Recebi um email convite para a audiência pública, na Assembléia Legislativa do Amazonas, na próxima segunda-feira, 13, às 10:00. Uma manifestação para que seja revogado o Artigo 6º da Lei nº 3022/2005. Este artigo autoriza o governo a aplicar o superávit arrecadado pelo Fundo da UEA em outras ações de governo. O email dizia o seguinte, entre outras coisas: "Não concordamos com esse desvio, visto que enquanto a UEA sofre com graves problemas estruturais, como falta de professores e sucateamento de laboratórios, o Governo do Estado arrecada recursos em seu nome, mas aplica em outras ações. Portanto, pleiteamos que TODO RECURSO ARRECADADO EM NOME DA UEA SEJA APLICADO NA UEA, com a revogação imediata do artigo acima citado." E oferece um link
http://www.maisverbasuea.com.br/assinaturas para aqueles que desejarem participar de um "abaixo assinado" com esse objetivo.
Meus prezados e minhas prezadas,
A UEA, a UFAM, o IFAM (ex-Cefet), que são instituições públicas de ensino superior e todas as outras universidades e/ou centros universitários locais têm uma importância fundamental na sobrevivência do Pólo Industrial de Manaus. O debate não poderia ser mais oportuno. Para uma universidade dinheiro, nunca, jamais e em tempo algum é demais.
Fiz meu mestrado em engenharia industrial na Universidade de Miami, por isso de quando em vez dou uma olhada no que está acontecendo por lá. Ela, como muitas outras universidades americanas, inclusive as mais famosas e as mais ricas, faz rally para coletar dinheiro. O que isso significa ? Significa que essas universidades mesmo sendo privadas, mesmo ganhando muito dinheiro com projetos e mensalidades e doações; anualmente passam o chapéu, ou a sacolinha pedindo dinheiro, de pessoas, de ex-alunos e de instituições. Geralmente tem uma meta a ser alcançada em determinado ano. Há alguns poucos anos atrás, a reitora da Universidade de Miami, Donna Shalala, ex-secretária (ministra) de Saúde e Serviços Humanos do governo Clinton, determinou que a meta de arrecadação seria de 750 milhões a 1 bilhão de dólares, em 2007 essa meta foi mudada para US$ 1,25 bilhões. Esse pedido de dinheiro chama-se Annual Fund, e existe desde 1918.
A Universidade de Harvard, como muitas outras universidades ricas, pede dinheiro sempre. Harvard University tem um página permanente para doações de ex-alunos, que podem ser feitas até com cartão de crédito: http://alumni.harvard.edu/givenow.
http://www.maisverbasuea.com.br/assinaturas para aqueles que desejarem participar de um "abaixo assinado" com esse objetivo.
Meus prezados e minhas prezadas,
A UEA, a UFAM, o IFAM (ex-Cefet), que são instituições públicas de ensino superior e todas as outras universidades e/ou centros universitários locais têm uma importância fundamental na sobrevivência do Pólo Industrial de Manaus. O debate não poderia ser mais oportuno. Para uma universidade dinheiro, nunca, jamais e em tempo algum é demais.
Fiz meu mestrado em engenharia industrial na Universidade de Miami, por isso de quando em vez dou uma olhada no que está acontecendo por lá. Ela, como muitas outras universidades americanas, inclusive as mais famosas e as mais ricas, faz rally para coletar dinheiro. O que isso significa ? Significa que essas universidades mesmo sendo privadas, mesmo ganhando muito dinheiro com projetos e mensalidades e doações; anualmente passam o chapéu, ou a sacolinha pedindo dinheiro, de pessoas, de ex-alunos e de instituições. Geralmente tem uma meta a ser alcançada em determinado ano. Há alguns poucos anos atrás, a reitora da Universidade de Miami, Donna Shalala, ex-secretária (ministra) de Saúde e Serviços Humanos do governo Clinton, determinou que a meta de arrecadação seria de 750 milhões a 1 bilhão de dólares, em 2007 essa meta foi mudada para US$ 1,25 bilhões. Esse pedido de dinheiro chama-se Annual Fund, e existe desde 1918.
