o do Bom Pastor: Habemus Pastorem!
Hallelu Yah! Laudate
Dominum!
Se
eu, simples mortal, percebi essa coincidência, muito mais o próprio Papa. Na
sua mensagem do domingo do Bom Pastor, 11 de maio, ele disse aos fiéis na Praça de São
Pedro, no Vaticano: “Considero um dom de Deus que o primeiro Domingo do meu
serviço como Bispo de Roma seja o Domingo do Bom Pastor.”
Se
ele tivesse adotado o nome Francisco II, não seria o primeiro Papa a usar o
próprio nome, além de deixar claro uma continuidade. No entanto, ele foi mais além.
Ao escolher o nome Leão, fez questão de apresentar seu cartão de visita. Ele
mesmo explicou aos cardeais, dois dias após sua eleição, os motivos por trás
dessa escolha.
“Pensei
em adotar o nome Leão XIV. Há várias razões, mas a principal é que o Papa Leão
XIII, com a histórica Encíclica Rerum Novarum enfrentou a questão social no
contexto da primeira revolução industrial; e hoje a Igreja oferece a todos a
riqueza de sua doutrina social para responder a outra revolução social e ao
desenvolvimento da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a
defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho.”
Como um Bom Pastor ele está atento ao ganha-pão de suas ovelhas.
A
Encíclica que determinou o nome do novo Papa.
Rerum Novarum: De condicione operariorum”. Em português seria “Das coisas novas: Sobre a condição dos operários” escrita pelo Papa Leão XIII, publicada em 15 de maio de 1891. É considerada o documento fundador da Doutrina Social da Igreja Católica. Ela aborda as questões sociais e econômicas da época, especialmente em relação à classe operária, e responde aos desafios da Revolução Industrial, destacando as condições de vida dos trabalhadores, a desigualdade econômica crescente e a exploração nas fábricas.
O
Papa Leão XIII defende a dignidade do trabalho, o direito dos trabalhadores a uma
remuneração justa, a criação de sindicatos e a responsabilidade social
tanto do Estado quanto dos empregadores. Além disso, a Encíclica reforça a
importância da justiça social e da intervenção da Igreja nas questões
sociais, propondo uma solução baseada na solidariedade, na justiça e
na aplicação dos princípios cristãos nas relações de trabalho.
Ela foi a primeira resposta sistemática da Igreja às mudanças trazidas pela Revolução Industrial. Também inspirou diversas outras encíclicas e documentos sociais, como: Quadragesimo Anno (1931), do Papa Pio XI; Mater et Magistra (1961), de João XXIII; Populorum Progressio (1967), do Papa Paulo VI; Laudato Si (2015) e Fratelli Tutti (2020) do Papa Francisco.
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O Estadão não publicou isso. Foto manipulada publicada nas redes sociais. |
Por
causa da Rerum Novarum, o Papa Leão XIV escolheu esse nome. Esse Papa também é comunista ?
Os neo-fariseus, que criticaram as encíclicas do Papa Francisco, estão comemorando
as redes sociais a sua partida e festejando a chegada de Leão XIV. Estou
achando que eles desconhecem a Rerum Novarum – talvez por isso estejam felizes
com a morte do Papa Francisco e celebrando a eleição de Leão XIV.
Se o novo Papa admira a encíclica
de Leão XIII a ponto de escolher seu nome em homenagem a ela, e se o Papa
Francisco escreveu documentos com temas semelhantes aos da Rerum Novarum,
é bastante plausível que ambos compartilhem uma visão social similar.
Na
matemática, se A é igual a B, e B é igual a C, então A é igual a C. Logo, é
possível que Leão XIV também seja considerado “comunista”.
O
que as encíclicas Fratelli Tutti (Todos Irmãos), que tanta crítica
recebeu dos legalistas de púlpito, e a Rerum Novaro tem em comum ?
Rerum
Novarum (1891) e Fratelli
Tutti (2020) compartilham fundamentos essenciais da Doutrina Social da
Igreja, especialmente a defesa da dignidade da pessoa humana e a
centralidade do bem comum. Ambas denunciam sistemas econômicos que ferem a
justiça social. Rerum Novarum critica tanto o liberalismo desregrado
quanto o socialismo antipropriedade, enquanto Fratelli Tutti aponta os
males do individualismo, do consumismo e do neoliberalismo. As duas encíclicas
reconhecem o direito à propriedade privada, mas reafirmam que esse direito deve
estar subordinado à função social dos bens, com vistas à solidariedade e à
justiça.
Além
disso, as encíclicas convergem na ideia de que o Estado e a sociedade devem
proteger os mais vulneráveis e promover condições de vida digna para todos.
Os cristãos de conveniência criticam qualquer menção ao “Estado” cuidando dos
pobres, por associarem isso ao “socialismo”. Alegam que a Fratelli Tutti
e outras encíclicas do Papa Francisco têm tom “marxista”, mesmo que estejam em
continuidade com Leão XIII, João Paulo II (Centesimus Annus) ou
Bento XVI (Caritas in Veritate).
