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quinta-feira, 16 de junho de 2011

ZFM: Velha aos 44 anos

Recentemente ( na última sexta-feira, 10) escrevi aqui no post "Uma UEA forte. A melhor do Norte"
(http://nogueiraclaudio.blogspot.com/2011/06/uea-forte-melhor-do-norte.html) sobre a necessidade de mudanças no modelo da Zona Franca de Manaus. Falamos da necessidade de saírmos de um aglomerado industrial, para um cluster industrial baseado na inovação ou de base tecnológica, como em alguns exemplos citados ( Bangalore, Barcelona e Cingapura). E como se consegue isso ?
Onde se aprende a fazer essa passagem de aglomeração para inovação ? Existem vários especialistas do assunto no mundo. Um dos mais famosos é Michael Porter da Harvard University; há também o canadense Roger Voyer, que conheci pessoalmente, e que me ajudou na minha tese de doutorado, além de vários outros. Todos são da academia? Não. Mas os acadêmicos estão estudando há muito tempo o que deu certo e o que deu errado nessas concentrações industrias pelo mundo todo.
Todos os anos o TCI, The Competitiveness Institute (http://www.tci-network.org/) faz uma conferência sobre o assunto, onde vem gente de toda parte do mundo: acadêmicos, gestores, presidentes de empresas, governadores, políticos, etc. Esse ano, a 14th TCI Annual Global Conference, será realizada no período de 28 de novembro a 2 de dezembro na cidade de Auckland, Nova Zelândia. Eu tive a oportunidade de paticipar da Sétima Conferência,em 2004, realizada em Ottawa, Canadá. Mas, não tão longe daqui, em Minas Gerais, mais precisamente na cidade de Ouro Preto, este ano, no mês de maio, o TCI realizou a 6a Conferência Latino Americana de Clusters (CLAC - http://www.tci-network.org/news/card/308). E gostaria de pedir: entre os responsáveis pelo futuro do nosso PIM, quem estava presente à conferência levante a mão.
- "Lá vem ele de novo com essa história !"
- Eh!? Então leia, a opinião desses senhores, dita no dia que a ZFM fez 44 anos.
O Post sobre a UEA e o PIM, na realidade, subverteu a ordem das coisas. O que está escrito abaixo foi escrito no dia 28 de fevereiro de 2011, no dia que a ZFM de Manaus fazia 44 anos, mas não foi publicado. Escrevi, mas ficou como rascunho no arquivo deste blog. O post "Uma UEA forte. A melhor do Norte" é uma resposta ao que foi mencionado abaixo:


44 anos da Zona Franca de Manaus - 28.02.2011

Hoje a Zona Franca de Manaus completa 44 anos. Essa jovem senhora tem momentos de euforia e depressão. Mas motivos para isso não lhe faltam. Em 1990-91 o Collor matou sua irmã gêmea, a Zona Franca comercial,e junto com ela o turismo de compras para Manaus. Do dia para a noite viu-se nas lojas de todo o país produtos importados que, no Brasil, eram encontradas só por essas bandas. E em 2001, no final do governo de FHC - que semeou medo no mercado, com uma possível vitória de Lula - a relação real-dólar subiu para 4 por 1. Aí matou de vez algumas importadoras de Manaus.
A Zona Franca de Manaus não raro fica deprimida, por não saber quanto tempo terá de vida ou sobrevida. Seus inimigos a acusam de fazer maquiagem, para aparecer artificialmente bonita. E muito turista brasileiro que aqui chega, não raro afirma, ao andar pelo nosso centro, que a ZFM de Manaus morreu. A verdade é o que o Pólo Industrial de Manaus (PIM) está bombando, e a ZFM de Manaus é um projeto que nos fez um bem danado. Ruim com ele, muito pior sem ele.
Ela (ZFM) é quem nem parente: não permitimos que gente de fora da família fale mal, diga que ela encheu a cidade de favelas, e que não é um projeto correto, modelo perfeito. Perfeito não é não. Mas graças a ela, a floresta Amazônica, no que diz respeito a sua parte no Estado do Amazonas, está ainda com 97% intacta. Ela distribuiu muita renda via Pólo Industrial, é verdade. Mas poderia ser melhor: "O PIM pagou em salários, para um universo de 108 mil trabalhadores,US$ 920,80 milhões, e recebeu de ICMS US$ 308,74 milhões, o equivalente,a 2,62% e a 0,87% do faturamento total do parque industrial. Considere-se, adicionalmente,que,com base em dados de 2009, 54% do total da mão de obra empregada no PIM ganhava até 2 salários mínimos, contra apenas 26% em 1988." A afirmação é do economista Osirís Silva, ex- secretário de Economia e Finanças de Manaus.
Contudo, a distribuição de renda ainda é melhor que em muitos Estados. O Estado do Pará, por exemplo, não é um estado pobre, é rico em minérios, que geram muitos impostos, mas vai para o governo e não para o contra-cheque do povo. É por isso, viu Amazonino (!?), que eles (paraenses, maranhenses e piauienses) estão vindo para cá.
Todavia, como qualquer parente que admiramos e queremos bem, não podemos ficar cegos as necessidades emergentes, e nem deixar de apontar erros congênitos.
Nesse dia 28, encontramos na mídia, felizmente, um pouco mais do que as mensagens de congratulações que todos os anos as empresas dirigem a Suframa. Houveram reflexões interessantes que devem ser levadas em consideração.
No seu site, http://www.blogdosarafa.com.br/, o ex-prefeito de Manaus, Serafim Corrêa, como economista, escreveu sobre o tema: "Zona Franca de Manaus: 44 Anos depois". Excelente reflexão com informações importantes. No jornal A Crítica alguns dos entrevistados citaram o texto do Serafim: "Hoje, 44 anos depois do Decreto Lei nº 288/67 [certidão de batismo da ZFM], temos o mais importante pólo industrial do Norte/Nordeste brasileiro que, no entanto, têm dificuldades que precisam ser equacionadas.
São de duas ordens[:]A primeira em relação aos incentivos e a segunda em relação às condições objetivas de funcionamento das empresas (transporte, portos, aeroporto, comunicações e recursos humanos).
Em relação aos incentivos propriamente ditos 44 anos depois o Estado brasileiro ainda tem dúvidas sobre alguns deles. E ora entende de um jeito, ora entende de outro, gerando a insegurança jurídica que é fatal quando se trata de atração de novos investidores..."
Vá lá e dê uma olhada.
A Crítica fez o dever de casa e coletou opiniões. Muitas delas repetem o que Serafim e outros já mencionaram, a falta de infraestrutura:
"Em 44 anos de existência a ZFM se agigantou, mas a infraestrutura não acompanhou esse crescimento. Há gargalos agudos e crônicos que se arrastam há anos sem previsão de solução e que desafiam aqueles que querem produzir e escoar sua produção, atingir mercados regionais ou distantes e mesmo para a movimentação da população na Região."Diz o economista José Laredo, que também crítica o nosso aeroporto, tanto em relação a prestação de serviços ao passageiro, quanto ao serviço de carga.
Fala mal do nosso aeroporto já virou lugar comum. A sua absolescência é visível, não somente porque opera muito acima da sua capacidade limite, e sobretudo a má qualidade do serviço. A recepção no posto da Polícia Federal para que vem do exterior é simplesmente ridícula. É um péssimo cartão de visita da nossa cidade para o turista estrangeiro. Dois funcionários apenas para atender uma fila enorme de passageiros, além da aparência precária do quiosque de atendimento. Será que isso permanece até a Copa do Mundo ?
Segundo um pessoa bem informada- trabalhando num ministério em Brasília - vão ser gastos milhões para aumentar apenas mais dois fingers (tunéis) de embarque, e acrescenta: "Presta atenção quando for divulgado o valor da expansão do aeroporto de Manaus, com mais dois fingers apenas. Compara com o valor gasto na construção do aeroporto da cidade do Panamá [100 milhões de dólares em sete anos - segundo o site dele: http://www.tocumenpanama.aero/] e que tem 35 fingers".
Isso exige um parêntese e uma reflexão. Segundo a coluna Sim & Não do jornal A Crítica, o prefeito Amazonino Mendes tenciona construir um novo teatro na Ponta Negra. Isto é, se o Tiago de Melo deixar, pois como presidente do Conselho Municipal de Cultura, prefere vê-lo construído na periféria. O valor da obra é a pechincha de 100 milhões de reais. Segunda a coluna, a arquiteta não vai cobrar nada. Pois sendo ela filha do prefeito, resolveu dar esse presente ao papai.