A Universidade de Harvard, como muitas outras universidades ricas, pede dinheiro sempre. Harvard University tem um página permanente para doações de ex-alunos, que podem ser feitas até com cartão de crédito: http://alumni.harvard.edu/givenow.
Quanto é que cada um de nós estaria dispostos a doar para a nossa querida UFAM, que há 100 anos vem nos servindo? Quantas instituições estariam dispostas a colaborar ?
Por que é que essas universidades pedem ? Porque dinheiro para universidades que ensinam e fazem pesquisas nunca é demais. Há universidades que só ensinam, não pesquisam, justamente por falta de recursos. E mesmo aquelas que têm muito, acreditam que o que abunda não prejudica. E nunca abunda.
Eu fui, reconheço a minha insignificância, contra a extinção da UTAM, e amplamente favorável a criação da UEA. A UTAM, na realidade era ITAM, tornou-se a Escola Superior de Tecnologia da UEA. Fui professor das duas instituições, portanto, posso afirmar que com transformação de uma em outra houve uma melhora significativa - para ser sucinto - em todos os aspectos. Mas ainda assim, preferiria que a UTAM tivesse se tornado, de fato, no Instituto de Tecnologia do Amazonas (o ITAM era da Amazônia) e tivesse, gradualmente, é claro, se tornado no ITA do norte. Tudo é uma questão de vontade política.
Foi graças à vontade política, que tínhamos uma das maiores empresas petrolíferas do mundo, quando a nossa produção de petróleo era muito inferior à produção de muitos países, grandes produtores. Nem Venezuela, nem países da OPEP tinha uma empresa do porte da Petrobrás.
Foi vontade política quem criou a Embraer, quando estávamos muitíssimos longe de sermos um país emergente. Mas a Embraer não existiria sem a existência do ITA, Instituto Tecnológico da Aeronaútica. Uma universidade tecnológica de alto nível
Nós não somos o Estado de São Paulo, mas mesmo assim o exemplo serve: Quando deram a Zeferino Vaz a missão de criar a Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, apesar da USP já existir, e outras boas universidades, ele não se limitou a criar mais uma. Sem ela não existiria, hoje, na região de Campinas, o cluster de empresas de base tecnológica (são muitas: de biotecnologia, tecnologia da informação, etc.).
Se a nossa UEA não consegue (como muitas universidades no mundo todo, principalmente por falta de recursos) ser um centro de excelência em tudo, pelo menos, movidos pela necessidade, podemos nos esforçar (=vontade política) para tornar a EST em um centro de excelência, para tentarmos mudar o perfil do nosso PIM, para transformá-lo de fato em um cluster industrial baseado na tecnologia e na inovação.
O projeto Zona Franca de Manaus é um projeto exitoso. Ponto. Publica isso aí. Prós menos contras, o saldo é positivo. Geração de empregos, a floresta em pé (98%), etc. As mazelas vocês conhecem muito bem. Mas o modelo oferece vantagens comparativas que vivem a toda hora sendo ameaçadas. Vou usar um bordão muito utilizado recentemente: O modelo está esgotado. Temos de partir para vantagens competitivas.
Vou repetir o que já escrevi aqui, para que os senhores e senhoras possam fazer uma comparação: Nós começarmos a nossa ZFM em 1967, os indianos começaram o Parque Tecnológico de Bangalore em 1992, ou seja, 25 anos depois. Hoje eles têm mais de 2500 laboratórios de P&D, isto é, labs de pesquisa e desenvolvimento que geram novas criações, patentes e invenções tecnológicas para as suas empresas. Todas as maiores empresas inovadoras do mundo estão lá. E a isenção fiscal é somente por 5 anos, mas uns subsídios, como o de energia elétrica.
E por que é que elas vão para lá e não vêm para cá ? Porque o nosso PIM é formado de empresas montadoras (graças a Deus !) ou as MNC, multinationals corporations, mas que estão aqui pelas vantagens comparativas e atuam de acordo com as regras do jogo. E são essas regras que devem ser mudadas. E quem vai mudá-las ? O governo federal, a Suframa, o governo estadual, os políticos. Ou seja, os principais atores. O processo é top down, mas cabe a nós fazermos pressão. Pressão bottom up , mobilização, já provocaram muitas mudanças.
