Da Folha Online
28/05/2010-08h32
São Paulo e Rio disputam área de pesquisa da GE
28/05/2010-08h32
São Paulo e Rio disputam área de pesquisa da GE
Segue comentário após a notícia.
Os Estados de São Paulo e Rio estão no páreo para abrigar o centro de P&D (pesquisa e desenvolvimento) da General Electric --investimento de US$ 150 milhões e que resultará na geração de 300 empregos de engenharia, informa Mariana Barbosa, em reportagem na Folha desta sexta-feira (a íntegra está disponível para assinantes do UOL e do jornal).
O centro brasileiro será o segundo maior da GE em número de engenheiros. Fora dos EUA, a companhia possui centros na Índia (450 engenheiros), na China (250) e na Alemanha (100). A GE iniciou entrevistas com engenheiros e a expectativa é que em junho seja definido o local que abrigará o prédio de 30 mil metros quadrados.
Segundo o vice-presidente e líder global dos centros de P&D da GE, Mark Little, os fatores que vão determinar a escolha são: potencial para atrair mão de obra qualificada, proximidade de clientes e incentivos governamentais. "Nosso negócio é gerar soluções para as companhias", disse Little à Folha.
Cerca de 50% a 60% dos projetos são custeados pela GE. O restante é feito por empresas parceiras e/ou governo. Depois, a GE vende os equipamentos que resultaram da pesquisa.
O título deste post exige uma pergunta e uma resposta: E o PIM estava concorrendo para conseguir esse centro de pesquisa e desenvolvimento ? Não. Porque não possui massa crítica de engenheiros e cientistas para receber um projeto desse porte.
Há dez anos estudo esse assunto, que, em 2004, resultou em tese de doutorado em engenharia de produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com o título: Estratégias Governamentais para o Desenvolvimento do Pólo Industrial de Manaus. Para escrever esse trabalho estudei muito sobre a Zona Franca de Manaus e várias outras pelo mundo afora; como também parques tecnológicos. Em breve vou escrever aqui sobre isso, só estou tentando ser conciso, o que é muito difícil. Fui motivado pelo que escreveu recentemente o ex-prefeito de Manaus, Serafim Corrêa, defendendo a prorrogação da ZFM por 100 anos, em oposição a sua perenização, como insinuou José Serra, em uma entrevista recentemente. No seu texto ( http://www.blogdosarafa.com.br/?p=6169&cpage=1) Serafim diz que a perenização não garante nada, porque ela pode ser desfeita a qualquer momento, mas se prorrogada por 100 anos, esta não poderá ser interrompida. Mas isso é assunto para outro post, pois na minha tese defendo medidas para a ZFM, justamente para perenizá-la, em situação adversa, caso o Congresso não mais faça a sua prorrogação, que no momento está assegurada até 2023. Minha proposta não vai de contra a do Serafim, nem a do Serra.
Quero chamar atenção para o texto da Folha. A nossa zona franca começou de verdade em 1967, já são 43 anos. É sobretudo um projeto exitoso, 400 empresas, 100 mil empregos diretos, gerando renda para milhares de famílias, conservando a floresta amazônica amazonense de pé, etc. etc. Os sub-produtos dela: exôdo rural, favelas e outras mazelas, não obstante, serem resultados dela, não é exclusividade dela. As grandes cidades brasileiras, que não possuem zonas francas, também apresentam esse tipo de problemas. As estatísticas estão aí toda hora sendo publicadas. Na realidade, é por causa, também, dessas estatísticas que a tese não foi ainda publicada. De 2004 para cá, em alguns aspectos, o PIM não mudou nada, mas em termos de nível de produção, números de operários e firmas, sim. Além da falta de dinheiro para pagar a publicação, falta tempo para atualizar dados.
A nossa ZFM é muito maior do que a de Barcelona (Parc de Vallés) e do parque tecnológico de Bangalore (Science Parks of India, Bangalore), também chamado Silicon Valley da Índia. Para ficar com dois exemplos apenas.