Rerum
Novarum foca
na relação entre capital e trabalho, defendendo os direitos dos operários
(“coisa de comunista”), enquanto Fratelli Tutti amplia essa visão
para o cenário global, propondo a fraternidade universal como antídoto contra a
exclusão, a xenofobia e a indiferença. Apesar das diferenças de linguagem e
contexto, ambas expressam a mesma convicção cristã: uma sociedade justa só é possível
quando fundamentada na caridade, na solidariedade e na responsabilidade mútua.
Já
a Encíclica Laudato Si' (“Louvado Sejas”) foi inspirada no
Cântico das Criaturas, de São Francisco, que neste ano comemora 800 anos: “Laudato
si', mi' Signore, per sora nostra madre Terra...” (“Louvado sejas, meu
Senhor, por nossa irmã, a mãe Terra...”).
Ela
marcou um ponto decisivo na Doutrina Social da Igreja, ao tratar do cuidado com
a criação, da justiça social e da crise ecológica global. Para os cristãos de
fachada da direita e extrema-direita católica, o Papa teria extrapolado sua
autoridade espiritual ao se envolver com temas como políticas ambientais,
estruturas econômicas globais e ciência climática. A Encíclica, ao abordar a
crise ecológica em conexão com o sistema econômico mundial, foi vista por
muitos como uma crítica ao capitalismo liberal: “coisa de comunista !”.
Outro
ponto de atrito foi a aceitação do consenso científico sobre as mudanças
climáticas, que o Papa Francisco assume claramente como responsabilidade
humana. Para os inquisidores modernos, céticos em relação à ciência do clima,
essa postura colocou a Igreja em linha com o que eles chamam de “agenda
ambientalista globalista”. Esse posicionamento incomodou ainda mais pelo fato
de o Papa dialogar positivamente com organismos internacionais como a ONU,
tidos por esses grupos como promotores de pautas anticristãs.
Contudo,
muitos dos seguidores desses críticos são “emprenhados pelo ouvido”. Repetem
como papagaios o que escutam, sem qualquer senso crítico. Se você conhece
alguém assim, peça que defina o que é comunismo - você verá que a pessoa ficará
completamente perdida.
Opção preferencial
pelos pobres.
Diga essa frase para um neo-fariseu e observe o colapso: suor frio e olhos arregalados. Para ele, isso soa como “comunismo puro” - mesmo que seja um princípio central da Doutrina Social da Igreja e do próprio Evangelho.
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Papa Francisco e o padre Gustavo Gutiérrez |
Em
2017, vazaram vídeos de reuniões internas em que líderes do grupo expressavam críticas
severas ao Papa Francisco, e em alguns casos, rezavam pela sua “conversão”. Eles
são herdeiros diretos da TFP (Tradição, Família e Propriedade), organização
católica fundada por Plinio Corrêa de Oliveira, conhecido por seu reacionarismo
e apoio à ditadura militar no Brasil. A TFP se destacou por seu
ultraconservadorismo religioso e político, sendo um dos grupos católicos mais
reacionários do Brasil no século passado.
Ela
me respondeu: “Sim, gostei. Estava com medo de que ele se chamasse Francisco
II, e também fiquei um pouco apreensiva porque ele vem do Peru, berço da
Teologia da Libertação, mas acho que ele não segue essa teologia.”
Medo
de que ele se chamasse Francisco II? A resposta está na forma que ela idealizou
a Igreja Católica.
Minha
amiga, vamos devagar com o andor porque o santo é de barro! Quem vê cara não vê
coração. De onde você tirou essa certeza ? E se ele foi inoculado com a
Teologia da Libertação, mas ainda não desenvolveu sintomas visíveis? Pode ser
um caso típico de seguidor assintomático. E se os sintomas aparecerem no devido
tempo ?
A
Teologia da Libertação foi um movimento surgido dentro da Igreja Católica,
nascido na América Latina, que teve seus momentos mais intensos nas décadas de
1960 e 1970. Buscava interpretar a fé cristã a partir da realidade dos
pobres e oprimidos, defendendo que a Igreja deveria engajar-se na luta
contra as injustiças sociais, econômicas e políticas, com foco na libertação
dos marginalizados.
A
Teologia propõe que a salvação não é apenas espiritual, mas também envolve
transformação social, promovendo justiça, paz e igualdade. Inspirada nos
ensinamentos de Jesus e numa análise crítica das estruturas de poder, a
Teologia da Libertação busca uma sociedade mais justa e fraterna.
Minha
amiga tem razão em ficar preocupada - segundo a visão de Igreja dela, é claro !
- afinal, o Peru é a terra do padre Gustavo Gutiérrez Merino Díaz (8 de junho
de 1928 – 22 de outubro de 2024), teólogo, filósofo, sacerdote dominicano e
figura central da Teologia da Libertação. Gutiérrez foi professor em
universidades como Notre Dame, Harvard, Cambridge, Berkeley, São Paulo, Lyon,
Montreal e Tóquio.
Sua
obra mais influente, Teología de la liberación: Perspectivas
(1971), propôs uma reflexão teológica que une fé e compromisso social,
destacando a “opção preferencial pelos pobres”, que se tornou o coração
da Teologia da Libertação e um princípio fundamental da ação cristã.
