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terça-feira, 16 de novembro de 2010

PMDB passa rasteira no PT ou Dormindo com o Inimigo

Poucos dias antes do segundo turno da eleição presidencial no mês passado, César Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro e pai do presidente do DEM, Rodrigo Maia escreveu no seu blog o que todo mundo sempre soube: “ Ganhe Dilma ou Serra, o PMDB será governo.” E com a vitória de Dilma Roussef, o PMDB é governíssimo. O vice-presidente eleito, Michel Temer, além de ser o atual presidente da Câmara Federal, é o presidente do PMDB. Portanto, ele está anos-luz longe, das figuras viceinexpressivas, de Marcos Maciel, vice de FHC e de José de Alencar, vice de Lula. Alencar, grande empresário, levou oito anos reclamando dos juros altos, mas não passou disso. Mas o que o Temer disser contra o governo (diz ele que não fará isso) é para ser levado a sério.
Falar mal do próprio governo não é novidade nesse país. Não foi o José Alencar que inaugurou essa modalidade, o ..... (se eu escrever o adjetivo que melhor o qualifica, ele vai me processar) Itamar Franco foi quem mais falou mal do seu próprio governo. Ele tinha a maluquice de falar mal de seus ministros e das decisões deles. Itamar está com 80 anos e acabou de ser eleito senador, ser suplente dele é um bilhete premiado.
E o Temer como será que ele vai agir ? Minha cara presidente muita calma nessa hora com PMDB. Vocês fizeram um casamento, e agora, como a Julia Roberts naquele filme, vão dormir com o inimigo. Como nos casamentos de verdade, a convivência tem dias que o bicho pega. Foi por isso que para alguns casamentos inventaram o divórcio e a lei Maria da Penha.
O PT, para ter o PMDB ao seu lado e evitar que o partido fosse se juntar ao Serra, teve de engolir cobras e lagartos, defendendo Renan Calheiros no escândalo provocado pela jornalista Mônica Veloso, que teve uma filha com ele; e José Sarney, acusado de diversas irregularidades na administração do Senado. Mas isso é pouco, embora a imagem do PT tenha saído arranhada nesses episódios, o PMDB quer mais, muito mais. É, portanto, um parceiro que deve ser respeitado; mais do que isso, deve ser visto com certa desconfiança.
É um direito consuetudinário, do partido com a maior bancada na Câmara Federal, escolher o presidente da Casa. Nesse caso caberia ao PT, que elegeu 88 deputados, escolher o sucessor de Temer. Mas o parceiro PMDB, que a principio deveria fazer um rodízio com o PT na administração da Câmara, já deu um jeito de ser maioria, formando um blocão com o PP, PR, PTB e PSC totalizando 202 deputados ou 39% do total.
O PMDB mostrou logo quem é (e o que sempre foi), e que não está para brincadeiras. Passou uma rasteira no PT. Possivelmente, não deve estar obtendo ministérios na quantidade e qualidade que desejaria. Temer lá da sala da equipe de transição, após receber um não dos Eduardos Cardozo e Dutra e de Palocci, pediu para ir ao banheiro e ligou para o Renan: "Os caras aqui estão querendo fazer jogo duro, junta o nosso pessoal." Renan saiu em campo. Esse é o round zero de uma luta que ainda nem começou. Mas o PT, que tem mais cobras criadas que o Butantã, vai saber resolver essa situação.
O PT vai ter de se aproximar mais dos aliados que ficaram de fora do superbloco. Será que o PSB se presta para ser amante ?
Veja esse vídeo: "O PT vê no bloco do PMDB um gesto de disputa, com risco de azedar relações na Câmara"http://colunistas.ig.com.br/poderonline/2010/11/16/pt-ve-no-bloco-do-pmdb-um-gesto-de-disputa-com-risco-de-azedar-relacoes-na-camara/

Cláudio Nogueira

Post Scriptum
PS1 - Falando em PSB, quem deve andar feliz, apesar dos aborrecimentos, é o vereador e deputado eleito Marcelo Ramos. Quem tem o Amazonino como adversário não precisa de cabo eleitoral. Com a ajuda de Amazonino, Ramos não sai da mídia. E o povo sabe que quem nasceu homero vai morrer tayah.

