Que a Europa é dependente do gás e petróleo fornecido pela Rússia, isso todo mundo sabe. Que essa dependência era um dos trunfos de Putin. Isso também é do conhecimento de todos. Por esse motivo não foram bloqueados, nas sanções econômicas impostas aos russos, os caminhos que levam o dinheiro que vai do comprador ao fornecedor. Inclusive na sua mensagem, The State of Union, essa semana, ao povo americano, Joe Biden deixou claro que o boicote ao fornecimento de energia estava descartado.
O primeiro downsizing na aparente vantagem que Putin tinha nesta área ocorreu com a mega desvalorização do rublo em apenas cinco dias. O que o obrigou a aumentar a taxa básica de juros, a Selic deles, em mais de 100% (de 9,5% para 20%), para atrair capital estrangeiro.
Para assegurar o preço da moeda russa por meio do aumento da oferta da moeda americana, o Banco Central russo vendeu dólares. Desta vez a Rússia está numa situação muito mais confortável ao que estava na crise cambial de 1998, quando pediu moratória ao FMI; e fez estragos em várias economias emergentes, inclusive, e principalmente, o Brasil. Hoje suas reservas passam de US$ 600 bilhões; dando melhores condições de defender sua moeda. Contudo, as sanções impostas congelaram uma parte significativa das reservas de ouro e de divisas depositadas fora da Rússia,
De qualquer forma, considerando o expressivo aumento da demanda pela moeda americana, receber dólares do exterior é muito importante para evitar uma maior depreciação do rublo. Assim, cortar o fornecimento de gás e petróleo para a Europa, traria uma dor de cabeça também para a Rússia. Além do que foi divulgado que a Alemanha, um dos principais compradores, tem reserva de gás, para utilizar nos aquecedores domésticos, até o próximo inverno. O atual acaba em pouco dias.
Joe Biden e os europeus não querem deixar de comprar dos russos, embora tenham o plano B para comprar de outras fontes, porque na medida que eliminariam um fornecedor do mercado, os demais restantes aumentariam o preço. Na realidade, no médio prazo, haveria uma troca de quem vende para quem. A China, muito dependente de gás e petróleo externo, poderia passar a comprar dos russos.
O que ninguém contava, nem Biden, nem Putin, era que várias empresas ocidentais parassem de comprar petróleo dos russos por livre e espontânea vontade. Coisa que nem o governo americano desejava pelos motivos expostos acima. O preço da gasolina nos postos nos Estados Unidos, mesmo antes da guerra da Ucrânia, estava batendo recordes; e os Estados Unidos sofre uma inflação como não era visto há décadas. O aumento do preço do petróleo iria trazer mais inflação.
A salvação do consumidor americano pode vir dos exportadores russos. Com a redução da demanda forçou os russos a baixarem o preço. O governo russo já sente a pressão por essa situação:
“A segunda maior empresa de petróleo da Rússia rompeu com o presidente Vladimir Putin. Lukoil, empresa russa, que tem postos [também] nos Estados Unidos, e produz mais de 2% do petróleo bruto do mundo e emprega mais de 100.000 pessoas, pediu o fim da guerra da Rússia na Ucrânia. O conselho de administração da empresa disse em comunicado aos acionistas, funcionários e clientes que estava exigindo o término mais rápido do conflito armado".
A Shell acaba de anunciar que comprou o barril do óleo ural cru por US$ 28. Ural é uma marca de óleo de referência usada como base para a precificação da mistura de óleo de exportação russa. È uma referência importante para o mercado de petróleo bruto médio na Europa.
Esse é um valor absurdamente baixo. Essa semana o barril chegou a US$ 116 e era esperado que subisse ainda mais. Esse aumento era a salvação da Rússia. Com a moeda desvalorizada, quando o exportador trocasse seus dólares por rublos, teria a sua receita/perda compensada.
O que parece é que a redução da demanda pelos importadores neutralizou a vantagem que os russos tinham devido a dependência que a Europa tem em relação como provedor de energia para o Velho Continente.
E agora Putin ?
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