Seria
Santo Afonso Maria de Ligório (1696–1787), bispo, doutor da Igreja, moralista e
grande missionário popular, um “comunista” ? Ao fundar a Congregação do
Santíssimo Redentor em 1732, em Nápoles, Itália, ele decidiu “evangelizar os
pobres, especialmente os mais abandonados, promovendo a copiosa redenção
oferecida por Cristo”. Isso não é uma opção preferencial pelos pobres ?
Vários santos, como Madre Teresa de Calcutá e São Vicente de Paulo, fizeram de seus ministérios uma opção preferencial pelos pobres.
São
Francisco não apenas ajudava os pobres - ele se fez um deles. Sua opção não foi
por ajudar “de cima para baixo”, mas por viver entre os pobres como um igual,
imitando o Cristo pobre e crucificado.
“Francisco
de Assis foi o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e cuida da
criação… o homem que nos ensina a sair de nós mesmos para encontrarmos os
outros, sobretudo os mais pobres.”-
disse o Papa Francisco, ao justificar a escolha do seu nome após ser eleito.
Aqui
estão algumas passagens bíblicas que inspiraram a Teologia da Libertação:
“O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a boa nova
aos pobres. Enviou-me para proclamar a libertação aos prisioneiros e a restauração
da vista aos cegos, para libertar os oprimidos, para proclamar o ano da graça
do Senhor.” (Lucas
4:18-19)
“Em
verdade vos digo que todas as vezes que o fizestes a um destes meus pequeninos
irmãos, a mim o fizestes.”
(Mateus 25:40)
“Porque
tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era
forasteiro, e me hospedastes; estava nu,
e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me.” (Mateus 25:35-36)
“Porventura
não é este o jejum que escolhi: soltar as ligaduras da impiedade [...] repartir o teu pão com o
faminto...” (Isaías 58:6-7)
O
compromisso com os pobres não é opcional: é central para o seguimento de Jesus.
Gustavo Gutiérrez escreveu: “A teologia da libertação é um novo modo de
fazer teologia. Não parte de uma reflexão abstrata, mas da prática de fé vivida
no contexto da pobreza e da luta por justiça.”
A opção
preferencial pelos pobres é uma continuidade da prática de Cristo, que fez dos
pobres e marginalizados uma prioridade em sua missão. Ao adotar essa opção, a
Igreja não apenas segue o exemplo de Jesus, mas também responde ao chamado
divino para a justiça, a equidade e a salvação de todos - especialmente dos
mais necessitados.
A
opção preferencial pelos pobres se dá pelo fato de que os ricos têm como
suprirem suas necessidades - sejam de ordem alimentar, habitacional, médica ou
qualquer outro tipo - enquanto os pobres se veem muitas vezes desprovidos do
mínimo, do essencial, para sobreviver. Esse contraste torna a realidade de quem
tem e de quem não tem ainda mais desigual. Jesus lamenta a avareza de alguns
ricos, pois o apego excessivo aos bens materiais impede que eles experimentem a
verdadeira liberdade espiritual. Ele enfatiza que, enquanto a salvação é
possível para todos, os ricos enfrentam um grande obstáculo, dado que a
acumulação de riquezas tende a afastá-los de Deus e dos outros.
Jesus
explicou a seus discípulos que “ é mais fácil um camelo passar pelo fundo de
uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus”. Quando os discípulos
expressaram surpresa diante dessa afirmação, Ele insistiu ainda mais, apontando
que, para aqueles que têm riquezas, é extremamente difícil entrar no Reino de
Deus, pois o apego ao material pode ser um grande obstáculo. (Mateus 19:23-24,
Marcos 10:23-25, Lucas 18:24-25)
No
livro “Uma Vida com Karol,” escrito pelo cardeal Stanisław
Dziwisz, secretário pessoal de João Paulo II durante todo o seu pontificado, publicado em português pela Editora A Esfera dos Livros (2007), ele relata
que o Papa tinha dificuldade em compreender a inclinação para a esquerda da Igreja na América
Latina, especialmente por ter ele vivido sob um regime
comunista.
No
entanto, segundo o cardeal, o Papa mudou de perspectiva quando teve a
oportunidade de conhecer a favela de Alagados, na Bahia, e outras comunidades
periféricas na Cidade do México. A partir dessa experiência, João Paulo II
passou a entender a “opção preferencial pelos pobres” e reconheceu que essa
escolha estava em profunda sintonia com os ensinamentos do Evangelho.
O
cardeal Dziwisz menciona ainda que, após essa mudança de visão, o Papa passou a
se referir a Dom Hélder Câmara como “meu irmão.”
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Dom Hélder Câmara e o Papa João Paulo II |
“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que
eles são pobres, chamam-me de comunista.” (“Hélder, o Dom: uma
vida que marcou os rumos da Igreja no Brasil”, de Zildo Rocha, Editora
Vozes, 2000).
Ao questionar as causas estruturais da pobreza e a indiferença das pessoas em relação aos necessitados, ele era frequentemente rotulado de comunista. Esse rótulo servia para desviar a atenção da crítica, especialmente por parte daqueles que preferiam ignorar a realidade da miséria e pensar apenas em si mesmos.
Essa frase foi lembrada em um discurso do Papa Francisco à Cúria Romana, quando se referiu a Dom Hélder como "aquele santo bispo brasileiro", destacando seu compromisso com a justiça social e sua opção pelos mais necessitados.