O que é que os indianos têm que nós não temos ? Vontade política e bons institutos de tecnologias produzindo uma massa crítica de engenheiros que atendam as necessidades especifícas do mercado. Pergunte ao pessoal do Instituto Nokia de Tecnologia (INdt), da Fundação Paulo Feitoza e do CT-PIM, uns dos poucos centros de pesquisas existentes em Manaus, se eles encontram a mão-de-obra necessária aqui. Sabe o que acontece ? O nosso PIM produz mais de 30 bilhões de dólares por ano, e está meio conformado com isso. Essa semana mesmo foram divulgados números excelentes. Mas vivemos sobressaltados. Vivemos enganados.
A propósito, falando em faturamento do PIM, lembro-me que em certa ocasião, assisti, na Uninorte, uma palestra de Samuel Hanan (lei Hanan e UEA, tudo a ver), onde ele dizia que não era bem assim não. Essa dinheirama toda não ficava aqui.
Portanto, eu nunca pensei que fosse concordar com o deputado Sinésio Campos (PT), mas (seja lá qual motivo for) quando ele diz que os tabletes (eu sei que é tablets ) não vão ser fabricado aqui por falta de mão-de-obra qualificada, talvez ele tenha razão. Talvez. Porque resta comprovar que esse é realmente o real motivo.
Não sei se isso acontece com os tabletes, mas com certeza, muita coisa deixou de ser produzida na ZFM por falta dos chamados knowledge workers.
Então deputado, o senhor que é lider do governo, mostre ao seu patrão (e deputado tem patrão ? Não seria o povo ?) da necessidade de um melhor aparelhamento da nossa UEA.
O que vamos fazer com o gás natural ? Ficar só acendendo lâmpadas com ele ? A indústria petroquímica se utiliza de nafta ou do gás natural tratado. A UEA tem papel importante na formação de especialistas nesta área. Gás é que não nos falta.
E é só em função do PIM que a UEA deve existir ? Não. Por que não torná-la em um centro de excelência na área de saúde pública, em medicina tropical, em parceria com o Hospital de Doenças Tropicais, ou em outras áreas, em parceria com o CBA , Centro de Biotecnologia da Amazônia ?
Por que não se preparar para ser referência no estudo do meio ambiente ? Eu preciso dizer que nós estamos na Amazônia, etc. etc. ?
As universidades canadenses e australianas têm centros de estudos aborígenas, ou first nations, primeiros povos, como eles chamam seus nativos. E por que não criarmos um centro de estudos indígenas ?
Na área tecnológica fazer curso para estudar sexo dos anjos não serve para nada. Vou repetir o que já escrevi antes: a Universidade Autónoma de Barcelona tem um campus dentro do distrito industrial da Zona Franca catalã. O nome do jogo é interação entre as instituições. De 2000 para cá foram criados 7 novos institutos de tecnologias na Índia.
UEA, UFAM, IFAM, Fucapi, etc. têm tudo a ver com o Pólo Industrial de Manaus. O futuro do PIM passa por essas instituições.
Alguém está pedindo para desmontar as montadoras ? Nada disso. O que se deseja é o fortalecimento e/ou criação de centros tecnológicos que formem trabalhadores qualificados para que o perfil do PIM mude. Que ele possa atrair empresas inovadoras, ou que as existentes tragam centros de pesquisas para cá, para produzirmos bens de maior valor agredado, maior competitividade, alta produtividade.
Cingapura é outro bom exemplo. Em 1963, quando obteve a independência da Malásia, ela era nada. Nada. Uma ilha no fim do mundo. Até 1980 encontrava-se no mesmo estágio do PIM, só tinha montadoras. Então decidiram passar para o próximo nível, o qual teimamos em ficar parados, e partiram para uma política agressiva de transformação do seu parque industrial.
