Milhares de mortos dos dois lados. Mas a situação da Ucrânia é muito pior. Muitos civis mortos, cidades completamente destruídas, famílias desfeitas, mais de dois milhões de pessoas sem casas. Mas se a paz for assinada nesses termos que a imprensa está divulgando e parece que as partes estão chegando a um acordo: “A Ucrânia não entra na OTAN, mas pode ter Exército e Marinha para sua defesa.” A desmilitarização sonhada por Putin não vai acontecer. Se isso for verdade, a Rússia perdeu essa guerra. Na realidade, a Rússia deve estar pedindo ao diabo para essa guerra acabar.
Primeiro,
porque daqui para frente as Forças Armadas ucranianas existirão,
primordialmente, para se defenderam de uma outra possível guerra com a Rússia.
Além do que se o Ocidente ajudar a Ucrânia a se reconstruir (a Alemanha e o
Japão também ficaram muito destruídos) com intuito de torná-la com capacidade
de ter muito mais armas que ela tem hoje, ela não deixará, com ou sem OTAN, de
ser uma dor de cabeça para o Putin.
A
Rússia vai passar por muitas dificuldades. Essa guerra está lhe custando muito dinheiro.
Ela terá, mesmo depois que os tiros pararem, condições financeiras de sustentar
o seu Exército dentro da Ucrânia? O problema é que com a guerra a Rússia tem
muito mais perguntas do que respostas.
E
mesmo que ela se retire hoje da Ucrânia, as sanções econômicas farão muito
estragos e não serão suspensas até que a OTAN acredite que os russos já tenham
pago todos os seus pecados. Principalmente, se o Putin continuar no poder.
Essa
guerra serviu para várias coisas. Uma delas é unir a OTAN, que estava meia
dispersa devido como Trump andou tratando-a. Mostrou que ela é necessária.
Serviu para terem um pouquinho de noção como agir com tantos parceiros.
Mesmo que nem todos tenham o mesmo poder de decisão; mas sentiram na prática a
necessidade de terem uma logística bem definida e ágil em caso de uma guerra entre a
Organização e a Rússia.
Está
sendo visto que em tempo recorde armas saíram de alguns países da OTAN e
chegaram rapidamente ao front na Ucrânia. Também serviu para mostrar o quanto
os ucranianos amam a sua liberdade. O quanto são valentes e corajosos. Os
prefeitos das cidades invadidas estão nas linhas de frente, lutando,
resistindo. Isso não existe. O mundo jamais viu coisa parecida.
É muito significativo que ontem, os primeiros-ministros da República Tcheca, da Eslováquia e da Polônia tenham se arriscado a ir de trem até Kiev para um encontro com o presidente Volodymyr Zelensky. Observe que esses líderes vieram de países que foram subjugados pelos russos. Foram prestar seus apoios pessoalmente; correndo um perigo muito grande. Isso apenas demonstra o quanto eles presam as suas liberdades e não desejam serem submetidos ao governo russo novamente. A caminho de Kiev o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki postou no facebook: "É nosso dever estar onde a história está sendo feita.Porque não é sobre nós, é sobre o futuro de nossos filhos que merecem viver em um mundo livre de tirania."
Essa guerra serviu para mostrar que o Exército de Putin não mete medo e que numa guerra de proporções bem maiores, ele teria bastante dificuldades. Hoje, vigésimo primeiro dia da guerra, a Força Aérea russa não tinha ainda conseguido dominar o espaço aéreo ucraniano.
A
melhor coisa que pode acontecer para todo mundo é essa guerra acabar o mais
breve possível. Isso é óbvio. Mas é vergonhoso para o todo poderoso Exército russo levar
tanto tempo sem dominar completamente a Ucrânia. Putin pensava que seria fácil,
igual ao genocídio que cometeu em Aleppo, na Síria; na Criméia ou na invasão da
Geórgia que durou cinco dias.
Dado as atuais circunstâncias, uma possível guerra contra a OTAN seria mesmo que um time de futebol fosse disputar uma final de campeonato com outro time mais forte depois de ter disputado uma partida bem cansativa.
Alguém que pode
perguntar por que eu acho que a OTAN é mais forte que o Exército russo. Apenas
uma questão de matemática. O orçamento militar dos Estados Unidos é doze vezes
maior do que o da Rússia. A França e a Alemanha também gastam mais que os
russos. Em 2020, a Rússia gastou US$62 bilhões com as suas Forças Armadas; os
trinta países da OTAN gastaram US$ 1 trilhão e 200 bilhões. E esse valor vai
aumentar. O engraçado é que a apesar da reclamação, Trump não conseguiu que os
parceiros europeus da OTAN gastassem mais com suas defesas. Mas Vladimir Putin
conseguiu: a Alemanha resolveu, depois do início da guerra, que aumentará os seus
gastos de US$ 58 bilhões para US$ 100 bilhões.
Vi
na CNN americana um general reformado ex-chefe militar da OTAN dizendo que essa
guerra mostrou muitas fragilidades do Exército russo. Até problema de
abastecimento mesmo estando tão próximo do seu território.
Uma
coisa é certa: treino é treino; guerra é guerra. Na véspera da invasão os
russos fizeram manobras militares. Foi tudo muito perfeito: os mocinhos
venceram rapidamente os bandidos. “Na prática, a teoria é outra.”
E as
bombas atômicas dos Russos? Os dois lados têm muitas. Inclusive a Alemanha que
nunca produziu nenhuma bomba; o seu território está cheio de ogivas da OTAN.
Se alguém usar essas bombas, os dois lados desaparecem. Alguém já disse que as
bombas atômicas existem para não serem usadas. A Índia produziu uma bomba
pensando no Paquistão. Ficou 1 a 0 para a Índia. O Paquistão produziu a sua
bomba pensando na Índia. Pronto. Ficou tudo empate: 1 a 1. Ninguém vai usar
bomba atômica, senão morrem todos.
A
guerra tem de ser pelo lado econômico. Vai ser difícil a Rússia ficar na
situação que ficou no início da década de 90. Naquela época a China era pobre.
Não pode vir em seu socorro. Mas o negócio é pagar para ver. Até quando o rublo
vai servir para alguma coisa? John Maynard Keynes, o economista inglês que
salvou o mundo da Grande Depressão de 1929, dizia: “Se quiser destruir uma nação, comece destruindo a sua moeda.” Parece
que os americanos não se esqueceram disso.
Uma Rússia enfraquecida pode despertar interesses nas repúblicas que compunham a extinta URSS a se libertarem efetivamente do domínio russo, como fizeram a Estônia, Lituânia e Letônia. Esses países, que fazem parte da União Econômica da Eurásia, devem sentir o impacto das sanções econômicas, impostas a Rússia. Creio que se as coisas realmente se deteriorem, seria oportuno trazê-las para um relacionamento, economicamente falando, mais próximo do Ocidente. No que resultaria num distanciamento delas da Rússia. Aí a cabeça do Putin degrincolaria de vez.
Seja como for, ainda
que a Ucrânia seja totalmente dominada, creio que não será a Rússia quem vencerá essa guerra.
Quanto a isso teremos de esperar para ver.
Cláudio Nogueira
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