Em 1987, estudei na Louisiana State University, em Baton Rouge. O diretor do ELOP (English Language & Orientation Program) pediu a alguns brasileiros que gravássemos um vídeo falando sobre o programa, para ser apresentado numa feira no Rio de Janeiro. Quando voltou, ele nos convidou para um almoço. Contou que um amigo padre o havia levado para visitar uma favela. Sua reação e comentário foram muito parecidos com os do Papa João Paulo II. Disse que agora compreendia por que a ideologia de esquerda tinha tanta força na América Latina. Não é uma ideologia de esquerda, mas sim a aplicação concreta das mensagens de Cristo, especialmente no mandamento do amor ao próximo e na opção preferencial pelos pobres."
Parte II
Quando o Diabo Ganha Voz: A Ruptura de Amizades e o Colapso Moral do Brasil
Tinha amigos, queridos amigos. Católicos praticantes, pessoas que rezaram mais de uma vez na minha casa, que estiveram ao meu lado em momentos marcantes da minha vida. Fomos unidos pela mesma fé e religião. Amigos pessoais, e outros virtuais nas redes sociais, com quem mantinha uma convivência harmoniosa, afetuosa, respeitosa. Gente que, até pouco tempo atrás, eu considerava parte do meu círculo mais íntimo.
Mas então o Brasil viu emergir das sombras uma figura que mudaria tudo – o “apóstolo do Diabo”. No momento não vou citar o nome: mesmo o leitor mais desatento reconhecerá de quem estou falando.
Esse homem, eleito para
proteger a vida, aliou-se à morte e zombou do sofrimento das famílias com escárnio.
Foi negacionista por escolha, movido por seu mau-caratismo. Recusou-se a
adquirir vacinas mesmo diante de ofertas disponíveis, recusando-se deliberadamente a oportunidade de salvar milhares de vidas. Disse que “não era coveiro” diante de milhares de
mortos. Com cinismo, debochou da dor alheia.
Desumano e diabólico: imitou, diante das câmeras, pessoas agoniadas morrendo por falta de ar - gesticulando de forma grotesca, rindo, encenando a agonia de quem sufocava nos corredores superlotados dos hospitais, enquanto familiares desesperados imploravam por atendimento. Fez escárnio de tanto sofrimento, como se a dor e a morte fossem uma piada. Ridicularizou o uso de máscaras, zombou das orientações médicas, e desencorajou abertamente a vacinação. Disse que “só as maricas” morreriam de Covid-19, que “quem é homem de verdade” não temia o vírus. Não era ignorância - era perversidade deliberada. Disse isso para provocar, manipular e induzir as pessoas a não levarem a sério o risco que corriam, mesmo diante de milhares de mortes evitáveis.
Uma pessoa extremamente desprezível e repugnante. Defendia que a ditadura militar tivesse matado mais de 30 mil pessoas. Seu herói declarado: um torturador e assassino.
Enquanto
o país chorava, ele promovia aglomerações - condenadas pelos cientistas -
andava sem máscara no meio das multidões, abraçava apoiadores em motociatas e
tratava a tragédia como uma oportunidade de palanque. Ironizava as vítimas,
acusava médicos, atacava a ciência. Alegou que “todo mundo ia morrer um dia
mesmo”. Disse que quem tomasse vacina viraria jacaré. Mandou jornalistas
calarem a boca. Riu, sempre riu - enquanto corpos eram empilhados. Um sujeito
assim não é gente, é bicho. Elemento execrável.
- Você
já sabe de quem estou falando? É esse mesmo. Bingo!
- Como
você sabe que é ele?
-“Porque
tudo o que foi dito encaixa-se perfeitamente nele.”
Por
que eu o considero o apóstolo do Diabo? Porque acredito que ele o seja.
Quando
penso em Bolsonaro, lembro imediatamente do padre italiano Gabriele Amorth,
amplamente reconhecido como o exorcista mais famoso do Vaticano, falecido em
2016. Vejo Bolsonaro como um dos personagens reais que poderiam ter sido
tratados por ele, como os descritos em seus livros: O Último Exorcista; Maria,
um Sim a Deus; Um Exército contra o Mal; Deus é Mais Belo que o
Diabo; Seremos Julgados pelo Amor; O Evangelho de Maria: A Mulher
que Venceu o Mal; Vade Retro, Satanás!; Investigação sobre o
Demônio; O Sinal do Exorcista e Padre Gabriele Amorth: A
Biografia Oficial.
O
padre exorcista relata diversos casos e afirma que o Diabo não aparece como nos
filmes, a menos que tenha sido provocado por um exorcista. "Ele está por aí,
vivendo dentro de algumas pessoas" - e cita exemplos concretos.
Pessoas
!? E existe mais de um ?
“Qual
é o teu nome?” E ele respondeu: “Meu nome é Legião, porque somos muitos.” (Marcos 5:9)
Adoraria
ver o padre Gabriele pegar na mão desse sujeito e dizer como disse para algumas pessoas: “Quem está aí ?”
Foi
a ele que se uniu grande parte da direita e extrema-direita católica - rascunho
de fascistas - embora não toda.
É
muito importante que isso seja dito: nem toda pessoa que votou nesse indivíduo
atacou a Igreja ou saiu chamando o Papa Francisco e os bispos brasileiros de
comunistas nas redes sociais.