No post “ Um Novo PIM” (http://nogueiraclaudio.blogspot.com/2011/01/um-novo-pim.html) dizia que iria ler o livro “From Agglomeration (nós, o PIM) to Innovation (Bangalore, Cingapura, Barcelona, etc): Upgrading Industrial Clusters in Emerging Economies. Li. Lá entende-se que eles resolveram abandonar a “manufatura intensiva de mão-de-obra” (estágio que não conseguimos sair) para “intensiva de tecnologia” (estágio que devemos buscar). Precisa dizer como foi transformada a economia deles ? Eles não mandaram empresas embora, mudaram a política industrial. De montadoras (nós, o PIM) passaram a manufaturar produtos “high-tech” (estágio que devemos buscar). Aqui não há espaço para contar toda a história. Apenas uma: Em 2002, decidiram que queriam um cluster farmacêutico de nível mundial. O que eles fizeram ? Diminuiram as verbas para ensino e pesquisa ? Não. “Implantaram estrutura de conhecimento público, isto é, universidades e instituições privadas de pesquisa. Isso requereu a criação de novas instituições. Ou a restruturação da instituições existentes, ou a criação de novos cursos, dando prioridade aos campos de pesquisas e educação necessária aos cluster em desenvolvimento.”
Em fevereiro deste ano, li nos jornais, que segundo o governador Omar Aziz, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, prometeu ajudar na construção da cidade universitária da UEA: "Todos os cursos, alojamentos, restaurantes, laboratórios, como um campus universitário, mas numa área grande, onde será toda a nossa universidade" disse o governador. Muito bom!!! Vamos fazer o ministro cumprir a promessa. Vamos pressionar o governo federal para que gaste um pouco das reservas cambiais (312 bilhões de dólares, segundo o último relatório do Bacen), que tem um custo de manutenção enorme, e afetam a nossa política fiscal. Vamos gastar, um pouco dos dólares guardados com C&T, na formação de centros de excelências, na construção de laboratórios, no envio de bolsistas para se especializarem no exterior, e até mesmo na importação de cérebros, como os países ricos sempre fizeram, ou na repatriação de cientistas. Afinal, a nossa moeda está fortíssima, e não sofre nenhuma ameaça especulativa, a nossa economia está estável, estão para que servem as nossas reservas cambiais ? Deveriam no mínimo (considerando a estabilidade econômica) ser para renovar, aprimorar e adquirir tecnologia para o nosso desenvolvimento, modernizar nosso parque industrial, equipar e tubinar nossas universidades.
É tudo uma questão de vontade política. Quanto é que vamos gastar com o trem bala, com os novos estádios de futebol ?
Dinheiro, para qualquer universidade comprometida com o desenvolvimento da sociedade em que está inserida, da comunidade em seu entorno, nunca, jamais é demais. Esse dinheiro é sempre bem vindo, principalmente, quando ele é de menos e ainda há muito a ser feito.
Por uma UEA forte ! A melhor do Norte !
Essa deve ser uma bandeira de todos os deputados: situação, oposição. A UEA não tem dono, ela serve a todos.
Um bom domingo, uma boa semana.
Cláudio Nogueira
PS1. Atenção historiadores de plantão, no ano que a UEA faz 10 anos: Qual foi o insight que o Amazonino teve para criar a Universidade (ele está vivo para confirmar ou negar) ? Em uma viagem para Cuba, Vicente Nogueira, meu brother, o então titular da SEDUC, sugeriu ao Negão que ele criasse uma universidade estadual. Ele ficou de pensar no assunto, mas não disse sim, nem não. Posteriormente Vicente Nogueira voltou ao mantra, alegando que seria uma oportunidade do Amazonino entrar para a história (argumento político) e, principalmente (motivo real), existia a necessidade, devido a elevada demanda pela UFAM. A proliferação de instituições superiores privadas, em Manaus, comprovavam isso. E em uma outra viagem internacional, desta vez para o Japão, Amazonino disse ao Nogueira que criaria a UEA.
