Meus prezados e-leitores e prezadas e-leitoras,
Há muito tempo venho escrevendo, mesmo antes de ter esse blog, sobre a ZFM. Mas eu não sou o único a fazer isso. Esses últimos dias tem aparecido em blogs e nos jornais opiniões sobre o modelo ZFM que devem ser levadas em consideração, provocadas pelo mal estar ou alerta causado pela MP 534, a dos tabletes.
Eu, desde de 2000, venho pesquisando a fundo aglomerações industriais por todo o mundo. E a mais triste das constatações foi que em outras regiões do planeta algumas zonas francas ou distritos industriais que começaram bem depois que a nosso, já souberam passar para outro estágio,e nós não. Não passamos porque os nossos principais atores, principalmente o governo federal, a Suframa, e até mesmo o governo estadual, se conformaram com o modelo existente, que rende atualmente mais de 30 bilhões de dólares, mas da forma como este modelo se encontra, sem nenhum upgrading nos seus 44 anos de existência, está seriamente ameaçado.
Eu, desde de 2000, venho pesquisando a fundo aglomerações industriais por todo o mundo. E a mais triste das constatações foi que em outras regiões do planeta algumas zonas francas ou distritos industriais que começaram bem depois que a nosso, já souberam passar para outro estágio,e nós não. Não passamos porque os nossos principais atores, principalmente o governo federal, a Suframa, e até mesmo o governo estadual, se conformaram com o modelo existente, que rende atualmente mais de 30 bilhões de dólares, mas da forma como este modelo se encontra, sem nenhum upgrading nos seus 44 anos de existência, está seriamente ameaçado.
Fico muito a vontade para escrever sobre isso, pois na minha tese de doutorado defendo 12 propostas para que o modelo saísse de parque de industrial de montadoras multinacionais (MNC) para um parque tecnológico baseado na inovação. Muitos conseguiram fazer essa passagem, porque perseguiram ela. Nós estamos parados, porque não questionamos o modelo, e nem percebemos que o mundo mudou, no que diz respeito as vantagens comparativas, para vantagens competitivas.
Uma pesquisadora americana, Anne Saxenian, fez um estudo que hoje é referência mundial, comparando o Silicon Valley, o maior cluster tecnológico do mundo, no estado da Califórnia com um distrito industrial existente no estado de Massachusetts, localizado perto da Rota 128. O resultado é que a Silicon Valley é muito superior ao aglomerado industrial localizado na costa leste americana. Não obstante ao fato de que em Massachusetts estão localizados o MIT e a Harvard University, as duas mais famosas universidades do mundo, pela de qualidade do ensino e da pesquisa. A conclusão dela é que a existência de um Sistema Local de Inovação no Vale do Silício e a não existência no outro causava a enorme diferença entres eles. Não há espaço para explicar isso aqui. O que quero é dizer que ao invés de estarmos faturando 30 bilhões de dólares anualmente, poderíamos está faturando 50 bilhões. O pessoal da Route 128 está muito feliz com o faturamento deles, mas este está muito aquém do faturamento do Silicon Valley e de sua capacidade de inovação tecnológica. Aqui temos um agravante: deveríamos nesses 44 anos de existência ter procurado desenvolver capacidades para continuarmos existindo mesmo sem as isenções fiscais.
O debate sobre os tabletes parece que nos acordou e a ficha caiu. Finalmente vimos que esse faturamento superior a 30 bilhões de dólares pode não ser nada, e a ZFM, como lembra o artigo abaixo, ser o nosso segundo Ciclo da Borracha.
O artigo abaixo está publicado no seguinte site: http://www.carlosbranco.jor.br/
Copyright @Osíris Silva
Pensando Bem
Osíris Silva
* Osiris Silva é economista, consultor de empresas, produtor agrícola e ex-Secretário da Indústria, Comércio e Turismo, e da Fazenda, do Amazonas.
osirisasilva@gmail.com
21/06/2011 17:21
ZFM: alerta vermelho!
Muito preocupantes as declarações do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) prestadas ao jornalista Cesar Augustus Coelho e publicadas em A Crítica destaterça-feira, 21/6, a respeito do que ele considera seja "vergonhoso que a bancada amazonense não tenha uma voz opositora ao Governo Federal para que haja uma melhor defesa dos interesses do Estado". O senador de Goiás, que veio a Manaus participar do I Congresso Mestiço Brasileiro, levado a efeito na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), ontem, disse que a questão que envolveu a Medida Provisória (MP) 534, que dispõe sobre normas a respeito da produção dos Ipads (tablets) é "apenas o primeiro passo para uma série de iniciativas que colocarão em risco o modelo econômico da Zona Franca de Manaus".