Em
tempo: não gostar do Lula é direito de qualquer pessoa. Mas isso não obriga
ninguém a admirar um psicopata.
Durante
três anos, enquanto ele ainda era presidente do Brasil, uma amiga me enviava
mensagens elogiando-o e atacando o Lula. Nunca, jamais, em tempo algum, conversei
sobre política com ela. Durante mais de três anos, nunca comentei ou contestei
suas mensagens quase diárias, porque não queria perder sua amizade. Para mim, a
gota d’água foi quando ela me enviou uma mensagem afirmando que os bispos da
CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) eram comunistas. Logo ela que
vai à missa diariamente, e adora postar no Facebook, naquela época e ainda
hoje, fotos com autoridade eclesiásticas manauaras eméritas e presentes. Será
que eles têm noção do que ela disse nas costas deles ?
Logo
ela que perdeu parentes para a Covid. Negacionista a toda prova, condenava - e
ainda condena - o uso da vacina. Alguém me responda, por amor de Deus: foi a
esquerda que descobriu a vacina? A verdade é que o filho do pai da mentira,
movido por um desejo mórbido de mais mortes, negou a vacina - e ela,
desprezando completamente sua formação cristã, seguiu-o cegamente, como se
dissesse: “Faremos tudo o que o diabo mandar.”
A
mesma história se repetiu com outra amiga, que rezou o terço várias vezes na
minha casa, com amigos e minha família. Apesar da distância, conversávamos com
frequência pelo WhatsApp. Via de regra, o assunto era sempre algo religioso.
Vou repetir: nunca falamos de política. Eu tinha ciência do seu posicionamento,
sempre explícito nas postagens que fazia no Facebook.
Mas,
apenas algumas horas depois que Lula venceu a eleição contra o sujeito
desequilibrado, ela me mandou uma mensagem de áudio gritando - curiosamente,
também completamente desequilibrada. Disse-me um bocado de impropérios. Meu
ouvido não é esgoto.
Lembro-me
bem que afirmou que Lula era um narcotraficante. Ora, que procure o Ministério
Público e faça a denúncia! Já tinha ouvido muitos adjetivos não publicáveis
sobre ele, mas "traficante" era novidade. Ela finge desconhecer que
foram descobertos 39 quilos de cocaína no avião presidencial do Brasil, em
junho de 2019, em um voo oficial da comitiva do presidente Jair Bolsonaro, que
seguia para uma reunião do G20 no Japão.
Aos
gritos coléricos e histéricos — quase em transe — ela rogava pragas contra
Lula, e, segundo dizia, quem iria aplicá-las e devolver Bolsonaro ao poder
seria ninguém menos que Nossa Senhora. Falava como se a Justiça Divina
estivesse prestes a entrar em cena, vestida com uma toga celestial, para
restaurar ao trono aquele sujeito moralmente desprezível.
Ouvi
sandices atrás de sandices, numa sequência tão absurda que só faltou tocar a
trilha sonora do Apocalipse. E eu ali, em silêncio, me perguntando: que culpa
tenho eu, que nem votei em Portugal?
Foi
aí que ela começou sua cruzada particular contra uma parte da Igreja. Desde
então, vive praticamente em missão divina: atacar nas redes sociais todo e
qualquer membro da Igreja que não tenha se rendido ao seu projeto
político-messiânico. Uma verdadeira influencer da fé seletiva.
Sonhando
com uma guerra civil - mortes, mais mortes, e ainda mais mortes! - Bolsonaro alimentava o desejo de ver todos os seus seguidores armados até os dentes.
Defendia a liberação irrestrita de armas para a “gente de bem”, aquela que
pensa e age exatamente como ele.
Em
12 de outubro de 2021, durante a missa solene em celebração ao Dia de Nossa
Senhora Aparecida, o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, fez uma
crítica contundente e veemente ao armamentismo no Brasil, utilizando
ironicamente o slogan “Pátria Amada” do governo federal.
Em
seu sermão, Dom Orlando afirmou categoricamente: “Para ser pátria amada
[como cita o nosso hino nacional], não pode ser pátria armada.”
Uma
outra amiga, inseparável da mencionada acima, postou uma mensagem no Facebook criticando o arcebispo e acrescentou “que isso não será esquecido”.Ou seja, Deus não esqueceria de punir o
arcebispo pela ousadia.
Esses
são apenas três exemplos - e estão longe de ser casos isolados. Tenho uma
verdadeira enciclopédia sobre isso, sobre o comportamento da direita e da
extrema-direita católica, que se aliaram a setores reacionários da Igreja para
atacar bispos e o Papa Francisco - e o fazem com uma agressividade
impressionante.
Esse mérito ninguém pode tirar do filho do Capiroto: graças a ele, muita “gente de bem” saiu do armário. Eram lobos em peles de cordeiro. Ele é o responsável pelo aparecimento dos "fariseuminions", pessoas que ostentam uma postura religiosa ou moralista (como os fariseus), mas ao mesmo tempo são seguidores fervorosos e acríticos do ex-presidente Jair Bolsonaro, também conhecidos por Bolsominions. Ou seja, um “fariseuminion” é alguém que se apresenta como defensor da moral, da fé cristã e dos "bons costumes", mas que atua com hipocrisia, intolerância, ou discurso de ódio, muitas vezes apoiando posturas políticas agressivas, antidemocráticas ou antiéticas — o que entra em contradição com os valores cristãos que diz defender.