Por que é que essas universidades pedem ? Porque dinheiro para universidades que ensinam e fazem pesquisas nunca é demais. Há universidades que só ensinam, não pesquisam, justamente por falta de recursos. E mesmo aquelas que têm muito, acreditam que o que abunda não prejudica. E nunca abunda.
Eu fui, reconheço a minha insignificância, contra a extinção da UTAM, e amplamente favorável a criação da UEA. A UTAM, na realidade era ITAM, tornou-se a Escola Superior de Tecnologia da UEA. Fui professor das duas instituições, portanto, posso afirmar que com transformação de uma em outra houve uma melhora significativa - para ser sucinto - em todos os aspectos. Mas ainda assim, preferiria que a UTAM tivesse se tornado, de fato, no Instituto de Tecnologia do Amazonas (o ITAM era da Amazônia) e tivesse, gradualmente, é claro, se tornado no ITA do norte. Tudo é uma questão de vontade política.
Foi graças à vontade política, que tínhamos uma das maiores empresas petrolíferas do mundo, quando a nossa produção de petróleo era muito inferior à produção de muitos países, grandes produtores. Nem Venezuela, nem países da OPEP tinha uma empresa do porte da Petrobrás.
Foi vontade política quem criou a Embraer, quando estávamos muitíssimos longe de sermos um país emergente. Mas a Embraer não existiria sem a existência do ITA, Instituto Tecnológico da Aeronaútica. Uma universidade tecnológica de alto nível
Nós não somos o Estado de São Paulo, mas mesmo assim o exemplo serve: Quando deram a Zeferino Vaz a missão de criar a Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, apesar da USP já existir, e outras boas universidades, ele não se limitou a criar mais uma. Sem ela não existiria, hoje, na região de Campinas, o cluster de empresas de base tecnológica (são muitas: de biotecnologia, tecnologia da informação, etc.).
Se a nossa UEA não consegue (como muitas universidades no mundo todo, principalmente por falta de recursos) ser um centro de excelência em tudo, pelo menos, movidos pela necessidade, podemos nos esforçar (=vontade política) para tornar a EST em um centro de excelência, para tentarmos mudar o perfil do nosso PIM, para transformá-lo de fato em um cluster industrial baseado na tecnologia e na inovação.
O projeto Zona Franca de Manaus é um projeto exitoso. Ponto. Publica isso aí. Prós menos contras, o saldo é positivo. Geração de empregos, a floresta em pé (98%), etc. As mazelas vocês conhecem muito bem. Mas o modelo oferece vantagens comparativas que vivem a toda hora sendo ameaçadas. Vou usar um bordão muito utilizado recentemente: O modelo está esgotado. Temos de partir para vantagens competitivas.
Vou repetir o que já escrevi aqui, para que os senhores e senhoras possam fazer uma comparação: Nós começarmos a nossa ZFM em 1967, os indianos começaram o Parque Tecnológico de Bangalore em 1992, ou seja, 25 anos depois. Hoje eles têm mais de 2500 laboratórios de P&D, isto é, labs de pesquisa e desenvolvimento que geram novas criações, patentes e invenções tecnológicas para as suas empresas. Todas as maiores empresas inovadoras do mundo estão lá. E a isenção fiscal é somente por 5 anos, mas uns subsídios, como o de energia elétrica.
E por que é que elas vão para lá e não vêm para cá ? Porque o nosso PIM é formado de empresas montadoras (graças a Deus !) ou as MNC, multinationals corporations, mas que estão aqui pelas vantagens comparativas e atuam de acordo com as regras do jogo. E são essas regras que devem ser mudadas. E quem vai mudá-las ? O governo federal, a Suframa, o governo estadual, os políticos. Ou seja, os principais atores. O processo é top down, mas cabe a nós fazermos pressão. Pressão bottom up , mobilização, já provocaram muitas mudanças.