Afirmou ainda que "os parlamentares amazonense foram obrigados a se abster de votar contra o governo e, consequentemente, a favor do Amazonas no caso da MP 534". Isso é uma vergonha, resaltou, observando com severidade que "a falta de uma oposição, ainda mais no Senado, engessa o poder de negociação política do Amazonas".Ainda na reportagem de A Crítica o senador Torres afiançou haver tomado conhecimento de que "o ministro da Ciência e Tecnologis (MCT), Aloisio Mercadante (PT-SP), pretende realizar mudanças nas legislações que tratam da fabricação de componentes no País", medidas que, "dependendo do que for feito, pode ocorrer um estrangulamento da produção de componentes na ZFM, que corre o risco de chegar ao fim".
Ainda mais preocupante é o relato que o senador Demóstenes Torres fez dando conta de que esta seja também a opinião de senadores de outros Estados, "que criticam a postura passiva com que a bancada amazonense se comporta em relação às decisões do Governo Federal". Exemplificou: "outro dia o senador Mario Couto (PSDB-PA) comentou que a falta de uma oposição mais representativa no Congresso Nacional da bancada amazonense faz com que o Amazonas fique à mercê das vontades do governo".
Dois outros relevantes aspectos em relação ao Polo Industrial de Manaus e que devem ser vistos como sinal vermelho que se acendeu foram levantados pelo senador goiano ao jornalista de A Crítica Cesar Augusto Coelho: 1) "boatos correm à solta no Senado indicando já existir uma mobilização política para alterar as leis que tratam da fabricação e da montagem de televisores no País, que compõe uma parte muito importante do segmento eletroeletrônico do PIM"; 2) "é bom que a bancada amazonse fique de olhos bem abertos para as questões que envolvem a fabricação de televisores, pois essa mobilização é mais uma que vai contra a Zona Franca de Manaus e privilegia outros centros fabris do País".
Muito prudentes, a propósito, as declarações do deputado federal do PT do Amazonas, Francisco Praciano, na mesma reportagem de A Crítica. Segundo afirmou, "o probelma da Zona Franca de Manaus (ZFM) não é a falta de representatividade política da bancada amazonense, ou a ausência de um caráter de oposição da mesma em relação ao Governo Federal, mas sim a incompetência dos gestores dos últimos 44 anos, que não conseguiram criar um ambiente de negócio competitivo para a ZFM, no que se refere à infraestrutura, logística e potencialidades da região".
Foi mais além o parlamentar governista: "Depois de quatro décadas não temos investimentos em pesquisa de ponta, não temos mão-de-obra qualificada e não desenvolvemos nossas potencialidades econômicas, ficando a mercê de um modelo econômico que, hoje, se encontra defasado. Trata-se então de uma questão administrativa e não somente política".O deputado Praciano confirmou as afirmações do senador Demóstenes Torres, e ressaltou um aspecto da questão que se afigura explosivo: "Quando a China cismar de que quer produzir televiores no Brasil e fora da ZFM, quem o Governo vai preferir? O Amazonas ou a China"?
As questões acima enfocadas não constituem a rigor novidades para analistas independentes que questionam a cada vez maior fragilidade do modelo Zona Franca de Manaus diante da concorrência internacional. China, Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan assumem cada vez mais a liderança da produção de eletroeletrônicos e de bens de informática. Desenvolveram tecnologias de processo e produtos que nem de longe o Polo Industrial de Manaus poderá acompanhar. Não é exagero ressaltar que muito em breve não só os produtos eletroeletrônicos, também veículos e eltrodomésticos serão classificados como bens de informática. A perda de poder de competitividade e de importância relativa do PIM face ao mercado interno afigura-se, nesse contexto, inevitável e letal.
Lamentavelmente esta a realidade. Portanto,concordo com o senador Torres e com o deputado Praciano, particularmente quando afirma que“em 44 anos a ZFM não desenvolveu pesquisas em tecnologia de ponta, não formou mão de obra qualificada e nem investiu no desenvolvimento de nossas potencialidades regionais”. Não há o que contestar a respeito.
De fato, o modelo ZFM envelheceu, defasou.Nesse contexto,em recente artigo publicado em minha coluna “Visão Integrada”, de A Crítica, afirmo temer que a ZFM haja se convertido numa velharia, no sentido de antiquada, arcaica. Atingida de morte em sua identidade conceitual - inúmeras as mutilações sofridas durante seus 44 anos de existência no núcleo dos incentivos fiscais que lhe deram formato – o modelo enfrenta grave crise de obsolescência no que tange à tecnologia de produto e processo, a sistemas de comercialização e gerenciais, em cujas áreas quase nada se investiu.