Milhares
se revoltaram com a Igreja porque ela não apoiou o candidato-símbolo do
autoritarismo e da ultradireita brasileira. Por mais absurdo que pareça - algo
surreal -, veem no seu segundo nome, “Messias”, não uma simples coincidência:
acreditam estar diante de um defensor da moral e dos bons costumes, não
importando o que tenha dito ou feito.
Antes
de continuar e revelar quem abastece esse grupo com ideias reacionárias e
ataques ao Papa e aos bispos — amplamente disseminados nas redes sociais —, é
necessário um esclarecimento.
Como
vimos acima, muitos católicos se revoltaram contra a Igreja por motivos
políticos. Entre eles, há os que encontraram guarida em grupos reacionários e
passaram a reverberar suas ideias.
Esses
grupos, embora também movidos por interesses políticos, atacam o Papa
principalmente por razões religiosas: por serem contrários ao Concílio Vaticano
II, por defenderem que a missa deve ser celebrada exclusivamente em latim,
entre outras posturas que exploraremos em breve.
Para
introduzir o principal grupo reacionário do Brasil, preciso contar uma pequena
história.
Lá
em cima, mencionei que perguntei a uma “conhecida” o que ela achava do novo
Papa. Desta vez, fiz uma pergunta a uma mulher desconhecida, frequentadora de
uma das igrejas onde costumo assistir missas.
Notei que, ao comungar, ela se ajoelha e recebe a hóstia na boca. Na celebração, estão presentes tanto o padre quanto o diácono - mas ela nunca comunga com o diácono.
Comportamento
típico dos neo-fariseus.
Conheço
bem esse perfil: quase santo. Mas evitei um julgamento precipitado - nem toda
pessoa que comunga dessa forma ataca o Papa. No entanto, muitas das que o
fazem afirmam - e publicam - que o Papa Francisco é comunista.
Aproximei-me
dela e iniciei uma conversa:
- Você é brasileira, né?
Ela
confirmou. Eu já sabia. Tinha ouvido ela falando “brasileiro”. Segui com a
segunda pergunta:
- O que você achou do novo Papa?
Ela
disse que gostou. Então parti para a terceira - a pergunta onde eu realmente
queria chegar:
- E o que você achava do Papa Francisco?
Ela
respondeu que gostava dele, embora não concordasse com algumas coisas. Incisiva perguntou se eu havia lido a encíclica Fratelli Tutti. Parecia discordar
bastante.
Não me importei muito com a pergunta - e fiquei feliz por tê-la abordado, e até por ter me enganado -, pois assim evitei fazer um julgamento injusto.
Quando
já estávamos fora da igreja, ela me chamou e perguntou por que eu havia feito
aquelas perguntas.
Respondi
que o modo como ela comunga me fez lembrar de pessoas que procedem da mesma
forma e que costumam chamar o Papa de comunista - disse percebi que não era o
caso dela, e deixei isso claro.
Acrescentei
que conheço algumas pessoas que comungam assim e que gostam de criticar a
Igreja - “narciso acha feio o que não é espelho”. Mais especificamente,
mencionei uma que costuma criticar abertamente a Campanha da Fraternidade e
divulgar vídeos de padres que inventam doutrinas que em nada acrescentam ao que
está nos Evangelhos nem conduzem à salvação.
Comentei
que uma dessas pessoas havia postado um vídeo de um padre proibindo que, ao
rezarmos o Pai Nosso, abríssemos os braços. Segundo ele, esse gesto
representaria Cristo crucificado e, por isso, deveríamos rezar com as mãos
juntas.
Comentei
que esse tipo de comportamento, por sua superficialidade, pode ser descrito
como farisaico, pois revela uma moralidade que privilegia aparências e rituais
externos em detrimento de ações verdadeiramente transformadoras e solidárias.
A ideia de que simplesmente frequentar missa todos os dias, fazer peregrinações a santuários ou se considerar “bom” ou “do bem” por cumprir práticas religiosas - sem um comprometimento real com a justiça social - reflete uma postura que ignora as necessidades humanas mais profundas.
“Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu, com as minhas obras, te mostrarei a minha fé.” (Tiago 2:18)
Não
raro, esse tipo de religiosidade se associa a regimes autoritários e
opressivos, que buscam controlar e manipular a fé para justificar o poder e a
exclusão.
Ela
me interrompeu com longas e duras críticas à Campanha da Fraternidade desse ano.
E
então soltou esta pérola:
-
A CNBB não representa a Igreja brasileira. A CNBB é apenas uma organização de
bispos.
Em
tempo: a Campanha da Fraternidade de cada ano é decidida pela própria
CNBB.
Ela
também criticou a encíclica Fratelli Tutti e disse que eu deveria me
informar melhor. Sugeriu que eu procurasse o site do Centro Dom Bosco.
Quando
ouvi isso, senti uma comichão no corpo todo. Ficamos discutindo por cerca de
quinze minutos. A cada duas frases, ela repetia que eu estava “por fora” e que
precisava consultar o Centro Dom Bosco, “para ser catequizado da forma correta”
- não disse com essas palavras, mas estava nas entrelinhas.