Um aeroporto (do Panamá) daquele tamanho custou 100 milhões de dólares; então, o teatro do Amazonino deve ser uma coisa grandiosa pois vai custar mais ou menos uns 58 milhões de dólares.
Para o e-leitor ter noção do que será o novo teatro, basta lembrar que o viaduto Miguel Arraes na Recife (hoje av. Umberto Calderaro) com a Darcy Vargas; o viaduto da bola do Coroado, Complexo Viário Gilberto Mestrinho e o viaduto da Paraíba, Antônio Simões juntos custaram 75 milhões de reais. Dinheiro obtido pela Prefeitura na administração anterior, junto a CAF ( Corporación Andina de Fomento). Esse recursos hoje ainda pagam a construção do viaduto da bola do São José.
E como um assunto puxa outro, vou perguntar: o Amazonino se queixa de ter construído o viaduto Gilberto Mestrinho em 11 meses, a construção do são José começou em setembro, será que ele entrega pronto em agosto deste ano ? Terão se passado 11 meses. Esperamos que sim.
Voltemos ao assunto deste post:
"Outra ação que exige urgência, segundo Machado [José Alberto da Costa Machado,ex-coordenador de projetos (COGEC) da Suframa], é a definição pelas agências responsáveis do futuro do abastecimento energético de Manaus, vez que o Linhão de Tucuruí teve sua operação adiada para 2013 e o uso de gás natural para geração de energia elétrica ainda está começando.
Temos também problemas graves de Internet e telefonia celular que, além de caras, estão entre as piores do Brasil. Há também a necessidade de melhorias na malha rodoviária para integração e fluxo de produção referente aos principais eixos de integração do Estado: as BRs 319 (Manaus-Porto Velho) e 174 (Manaus-Boa Vista)."
Há outros gargalos que impactam sobre o desenvolvimento do PIM, a falta de mão de obra qualificada para que a ZFM se lance a voos mais altos: "No entanto, após mais de quatro décadas, as fábricas ainda são obrigadas a importar técnicos qualificados em diversas áreas ou arcar com os custos de qualificação.
A falta de mão-de-obra, principalmente engenheiros, com o perfil que a indústria precisa, ainda é um gargalo quase tão sério como as limitações da logística. É outro desafio que precisa ser superado para que os números do PIM continuam batendo recordes." A
firma ao jornal o economista José Laredo. Essa é a parte que eu mais gosto. A falta de mão de obra ? Sim. Não... Eu gosto quando alguém lembrar da falta interação indústria-academia. Da falta de formação de mão de obra direcionada, específica.
"Ainda não se conseguiu um modelo sustentável poderoso que caminhe lado a lado com o PIM. Isso exige tempo, vontade política e muito investimento em pesquisa e desenvolvimento [P&D].
O reconhecimento do fato é do secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Odenildo Sena, que explica ser novo o sistema estadual de ciência e tecnologia. Só começou em 2003 com a criação do sistema público estadual de C&T"
Na reportagem de A Crítica, o professor José Alberto Machado lembra o distanciamento entre a universidade e o PIM. E "Deusamir Pereira concorda com a análise de José Alberto Machado [esses dois já tiveram no passado um desentendimento sério sobre direitos autorais e plágio] sobre esse distanciamento e dá um exemplo emblemático. Enquanto a cadeia produtiva para fármacos e cosméticos a partir do guaraná tem um enorme potencial em Maués, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) realiza cursos de graduação em Educação Física e Contabilidade no município. 'Qual é a lógica? Isso é samba do crioulo doido', compara Deusamir. Sou obrigado a concordar.
Eu conclamo ao e-leitor a comprar o jornal A Crítica do dia 28 de fevereiro de 2011, ir até a página 15 do caderno especial " ZFM 44 anos" e ler o artigo "ZFM, ano V, que rumo tomar", de autoria de Osíris Silva. Ele faz uma reflexão da evolução na indústria eletrônica:"...fita cassete foi sucateada pelo CD, que já está sendo superada pelo MP3 e o pen drive." Menciona também a evolução enorme no tamanho das memórias dos computadores, e de alguns aparelhos eletrônicos que cairam em desuso, porque "hoje encontram-se totalmente fora de uso ou substituidos por novidades tecnologicamente mais avançadas."
Mas a parte que eu mais gosto é essa: " Nesse contexto, temo que a ZFM haja se convertido numa velharia, no sentido de antiquada, arcaica. Atingida de morte em sua identidade conceitual - inúmeras as mutilações sofridas durante seus 44 anos de existência no núcleo dos incentivos fiscais que lhe deram formato - enfrenta grave crise de absolescência no que tange a tecnologia de produto e processo, a sistemas de comercialização e gerenciais, em cujas áreas pouco investiu. Ao contrário da Coreia do Sul e da China. A China, que já produz imagens de N. Sa. Aparecida, tapete persas, cristais de Murano, carro elétrico, quinquilharias de todos os tipos, calçados, confecções e produtos eletrônicos que invadem o mundo ameaça superar o PIM como principal fornecedor junto ao mercado brasileiro no tocante aos bens de constituem a base da indústria da ZFM: eletroeletrônicos, duas rodas, relojoeiro, bens de informática, termoplástico,químico e metalúrgico.
Diante de todo esse cenário ainda assistimos a declarações pouco convicentes - e até irresponsáveis - alusivas a uma fictícia "intocabilidade" da Zona Franca de Manaus. Em que sentido, afinal de contas? É urgente que se encare e avalie o quadro conjuntural com muita objetividade e pragmatismo."
Preciso dizer mais alguma coisa ? Como dizia o colunista social Little Box, o Caixinha: "Pano rápido!"
Tenham todos um bom dia !
Cláudio Nogueira

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