Complementando, ou dando origem ao raciocínio, postei semana passada aqui mesmo no Blog Carlos Branco, em minha coluna “Pensando Bem”, o artigo “O fator China” no qual aponto outras fragilidades de nosso modelo.Creio ser obrigação de cada amazonense se preocupar.Nossa classe política – não estou cometendo nenhuma ofensa - é bastante comodista e, em muitos casos, oportunista e servil. Os interesses do Amazonas são muito mais importantes e prece de quaisquer presumíveis prestígios palacianos, comprometimentos individuais ou alinhamentos automáticos ao poder central.
O governo junto com os especialistas e as classes empresariais precisam se antecipar aos fatos. Cabe ao governo do estado reunir urgentemente técnicos que entendam do assunto e as lideranças do setor produtivo para pensar em estratégias de defesa. Depois, Inês poderá estar morta. Os tablets de hoje podem representar o que as sementes de seringueira levadas para o Palácio de Buckingham e de pois a Malásia significaram para nossa economia nos anos 1940 e 50. Ontem ingleses, hoje chineses e coreanos.
Para se interar de todo o assunto dê uma olhada também nesses sites:
Deputado federal diz que falta ambiente competitivo na ZFM
Da base aliada, deputado Praciano afirma que não houve desenvolvimento de competências na Zona Franca de Manaus (ZFM)
http://acritica.uol.com.br/noticias/Deputado-federal-ambiente-competitivo-ZFM_0_503349662.html
QUEM É O INIMIGO: SERRA OU MERCADANTE? por Serafim Corrêa
http://www.blogdosarafa.com.br/?p=10368
Pensando Bem
Osíris Silva
* Osiris Silva é economista, consultor de empresas, produtor agrícola e ex-Secretário da Indústria, Comércio e Turismo, e da Fazenda, do Amazonas.
osirisasilva@gmail.com
21/06/2011 17:21
ZFM: alerta vermelho!
Muito preocupantes as declarações do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) prestadas ao jornalista Cesar Augustus Coelho e publicadas em A Crítica destaterça-feira, 21/6, a respeito do que ele considera seja "vergonhoso que a bancada amazonense não tenha uma voz opositora ao Governo Federal para que haja uma melhor defesa dos interesses do Estado". O senador de Goiás, que veio a Manaus participar do I Congresso Mestiço Brasileiro, levado a efeito na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), ontem, disse que a questão que envolveu a Medida Provisória (MP) 534, que dispõe sobre normas a respeito da produção dos Ipads (tablets) é "apenas o primeiro passo para uma série de iniciativas que colocarão em risco o modelo econômico da Zona Franca de Manaus".
Afirmou ainda que "os parlamentares amazonense foram obrigados a se abster de votar contra o governo e, consequentemente, a favor do Amazonas no caso da MP 534". Isso é uma vergonha, resaltou, observando com severidade que "a falta de uma oposição, ainda mais no Senado, engessa o poder de negociação política do Amazonas".Ainda na reportagem de A Crítica o senador Torres afiançou haver tomado conhecimento de que "o ministro da Ciência e Tecnologis (MCT), Aloisio Mercadante (PT-SP), pretende realizar mudanças nas legislações que tratam da fabricação de componentes no País", medidas que, "dependendo do que for feito, pode ocorrer um estrangulamento da produção de componentes na ZFM, que corre o risco de chegar ao fim".
Ainda mais preocupante é o relato que o senador Demóstenes Torres fez dando conta de que esta seja também a opinião de senadores de outros Estados, "que criticam a postura passiva com que a bancada amazonense se comporta em relação às decisões do Governo Federal". Exemplificou: "outro dia o senador Mario Couto (PSDB-PA) comentou que a falta de uma oposição mais representativa no Congresso Nacional da bancada amazonense faz com que o Amazonas fique à mercê das vontades do governo".
Dois outros relevantes aspectos em relação ao Polo Industrial de Manaus e que devem ser vistos como sinal vermelho que se acendeu foram levantados pelo senador goiano ao jornalista de A Crítica Cesar Augusto Coelho: 1) "boatos correm à solta no Senado indicando já existir uma mobilização política para alterar as leis que tratam da fabricação e da montagem de televisores no País, que compõe uma parte muito importante do segmento eletroeletrônico do PIM"; 2) "é bom que a bancada amazonse fique de olhos bem abertos para as questões que envolvem a fabricação de televisores, pois essa mobilização é mais uma que vai contra a Zona Franca de Manaus e privilegia outros centros fabris do País".