Diante do susto, a única coisa que consegui dizer foi: Trata-se, por acaso, daquele centro frequentado pela atriz Cássia Kiss, conhecida por sua defesa do fundamentalismo religioso e de posturas alinhadas ao autoritarismo político?
A
comichão veio exatamente porque eu sei muito bem o que é o Centro Dom Bosco - e
sei também que não tem qualquer relação com a Congregação Salesiana.
É
necessário explicar ao leitor o que é o Centro Dom Bosco e, especialmente para
o leitor português, contextualizar o que é a Campanha da Fraternidade, e por
que tantos católicos que chamam o Papa de comunista a odeiam.
A
Campanha da Fraternidade (CF), iniciada em 1964, é uma iniciativa anual da CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil) que propõe um tema ligado à fé cristã e à
realidade social do país, incentivando a reflexão, a conversão e a ação
concreta dos fiéis, especialmente durante a Quaresma.
Em
2025, a Campanha da Fraternidade teve como tema “Fraternidade e Ecologia
Integral” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).
Inspirada pelos 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, pelos dez anos da encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco e pela realização da COP 30 (30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) em Belém, Pará, a campanha deste ano convida à conversão ecológica e ao cuidado com a criação divina.Grupos de extrema-direita católica, como o Centro Dom Bosco e a Confraria Dom Vital, criticaram a Campanha da Fraternidade deste ano. Esses grupos argumentam que a campanha promove uma “agenda ideológica” alinhada ao ambientalismo secular e ao globalismo, distanciando-se, segundo eles, da doutrina católica tradicional.
Quem
são esses grupos ?
Quando
eu morava com minha família no Canadá, em 2012, fomos visitados por duas jovens
mórmons, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Permiti que
entrassem e falassem livremente antes de apresentar qualquer contestação.
Relataram que Joseph Smith, fundador de sua igreja, teria recebido a missão de
restaurar a verdadeira Igreja de Jesus Cristo. Em essência, é essa mesma
pretensão que norteia a atuação desses centros de ultradireita: a de restaurar -
à sua maneira - o que consideram ser a verdadeira fé ou a verdadeira ordem.
Sobre
outros grupos católicos reacionários, como os Arautos do Evangelho e a
Tradição, Família e Propriedade (TFP), já comentei.
O
Centro Dom Bosco é formado por leigos católicos tradicionalistas que se
destacam nas redes sociais por sua retórica agressiva contra o Papa Francisco,
a CNBB e documentos como Laudato Si’ e Fratelli Tutti. Alegam
representar a “fé verdadeira” e promovem uma visão estreita de catolicismo,
marcada por uma suposta ortodoxia que rejeita as reformas do Concílio Vaticano
II.
A
Confraria Dom Vital atua em linha semelhante, promovendo conteúdos
ultraconservadores e incentivando boicotes à Campanha da Fraternidade. Os dois grupos defendem a volta da missa tridentina (em latim, com o padre de costas
para o povo), desprezam o uso da língua vernácula na liturgia e têm grande
apego a formas exteriores de piedade - como se gestos e posturas visíveis
garantissem a salvação, independentemente do compromisso com a justiça, a
caridade e o Evangelho vivido no cotidiano.
Ambos
os grupos alimentam uma religiosidade farisaica, centrada em regras e
aparências, e se alinham politicamente à extrema-direita, promovendo
desobediência ao magistério da Igreja e hostilidade a toda forma de abertura ao
diálogo com o mundo contemporâneo.
Criticavam
o Papa Francisco quando ele defendia os direitos dos marginalizados, dos
migrantes ou denunciava as causas econômicas da pobreza. Nos seus discursos
costumam romantizar o sofrimento, exaltam a resignação e rejeitam qualquer
crítica ao sistema que produz desigualdade.
Essa
postura não só desvia o cristianismo de seus princípios mais humanistas, como
também contribui para a manutenção de um sistema político e social que
desconsidera os mais pobres e vulneráveis. O foco em rituais vazios, sem um
compromisso com as mudanças necessárias para uma sociedade mais justa,
transforma a fé em um instrumento de controle e opressão, em vez de uma força
para a libertação e a igualdade.
Aqui
em Portugal, conheço um senhor — ministro da Eucaristia, que vai à missa todos
os dias - que postou, em um grupo de WhatsApp, onde defendeu a minha expulsão, a
foto de uma família negra, com pais e filhos descalços, possivelmente
imigrantes, e escreveu: “Portugal não merece isso.” Teria ele a mesma
reação se fosse uma família ucraniana de olhos azuis ?
Trata-se
de uma atitude claramente racista e de profundo desprezo pelos pobres. É o
retrato de uma fé distorcida: reza, comunga, serve no altar - mas rejeita e
desumaniza justamente aqueles com quem Cristo mais se identificou. Jesus disse:
“O que fizerdes ao menor dos meus irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25,40).
Essa contradição entre prática religiosa e exclusão revela um cristianismo
apenas de fachada - o tipo que Jesus mais condenou: sepulcro caiado.
Achei
triste, mas não me surpreendi. Pelas mensagens que costumava postar, trata-se
de mais uma viúva da ditadura salazarista em Portugal - típico representante do
catolicismo de extrema-direita.