PS2 - O resultado da inflação medido pelo IPCA, Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, que é o índice oficial para a meta de inflação, até outubro foi de 4,38%, e 5,19% nos últimos doze meses. O dólar está desvalorizado, e nos países do G-20 o real é a moeda mais sobrevalorizada. Agora junte o primeiro parágrafo com o segundo e responda: Como é que o Banco Central vai baixar a taxa de juros, via COPOM, que hoje está em 10,75% ao ano? Juro alto ajuda a controlar o consumo e, portanto, a inflação. Mas juro alto atrai dólares em grande quantidade para o Brasil, que tem a maior taxa de juros do mundo civilizado (qualquer coisa acima disso, não é mais civilizado) aumentando a oferta da moeda americana, ajudando na sua desvalorização. Se o BC baixar a taxa de juros (SELIC) , pode ajudar a valorizar o dólar, mas aumenta o consumo, que já está alto; e o Natal se aproxima. O Brasil está numa situação de que se baixar a taxa, a inflação pega; se aumentar, o real come; prejudicando as nossas exportações, deixando os nossos produtos mais caros. Está bom para levar as crianças para Disney.
O FED, o banco central americano, prometeu gasta a bagatela de 600 bilhões de dólares para incrementar a economia americana. Isso deixou o mundo em pavorosa. Os países que estão em guerra cambial com o dólar temem que esse dinheiro viaje pelo mundo, para países ricos e emergentes, aumentando a oferta de dólares, desvalorizando ainda mais a moeda estadunidense, e valorizando as moedas nacionais. O grande paradoxo é que com a desvalorização do dólar, quanto mais temos, menos ele vale. A nossa reserva cambial, que atingiu o nível recorde nunca antes visto nesse país, beirando 300 bilhões de dólares (isso mesmo, somos um país rico), cada dia compra menos.
Isso requer um post mais detalhado, sobre a guerra cambial e a inflação interna, e porque devemos gastar parte de nossas reservas renovando o nosso parque fabril, criando mestrados e doutorados e áreas de excelências em universidades brasileiras, importando cérebros e enviando estudantes e pesquisadores para se especializarem nas universidades Princetons, Cornells, Harvards, Stanfords, MITs e etc. De 2000 para cá a Índia criou mais sete institutos de tecnologia. Hoje temos dinheiro para fazermos uma política agressiva nesse sentido, para deixarmos de sermos, principalmente, exportadores de commodities e nos tornamos exportadores de produtos de alto valor agregado. Caminho percorrido pelo Japão, Coréia do Sul e agora a Índia. Acreditando que tínhamos capacidade para tal, e com determinação, é que construímos empresas como a Embraer e a Petrobrás.

PS3. Há muito que estou com vontade de escrever um post sobre um assunto que li no caderno de Economia do jornal A Crítica de domingo 5 de setembro de 2010, que trazia uma matéria como o título: "Contra a monocultura". E seguia afirmando: "Concentração de investimentos tende a especialização excessiva." O pessoal da Suframa advertia do "risco" da especialização versus diversificação no PIM.
Tenho maior respeito pelo aquele povo, onde tenho bons e competentes amigos, mas depois de 10 anos estudando pólos industriais, distritos industriais e clusters industriais, no que resultou na minha tese de doutorado, não entendi porque especialização é um risco. Vamos contribuir para o debate, mas adianto o meu pensamento: quanto mais especialização melhor. Na realidade, o que conta é o valor agregado, quanto maior melhor. É melhor produzir celular, que cada dia que passa traz mais features, do que caneta esferográfica.Os maiores, os mais produtivos, os mais competitivos e os mais rentáveis clusters do mundo têm como característica principal a especialização. O Silicon Valley, na Califórnia, o maior, o mais rico e famoso cluster do mundo é monocultura; Bangalore, na Índia, é monocultura; Cingapura é monocultura. O cluster na região de Ottawa-Toronto é monocultura. Isto é, concentradíssimos, com poucas variações em torno do mesmo tema: eletrônica, tecnologia de informação, hardware ou software. Se não são monoculturas são oligoculturas.
A especialização tem uma série de vantagens, e economia de escala é apenas uma delas. E é mais fácil produzir mão de obra para formar massa crítica em duas ou três áreas do que em várias. A questão não é se é monocultura ou se é diversificado. A questão é se é de alto valor agregado ou não. Mas isso é assunto de outro post.

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