Muito prudentes, a propósito, as declarações do deputado federal do PT do Amazonas, Francisco Praciano, na mesma reportagem de A Crítica. Segundo afirmou, "o probelma da Zona Franca de Manaus (ZFM) não é a falta de representatividade política da bancada amazonense, ou a ausência de um caráter de oposição da mesma em relação ao Governo Federal, mas sim a incompetência dos gestores dos últimos 44 anos, que não conseguiram criar um ambiente de negócio competitivo para a ZFM, no que se refere à infraestrutura, logística e potencialidades da região".
Foi mais além o parlamentar governista: "Depois de quatro décadas não temos investimentos em pesquisa de ponta, não temos mão-de-obra qualificada e não desenvolvemos nossas potencialidades econômicas, ficando a mercê de um modelo econômico que, hoje, se encontra defasado. Trata-se então de uma questão administrativa e não somente política".O deputado Praciano confirmou as afirmações do senador Demóstenes Torres, e ressaltou um aspecto da questão que se afigura explosivo: "Quando a China cismar de que quer produzir televiores no Brasil e fora da ZFM, quem o Governo vai preferir? O Amazonas ou a China"?
As questões acima enfocadas não constituem a rigor novidades para analistas independentes que questionam a cada vez maior fragilidade do modelo Zona Franca de Manaus diante da concorrência internacional. China, Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan assumem cada vez mais a liderança da produção de eletroeletrônicos e de bens de informática. Desenvolveram tecnologias de processo e produtos que nem de longe o Polo Industrial de Manaus poderá acompanhar. Não é exagero ressaltar que muito em breve não só os produtos eletroeletrônicos, também veículos e eltrodomésticos serão classificados como bens de informática. A perda de poder de competitividade e de importância relativa do PIM face ao mercado interno afigura-se, nesse contexto, inevitável e letal.
Lamentavelmente esta a realidade. Portanto,concordo com o senador Torres e com o deputado Praciano, particularmente quando afirma que“em 44 anos a ZFM não desenvolveu pesquisas em tecnologia de ponta, não formou mão de obra qualificada e nem investiu no desenvolvimento de nossas potencialidades regionais”. Não há o que contestar a respeito.
De fato, o modelo ZFM envelheceu, defasou.Nesse contexto,em recente artigo publicado em minha coluna “Visão Integrada”, de A Crítica, afirmo temer que a ZFM haja se convertido numa velharia, no sentido de antiquada, arcaica. Atingida de morte em sua identidade conceitual - inúmeras as mutilações sofridas durante seus 44 anos de existência no núcleo dos incentivos fiscais que lhe deram formato – o modelo enfrenta grave crise de obsolescência no que tange à tecnologia de produto e processo, a sistemas de comercialização e gerenciais, em cujas áreas quase nada se investiu.
Complementando, ou dando origem ao raciocínio, postei semana passada aqui mesmo no Blog Carlos Branco, em minha coluna “Pensando Bem”, o artigo “O fator China” no qual aponto outras fragilidades de nosso modelo.Creio ser obrigação de cada amazonense se preocupar.Nossa classe política – não estou cometendo nenhuma ofensa - é bastante comodista e, em muitos casos, oportunista e servil. Os interesses do Amazonas são muito mais importantes e prece de quaisquer presumíveis prestígios palacianos, comprometimentos individuais ou alinhamentos automáticos ao poder central.
O governo junto com os especialistas e as classes empresariais precisam se antecipar aos fatos. Cabe ao governo do estado reunir urgentemente técnicos que entendam do assunto e as lideranças do setor produtivo para pensar em estratégias de defesa. Depois, Inês poderá estar morta. Os tablets de hoje podem representar o que as sementes de seringueira levadas para o Palácio de Buckingham e de pois a Malásia significaram para nossa economia nos anos 1940 e 50. Ontem ingleses, hoje chineses e coreanos.
Para se interar de todo o assunto dê uma olhada também nesses sites:
Deputado federal diz que falta ambiente competitivo na ZFM
Da base aliada, deputado Praciano afirma que não houve desenvolvimento de competências na Zona Franca de Manaus (ZFM)
http://acritica.uol.com.br/noticias/Deputado-federal-ambiente-competitivo-ZFM_0_503349662.html
QUEM É O INIMIGO: SERRA OU MERCADANTE? por Serafim Corrêa
http://www.blogdosarafa.com.br/?p=10368
Senador do DEM crítica postura dos políticos amazonenses
Post sobre a ZFM, por mim escritos:
ZFM: Velha aos 44 anos
UEA forte. A melhor do Norte
Um Novo PIM
Inovação no Amazonas desperta debates
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