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domingo, 20 de março de 2011

Obama, o general e a ditadura

A passagem de Barack Obama pelo Brasil vai realmente entrar para a história. Ele "tinha" (?) tudo para ser de longe o mais simpático presidente americano a visitar o país. Por vários motivos: pelo que fez, disse, viu e visitou. Tentou deliberadamente ser simpático, dizendo coisas amigáveis e falando palavras em português. Depois, nunca antes neste país, se ouviu um presidente americano nos dar tanta importância, falar de igual para igual, pedir para sermos parceiros, e o que é mais agradável, sabemos que realmente estamos, para ser coloquial, com essa bola toda. Fez vários elogios, que realmente somos merecedores, como a importância do Brasil hoje no cenário mundial. "Por tanto tempo vocês foram chamados de o país do futuro. O Brasil não é mais o país do futuro. O povo do Brasil deve saber que o futuro chegou. Está aqui, agora." E o que é mais importante, ele visitou uma favela. Os elogios não foram porque passeou somente na zona sul do Rio; os elogios são pelas estatísticas sobre o Brasil. Eu já enviei várias vezes, para algumas pessoas o que o Financial Times, The Economist, Paris Match, Wall Street Journal, New York Times e vários outros escreveram sobre o Brasil. Aí um sujeito me responde:"É tudo mentira, nós temos muitas favelas." Temos sim, mas já achamos o caminho das pedras. Ficamos anos, décadas, dando dois passos para frente, e quatro para trás. Vinte oito milhões de pessoas nos últimos oito anos saíram da pobreza e entraram na classe mínima, outros tantos milhões entraram na classe média. Temos sim, ainda, coisas aviltantes, como o salário paletó, salário passagem, salário celular, salário correios, salário moradia, salários diárias, etc. Mas melhoramos muito, e as estatísticas não mentem.
Se Obama aprender português, voto nele para suceder a Dilma. Com certeza ele seria um melhor presidente aqui do que está sendo lá. Não por culpa dele. Ninguém tem oito anos de governo Bush impunemente. Lá a situação está preta (espero não ser mal entendido).
Mas "tava tudo muito bom, tudo muito bem", "aí vem ele e estraga tudo", abre a boca e divide os brasileiros - Ops cuidado ! Dividir não significa necessariamente ser ao meio.
Nunca, se esperou que um presidente americano fosse jamais tocar tão diretamente - e nem de forma alguma - em um assunto tão delicado como a ditadura militar: "O Brasil mostrou que uma ditadura pode virar uma democracia. Mostrou que a reivindicação de mudança pode começar na rua e transformar o país, transformar o mundo", disse. Muitos menos, pasmem os senhores e as senhoras, pensou-se que ele fosse elogiar a participação da presidente Dilma Roussef na luta contra a ditadura militar: "Uma das pessoas que protestaram foi presa e sabe o que é viver sem seus direitos mais básicos. Ela, porém, também sabe o que é perseverar. Hoje ela é a sua presidente, Dilma Rousseff". Ponto para ela. Parece que elogiar presidente brasileiro virou rotina para Obama. Tanto que quando soube dos elogios, Dilma pensou: "Ele disse isso para todos presidentes do Brasil que ele conheceu durante o mandato dele." Que tal juntarmos um muito de sinceridade, com um pouco de pragmatismo americano ?
Barack Obama does it again! Parece que ele nasceu para surpreender. É o primeiro negro americano a chegar onde chegou; ao cargo mais importante do mundo. Tem nome muçulmano (que não é nada fácil nos Estados Unidos de depois de 11 de setembro), é filho de estrangeiro, é 50% africano e 50% americano, negro com uma mãe caucasiana; não é descendente de imigrantes como a maioria dos americanos (como os irlandeses Kennedys); é negro nascido no Novo Mundo, mas não é descendente de escravos; nasceu fora dos Estados Unidos, isto é, nasceu em território americano, mas fora dos States continental, Havaí, que nem sempre pertenceu aos Estados Unidos; foi criado na Indonésia, e até se candidatar a presidência, somente era conhecido no estado de Illinois.
E pelo que disse de Dilma vai sair daqui carregado nos ombros pela (meia e centro) esquerda. Será que ela (a esquerda) vai ser agora mais condescendente com o bloqueio de Cuba ? Humm !!! O PSTU, PCO e PSOL não estão nem aí para ele. Estavam lá, na Cinelândia, protestando.
A surpresa dos comentários de Obama dá-se por vários aspectos, mas vamos enumerar apenas dois. Primeiro porque acredita-se que o governo americano patrocinou o golpe, ou no mínimo incentivou-o via CIA, com (in)gerência do adido militar americano no Brasil, em 1964, o então coronel Vernon Walters (http://en.wikipedia.org/wiki/Vernon_A._Walters). Segundo, e principalmente, pelo fato de que para lutar e enfrentar a ditadura, grupos organizados de esquerda sequestraram o então embaixador americano no Brasil, Charles Burke Elbrick (http://www.franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?titulo=manifesto-do-sequestro-do-embaixador-americano-rio-1969).
E agora!? Se o Gabeira pedir um visto para visitar os States, será concedido? Talvez o que Obama deseje é de certa forma mandar um recado para o Kadhaffi e para as outras ditaduras no Oriente Médio; ou estaria mandando um recado aos venezuelanos: "... a reivindicação de mudança pode começar na rua e transformar o país..", criem coragem e mexam-se.
Obviamente, nem todos brasileiros gostaram dos elogios que Obama fez a Dilma. Isso já ficou claro aqui. Entre eles deve estar o general de divisão Ilídio Gaspar Filho, comandante da 4o Região Militar localizada em Belo Horizonte. O general distribuiu convites para a solenidade comemorativa do 47o aniversário da Revolução Democrática de 31 de março de 1964.
Foi democrática ou foi ditadura ? Começou de um jeito e acabou de outro ? Ou acabou como começou ?
Agora temos uma situação inusitada (mais outra): um general, um subordinado, convida para a comemoração de uma revolução, que a sua superior, comandante-em-chefe (tradução literal, prefiro comandante chefe) das Forças Armadas, combateu, foi presa e torturada. "Em 1970, Dilma Rousseff, então com 23 anos, foi presa por subversão e torturada. Três anos depois conseguiu sua liberdade na Justiça e decidiu recomeçar a vida em Porto Alegre. " (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/11/01/dilma-a-primeira-mulher-presidente-do-brasil-922920946.asp)
É no mínimo uma falta de sensibilidade. Ou seria um enfrentamento ou protesto ?
Essa comemoração deverá se restringir ao auditório onde ela ocorrerá, sem maiores consequências. Sorte do general que o chefe dele não é o Obama, pois os presidentes civis americanos adoram dar canetadas mandando generais para casa. Do presidente Carter até Bush Jr. eu seria capaz de citar vários casos.Lá por aquelas bandas, o general que expressa opinião que desagrade a Casa Branca troca a farda pelo pijama.
Não estou sugerindo isso para o general Gaspar Filho, só estou tentando comentar uma situação concreta, principalmente pelo fato de um presidente americano vir a elogiar a participação de Dilma no combate a ditadura. Querendo ou não, essa a situação toma outra conotação.

Nesse endereço você lê e vê o discurso de Obama na íntegra: http://ultimosegundo.ig.com.br/visitaobama/veja+a+integra+do+discurso+de+obama+no+rio/n1238183027934.html

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