Justiça
seja feita: o pároco da igreja onde esse senhor serve, sempre que o tema
da homilia envolve imigrantes, pede respeito e consideração. Nunca esquece que
milhões de portugueses também emigraram para outros países.
“Ele,[Jesus] porém, lhes disse: Bem
profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me
com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.” (Marcos 7:6)
Católicos
de extrema-direita e fascistas têm DNA (ADN) compatíveis.
Em muitos casos, o comportamento de católicos de extrema direita se aproxima de um comportamento fascista, conforme descrito por Jason Stanley no seu livro “How Fascism Works: The Politics of Us and Them” (Como o Fascismo Funciona: A Política do Nós e Eles). A adesão a uma moralidade superficial, focada em aparências e rituais externos em detrimento de ações concretas de transformação social, é uma das características centrais de regimes autoritários. Stanley argumenta que, ao criar divisões entre "nós" (os moralmente puros) e “eles” (os inimigos ou os marginalizados), o fascismo manipula a fé e os símbolos religiosos para consolidar seu poder. Da mesma forma, setores da direita religiosa frequentemente se apegam a uma visão punitiva e rigidamente moralista, ignorando as necessidades sociais mais profundas e resistindo a mudanças estruturais que promovam a igualdade. Essa postura não só distorce os ensinamentos cristãos, mas também fortalece a perpetuação de um sistema político e social desigual, refletindo, assim, comportamentos que ecoam práticas fascistas de controle e opressão.
Com
o advento do novo Papa Leão XIV, tudo mudou. Felizes porque se livraram do Papa
Francisco, os neo-fariseus já estão divulgando citações falsas, atribuindo a
ele palavras que se encaixam em suas próprias narrativas. Vídeos com discursos
falsos do novo Papa também estão circulando. Já assisti dois. O objetivo é
claro: apagar a memória do Papa Francisco e moldar Leão XIV as suas imagens e
semelhanças, “vendendo” um Papa dos seus
sonhos.
Eu
detesto ser estraga-prazer, mas na Diocese de Chiclayo, no Peru, onde o bispo Roberto
Prevost foi titular, havia Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), como em
muitas regiões da América Latina; especialmente onde a Igreja Católica mantém
forte atuação social e pastoral junto aos pobres.
![]() |
Mensagem fake do Papa Leão XIV |
No
Peru, as CEBs tiveram papel marcante desde a década de 1970. Apesar da
resistência de setores mais conservadores da Igreja, continuaram a expressar
uma fé comprometida com a vida e a luta dos mais pobres.
Vale
lembrar que o bispo Roberto Prevost também integrou a liderança da
Cáritas Peru - organização católica voltada para a promoção humana e o serviço
aos necessitados, com forte atuação junto a comunidades de base. Isso reforça
seu envolvimento direto com práticas pastorais alinhadas aos movimentos
populares e à Igreja dos pobres.
Estou
começando a achar que o Papa Leão XIV tem raízes comunista. Graças a Deus
Neste domingo, o Papa Leão XIV tomou “posse”, com uma missa pública na Praça de São Pedro no Vaticano. Em sua homilia o Papa lembrou a importância da fé em tempos de incerteza e disse que conduzirá a Igreja com “coragem, clareza e caridade”.
Resta reconhecer o mistério que permeia cada eleição papal: “O Espírito Santo sopra onde quer” (João 3:8) - e assim foi escolhido Leão XIV.
Cláudio Nogueira
PS1. A ultradireita como sempre mentindo posta mensagens fake atribuídas ao novo Papa. Isso é só o início. Neste vídeo de conteúdo fake o: "Papa Leão XIV surpreende o mundo ao citar Bolsonaro em discurso histórico | veja o que ele disse..."
PS2. Steve Bannon é um ex-banqueiro e ex-diretor de mídia, conhecido por seu papel central na ascensão do populismo de direita nos Estados Unidos e em outras partes do mundo. Ganhou notoriedade por sua forte ligação com Donald Trump, tendo sido chefe da campanha presidencial de 2016. Foi estrategista-chefe da Casa Branca e conselheiro sênior do presidente Trump entre janeiro e agosto de 2017. Nesse mesmo ano, rompeu com a Casa Branca após declarações polêmicas sobre a família do presidente, publicadas em um livro. Atualmente, não ocupa nenhum cargo no governo.
É considerado o guru dos filhos de Bolsonaro, especialmente de Eduardo Bolsonaro, que frequentemente o visita ou o cita publicamente.
Bannon manifestou receio que o cardela Robert Prevost fosse eleito Papa:
"Bannon prevê que Robert Francis Prevost será eleito Papa."
"Eu acho que um dos azarões — e, infelizmente, um dos mais progressistas — é o cardeal Prevost. Não acho que ele esteja ganhando atenção. Mas ele certamente está na lista de favoritos. Acho isso bastante chocante, dado o desprezo que eles têm pela Igreja americana. A Igreja americana dá muito dinheiro. Eles têm medo de que ela tenha muito poder, então nunca querem um papa americano. Mas na minha compreensão Prevost é um dos mais próximos de Francisco ideolgicamente. E tem muita experiência na América Latina. Então ele é um dos favoritos", disse Bannon.
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