O Parque Tecnológico de Bangalore foi criado em 1991, ontem. Tem dezenove aninhos apenas. E tem mais de 2500 laboratórios de P&D. Vocês querem que eu repita ? 2500 laboratórios de P&D. O que diz o texto da Folha ? A General Electric tem 450 engenheiros na Índia. Sabem quantos centros de pesquisas temos no Pólo Industrial de Manaus ? Dá para contar em uma mão. E por quê ? Porque não temos mão de obra especializada para termos mais do que isso. O que fizeram os indianos? Lá os incentivos fiscais não são pelo tempo que durar o parque tecnológico.Os incentivos fiscais são só por cinco anos (querem que eu repita?), com desconto na tarifa de energia elétrica; e no mínimo 50% da produção de software tem de ser exportado. E como foi que eles conseguiram atrair tantas empresas em tão pouco tempo ? Primeiro procuraram formar mão de obra qualificada criando ou aprimorando os institutos tecnológicos para formação de engenheiros. Na Espanha, a Universitat Autònoma de Barcelona está localizada dentro do parque industrial, para que a interação academia-indústria seja mais rápida.
Eu defendia a transformação da UTAM, em um centro de excelência, no ITA do Norte; ou no ITAM, Instituto de Tecnologia do Amazonas. E continuo defendendo a transformação da EST, Escola Superior de Tecnologia da UEA, no ITAM. Apesar da EST ser bem melhor, academicamente falando, do que a UTAM. Dei aulas nos dois, posso afirmar isso. Defendo por razões de agilidade administrativa, tomada de decisão, captação de recursos, execução de objetivos. É uma questão política. Quem tem 6 bilhões para gastar num projeto esportivo, tem capacidade criativa de buscar recursos para criar uma centro de excelência. Zeferino Vaz ,quando criou a Unicamp, tinha em mente criar em Campinas uma outra USP. E com isso provocou a instalação de várias empresas de base tecnológica na região (Parque Tecnológico de Campinas: http://inovacao.scielo.br/pdf/inov/v3n2/a23v03n2.pdf). A Embraer não existiria sem o ITA. A Petrobrás não chegaria onde chegou sem o CENPES, Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello. O centros de pesquisas não vêm para Manaus por falta dos chamados knowledge workers. Existem casos isolados formando engenheiros especializados, como o CT-PIM, Centro de Ciência e Tecnologia e Inovação do Pólo Industrial de Manaus, dirigido pelo professor, phd em economia, Admilton Salazar; o Instituto Nokia de Tecnologia (IndT), dirigido pelo engenheiro elétrico Geraldo Feitoza; o NUTEC, Núcleo Interdisciplinar de Gestão Tecnológica de Materiais e Processos e o CETELI, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologia Eletrônica e da Informação, ambos da UFAM.
Semana passada li duas boas notícias: a UEA vai criar um centro de inovação e a UFAM o Parque Tecnológico para Inclusão Social: Rede de Pesquisa, Extensão e Inovação Tecnológica. Segundo o Portal da UFAM. “O financiamento federal para o Parque, avaliado em 17,2 milhões de reais, se tornou possível por meio da articulação entre a reitora Márcia Perales e o deputado Marcelo Serafim, em novembro de 2009.” Tentei encontrar mais informações no site da UEA sobre o centro de inovação, mas não obtive sucesso.
A UFAM também está de parabéns pela criação do curso de engenharia de petróleo e gás. Esta semana ouvi na rádio entrevista de um headhunter, dizendo que a profissão do presente e do futuro, em termos de salário, é de engenheiro de petróleo e gás. O recém formado tem o maior salário de entrada no mercado, e os com experiência sofrem grande demanda. Considerando que o pré-sal está engatinhado, e na nossa região, com o gasoduto Coari-Manaus, cujo potencial ainda está por ser determinado, a demanda tende aumentar no futuro.
Resumindo, defendo a implantação de centros de excelência para formar mão de obra especializada para o PIM, algo mais além de que uma boa universidade. Devemos, contudo, agora mesmo, tentar convencer os laboratórios de P&D a se instalarem aqui. A Embraer chegou a mandar buscar 150 engenheiros no leste europeu, em 2001, que foram enviados de volta, em 2006, depois da implantação, junto com o ITA, do Programa de Especialização em Engenharia (PEE). Mestrado profissionalizante feito dentro da própria Embraer, como o diploma expedido pelo ITA.
Precisamos nos preparar, AGORA, para sobrevivermos sem os incentivos fiscais, para fazermos a transição de parque industrial de produção em massa, para nos tornamos um parque tecnológico de produtos de maior valor agregado,maior produtividade, menores custo; deixando cada vez mais de ser intensivo de mão de obra, para ser intensivo de capital, migrado de vantagens comparativas para vantagens competitivas. E isso pode ser feito, independentemente, se ZFM vai ser perenizada ou prorrogada por 100 anos.
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