O que é que os indianos têm que nós não temos ? Vontade política e bons institutos de tecnologias produzindo uma massa crítica de engenheiros que atendam as necessidades especifícas do mercado. Pergunte ao pessoal do Instituto Nokia de Tecnologia (INdt), da Fundação Paulo Feitoza e do CT-PIM, uns dos poucos centros de pesquisas existentes em Manaus, se eles encontram a mão-de-obra necessária aqui. Sabe o que acontece ? O nosso PIM produz mais de 30 bilhões de dólares por ano, e está meio conformado com isso. Essa semana mesmo foram divulgados números excelentes. Mas vivemos sobressaltados. Vivemos enganados.
A propósito, falando em faturamento do PIM, lembro-me que em certa ocasião, assisti, na Uninorte, uma palestra de Samuel Hanan (lei Hanan e UEA, tudo a ver), onde ele dizia que não era bem assim não. Essa dinheirama toda não ficava aqui.
Portanto, eu nunca pensei que fosse concordar com o deputado Sinésio Campos (PT), mas (seja lá qual motivo for) quando ele diz que os tabletes (eu sei que é tablets ) não vão ser fabricado aqui por falta de mão-de-obra qualificada, talvez ele tenha razão. Talvez. Porque resta comprovar que esse é realmente o real motivo.
Não sei se isso acontece com os tabletes, mas com certeza, muita coisa deixou de ser produzida na ZFM por falta dos chamados knowledge workers.
Então deputado, o senhor que é lider do governo, mostre ao seu patrão (e deputado tem patrão ? Não seria o povo ?) da necessidade de um melhor aparelhamento da nossa UEA.
O que vamos fazer com o gás natural ? Ficar só acendendo lâmpadas com ele ? A indústria petroquímica se utiliza de nafta ou do gás natural tratado. A UEA tem papel importante na formação de especialistas nesta área. Gás é que não nos falta.
E é só em função do PIM que a UEA deve existir ? Não. Por que não torná-la em um centro de excelência na área de saúde pública, em medicina tropical, em parceria com o Hospital de Doenças Tropicais, ou em outras áreas, em parceria com o CBA , Centro de Biotecnologia da Amazônia ?
Por que não se preparar para ser referência no estudo do meio ambiente ? Eu preciso dizer que nós estamos na Amazônia, etc. etc. ?
As universidades canadenses e australianas têm centros de estudos aborígenas, ou first nations, primeiros povos, como eles chamam seus nativos. E por que não criarmos um centro de estudos indígenas ?
Na área tecnológica fazer curso para estudar sexo dos anjos não serve para nada. Vou repetir o que já escrevi antes: a Universidade Autónoma de Barcelona tem um campus dentro do distrito industrial da Zona Franca catalã. O nome do jogo é interação entre as instituições. De 2000 para cá foram criados 7 novos institutos de tecnologias na Índia.
UEA, UFAM, IFAM, Fucapi, etc. têm tudo a ver com o Pólo Industrial de Manaus. O futuro do PIM passa por essas instituições.
Alguém está pedindo para desmontar as montadoras ? Nada disso. O que se deseja é o fortalecimento e/ou criação de centros tecnológicos que formem trabalhadores qualificados para que o perfil do PIM mude. Que ele possa atrair empresas inovadoras, ou que as existentes tragam centros de pesquisas para cá, para produzirmos bens de maior valor agredado, maior competitividade, alta produtividade.
Cingapura é outro bom exemplo. Em 1963, quando obteve a independência da Malásia, ela era nada. Nada. Uma ilha no fim do mundo. Até 1980 encontrava-se no mesmo estágio do PIM, só tinha montadoras. Então decidiram passar para o próximo nível, o qual teimamos em ficar parados, e partiram para uma política agressiva de transformação do seu parque industrial.
No post “ Um Novo PIM” (http://nogueiraclaudio.blogspot.com/2011/01/um-novo-pim.html) dizia que iria ler o livro “From Agglomeration (nós, o PIM) to Innovation (Bangalore, Cingapura, Barcelona, etc): Upgrading Industrial Clusters in Emerging Economies. Li. Lá entende-se que eles resolveram abandonar a “manufatura intensiva de mão-de-obra” (estágio que não conseguimos sair) para “intensiva de tecnologia” (estágio que devemos buscar). Precisa dizer como foi transformada a economia deles ? Eles não mandaram empresas embora, mudaram a política industrial. De montadoras (nós, o PIM) passaram a manufaturar produtos “high-tech” (estágio que devemos buscar). Aqui não há espaço para contar toda a história. Apenas uma: Em 2002, decidiram que queriam um cluster farmacêutico de nível mundial. O que eles fizeram ? Diminuiram as verbas para ensino e pesquisa ? Não. “Implantaram estrutura de conhecimento público, isto é, universidades e instituições privadas de pesquisa. Isso requereu a criação de novas instituições. Ou a restruturação da instituições existentes, ou a criação de novos cursos, dando prioridade aos campos de pesquisas e educação necessária aos cluster em desenvolvimento.”
Em fevereiro deste ano, li nos jornais, que segundo o governador Omar Aziz, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, prometeu ajudar na construção da cidade universitária da UEA: "Todos os cursos, alojamentos, restaurantes, laboratórios, como um campus universitário, mas numa área grande, onde será toda a nossa universidade" disse o governador. Muito bom!!! Vamos fazer o ministro cumprir a promessa. Vamos pressionar o governo federal para que gaste um pouco das reservas cambiais (312 bilhões de dólares, segundo o último relatório do Bacen), que tem um custo de manutenção enorme, e afetam a nossa política fiscal. Vamos gastar, um pouco dos dólares guardados com C&T, na formação de centros de excelências, na construção de laboratórios, no envio de bolsistas para se especializarem no exterior, e até mesmo na importação de cérebros, como os países ricos sempre fizeram, ou na repatriação de cientistas. Afinal, a nossa moeda está fortíssima, e não sofre nenhuma ameaça especulativa, a nossa economia está estável, estão para que servem as nossas reservas cambiais ? Deveriam no mínimo (considerando a estabilidade econômica) ser para renovar, aprimorar e adquirir tecnologia para o nosso desenvolvimento, modernizar nosso parque industrial, equipar e tubinar nossas universidades.
É tudo uma questão de vontade política. Quanto é que vamos gastar com o trem bala, com os novos estádios de futebol ?
Dinheiro, para qualquer universidade comprometida com o desenvolvimento da sociedade em que está inserida, da comunidade em seu entorno, nunca, jamais é demais. Esse dinheiro é sempre bem vindo, principalmente, quando ele é de menos e ainda há muito a ser feito.
Por uma UEA forte ! A melhor do Norte !
Essa deve ser uma bandeira de todos os deputados: situação, oposição. A UEA não tem dono, ela serve a todos.
Um bom domingo, uma boa semana.
Cláudio Nogueira
PS1. Atenção historiadores de plantão, no ano que a UEA faz 10 anos: Qual foi o insight que o Amazonino teve para criar a Universidade (ele está vivo para confirmar ou negar) ? Em uma viagem para Cuba, Vicente Nogueira, meu brother, o então titular da SEDUC, sugeriu ao Negão que ele criasse uma universidade estadual. Ele ficou de pensar no assunto, mas não disse sim, nem não. Posteriormente Vicente Nogueira voltou ao mantra, alegando que seria uma oportunidade do Amazonino entrar para a história (argumento político) e, principalmente (motivo real), existia a necessidade, devido a elevada demanda pela UFAM. A proliferação de instituições superiores privadas, em Manaus, comprovavam isso. E em uma outra viagem internacional, desta vez para o Japão, Amazonino disse ao Nogueira que criaria a UEA.
PS2. Atenção historiadores II: O governo de Eduardo Braga fez a sua parte. Ele expandiu a Universidade criando novos cursos, abrindo novos campi no interior, realizando concursos para professores, aparelhando-a melhor, com microcomputadores para professores e alunos, etc. etc. Agora dizer que ele consolidou a UEA, isso não é verdade. É impossível se consolidar uma universidade em tão pouco tempo. Nem o Omar, nos poucos mais dos três anos que lhe restam vai consolidá-la. O importante é ele fazer a sua parte, e fazê-la continuar crescendo, principalmente em qualidade, mas a consolidação mesmo demanda tempo, só ocorrerá em mais anos: quando tiver bons laboratórios, um número razoável de mestrados e doutorados em andamento, um percentual elevado de professores doutores, e estiver fazendo pesquisa. Mas isso pode ser conseguido (se for) em muitos e muitos anos, ou ser abreviado para um período mais curto: o nome do jogo é Vontade Política.
Lembrando que a pedra fundamental da Unicamp foi lançada em 5 de outubro de 1966, ontem. Portanto, ela ainda não tem 45 anos, e há mais de 20 já é considerada um excelente universidade. O importante é perguntar onde estará a UEA daqui a 1o anos ?
PS3. O que é um cluster ? E uma aglomeração de indústrias, com estreita interação, integração com as universidades e centros/institutos de pesquisas (definição parcial e incompleta). Essa interação produz um ambiente que gera inovação. Inovação que pode ter sido gerada na universidade e materializada na indústria. As concentrações industrias com esse perfil são chamadas cluster industriais baseados no conhecimento, ou clusters industriais de base tecnológica. Embora, se mencione sem nenhum prejuízo, que temos dois clusters no PIM, o de duas rodas e o relojoeiro, isso não é verdade. Distrito Industrial é um conceito Marshaliano, Knowledge-based Industrial Cluster é um conceito criado por Michael Porter (http://www.isc.hbs.edu/), professor da Universidade de Harvard, que dedicou a sua vida a estudar essas aglomerações industriais.
Várias universidades americanas e canadenses têm os seus Science or Technological Parks voltados para a inovação. Eles criam, as empresas materializam. Existe até uma associação congregando esses parques: Association of University Research Parks, AURP, http://www.aurp.net/
Em um cluster, em vários países, o ambiente de cooperação e competição (formal e informal ) é intenso, fazendo com que inovações e patentes sejam geradas em maior velocidade.
O que é a competição informal ? No Vale do Silício existem pubs e bares que os engenheiros se encontram para tomar um cerveja e discutir idéias entre si. Nesse pubs nasceram várias indústrias na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (IT&C). Na Índia foram criados “clubes”, locais de encontros com essa finalidade.
O que é a competição informal ? No Vale do Silício existem pubs e bares que os engenheiros se encontram para tomar um cerveja e discutir idéias entre si. Nesse pubs nasceram várias indústrias na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (IT&C). Na Índia foram criados “clubes”, locais de encontros com essa finalidade.
PS4. Aconselho, a quem interessar possa, a leitura de dois livros: O Valor da Inovação – Como as empresas mais avançadas atingem alto desempenho e lucratividade, de Ronald S. Jonash e Tom Sommerlatte, da editora Campus; e Valor Econômico de Inovação de Empresas de Moysés Simantob e Roberta Lippi, da editora Globo.
PS5. Por uma questão de justiça, não posso deixar de mencionar que uma emenda no orçamento da União, proposta pelo então deputado federal Marcelo Serafim, em 2010, conseguiu 17,2 milhões de reais para a UFAM. Assim é que tem de ser, as nossas universidades precisam de verbas e da ajuda de todos.
Mais uma vez, "ainda preciso aprender muito com voce"!
ResponderExcluirRecebi do Minsitério de Desenvolvimento e Comércio Exterior a seguinte mensagem:
ResponderExcluirSr. Cláudio,
Agradecemos sua manifestação e informamos que a encaminharemos para a SUFRAMA. Caso queira poderá entrar em contato diretamente pelo endereço de e-mail suframa@suframa.gov.br
Atenciosamente,
Fale Conosco do MDIC.
Ministerio do Desenvolvimento Industria e Comercio Exterior - MDIC
Recebi, um email do dirigente máximo de uma instituição em Manaus, reafirmando que realmente eles sentem muito com a falta de mão-de-obra qualificada.
ResponderExcluirParabéns pelo Blog, fico realmente orgulhosa que nossa humilde, porém fértil terra, tenha entre seus filhos uma figura ilustre e peculiar como o senhor. Adorei o Blog. E que façamos o melhor possível por uma UEA mais forte.
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